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Meu nome é Ridván
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Wendi Momen : Meu nome é Ridván
Meu nome Ridvan!
Wendi Momen
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T�tulo original: Call me Ridvan
(c) 2000
Todos os direitos reservados:
Editora Bahá'í do Brasil
C.P. 1085
13800-973 - Mogi Mirim - SP
www.editorabahaibrasil.com.br
ISBN: 85-320-0051-7
1� Edi��o: 2001

Tradu��o: Celestino A. Gon�alves Filho e Christina Reynolds Gon�alves

Capa: Gustavo Pallone de Figueiredo

Impress�o: R. Vieira Gr�fica e Editora Ltda., Campinas - SP.

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Para Sahdrat e Carmel
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Por que ser� que eles tiveram que me dar este nome horr�vel", pensou Ridvan Silva pela d�cima vez naquele dia. Ele estava a caminho de casa e teria que passar por um grupo de meninos que estavam na s�rie seguinte. medida que se aproximava, um menino chamado Eduardo, que morava na sua rua, gritou: "Oi, Div�!"

Os outros o acompanhavam no c�ntico: "Ridvan, Div�, Ridvan, Div�!" Ridvan ficou vermelho de vergonha, o que s� serviu para os meninos gozarem mais ainda dele. Isto vinha acontecendo desde que perceberam ter dificuldades em pronunciar o nome dele do jeito que ele mesmo dizia: "Rez - van". Ele os olhou com raiva e caminhou um pouco mais rapidamente at� ultrapass�-los. Mas ao se aproximar de casa, ele come�ou a andar cada vez mais devagar, chutando a cal�ada com a ponta do t�nis enquanto pensava.

Ridvan e sua fam�lia tinham se mudado para Rouxinol h� apenas dois meses e ele e seu irm�o mais velho tiveram que ser transferidos para outra escola bem no meio do segundo semestre. Isto j� era problema suficiente, Ridvan pensava, mas com este nome, puxa!

Rouxinol era uma cidade a uns 60 km de Colibri, onde Ridvan e sua fam�lia sempre tinham morado. N�o era um lugar muito agrad�vel - nem sequer cinema tinha. "Pensando bem, mais parece uma aldeia do que uma cidade de verdade", resmungou Ridvan. Sua fam�lia tinha se mudado para l� porque era uma "meta", seja l� o que fosse isto, e por nenhum outro motivo que Ridvan pudesse perceber. Haviam alugado uma casa menor que a antiga e agora Ridvan tinha que repartir um quarto com seu irm�o, o que decididamente n�o melhorou coisa alguma. E seu pai continuava no mesmo emprego, tendo que sair cedinho para pegar o �nibus que ia at� Colibri e chegar mais tarde em casa do que o costume. E todos os amigos de Ridvan ainda moravam em Colibri. E - puxa - tantas outras coisa! A mudan�a n�o tinha trazido nenhuma vantagem que Ridvan pudesse ver, e ao chegar em casa ele pensava: "Porque ser�, afinal de contas, nos mudamos?"

"Oi!", disse a m�e, que estava dobrando roupa na cozinha. Ela era uma senhora mi�da, de cabelos escuros, cujo rosto sorridente n�o conseguia esconder por completo o cansa�o. "Foi um

dia agrad�vel?"

"Oi", disse Ridvan, meio desenxabido. "Tudo bem". E ele subiu para o seu quarto. Por sorte, seu irm�o ainda n�o tinha chegado; portanto, Ridvan tirou o uniforme e os sapatos e se deitou na cama. Olhando as rachaduras do teto, ele come�ou a pensar.

Ridvan tinha 9 anos de idade. Seu irm�o, Pedro, tinha 11. Ridvan pensava que isto era muito injusto, j� que aqueles dois anos de diferen�a significavam que Pedro tinha recebido um nome decente, enquanto ele, Ridvan, recebera este nome horr�vel. Pois foi no intervalo entre os nascimentos dos dois meninos que seus pais tinham se tornado Bahá'ís. "Eles se empolgaram", ele pensou - e mesmo que n�o fosse necess�rio, eles quiseram dar ao seu beb� rec�m-nascido um nome Baha'i. "� claro!" - pensou Ridvan, aborrecido. Deram-lhe o nome do Dia Sagrado, por ter nascido perto do Ridvan.

N�o era t�o ruim no come�o. Naturalmente, quando ele era beb� nem tinha percebido. E medida que crescia havia outras crian�as com nomes estranhos. Colibri era uma cidade grande com gente de todas as partes do mundo. Sempre havia algumas crian�as com nomes como Al� ou Mamadou; portanto, Ridvan nem aparecia muito. E em Colibri havia uma por��o de Bahá'ís, especialmente depois que tr�s fam�lias iranianas se mudaram para l�. Todos achavam que o nome de Ridvan era maravilhoso. claro que no come�o algumas de suas professoras tiveram dificuldades em pronunciar seu nome, mas estavam t�o acostumadas com nomes que n�o eram brasileiros que aprenderam rapidamente. De fato, Ridvan n�o tinha se incomodado quase nada com o nome, at� se mudarem para Rouxinol.

No ano passado, quando ele tinha 8 anos de idade, Ridvan come�ou a prestar aten��o nas Festas de Dezenove Dias, em vez de ficar pensando quando que iam parar de tanto falar e come�ar a comer. Ele sempre ouvia alguma coisa sobre "o plano", mas ele n�o entendia muito bem o que significava, exceto que tinha algo a ver com "metas". Seus pais pareciam falar disto o tempo todo - o que podiam fazer para ajudar e assim por diante. Foi mais ou menos nesta �poca que come�aram a falar em "sair como pioneiros". Bem, Ridvan sabia o que era um pioneiro porque, durante as f�rias, uma menina mais ou menos da sua idade tinha vindo para Colibri fazer uma visita de duas semanas. Ela disse que era pioneira. Sua fam�lia havia sido pioneira na �frica desde que ela era beb� e ela amava aquele continente. Giovana contou a Ridvan sobre as viagens de ensino por estradas esburacadas, andando de jipe, para visitar os Bahá'ís em aldeias de cabanas de barro.

Ridvan achou que ser pioneiro deveria ser emocionante; portanto, quando seus pais come�aram a falar em pioneirismo, ficava esperando ansiosamente o dia de partir. E ent�o ele come�ou a entender devagarinho o que a Giovana queria dizer com pioneirismo e o que seus pais queriam dizer eram duas coisas bem diferentes. Seus pais n�o estavam falando em jipes e cabanas de barro e coisas assim - estavam discutindo quanto tempo levaria para o pai de Ridvan ir e voltar de trabalho e sobre mudan�as de escolas e se deveriam alugar ou comprar uma casa. E assim, logo antes dele fazer nove anos, "sa�ram como pioneiros" - para Rouxinol e n�o �frica, coisa alguma! Pedro dizia que sabia o tempo todo, mas Ridvan estava terrivelmente desapontado. Aparentemente, este tipo de pioneirismo tinha algo a ver com o "plano" de que ele tanto ouvira falar - n�o havia Bahá'ís em Rouxinol, portanto era uma "meta". Quando sua fam�lia saiu como pioneira para Rouxinol, isto ajudava a cumprir o plano. Isto parecia deixar os pais de Ridvan muito felizes, mas Ridvan achava que era um substituto muito mixuruca para estradas de terra e aldeias africanas.

"De fato" - pensava Ridvan - "� muito pior que isto". Em Rouxinol nem sequer h� outros Bahá'ís com crian�as que poderiam compreender seus sentimentos sobre o nome. Esta cidade parecia feita de pessoas que sempre viveram aqui - n�o havia nenhum Al� na escola! Nem mesmo as professoras aqui conseguiam se lembrar da pron�ncia certa do seu nome. A Srta. Clara ainda o chamava de Rid - van e o Sr. Paulo, o inspetor, n�o se aproximava de novas pessoas - e olha que chegavam quase todo dia, assim sendo ele quase n�o conhecia ningu�m em Rouxinol. A �nica coisa boa parecia ser que esta escola pelo menos o permitiria faltar nos Dias Sagrados Bahá'ís, coisa que a escola antiga n�o aprovava. De fato, um dia sagrado estava se aproximando, portanto, isto seria �timo. O problema que j� que n�o havia outros Bahá'ís por perto, n�o haveria festa como no ano passado, quando todos trouxeram seus amigos e comeram vontade. Mesmo assim, era um dia

sem escola.

Enquanto ele estava deitado na cama pensando em tudo isto, ele ouviu seu irm�o bater a porta da frente e subir a escada. Ridvan deu um pulo, fingindo ler quando Pedro abriu a porta.

"Oi! Por que voc� n�o tirou o uniforme ainda?", Pedro indagou ao jogar sua pasta sobre a cama.

"Eu tinha que ler um pouco", replicou Ridvan, guardando o livro e se dirigindo sem pressa ao guarda-roupa.

"Pois apresse-se! Est�o formando os times de v�lei no gin�sio de esportes hoje e queremos chegar cedo", disse Pedro. Ele arrancou o uniforme e agarrou a roupa de v�lei.

Ridvan come�ou a trocar de roupa, mas ainda estava sentido com as goza��es anteriores. "Acho que n�o vou hoje", ele disse.

"Ah, vamos!" disse o irm�o. "Se voc� n�o for hoje, n�o ser� escalado para nenhum time e n�o vai ter nada para fazer nas f�rias."

"N�o, acho que n�o", disse Ridvan.

"Ou�a aqui, vou me atrasar. Vamos de uma vez, fa�a o favor!", disse Pedro, tentando vestir a camisa e amarrar o t�nis na mesma hora.

"N�o, v� voc�. Nem gosto tanto assim de v�lei mesmo."

Pedro olhou para Ridvan sem acreditar, mas apenas resmungou ao sair do quarto. Ridvan ouviu o "tchau" que ele gritou para a m�e. Ele terminou de se trocar e deitou de novo na cama.

Na verdade, Ridvan adorava v�lei. "Por que n�o fui?" Por um lado, provavelmente haveria muitos meninos mais velhos l� - os amigos de Pedro - ele tinha feito tantas amizades - e talvez seriam muito melhores jogadores do que ele. E era boa caminhada at� o gin�sio de desportos - ele n�o tinha certeza que queria andar tudo isto todos os dias. Mas ele sabia que estas n�o eram as raz�es verdadeiras. Ele n�o ag�entaria mais goza��o.

Ridvan ficou deitado algum tempo, pensando nos seus problemas e como tudo era t�o injusto. E ent�o ele ouviu uma batida suave na porta. Ele se sentou rapidamente e agarrou um livro escolar, dizendo desanimadamente: "Entra!"

A m�e abriu a porta e ficou parada ali. Ela fez cara feia para Ridvan, dizendo: "Pensei que voc�s iam jogar v�lei hoje."

"Resolvi n�o ir" - Ridvan resmungou.

"Pedro foi", a Sra. Silva comentou, embora isto n�o fosse necess�rio.

"Sei" - disse Ridvan - "alguns dos seus amigos estar�o l�."

"Voc� podia ir assim mesmo", insistiu a m�e. "Poderia conhecer outros garotos." E a� parou e disse usando uma voz bondosa: "� dif�cil quando a gente se muda para uma cidade diferente."

Ridvan olhou para sua m�e. "Ela acha que entende" - ele pensou - "acha que eu s� preciso de mais amizades. Mas est� errada - ela n�o compreende nada". Em voz alta ele disse, meio grosseiramente: "J� tenho amigos de sobra!"

Sua m�e olhou para ele em desespero e disse: "Voc� poderia tentar um pouco mais ser alegre, Ridvan. Afinal de contas, nos mudamos para Rouxinol para ensinar as pessoas sobre a F� Baha'i. N�o v�o ter uma impress�o muito boa sobre ela se voc� anda por a� com esta cara o tempo todo."

Ridvan ficou pensando por que ser� que toda vez que algu�m na fam�lia se aborrecia ou ficava bravo ou ficava s� um pouquinho triste, sua m�e come�ava a apoquentar sobre ensinar a F� Baha'i. Ele n�o conseguia enxergar qualquer rela��o entre as duas coisas. No entanto, ela tinha raz�o: ele realmente estava infeliz desde que deixaram Colibri. Ele teria que pelo menos parecer mais alegre, sen�o ela o perturbaria o tempo todo sobre isto. Mas ele ainda se sentia infeliz e agora estava chateado com a m�e tamb�m, portanto disse: "Est� bem, est� bem! Vou tentar ser um pouco mais alegre." E deu um sorriso rid�culo.

"Voc�, hein!", disse a m�e, com voz cansada. Ela se virou e saiu do quarto.

Nos dias seguintes, Ridvan n�o se sentiu nada melhor, mas tentava n�o dar muita demonstra��o disto em casa. Relutantemente, acompanhou Pedro ao gin�sio de desportos um dia e descobriu que nenhum dos meninos que gozavam dele tinha se inscrito, a maioria estava no futebol. Resolveu continuar indo. De fato, enquanto estava jogando v�lei, ele realmente se sentia melhor, mas n�o por muito tempo. Logo que ele sa�a para a escola de manh� era obrigado a se lembrar de suas dificuldades. Eduardo sempre estava l�, esperando para gritar, "Ol�, Div�!", medida que ele passava. Ridvan gostaria de poder ir escola com Pedro, mas ele ajudava a m�e a entregar os salgadinhos que ela fazia para vender e ia direto escola, de bicicleta, em cima da hora.

O fim-de-semana era melhor porque ele n�o tinha que ver o pessoal da escola. Tamb�m porque seu pai estava em casa e, independentemente do resto, a aten��o da m�e se voltava para o marido e n�o mais para Ridvan. Domingo ficava um pouco vazio - era o dia em que sempre iam �s "aulas Baha'i" quando viviam em Colibri, mas o Sr. Silva disse que agora era longe demais para s� uma hora de aula, pois ele j� viajava cinco dias por semana e chega! No come�o, este dia livre tinha sido �timo, mas agora o dia n�o parecia ter mais fim. Ridvan at� se admirou ao sentir falta das aulas Bahá'ís, pois ele n�o gostava muito dela e era obrigado a participar todo fim-de-semana.

Quando a aula come�ou de novo na segunda-feira, havia uma menina nova na sala. Srta. Clara a apresentou como Alessandra. Quando esta sorriu para a turma e disse "Oi!", ficou �bvio que ela era nordestina. Seu sotaque era diferente e ela at� pronunciava o pr�prio nome de maneira diferente: com "ss" e n�o "x"; ela corrigiu, rindo, enquanto as outras crian�as a cercavam na hora do recreio para perguntar tudo sobre as praias e os costumes diferentes. Mas ningu�m conseguia se lembrar da pron�ncia certa e todos continuavam a cham�-la de Alessandra com "x" mesmo.

Ridvan gostou de Alessandra. Ela tinha um rosto agrad�vel e ria enquanto falava. Parecia sempre ter algo interessante para dizer ou alguma id�ia nova. E ela tamb�m era nova, como ele.

Na quarta-feira, Ridvan e Pedro levaram bilhetes para a escola explicando que faltariam no dia seguinte por causa do Dia Sagrado. A Srta. Clara sorriu quando leu o bilhete e pediu a Ridvan que quando voltasse aula na sexta-feira, contasse turma sobre o que era o Dia Sagrado. Isto preocupou Ridvan um pouco, porque ele n�o tinha contado para ningu�m que ele era Baha'i. Al�m disto, ele sabia que quinta-feira era a Declara��o do B�b e praticamente nada mais al�m disto.

Naquela noite, Pedro e ele puderam ficar acordados at� bem mais tarde. Ridvan achou que isto era porque n�o teriam aula no dia seguinte, mas Pedro o lembrou que o dia Bahá'í come�a ao p�r-do-sol e portanto a comemora��o seria naquela noite.

Depois do jantar, Ridvan e Pedro fizeram a li��o enquanto esperavam o in�cio da comemora��o. Em Colibri, a maioria das reuni�es Bahá'í come�ava �s 19:00h, mas j� eram 19:30h quando terminaram a li��o e o Sr. e a Sra. Silva ainda estavam sentados mesa do jantar, conversando e tomando caf�.

"N�o vamos come�ar logo?", perguntou Ridvan.
"J� s�o sete e meia", acrescentou Pedro.

"Pois �" - respondeu o Sr. Silva - "mas voc�s n�o se lembram que o B�b se declarou mais ou menos duas horas ap�s o p�r-do-sol? nesta hora que os Bahá'ís festejam. Isto ser� aproximadamente oito e meia da noite."

"Convidamos alguns dos vizinhos para participar" - disse a Sra. Silva - "e dever�o chegar l� pelas oito. Voc�s dois gostariam de arrumar as x�caras para podermos tomar ch� e biscoitos depois? Vamos l� para a sala enquanto voc�s arrumam tudo."

Os meninos resmungaram, mas a Sra. Silva ergueu as sobrancelhas em sinal de aviso, portanto, tiraram as x�caras usadas da mesa e pegaram as limpas. Quando terminaram, o pai perguntou: "Voc�s gostariam de escolher uma ora��o para ler hoje noite ou preferem dizer uma daquelas que j� sabem?"

Pedro resolveu dizer uma que tinha decorado, mas Ridvan n�o tinha certeza de que seria capaz de dizer uma ora��o inteira, sem errar. Faziam mais de dois meses desde que havia freq�entado a �ltima aula Baha'i, onde tinha que recitar e decorar ora��es toda semana, e ele estava meio fora de forma.

Ridvan subiu para o quarto e abriu o livro de ora��es, procurando pela qual queria dizer. Durante meia hora, ele se sentou em sil�ncio na beirada da cama, lendo v�rias ora��es, procura de uma que fosse apropriada. Na verdade, ele n�o tinha olhado muitas vezes o livro de ora��es desde que chegaram em Rouxinol e realmente tinha se esquecido de quantas ora��es diferentes havia. De repente, encontrou a ora��o perfeita. Parecia exprimir exatamente os seus sentimentos - solid�o. Ele a leu v�rias vezes para ter certeza que poderia pronunciar todas as palavras - afinal n�o queria se atrapalhar na frente dos vizinhos!

Ainda havia bastante tempo antes de come�ar a reuni�o e os pensamentos de Ridvan se voltaram novamente ao seu problema. Ele se deitou na cama. Se ele conseguisse "bolar" um jeito de se livrar do problema... Talvez pudesse voltar para Colibri todos os dias com o pai, para a escola antiga, ou talvez desistir da escola por completo... Ele n�o teria que ir escola se fosse para a �frica com aquela menina... como era mesmo o nome dela? Alexandra? N�o, Giovana... Alessandra! Talvez ela pudesse ajudar... a menina nova, sempre sorridente... "ss" e n�o "x"...

Ridvan, acorde! Todos j� chegaram." Era Pedro, sacudindo-o. Ele havia adormecido.

"Que horas s�o?", bocejou Ridvan. Ele se espregui�ou sobre a cama, pensou em ficar ali mesmo e depois, mudando de id�ia, levantou-se.

"Quase oito e meia; anda! Estamos esperando por voc�."

Pedro saiu enquanto Ridvan arrumava a roupa. Ele estava no alto da escada quando se lembrou do livro de ora��es. Teve que voltar para peg�-lo. Ele procurou por toda a cama que j� estava desarrumada e finalmente o achou enfiado entre o colch�o e a cabeceira. Umas poucas p�talas secas, fr�geis, ca�ram - eram p�talas que seus pais trouxeram da Terra Santa quando fizeram peregrina��o alguns anos antes. Ele se ajoelhou e estava tentado alcan��-las debaixo da cama, quando ouviu a m�e chamar, "Ridvan! Puxa vida, anda logo! Estamos todos esperando. Venha j�!"

"T� indo", ele respondeu. Uma das p�talas estava rasgada e a outra ainda estava em baixo da cama, mas n�o dava para gastar mais tempo nisto agora. Depressa, ele limpou a poeira dos joelhos das cal�as e correu escada abaixo.

Ao ouvir vozes na sala, de repente ele se sentiu envergonhado. "N�o posso dizer uma ora��o na frente de estranhos", pensou, hesitante ao lado da porta. Ele estava quase voltando l� para cima quando a porta se abriu e o pai o enxergou.

"Ah! Ta�! Entre. Estamos come�ando."

Ridvan entrou relutantemente e deu uma olhada na sala. Parecia lotada - havia umas dez ou doze pessoas, o que o surpreendeu. Em Colibri, ele teria esperado uma por��o de gente, mas n�o aqui. Ele se pegou em flagrante quase dizendo "All�h'u'Abha!" e mudou depressa para "Boa noite". Lembrou-se de que estas pessoas n�o eram Bahá'ís e poderiam estranhar a sauda��o Baha'i'.

"Ol�!", disse uma voz inconfund�vel. "Eu n�o sabia que esta era sua casa!"

Ridvan focou pasmo!

Era Alessandra - a menina nova da escola. Sua boca abria e fechava, mas ele tinha perdido a voz, de t�o grande que era a surpresa. Finalmente, conseguiu dizer um "oi" meio rouco e Alessandra soltou aquela risada gostosa dela. Todos os outros riram tamb�m. O Sr. Silva pigarreou.

"Bem, j� que ele chegou, podemos come�ar e depois continuaremos a conversar."

Ridvan encostou-se cadeira, j� entediado. Seu pai era um homem simp�tico, n�o muito velho, mas quando ele come�ava a falar em reuni�es, n�o parava mais.

O pai de Ridvan estava apenas fazendo a introdu��o. "Minha fam�lia e eu gostar�amos de dar as boas vindas a todos voc�s esta noite para a comemora��o da Declara��o do B�b. Em 1844..."

O Sr. Silva falou sobre a noite em que o B�b declarou Sua Miss�o a Mull� Husayn e explicou quem eram os Bahá'ís, mas Ridvan mal o ouvia. Ele estava quebrando a cabe�a sobre porque Alessandra tinha vindo. Ser� que ele era Baha'i? N�o, a m�e lhe teria contado se outros Bahá'ís tivessem se mudado para Rouxinol. Seria vizinha? Talvez, mas n�o de muito perto, sen�o ele a teria visto no caminho da escola. O qu�, ent�o?

Um cutuc�o de Pedro em suas costelas trouxe sua aten��o de volta ao que estava acontecendo. O pai j� estava quase acabando.

"E assim, podem ver porque esta noite t�o importante para os Bahá'ís."

Ser� que ele tinha perdido tanto, ou ser� que o pai tinha falado menos do que o costume. Ele realmente precisava parar de tanto divagar e tentar se concentrar.

"Agora teremos algumas ora��es e depois haver� ch� e algo mais para comer. Ridvan, voc� poderia come�ar, depois Pedro, Jo�o, B�rbara, da� Francisco e terminamos com Carolina. Pode come�ar, Ridvan."

Ridvan abriu o livro de ora��es e come�ou a ler cuidadosamente: "� meu Senhor, meu Bem-Amado, meu Desejo! S� um amigo para mim em minha solid�o, e acompanha-me no ex�lio..." excelente, ele pensou. bem assim que me sinto e realmente quero que Deus me ajude... Oh! N�o! Ridvan corou profundamente ao ler o final da ora��o. "... Torna-me uma de Tuas servas que atingiram a Tua aprova��o. Em verdade, �s o Ben�volo, o Generoso!" Ele deu uma pequena tossida no final. Como que ele n�o tinha visto isto antes? Ele tinha lido v�rias vezes, l� no quarto. Era uma ora��o para meninas! Ele sentia Pedro se contorcendo em sil�ncio na cadeira ao lado, tentando n�o rir em voz alta. Ele lan�ou uma olhada na dire��o de Alessandra e dos outros na sala. Todos estavam sentados com os olhos fechados - ningu�m parecia ter percebido, exceto Pedro. Agora este estava come�ando a recitar sua ora��o. "� meu Deus! Une os cora��es de Teus servos..."

Durante o resto das ora��es, Ridvan manteve seus olhos bem fechados e concentrou-se no que estavam lendo. Na verdade, ele os abriu por um instante quando ouviu um sotaque nordestino lendo "� Deus, refresca e alegra meu esp�rito..." e um pensamento lhe passou pela cabe�a: a m�e de Alessandra... talvez sejam Bahá'ís, sim...

Sua m�e iria ler a �ltima ora��o, uma bem comprida, e todos se levantaram. Pedro se mexia um pouco, mas Ridvan ficou bem quietinho, realmente tentando ouvir as palavras. A ora��o falava dos problemas do B�b - muito mais do que ele mesmo tinha, Ridvan pensou.

Quando a ora��o terminou, o Sr. Silva disse: "Se quiserem ir para a sala ao lado, vamos servir ch� e alguma coisinha para comer. Meninos, querem ajudar a servir?" Todos entraram na sala de jantar. Ridvan come�ou a passar travessas de salgadinhos, enquanto Pedro perguntava quem queria ch� e quem queria caf�. Depois que ele tinha contado e se retirado para a cozinha, Alessandra se aproximou de Ridvan.

"Gosto da sua casa", ela disse. "Faz tempo que voc� mora aqui?"

"N�o" - Ridvan respondeu - "s� alguns meses. Mor�vamos em Colibri."

"Ah, �?", disse Alessandra. "Onde fica isso? longe daqui?"

"Mais ou menos", respondeu Ridvan. "Uma hora." Ele descansou a travessa na mesa e se serviu de uns salgadinhos.

"Isto n�o longe! 'Longe' que nem China ou a Austr�lia. O Nordeste realmente fica longe daqui: de l� que eu venho." Alessandra riu novamente enquanto falava e Ridvan podia perceber que ela estava brincando.

"Como voc� chegou aqui esta noite?", ele perguntou.

"Bom, primeiro entramos no carro e depois uma esquina esquerda e outra direita... N�o, na verdade, voc� quer saber por que estou aqui, n�o �?"

A Sra. Silva entrou naquele instante com o ch� e Ridvan tinha de segui-la com o a�ucareiro, portanto, demorou um pouco at� poder conversar com Alessandra outra vez. Quando todos estavam servidos, os dois voltaram para a sala e se sentaram, cada um tentando equilibrar um pratinho de bolo e uma x�cara.

"Muito bem, o que que voc� est� fazendo aqui? Quero dizer..." Ridvan estava trope�ando nas palavras. Ele n�o queria ofend�-la. "� s� que eu n�o esperava..."

Alessandra interrompeu "Pois n�s conhec�amos os Bahá'ís em Maracatu. J� assisti uma por��o de reuni�es l�. Acho que mam�e procurou por voc�s na lista telef�nica e aqui estamos."

"Ridvan sabia que isto era imposs�vel: n�o estavam ainda na lista telef�nica. Mas ele tinha de perguntar: "Ent�o voc�s s�o Bahá'ís tamb�m?"

Pela primeira vez, Alessandra pareceu se atrapalhar um pouco. Ela corou ligeiramente e disse, com alguma hesita��o: "Bem, ah, n�o, n�o exatamente... sabe..."

"Tudo bem", Ridvan interrompeu. "Eu s� queria saber, voc� compreende, n�o �? J� que voc�s participam de reuni�es Bahá'ís. Quero dizer, quase ningu�m participa exceto os pr�prios Bahá'ís."

"N�o, n�o l� donde eu venho", disse Alessandra, recuperando a calma. "Muita gente participa das reuni�es Bahá'ís l�. S�o divertidas, geralmente", ela acrescentou. Houve uma pausa e ent�o ela disse: "N�o, n�o somos Bahá'ís. Estamos pesquisando."

"O qu�?" perguntou Ridvan. Pois n�o entendia o que ela queria dizer.

"Voc� sabe - que nem pesquisa independente da verdade." Ele ainda parecia confuso. "Estamos procurando - somos contatos."

"Ah!", disse Ridvan. Ent�o era isto. Tanto tinha ouvido falar em contato e eis uma bem aqui na sua frente. Mas esta menina parecia saber mais de sua religi�o do ele mesmo. Pelo menos, ela usava todas as palavras certas. "Bem, est� gostando da escola?" Ele achou melhor mudar o assunto. N�o queria que ela usasse mais palavras que ele n�o entendia - pensaria que ele era bobo.

Antes que Alessandra pudesse responder, uma senhora se aproximou dos dois. "Ol�, sou a m�e de Alessandra - B�rbara Moreti. Estou contente por voc�s j� se conhecerem."

"Estamos na mesma turma na escola, mam�e", Alessandra respondeu. "J� nos conhec�amos antes."

"Pois, vejam s�", disse a Sra. Moreti. "Nem pens�vamos encontrar Bahá'í algum aqui e agora vejo que minha filha est� na mesma turma com um! N�o maravilhoso?"

A Sra. Moreti n�o parecia se dirigir a ningu�m em particular, portanto, Ridvan n�o respondeu. Ele s� pensou como o mundo era engra�ado, pois sua fam�lia tamb�m se mudara para Rouxinol bem na �poca em que a fam�lia de Alessandra, e queriam encontrar Bahá'ís. E ent�o pensou: "Talvez n�o seja t�o engra�ado; talvez Deus queria que estiv�ssemos aqui por este mesmo motivo; talvez Ele tinha algum tipo de plano." Plano. Ser� que isto que os Bahá'ís queriam dizer quando discutiam o "plano"? Estar num certo lugar bem na hora que algu�m naquele lugar quer saber sobre a F�? Ele precisava se lembrar de perguntar m�e sobre isto.

As pessoas estavam come�ando a se despedir. Alessandra se levantou e estendeu a m�o, dizendo: "Tchau. Obrigado pela reuni�o bacana. Te vejo na escola amanh�. Quero dizer,

sexta-feira."

Apertaram as m�os, coisa que Ridvan nunca fazia com algu�m de sua idade. "De certo fazem as coisas de maneira diferente no Nordeste", ele pensou, enquanto se despedia, primeiro de Alessandra e seus pais e depois dos outros convidados. Ele entrou na sala de jantar para ajudar a tirar as coisas do ch�. Estava com muito sono - devia ser mais de dez e meia da noite.

Neste momento, Pedro cochichou no seu ouvido: "Que ora��o boba voc� escolheu! N�o tinha nada a ver com a Declara��o do B�b - e, al�m disto, voc� n�o menina!"

"Pedro!" A voz do Sr. Silva estava �spera. "Chega!"

"N�o vamos estragar esta linda noite, querido". Ent�o, a Sra. Silva disse ao filho: "A ora��o de Ridvan era muito bonita, e a sua tamb�m. Falaram muito bem. Estou orgulhosa dos dois."

"Mas n�o era a ora��o certa para dizer", protestava Pedro. "Ele n�o menina."

O Sr. Silva olhou bravo para Pedro, mas a Sra. Silva disse com suavidade: "Estamos todos cansados agora. Por que n�o vamos dormir agora e falamos disto pela manh�?"

Os olhos de Ridvan ardiam de l�grimas. Tinha at� se esquecido do seu erro enquanto conversava com a Alessandra. Agora teria de conversar sobre isto amanh� e estragar o novo dia tamb�m. "N�o", ele gritou, batendo o p�. "Se temos que falar sobre o assunto, que seja agora."

Seus pais o olharam espantados, entreolharam-se e ent�o olharam para Pedro com desaprova��o. "Muito bem" - suspirou a Sra. Silva - "devemos acabar com o assunto mesmo." Ela foi para a sala e se sentou. Os outros a seguiram.

"Vejam bem" - disse o pai - "cada ora��o que h� no livro de ora��es a palavra de Deus, n�o importa quem voc� �. Pode dizer a ora��o que quiser."

Ridvan sentiu-se um pouco aliviado com isto, mas Pedro disse: "Tudo bem, mas voc�s t�m que admitir que algumas ora��es s�o para certas horas e algumas para outras ocasi�es." Ele fez sinal de pouco caso para Ridvan.

"Em primeiro lugar" - disse a Sra. Silva - "embora algumas ora��es realmente pare�am encaixar melhor em certas ocasi�es do que em outras, cada um precisa decidir por si qual a ora��o que ele quer fazer. Afinal de contas, ele que est� orando. Em segundo lugar" - ela come�ou a falar com a voz mais s�ria - "ningu�m deveria criticar a escolha do outro ou fazer gracinhas no meio de alguma ora��o; isto ser mal-educado e cruel. Em terceiro lugar, tenho certeza que Ridvan tinha um bom motivo para escolher aquela ora��o."

"E em quarto lugar" - bocejava o Sr. Silva - "estou cansado e quero dormir." Ele se levantou e foi l� pra cima, dizendo "boa noite" medida que sa�a.

Mais tarde naquela noite, Ridvan se torcia e se batia na cama. Dava pra ver que Pedro estava dormindo, devido respira��o vagarosa e compassada, mas, embora ele realmente estivesse cansado, n�o conseguia relaxar. V�rios pensamentos cruzavam sua mente: a Declara��o do B�b h� mais de um s�culo; como era estanho que Alessandra tivesse vindo a sua casa; como ele era tolo de ter escolhido uma ora��o para uma menina; a palestra que ele teria de dar na sexta-feira - algo que ele tinha esquecido; algo sobre Alessandra que era a resposta ao seu problema...

Finalmente, os pensamentos se embolaram e ele adormeceu.

Na manh� seguinte, a Sra. Silva deixou os meninos dormirem um pouco mais que o normal. Quando acordaram, Ridvan percebeu que seu pai tamb�m tinha faltado ao servi�o porque era um Dia sagrado. Antes do caf�, cada um fez uma ora��o.

"Este outro aspecto de nossas vidas que mudou desde que nos mudamos para Rouxinol", Ridvan pensou. Em Colibri, sempre faziam as ora��es matinais em fam�lia, reunidos, quase todos os dias. Atualmente, o Sr. Silva tinha de sair t�o cedo que havia mais tempo. Ridvan sabia que os pais esperavam que os meninos fizessem as ora��es matinais sozinhos, mas ele geralmente ficava na cama at� muito tarde ou se esquecia por completo. Ent�o, de repente, ele se lembrava na escola, no meio da manh�, e prometia a si mesmo que levantaria mais cedo no dia seguinte - mas

sempre esquecia.
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Por que ser� que eles tiveram que me dar este nome horr�vel, pensou Ridvan Silva.

IMAGEM
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No caf� de manh�, a fam�lia discutia os planos para o dia. A Sra. Silva j� tinha arrumado a comida para um piquenique; portanto, era s� uma quest�o de decidir para onde iriam. Pedro queria ir ao shopping, em Colibri, mas o Sr. Silva achou que deviam ir para um lugar onde tivesse natureza. A Sra. Silva achava que um passeio no parque da cidade seria �timo, mas os meninos n�o queriam porque n�o tinha gra�a. Ridvan finalmente sugeriu que andassem de barco numa represa, que haviam visitado uma vez.

"Se o tempo esquentar, podemos nadar" - ele disse a Pedro - "e sempre seria um passeio num grande parque", ele acrescentou, olhando para a m�e.

Todos gostaram da id�ia. Os meninos foram buscar os cal��es de banho e agasalhos, e come�aram a subir a escada, quando o telefone tocou. Era a Sra. Moreti, a m�e de Alessandra.

Ela agradeceu a Sra. Silva pela noite passada e acrescentou que decidira n�o mandar a filha para a escola naquele dia, em parte devido ao hor�rio e em parte devido ao Dia Sagrado em si.

"Por algum motivo parecia errado" - ela explicou Sra. Silva no telefone - "mandar Alessandra para a escola num Dia Sagrado. Sei que n�o somos Bahá'ís, mas, ora... n�o parecia certo."

"N�s vamos fazer um passeio de barco e um piquenique", disse a m�e de Ridvan. "Por que voc�s duas n�o v�m juntas? H� bastante espa�o e posso fazer mais alguns sandu�ches."

"Puxa, eu adoraria, mas infelizmente n�o podemos. que estamos esperando um telefonema de meus parentes hoje. Mas agrade�o o convite, assim mesmo."

"Ent�o, porque n�o deixa a Alessandra vir? N�s poder�amos apanh�-la e lev�-la para casa depois", disse a Sra. Silva, interrogando seu marido com o olhar. Ele fez que "sim" com a cabe�a.

A m�e de Alessandra pensou um pouco e ent�o respondeu: "� claro, seria �timo para ela - se voc�s t�m certeza que n�o iria atrapalh�-los. Posso fazer uns sandu�ches para ela."

"N�o, n�o" - disse a Sra. Silva ao telefone - "j� fiz bastante. Ela vai precisar de um mai� e de uma toalha. Podemos passar por a� daqui uns 20 minutos."

As duas mulheres se despediram e a Sra. Silva desligou o telefone.

Ridvan ficou contente com as novidades, mas Pedro n�o gostou muito. "Ia ser um dia de fam�lia", ele resmungou. Agora est� tudo estragado - e por uma menina!"

"Pedro" - disse o pai - "voc� anda reclamando muito ultimamente. Ontem noite, agora, novamente. Relaxe - divirta-se."

"Al�m disto", acrescentou a m�e, "Dias Sagrados n�o s�o simplesmente feriados, voc� sabe. Tamb�m s�o oportunidades para ensinar a F� aos outros - a Alessandra, por exemplo."

"L� vai ela outra vez", pensou Ridvan, juntando o azedume de Pedro ao ensino. Mas ele estava estranhando a rea��o de seu irm�o e lhe ocorreu que realmente seu irm�o estava mesmo mais irritadi�o que o normal nestas �ltimas semanas. Ser� que vir a Rouxinol tamb�m tinha apresentado algum problema para Pedro? E de repente, Ridvan percebeu que pela primeira vez em muito tempo ele estava se preocupando com algu�m que n�o fosse ele mesmo. Ele olhou para seu irm�o com uma nova compreens�o - talvez tinham mais em comum do que ele pensara.

O dia esquentou mais do que o Sr. Silva tinha esperado. Quando chegaram represa estavam s�s, exceto o dono dos barcos de aluguel, e ele se surpreendeu ao ver as crian�as, j� que era dia de aula. A Sra. Silva explicou que era um Dia Sagrado Bahá'í e que os Bahá'ís n�o trabalham nem v�o escola em Dias Sagrados.

"Bahá'ís?" o homem refletiu. "Onde foi que ouvi este nome antes?" Ele parou para pensar, franzindo a testa. De repente, sua fisionomia se iluminou. "� uma religi�o, n�o �? Voc�s s�o de Colibri? Lembro-me de ter ouvido algo assim l�."

Ridvan se surpreendeu. Ele n�o encontrara muitas pessoas que tinham ouvido falar da F� Bahá'í antes e, de repente, numa semana, ele encontra a fam�lia Moreti e este homem.

O Sr. Silva explicou que a fam�lia havia se mudado recentemente de Colibri para Rouxinol e perguntou se o homem havia participado de alguma reuni�o em Colibri.

"N�o" - respondeu - "n�o tenho tempo para este tipo de coisa. Nem sei mesmo se acredito nestas coisas ou n�o. Deus e coisas assim..."

Ridvan levou um choque. Ele sabia que muitas pessoas n�o sabiam sobre Bahá'u'lláh e, portanto, n�o eram Bahá'ís; mas n�o acreditar em Deus! Sem refletir, ele falou: "Mas todos acreditam em Deus!"

O homem sorriu e a Sra. Silva disse suavemente ao filho: "Nem todos, querido."

O Sr. Silva sorriu tamb�m e disse ao dono dos barcos: "Acho melhor j� lhe pagar pelo barco. E como n�o h� muita gente por a�, talvez o senhor possa nos acompanhar para o almo�o mais tarde e poderemos conversar mais."

O homem disse que teria de ver como as coisas estariam mais tarde e o Sr. Silva o pagou.

Todos colocaram coletes salva-vidas e entraram no barco a remo. Alessandra deu um pequeno trope�o quando entrou e o barco balan�ou de leve, mas Ridvan a agarrou pelo bra�o para n�o cair. "Teremos que sentar bem quietinhos no barco", disse o pai dos meninos. "N�o podem pular ou se levantar de repente, sen�o o barco vira."

Todos fizeram sinal que concordavam e, quando j� estavam acomodados, o Sr. Silva pegou os remos e, sem esfor�o maior, partiu remando.

Remaram pela represa por algum tempo e depois Pedro disse que gostaria de tentar remar. Ele trocou de lugar com o pai cuidadosamente e segurou os remos da mesma maneira. Embora estivessem presos nas beiradas do barco, o remo escorregou em dire��o �gua e o cabo pulou da m�o de Pedro de repente. Enquanto ele tentava alcan��-la, deixou escapar o outro, o qual o golpeou no est�mago. O Sr. Silva deu uma risadinha - Pedro n�o estava realmente machucado, s� assustado. Finalmente, ele conseguiu segurar ambos os remos ao mesmo tempo. Seu pai lhe mostrou como mergulhar os remos na �gua enquanto empurrava os cabos para longe. Ap�s algumas tentativas, Pedro come�ou a remar vagarosamente, embora de uma maneira n�o muito suave.

"N�o enxergo para onde estou indo!", exclamou.

O Sr. Silva riu. "Sinto muito, mas isto faz parte de remar."

Pedro remou por mais uns minutos, com o pai lhe dando orienta��o �s vezes. Ridvan e a m�e conversavam com Alessandra. E ent�o Pedro parou de remar.

"Puxa! Cansei. Remar servi�o pesado - meus bra�os est�o doendo."

"Querem que eu reme um pouco?" perguntou a m�e.

Ridvan estivera sentado quietinho olhando o irm�o. Ele sabia que podia fazer melhor. Agora esquecera de ficar parado. Pulou de repente, bradando: "N�o, deixem pra mim, deixem

pra mim!"

O barco balan�ou violentamente e Ridvan perdeu o equil�brio. Na tentativa de evitar que o irm�o ca�sse, Pedro estendeu de repente os bra�os e os remos foram puxados para tr�s, batendo-os na boca do est�mago. Pedro tentou afast�-los, mas n�o conseguia e bateu outra vez, bem no peito. Todos gritavam ordens para os outros. Ridvan balan�ava loucamente os bra�os, tentando o equil�brio. A Sra. Silva se inclinou para frente para tentar segurar Ridvan e enquanto fazia isto, o bra�o passou pelo rosto, derrubando os �culos-de-sol na �gua.

As pernas de Ridvan se dobraram debaixo dele e ele sentou abruptamente no fundo do barco. Este j� balan�ou de maneira um pouco mais suave e todos olharam para o lado. L� estavam os �culos-de-sol da Sra. Silva, afundando lentamente na represa.

"Sra. Silva" - exclamou Alessandra - "os �culos!"

"Foram-se", disse melancolicamente a m�e dos meninos.

"Voc� deveria ter tido mais cuidado", gritou Pedro com raiva. "Por que teve que pular

daquele jeito?"

Ridvan sentia-se miser�vel. Tudo o que fazia estava errado.

"Sabe Pedro, voc� ficou t�o engra�ado, tentando afastar aqueles remos."

"Voc� tamb�m ficou um tanto engra�ado" - disse o Sr. Silva esposa, em tom de brincadeira - "quando se jogou pra frente daquele jeito. N�o pra menos que perdeu os �culos!"

Ent�o Alessandra descreveu Ridvan, que ficou engra�ado, balan�ando os bra�os e pulando de um p� para o outro. "Tem sorte de n�o ter ca�do n'�gua", ela disse.

Ridvan ficou um pouco mais vontade. Em seguida, Pedro deu uma gargalhada e logo todos estavam rindo.

Depois o Sr. Silva disse: "Daqui a pouco, vamos sair d'�gua. Al�m disto, estou com fome. Vamos ver se o barqueiro quer almo�ar conosco." E trocando de lugar com Pedro novamente, ele pegou os remos e remou em dire��o ao ancoradouro. O barqueiro, no entanto, disse que agora estava muito ocupado - havia chegado mais gente - portanto, o Sr. Silva remou at� o outro lado da represa, onde havia um bosque. Pedro e Ridvan amarraram o barco a uma �rvore e a Sra. Silva arrumou o lanche que havia trazido.

Depois do almo�o, o Sr. Silva cochilou e a Sra. Silva e Pedro foram passear no bosque. Ridvan e Alessandra permaneceram na margem da represa, comendo o finzinho dos brigadeiros e tentando fazer pedras pular pela superf�cie da �gua.

"Fiquei muito contente que voc� me convidou para vir junto hoje", disse Alessandra.

"Pois �, voc� tem sorte que a sua m�e deixou voc� faltar aula, j� que voc� n�o Baha'i." Ridvan jogou uma pedra n'�gua.

"Quase sou", disse Alessandra, enquanto procurava uma pedra achatada na areia. "Acredito em Bahá'u'lláh e acho que isto a parte mais importante, n�o �?"

Ridvan n�o sabia o que dizer. Nunca discutia este tipo de coisas com os outros - pelo menos, n�o com pessoas que n�o eram Bahá'ís. �s vezes, nas aulas Bahá'ís, o professor pedia a cada um que escrevesse os motivos pelos quais eram Bahá'ís. Quando ele era mais novo, Ridvan n�o podia ver outro motivo exceto o fato de seus pais serem Bahá'ís, portanto, claro que ele tamb�m era. medida que crescia, ele percebeu que n�o bastava s� seguir seus pais - ele tinha de saber e entender por si mesmo. Ele sentia que agora ele sabia, sim, sobre Bahá'u'lláh - porque Ele viera, toda hist�ria e tudo aquilo - bem, sabia mais ou menos - mais que qualquer outra crian�a de sua idade, pelo menos! Mas acreditar em Bahá'u'lláh? Que pergunta! Bahá'u'lláh viera e pronto. Uma vez que voc� descobria sobre Ele, voc� se declarava, assinava um cart�o e pronto - voc� era um Baha'i.

Em voz alta, indagou: "O que voc� quer dizer por acreditar em Bahá'u'lláh?" Ele jogou uma pedra, que pulou duas vezes.

Alessandra pensou por um momento e ent�o ela tamb�m jogou uma pedra. Afundou.

"Bem" - disse ela - " minha fam�lia cat�lica, de uma certa maneira. N�o vamos igreja nem nada, mas acreditamos em Deus. Quando minha m�e ouviu falar da F� Baha'i, resolveu descobrir o que era." Ela jogou outra pedra, a qual tamb�m afundou.

"Voc� tem que pegar uma pedra mais achatada", disse Ridvan.

"Ent�o ela foi falar com alguns Bahá'ís, para descobrir do que se tratava e come�ou a freq�entar as reuni�es Bahá'ís. Aprendi bastante." A terceira pedra tamb�m afundou.

"Olhe! Assim!" Ridvan mostrou como se joga a pedra com a m�o estendida para faz�-la pular. "Muito bem, ent�o voc�s descobriram a F� Baha'i. Mas o que tem isto a ver com 'acreditar'

em Bahá'u'lláh?"

Alessandra jogou outra pedra do jeito que Ridvan mostrara. Pulou uma vez antes de afundar.

"Ei! Consegui! ... o qu�?"
Ridvan repetiu a pergunta.

Alessandra respondeu: "Bem, n�s, quero dizer, meus pais, n�o t�m certeza se Bahá'u'lláh realmente foi enviado por Deus ou n�o. Mas eu tenho. Acho que isto faz de mim uma Baha'i,

n�o �?"

Ridvan refletiu. Ele nunca encontrara algu�m como Alessandra. Todas as crian�as Bahá'ís que ele conhecia tinham pais Bahá'ís e sabiam sobre Bahá'u'lláh a vida inteira. Nenhum dos amigos da escola jamais quis falar de Deus ou religi�o. E eis aqui Alessandra, falando de Deus e de Bahá'u'lláh, sem se encabular. E decidiu que ela era Baha'i, mesmo que os pais n�o fossem. Como ele estava abismado! Mesmo assim, pensou se ela tinha raz�o: "Se voc� aceita Bahá'u'lláh, voc� Baha'i. Afinal de contas, o que mais h�?"

Em voz alta, comentou: "�, acho que sim."

Os dois permaneceram em p�, em sil�ncio, na margem do lago, jogando pedras na �gua. Alessandra praticava fazer as pedras pularem, mas a maioria afundava. Ela batia palmas e soltava um gritinho de alegria cada vez que uma dava um pulinho. Ridvan tinha mais experi�ncia e fazia todas as pedras pularem. Ele estava perdido nos pensamentos.

"Esta menina realmente diferente", refletia. N�o tinha medo de dizer o que pensava e parecia estar completamente vontade num ambiente novo. Afinal, ela s� estava naquela cidade h� uma semana e pouco! Ela fazia amizade com facilidade - todos na escola gostavam dela. E havia mais uma outra coisa.

Alessandra?", disse Ridvan, quebrando o sil�ncio. Ele pronunciou seu nome com cuidado, com o som de "ss" que ela usava.

"Sim?" ela respondeu distraidamente, concentrando toda a aten��o numa pedra que jogava n'�gua e que tamb�m afundara.

"Voc� n�o se incomoda quando os outros pronunciam seu nome errado?" Finalmente, descobria o que havia nela que tanto o intrigava.

"N�o", respondeu com simplicidade. "Deveria?"

"Bem, quero dizer, como - dizem 'Alexandra' em vez de 'Alessandra'. Isto n�o a incomoda?"

"N�o", ela repetiu. "Acho at� um pouco engra�ado."

"Engra�ado!" exclamou Ridvan. "Como pode ser engra�ado?"

Alessandra o olhou com curiosidade. "Porque �", respondeu. "Sei que sou diferente de todas as outras crian�as por aqui. Vim de outro estado, falo com sotaque diferente, uso nomes diferentes para as coisas. Como isto por exemplo", disse tocando o moletom. "Eu o chamo de abrigo. Acho engra�ado ouvir voc� dizer moletom. E tantas outras coisas t�m nomes diferentes por aqui! Estava vendo com a 'm�inha' - a�, 'm�inha', em vez de m�e. De qualquer forma, outro dia, na loja, 'm�inha' disse 'fecho ecler' e voc�s chamam de 'z�per'; voc�s chamam de mandioca a macaxeira; bala, pra n�s queimado. A bala toffee que outro dia me deu, chamo de bombom. N�s nos cobrimos com 'acolchoado', que voc�s chamam de 'edredom'. Meu pai usa 'peixeira', que seu pai chama de 'fac�o'. Voc� n�o acha engra�ado?" e ela riu enquanto fazia uma pedra pular.

Ridvan refletiu. Dava pra entender seu ponto de vista. Realmente eram bastante engra�adas as palavras nordestinas. Mas isto n�o era igual a ter o pr�prio nome como motivo de goza��o.

"Mas o seu nome", ele disse. "Voc� n�o se importa que todos pronunciem errado?"

"N�o" - ela respondeu - "porque eu sei como deveria ser pronunciado. Sei algo que ningu�m mais sabe! Por que deveria me incomodar se todos os outros est�o errados? O problema deles, n�o meu. Al�m disso, qualquer dia aprender�o a pron�ncia certa e a� eles ser�o o motivo de riso. Mas nem me preocupo muito com isto."

Ela parou e ent�o perguntou com suavidade: "� porque a Sra. Clara pronuncia o seu nome errado que est� me fazendo todas estas perguntas?"

Ridvan hesitou. De certo ela n�o sabia quanto ele era motivo de goza��o dos meninos por causa disto. Deveria lhe contar?

"Bem...", ele come�ou.

"Ou por causa dos meninos que fazem tanta goza��o?"

Ent�o ela sabia! Ele sentiu um al�vio! Finalmente, poderia conversar com algu�m que o compreendia. Ela teria pena dele, estaria do lado dele.

"�" - ele exclamou - "� isto mesmo. E odeio o meu nome. N�o acho nem um pouco engra�ado."

"Hum...", disse Alessandra, pensativamente. Ela se sentou e come�ou a brincar com algumas 'plantas-dorminhocas'. Quando as tocava, elas se fechavam. Ridvan se sentou ao seu lado.

"Posso entender seu problema" - ela disse - "mas, sabe, de certo modo voc� convida

essa provoca��o."

Ridvan a olhou, irado. Ela deveria estar do lado dele. Que que estava acontecendo? Ele nunca deveria ter levantado o assunto.

Alessandra percebeu seu olhar e sorriu. "N�o quero parecer grosseira, mas alguma vez voc� explicou aos outros como pronunciar seu nome ou participou da brincadeira? Eles s� fazem isto, sabe, porque sabem que voc� vai ficar encabulado ou bravo."

Ridvan come�ou a entender o que Alessandra queria dizer. N�o, de fato ele nunca contara como era a pron�ncia correta de seu nome. Desde o primeiro dia, a Srta. Clara dissera errado e ele tentara s� uma vez corrigi-la, antes de desistir. No intervalo, naquele primeiro dia, algumas crian�as da turma tinham se reunido em torno dele, assim como fizeram com a Alessandra no primeiro dia dela. claro que perguntaram o seu nome, mas o acharam estranho e dif�cil de pronunciar. Mas, em vez de tomar parte na brincadeira, rindo junto como fez Alessandra quando pronunciaram o nome dela incorretamente, ele ficara encabulado e vermelho.

Alessandra ainda estava falando. "Voc� tem que ajudar as pessoas, t� entendendo? Nunca ouviram um nome como o seu. E claro que n�o percebem o que ele significa - suponho que voc� nunca lhes contou, n�o �?" ela perguntou, em tom de acusa��o.

"O qu�? Contar que meu nome significa Dia Sagrado? A� sim que iriam rir de mim!"

Alessandra o olhou bem e ent�o deu uma gargalhada. Ridvan parecia incomodado.

"Se voc� pensa que s� isto que significa seu nome, melhor ficar contente que n�o deram nome em homenagem ao dia de hoje! Imagine se voc� fosse 'Declara��o-do-B�b-Silva'!"

Ridvan achou gra�a da id�ia. Logo viu a m�e e o irm�o saindo do bosque, vindo em dire��o a eles. Acenaram.

"Vamos nadar", Pedro gritou e durante a meia hora seguinte, mais ou menos, os tr�s nadaram e brincaram na represa. N�o se falou mais a respeito de nomes ou problemas.

Finalmente, chegou a hora de sair e se enxugar. Esfregaram-se com as toalhas enquanto a Sra. Silva servia ch� quente de uma garrafa t�rmica. Quando estavam mais ou menos secos, o Sr. Silva olhou o rel�gio e disse que achava que estava na hora de se arrumarem para voltar. Colocaram as coisas na cesta de piquenique e as tolhas no barco, puseram novamente os coletes salva-vidas e partiram para o outro lado do lago.

Depois de alguns minutos, o Sr. Silva parou de remar e dirigiu-se a Ridvan: "Se voc� prometer n�o saltar por todos os lados, pode vir aqui e remar um pouco, se quiser."

Ridvan trocou cuidadosamente de lugar com o pai. Pegou os remos - eram mais pesados do que imaginava. Ele tentou fazer o que o pai mostrara a Pedro, mas por algum motivo os bra�os n�o queriam trabalhar juntos. Quando ele puxava o remo direito o barco sa�a numa dire��o. Quando puxava o esquerdo, de repente, sa�a na outra.

"Juntos, puxe-os juntos", gritava o pai. Ridvan tentava, mas os remos pareciam ter vida pr�pria. Era muito dif�cil sequer pux�-los pela �gua, quanto mais ao mesmo tempo!

O Sr. Silva orientava: "Para dentro, dois, tr�s; para fora, dois, tr�s", mas os remos se mexiam quase que sozinhos. Ridvan os segurava com firmeza - n�o queria levar um soco no est�mago, como seu irm�o levara antes.

Finalmente, ele conseguiu fazer ambos funcionarem mais ou menos ao mesmo tempo.

Como seu bra�o direito era mais forte que o esquerdo, ele puxava mais o remo direito. O barco come�ou a girar.

"Endireite o barco, filho, endireite o barco", o pai gritava. Ridvan se confundia e puxou mais forte ainda no remo direito. O barco come�ou a rodar em c�rculo.

"O esquerdo, o esquerdo! Puxe o esquerdo!", o Sr. Silva dizia.

Ridvan ainda puxava o direito. medida que o barco girava em c�rculo na �gua, Pedro e Alessandra come�aram a dar risada baixinho. O Sr. Silva ainda orientava: "Puxe o esquerdo, Ridvan, o remo esquerdo."

Na tentativa de seguir as instru��es do pai, Ridvan empurrou o remo esquerdo na �gua - e o barco deu outra volta. Todos estavam gargalhando agora. Ele ergueu ambos os remos e suspirou. O barco parou.

"Tente de novo", o pai falou. "Puxe os dois na mesma hora."

Ridvan deu de ombro, fez que sim com a cabe�a e come�ou de novo. Desta vez parecia estar dando certo, pois o barco partiu numa linha mais ou menos reta, em dire��o margem.

Ap�s alguns minutos, Ridvan percebeu que Pedro tinha raz�o. Era servi�o pesado mesmo! Ele trocou de lugar com a m�e, de muita boa vontade, depois que Alessandra recusou um convite para tentar remar tamb�m.

"Afinal de contas, quero chegar em casa ainda hoje!", ela disse.

Depois de todo esfor�o, conseguiram chegar ao ancoradouro. A Sra. Silva ajeitou as crian�as no carro, enquanto o Sr. Silva amarrava o barco. Ele parecia demorar toda vida.

"Desculpem, pessoal", ele disse, quando retornou. "Eu s� estava trocando uma palavrinha com o barqueiro. Dei o n�mero do nosso telefone, caso ele quisesse falar sobre a F�."

N�o conversaram muito no caminho de casa - estavam cansados demais. A Sra. Silva distribuiu ma��s. Ridvan mastigava a sua enquanto pensava sobre os acontecimentos do dia. Que ser� que Alessandra queria dizer quando comentou que seu nome tinha um significado? Ele remo�a o assunto durante todo o caminho de casa, mas n�o conseguia compreender.

Tarde naquela noite, ap�s deixar a Alessandra em casa, jantar e lavar a lou�a, Ridvan de repente se lembrou que no dia seguinte teria de contar na aula sobre o Dia Sagrado. Ele n�o gostava de fazer palestras na frente da turma, mas n�o via maneira de escapar. A Srta. Clara fazia todo mundo falar, cedo ou tarde. O que ser� que ele poderia dizer?

Pedro estava ocupado na sua escrivaninha, escrevendo.

"O que voc� est� fazendo?", Ridvan indagou, sem muito interesse.

"� s� uma coisa que tenho de aprender para amanh�", Pedro respondeu.

"Li��o de casa, n�?", Ridvan comentou, solidariamente. Sempre havia tanta li��o!

"N�o bem isso", Pedro respondeu. "Fiquei de contar minha turma por que n�o fui escola hoje. Pensei que seria melhor escrever um esquema do que queria falar."

"Eu tamb�m tenho de fazer isto", Ridvan disse, come�ando a se interessar. "O que voc� vai dizer?"

"T�, leia voc� mesmo", Pedro disse, ao entregar o papel ao irm�o.

Ridvan olhou com curiosidade. Era s� uma lista:
1) B�b - quem Ele era;
2) Mull� Husayn - o que ele fez;
3) A noite de 22 de maio de 1844;
4) Por que o B�b veio;
5) Bahá'u'lláh;
6) Ridvan;

7) Os princ�pios - um s� Deus, um s� povo, uma s� religi�o.

Ridvan levou um susto ao ver o seu nome na lista. "Por que isto est� aqui?" perguntou, apontando para o sexto item da lista.

"Ridvan. Voc� sabe, a Declara��o de Bahá'u'lláh. Voc� n�o pensou que era voc�, pensou?", Pedro disse, mexendo com o irm�o.

"Mas o que isto tem a ver com a Declara��o do B�b?" Ridvan perguntou.

Seu irm�o disse: "Pensei que seria boa id�ia contar um pouco sobre a F� Baha'i, tamb�m. Se o B�b veio para contar �s pessoas que Bahá'u'lláh viria em seguida, eu n�o poderia deixar de contar turma sobre o B�b, sem falar de Bahá'u'lláh, poderia?"

Ridvan come�ou a ficar impaciente. "Mas por que Ridvan?", ele gritou. "O que isto tem a ver com Ridvan?"

"Meninos! Que barulheira essa, a� em cima?", o Sr. Silva gritou l� da sala, no andar de baixo.

Pedro olhou seu irm�o com curiosidade. "N�o precisa gritar, n�", ele disse, um pouco na defensiva. Houve uma pausa e ele come�ou de novo. "Como eu estava dizendo, Ridvan a data em que Bahá'u'lláh declarou que era o Prometido. Os dozes dias no jardim de Ridvan. Pelo menos isto voc� deve ter aprendido na aula Baha'i!" Sendo mais velho, Pedro sempre estivera em turma diferente de Ridvan.

Ridvan sacudiu a cabe�a. Tinha certeza que nunca tinha ouvido isto antes. Mentalmente, ele repassou as coisas que aprendera na aula Baha'i: ora��es, �... uma por��o de ora��es; os Reinos de Deus - quantas vezes ele aprendera sobre os diferentes reinos e os diferentes Manifestantes; um em seguida do outro, at� Bahá'u'lláh. E era praticamente s� isso. Bom, havia os princ�pios tamb�m. E o calend�rio. Ah, e algumas can��es Bahá'ís.

"N�o", ele respondeu. "Acho que nunca chegaram l�."

"Voc� quer dizer que durante todo este tempo, voc� nunca soube da Declara��o de Bahá'u'lláh?", Pedro perguntou.

"� claro que isso eu sabia", Ridvan respondeu. "Sei que Ridvan um Dia Sagrado, tamb�m. S� n�o sabia que os dois eram a mesma coisa."

"Mas voc� n�o presta aten��o nas comemora��es dos Dias Sagrados?" Pedro perguntou. "Voc� j� assistiu muitas comemora��es de Ridvan!"

Ridvan corou - ainda ontem noite estava pensando que deveria prestar mais aten��o nas reuni�es. "Nem sempre", ele sussurrou.

"Pois deveria", Pedro retorquiu. "Poderia aprender alguma coisa." Ele se debru�ou na escrivaninha e come�ou a escrever novamente.

Ridvan come�ou a pensar que talvez seu irm�o pudesse lhe ajudar com a pergunta que o estava atormentando. Alessandra tinha dito tarde que o nome dele tinha um significado. Ser� que Pedro sabia qual era? Ele resolveu tentar.

"Voc� poderia... voc� poderia me contar o que significa 'Ridvan'...?" Ele engoliu em seco.

"... por favor?"

Pedro se virou para o irm�o. Parecia que ia dar risada, mas ele deve ter refletido melhor, pois disse numa voz suave: "Ridvan um jardim perto de Bagd�, onde Bahá'u'lláh ficou por dez anos quando foi exilado da P�rsia. Ele havia sido mandado para outro lugar, mas, antes de sair de Bagd�, Ele ficou neste jardim por doze dias. Foi l� que Ele disse a todos que era Aquele que o B�b dissera que viria." Pedro parou e olhou seu irm�o. Ridvan estava com o olhar fixo na dist�ncia, tentando se concentrar no que o irm�o dizia.

Pedro continuou: "isto foi Sua Declara��o, entende? O jardim era um lugar muito bonito, um para�so, por isto chamado Ridvan. Isto quer dizer para�so. Suponho que voc� sabe o que

para�so, n�?"

Ridvan fez que sim com a cabe�a - isso tinha aprendido na escola. Ele se manteve em sil�ncio. De repente, toda sua vis�o mudara. Remo�a na mente o que o irm�o dissera. Embora seu nome fosse muito diferente, sem d�vida era um nome especial. Ent�o era isto que Alessandra queria dizer quando comentou que seu nome tinha um significado. Agora ele compreendia porque ela riu quando ele disse que era simplesmente um Dia Sagrado - era muito mais que isto!

Ridvan se sentia mais feliz do que jamais estivera desde que chegara a Rouxinol. Queria contar a Pedro todos os seus problemas com Eduardo e os outros meninos, mas Pedro estava absorto na sua tarefa. E ent�o Ridvan se lembrou de Eduardo! Ele nem se importaria que Ridvan fosse um nome Bahá'í especial - Eduardo nem era Baha'i. Ridvan se entristeceu outra vez. Mesmo que seu nome tivesse um significado maravilhoso, Eduardo e seus amigos ainda gozariam dele. Na verdade, nada realmente tinha mudado.

Ent�o Ridvan se lembrou de algo que Alessandra dissera: ela n�o se incomodava que a chamassem de 'Alexandra' em vez de 'Alessandra', porque ela mesma sabia a pron�ncia certa do seu nome. Eram os outros que estavam errados - e ela dissera que um dia eles aprenderiam o certo e veriam que eles mesmos eram motivo de piada, mas Alessandra tamb�m dissera que era preciso 'dar uma m�o' para as pessoas. De fato, ele refletiu, n�o podia esperar que soubessem pronunciar certo seu nome ou compreender seu significado, se ele nunca havia contado. Mas ele poderia contar agora, depois de tanta goza��o? Talvez ele pudesse abordar o assunto de alguma maneira na sua palestra amanh�. Isso mesmo! Ele faria o mesmo que Pedro - falaria do B�b e Bahá'u'lláh juntos e depois explicaria como seu nome estava no assunto.

Por um instante, Ridvan se sentia satisfeito. Pegou um l�pis e papel e come�ou a escrever rapidamente uma lista como a de Pedro. De repente, deixou o l�pis cair e bateu na testa com a m�o. Eduardo nem estava na turma dele! Nem ouviria a palestra de Ridvan.

Ridvan se sentia miser�vel. Sentou na beirada da cama, olhando o ch�o fixamente. Os olhos focalizaram numa mancha r�sea no ch�o - o que seria? Ele se dobrou para apanh�-la. Era uma das p�talas que ca�ram do seu livro de ora��es na noite anterior - aquela que ele n�o alcan�ara. Deve ter sa�do debaixo da cama. Ridvan alcan�ou o livro de ora��es. Havia um marcador e o livro abriu naquele lugar, Ridvan colocou a p�tala entre as p�ginas e deu uma olhada na ora��o da p�gina marcada. Era aquela que ele lera na noite anterior. Ele estremeceu lembran�a de seu erro, mas leu a ora��o novamente: "... remove meu pesar, faze-me adorar Tua Beleza, afasta-me de tudo,

salvo de Ti..."

Se ele se concentrasse em se aproximar de Deus, talvez a goza��o cessaria. Mas ele duvidava - Eduardo era assim mesmo. Se ele tentasse ser um Bahá'í melhor talvez as coisas n�o o incomodariam tanto. Ele simplesmente tentaria ser corajoso ao compreender que Deus o ajudaria - n�o era assim que todas estas ora��es diziam? Ele se lembrou que uma das ora��es que decorara era justamente para este prop�sito - pedir ajuda a Deus. Na verdade, era uma ora��o do B�b. Ele fechou os olhos e recitou: "H� quem remova as dificuldades a n�o ser Deus? Dize: Louvado seja Deus! Ele Deus. Todos s�o Seus servos e todos obedecem a Seu Mandamento."

J� estava se sentindo melhor. "Amanh�" - ele disse para si mesmo, medida que se arrumava para dormir - "farei isto amanh� mesmo."

Naquela noite, Ridvan n�o dormiu muito bem. Duas vezes acordou de sobressalto ao se lembrar do supl�cio que o aguardava. A palestra na sala de aula seria relativamente f�cil, j� que Pedro tinha lhe dado a id�ia de fazer a lista. Mas confrontar Eduardo e seus amigos... S� de pensar nisto, Ridvan se arrepiava. Ele se preocupava muito com isto. Mas cada vez que acordava acabava finalmente se lembrando da decis�o que tomara de confiar em Deus e recitava novamente a ora��o do B�b. Isto o acalmava e por fim adormecia, sonhando com represas e �culos-de-sol e remando, barcos cheios de nordestinos...

No dia seguinte, Ridvan acordou mais cedo que de costume; ele murmurou a ora��o do B�b medida que se levantava, contente consigo mesmo por ter se lembrado das ora��es matinais, finalmente. Ele deu "tchau" para a m�e ao sair para a escola. Caminhando pela rua, ele pensava na decis�o da noite anterior e na palestra que daria naquele dia. Mas como o tempo estava legal, seus pensamentos logo vagavam para outras coisas: v�lei naquela tarde, f�rias na semana seguinte, quando poderia visitar seus amigos em Colibri, uma viagem ao litoral, se o tempo continuasse bom. E ent�o ele viu Eduardo sentado num muro com os outros meninos. Todo o pensamento das f�rias que se aproximavam desapareceu. O cora��o de Ridvan batia cada vez mais depressa, medida que se aproximava do grupo. Ele queria sair correndo - sabia que gozariam dele outra vez. Dito e feito! A� vinha Eduardo, que j� descera do muro.

"Oi Div�", ele gritou.
Um menino fez uma careta e gritou: "Div�, Div�."

Outro entrou no c�ntico conhecido: "Div�, p�, p�, p�, Div�!"

Ridvan sentia a cor tomar conta de seu rosto. Talvez devesse passar como sempre fizera. Ent�o decidiu que n�o. Tinha de acabar com isto de uma vez por todas. Lembrou-se da noite anterior e repetiu a pequena ora��o do B�b em sil�ncio. Respirou fundo. E ent�o ele sorriu, dirigiu-se diretamente ao Eduardo e disse numa voz amig�vel e calma: "Oi, Eduardo. Meu nome 'Rez-van'."


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