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Shoghi Effendi : A Ordem Mundial de Bahá'u'lláh
SHOGHI EFFENDI
A ORDEM MUNDIAL de Bahá'u'lláh
CARTAS SELECIONADAS
Título original:
The World Order of Bahá'u'lláh - Selected Letters
Editora Bahá'í do Brasil
Tradução: Rolf von Czékus, Osmar Mendes e

Leonora Armstrong (Capítulo: A Dispensação de Bahá'u'lláh)

"O equilíbrio do mundo foi alterado através da influência vibrante desta nova e mais grandiosa Ordem

Mundial." - Bahá'u'lláh
INTRODUÇÃO

As comunicações gerais escritas à comunidade Bahá'í americana pelo Guardião da Fé entre 1922

e 1929 explicaram e encorajaram o desenvolvimento das instituições administrativas criadas por

Bahá'u'lláh e promulgadas por 'Abdu'l-Bahá em Sua ÚLTIMA VONTADE E TESTAMENTO. Estas cartas

foram publicadas em um volume intitulado Bahá'í ADMINISTRATION, a fonte de informação sobre as

instituições das Assembléias Espirituais Local e Nacional, a Convenção Anual, e a natureza daqueles

relacionamentos que organicamente unem os Bahá'ís em seu modo coletivo de adoração e atividades.

As cartas, agora colecionadas e publicadas sob o título de A ORDEM MUNDIAL DE Bahá'u'lláh,

têm uma finalidade diferente e um escopo muito mais amplo. Estas comunicações posteriores revelam

uma visão clara da relação entre a comunidade Bahá'í e o processo total de evolução social sob a

Dispensação de Bahá'u'lláh. A distinção vital entre a comunidade Bahá'í e as seitas e congregações de

religiões passadas já havia sido evidenciada, porém, o volume presente estabelece a Ordem

Administrativa Bahá'í como o núcleo e padrão da civilização mundial emergindo sob inspiração divina

neste ponto focal da história humana. Enquanto, portanto, representa uma continuação da tarefa

especial do Guardião de ensinar e guiar os Bahá'ís durante todo o desenvolvimento de uma Fé

rapidamente madurando, o volume desvela o grau total em que a Mensagem de Bahá'u'lláh se aplica

ao mundo da humanidade e não meramente àqueles que são crentes nesta época. O título e sub-títulos

não fizeram parte do texto original, porém foram adicionados com a aprovação de Shoghi Effendi para

conveniência do leitor.

Na A ORDEM MUNDIAL DE Bahá'u'lláh nos é dado perceber o significado da nova dimensão

que Bahá'u'lláh deu à religião nesta era: a supremacia da Lei Divina na civilização, cumprindo aquela

supremacia que em Dispensações anteriores a religião exerceu sobre almas individuais. A exposição

dos Ensinamentos por Shoghi Effendi, sua percepção única da meta e propósito final da Revelação de

Bahá'u'lláh, não são um comentário estático a respeito de um texto sagrado, porém, a própria essência

de estadística mundial evocada na hora da mais terrível necessidade do homem. Os Bahá'ís não mais

necessitam do Testamento escrito de 'Abdu'l-Bahá para provar a existência da Guardiania – as

comunicações sucessivas de Shoghi Effendi, e especialmente aquelas devotadas ao assunto da Ordem

Mundial, em si mesmas, contêm a mais alta demonstração de que o Espírito de Bahá'u'lláh continua a

abençoar Sua Causa e assegurar sua vitória na reconciliação dos povos da terra e sua união em "uma Fé

e uma Ordem".

Para aqueles que propendiam a crer que mesmo a concretização do poderoso sonho do "retorno

de Cristo" significaria nada mais que a vindicação de espiritualidade pessoal e probidade individual, a

idéia da religião dar a lei para a nação é o conceito mais revolucionário que pode penetrar na mente do

homem. "Pois Bahá'u'lláh, devemos prontamente reconhecer, não só imbuiu a humanidade com um

novo e regenerador Espírito. Ele não enunciou meramente certos princípios universais, ou propôs uma

filosofia específica, por mais potentes, sólidos e universais que possam ser. Além destes, Ele, assim

como 'Abdu'l-Bahá após Ele, estabeleceu, ao contrário das Dispensações do passado, clara e

especificamente um conjunto de Leis, estabeleceu instituições específicas, e proveu os fundamentos de

uma Economia Divina. Estes são destinados a ser um padrão para a sociedade futura, um instrumento

supremo para o estabelecimento da Paz Máxima e o meio para a unificação do mundo, e a proclamação

do reino da integridade e justiça sobre a terra." ... "Não necessita o próprio funcionamento das forças

unificadoras mundiais que estão em atuação nesta era, que Ele, que é o Portador da Mensagem de Deus

neste dia deva, não só reafirmar aquele idêntico padrão exaltado de conduta individual inculcado pelos

Profetas que vieram antes dEle, mas incorporar em Seu apelo, a todos os governos e povos, os

fundamentos daquele código social, daquela Economia Divina, que deve orientar os esforços

combinados da humanidade para estabelecer aquela federação universal que deve assinalar o advento

do Reino de Deus nesta terra?"

Palavras como estas, carregadas com a potência de uma Fé que não é meramente um livro escrito,

mas o próprio Espírito dinâmico transformando a vida do mundo inteiro, tornam A ORDEM MUNDIAL

DE Bahá'u'lláh uma obra de importância consumada para todo investigador sincero e não só para

Bahá'ís. À luz do caos internacional existente, elas revelam a Verdade mais significativa desta era, ou

seja, que a velha concepção de religião, que separou espiritualidade das funções fundamentais de

civilização, compelindo homens a se sujeitar a conflitantes princípios de fé, de política e de economia,

foi destruída para sempre. O mandamento "Dá a Deus o que é de Deus e a César o que é de César", foi

anulado pela lei da unicidade da humanidade revelada por Bahá'u'lláh.

"Líderes da religião, exponentes de teorias políticas, governantes de instituições humanas, que na

época atual estão testemunhando com perplexidade e desalento a falência de suas idéias, e a

desintegração de suas obras, fariam bem em volver seu olhar para a Revelação de Bahá'u'lláh, e em

meditar a respeito da Ordem Mundial que, jazendo oculta em Seus ensinamentos, está vagarosa e

imperceptivelmente surgindo entre o tumulto e o caos da civilização atual."

Horace Holley
* * *
PREFÁCIO
À EDIÇÃO EM LÍNGUA INGLESA DE 1955

Dezessete proféticos anos passaram desde a publicação da primeira edição de A ORDEM

MUNDIAL DE Bahá'u'lláh. Nem os desastres da segunda Guerra Mundial nem a crescente ameaça do

período após guerra pode desafiar as convicções de Shoghi Effendi, invalidar sua tese, ou negar suas

esperanças finais expressas nestas cartas escritas entre 1929 e 1936. Pelo contrário, sua apresentação da

missão mundial da Fé Bahá'í adquire força adicional da própria falha da filosofia e estadística humana

em alcançar segurança para a humanidade. O leitor tem, nestas páginas, acesso a um documento

público dirigido às pessoas de fé espiritual em todas as raças, todas as nações e todos os credos.

Reconhecimento e aceitação, entretanto, exigem um ato de fé, uma vez que estas verdades básicas

ainda não têm endosso comparável, em influência pública, com os preconceitos massivos que ainda

comandam a lealdade das mentes partidárias.

A tese fundamental desenvolvida nesse trabalho foi desenvolvida ainda mais em duas obras

posteriores pelo Guardião da Fé.

Num texto datado de 25 de dezembro de 1938, Shoghi Effendi desenvolveu o poderoso tema, O

ADVENTO DA JUSTIÇA DIVINA, aclamando a vitória final da unidade mundial depois que os povos

tiverem sido purgados e purificados por intensas provações. Reconhecendo que os Bahá'ís

estabeleceram sua ordem administrativa, o Guardião iça as grandes missões de ensino que esta ordem

está destinada a empreender. O texto é identificado intimamente com a comunidade bahá'í, mas esta

comunidade é associada com uma meta, representando os melhores interesses da própria humanidade.

A segunda obra, O DIA PROMETIDO CHEGOU, datado de 28 de março de 1941, relacionou a

história dos séculos Dezenove e Vinte com o Báb, Bahá'u'lláh e 'Abdu'l-Bahá, que exemplificaram a

expressão da Vontade Divina. O destino de uma era é determinado por sua recepção aos Profetas.

Quando a Palavra de Deus é negada, resistida e esforço feito para destruir sua potência, o homem se

coloca em oposição a Deus. Desta oposição fluem as guerras e revoluções que se tornam os

instrumentos pelos quais uma geração que não crê inflige terríveis punições sobre si mesma.

O DIA PROMETIDO CHEGOU traz a nota de clima dramático à discussão do Guardião a respeito da

Fé de Bahá'u'lláh e o mundo em que seu alto mistério é desvelado.

Para o leitor que procura compreensão dos antecedentes históricos nos quais a Fé Bahá'í surgiu e

cumpriu o seu destino e algum conhecimento do estabelecimento das instituições Bahá'ís no Oriente e

no Ocidente, A PRESENÇA DE DEUS de Shoghi Effendi provê o registro autêntico dos acontecimentos e

elucida o seu significado. Esta obra, de fato, apresenta-se como única nos anais da religião como a

história do Profeta, escrita logo após o Seu passamento pelo Chefe de sua comunidade, com acesso a

todos os documentos e materiais e completa compreensão de sua natureza e propósito.

O exame de A ORDEM MUNDIAL DE Bahá'u'lláh, portanto, abre a porta à mais efetiva

expressão de estadística espiritual disponível no mundo hoje.

A ORDEM MUNDIAL DE Bahá'u'lláh

AOS MEMBROS DA ASSEMBLÉIA ESPIRITUAL NACIONAL DOS Bahá'ís DOS ESTADOS UNIDOS E DO

CANADÁ
Ternamente amados colaboradores,

Estou familiarizado, através da leitura cuidadosa de suas comunicações mais recentes, com a

natureza das dúvidas que têm sido expressas publicamente, por alguém que está totalmente enganado

quanto aos verdadeiros preceitos da Causa, com respeito à validade das instituições que estão

inextricavelmente entrelaçadas com a Fé de Bahá'u'lláh. Não que eu, por um momento sequer, veja

estas tênues dúvidas à luz de um desafio aberto à estrutura que personifica a Fé, nem é porque eu

questione, no mínimo grau, a tenacidade inabalável da fé dos crentes americanos, se me aventuro a

discorrer sobre observações que me parecem apropriadas no presente estágio de evolução de nossa

amada Causa. Na verdade, estou inclinado a saudar a expressão dessas inquietações, visto que me

proporcionam uma oportunidade de familiarizar os representantes eleitos dos crentes com a origem e o

caráter das instituições, que se encontram na própria base da Ordem Mundial introduzida por

Bahá'u'lláh. Deveríamos nos sentir verdadeiramente gratos por tais fúteis tentativas de solapar nossa

amada Fé – tentativas que de tempos em tempos projetam suas faces feias, parecem por algum tempo

capazes de criar uma ruptura nas fileiras dos fiéis, retrocedem finalmente para a obscuridade do

esquecimento, e não mais são lembradas. Deveríamos considerar tais incidentes como as interposições

da Providência, destinadas a fortalecer nossa fé, esclarecer nossa visão e aprofundar nossa

compreensão dos fundamentos de Sua Revelação Divina.

ORIGENS DA ORDEM MUNDIAL BAHÁ'Í

Seria, entretanto, útil e instrutivo ter-se em mente certos princípios básicos com relação à Última

Vontade e Testamento de 'Abdu'l-Bahá, o qual, junto com o Kitáb-i-Aqdas, constitui o principal

repositório dentro do qual estão entesourados aqueles elementos inestimáveis daquela Civilização

Divina, cujo estabelecimento é a missão primordial da Fé Bahá'í. Um estudo das provisões destes

documentos sagrados revelará o íntimo relacionamento que existe entre os mesmos, bem como a

identidade de propósito e método que inculcam. Longe de considerar as provisões específicas deles

como incompatíveis e contraditórias em espírito, todo indagador imparcial prontamente admitirá que

não só são complementares, mas que mutuamente confirmam um ao outro e são partes inseparáveis de

uma unidade completa. Uma comparação de seu conteúdo com o resto dos Escritos Sagrados Bahá'ís,

estabelecerá igualmente a conformidade de tudo que contêm, tanto com o espírito como com a letra dos

escritos e declarações autênticas de Bahá'u'lláh e 'Abdu'l-Bahá. De fato, aquele que lê o Aqdas, com

cuidado e diligência, não terá dificuldade em descobrir que o próprio Livro Mais Sagrado antecipa em

vários trechos as instituições que 'Abdu'l-Bahá estabelece em Seu Testamento. Ao deixar de

especificar ou regulamentar certas questões em Seu Livro de Leis, Bahá'u'lláh parece ter

deliberadamente deixado uma lacuna no esquema geral da Dispensação Bahá'í, a qual foi preenchida

pelas provisões inequívocas do Testamento do Mestre. Tentar divorciar um do outro, insinuar que os

Ensinamentos de Bahá'u'lláh não foram mantidos, em sua totalidade e com absoluta integridade, por

aquilo que 'Abdu'l-Bahá revelou em Seu Testamento, é uma afronta imperdoável à fidelidade

inabalável que caracterizou a vida e os esforços de nosso amado Mestre.

Não farei a mínima tentativa de asseverar ou demonstrar a autenticidade da Última Vontade e

Testamento de 'Abdu'l-Bahá, pois isto, em si mesmo, revelaria uma apreensão de minha parte quanto à

confiança unânime dos crentes na autenticidade dos últimos desejos escritos de nosso falecido Mestre.

Restringirei minhas observações àquelas questões que possam ajudá-los a apreciar a unidade essencial

que fundamenta os princípios espirituais, humanitários e administrativos, enunciados pelo Autor e pelo

Intérprete da Fé Bahá'í.

Sinto-me incapaz de explicar a estranha mentalidade que tende a sustentar como único critério da

verdade dos Ensinamentos Bahá'ís aquilo que reconhecidamente é só uma tradução obscura e não

autenticada de um pronunciamento oral feito por 'Abdu'l-Bahá, em desafio e total descaso do texto

disponível de todos os Seus escritos universalmente reconhecidos. Deploro, sinceramente, as distorções

infelizes que, em dias passados, resultaram da incapacidade do intérprete de compreender o significado

de 'Abdu'l-Bahá, e de sua incompetência de apresentar adequadamente tais verdades como lhe foram

reveladas pelas declarações do Mestre. Grande parte da confusão que obscureceu a compreensão dos

crentes deve ser atribuída a este duplo erro contido na apresentação inexata de uma declaração somente

parcialmente compreendida. Freqüentemente o intérprete até mesmo falhou em transmitir o significado

das perguntas específicas da pessoa que perguntava e, em virtude de sua deficiência de compreensão e

expressão ao transmitir a resposta de 'Abdu'l-Bahá, foi responsável por relatórios totalmente em

desacordo com o verdadeiro espírito e propósito da Causa. Foi principalmente em vista da natureza

enganadora dos relatórios das conversas informais de 'Abdu'l-Bahá com peregrinos em visita, que

tenho insistentemente urgido aos crentes do Ocidente a considerarem tais declarações meramente como

impressões pessoais das afirmações de seu Mestre, e de citarem e considerarem como autênticas

somente as traduções que são baseadas sobre o texto autenticado de suas elocuções registradas na

língua original.

Deve ser lembrado por todo seguidor da Causa que o sistema de administração Bahá'í não é uma

inovação imposta arbitrariamente aos Bahá'ís do mundo desde o passamento do Mestre, porém, deriva

sua autoridade da Última Vontade e Testamento de 'Abdu'l-Bahá, é especificamente prescrito em

inúmeras Epístolas, e algumas de suas características essenciais se apóiam nas provisões explícitas do

Kitáb-i-Aqdas. Assim sendo, ele unifica e correlaciona os princípios isoladamente estabelecidos por

Bahá'u'lláh e 'Abdu'l-Bahá, e é indissoluvelmente ligado às verdades fundamentais da Fé. Desassociar

os princípios administrativos da Causa dos ensinamentos puramente espirituais e humanitários seria

equivalente a uma mutilação do corpo da Causa, uma separação que tão somente pode resultar na

desintegração de suas partes componentes e da extinção da própria Fé.

CASAS DE JUSTIÇA LOCAIS E NACIONAIS

Deve ser atentamente lembrado que as Casas de Justiça, tanto a local como a internacional, foram

expressamente ordenadas no Kitáb-i-Aqdas; que a instituição da Assembléia Espiritual Nacional, como

um corpo intermediário, à qual o Testamento do Mestre se refere como a "Casa Secundária de Justiça",

tem a sanção expressa de 'Abdu'l-Bahá; e que o método a ser seguido para a eleição das Casas de

Justiça Internacional e Nacional foi estabelecido por Ele em Seu Testamento, assim como em diversas

de Suas Epístolas. Além disso, as instituições dos Fundos local e nacional, que agora são os adjuntos

necessários para todas as assembléias espirituais locais e nacionais, não somente foram estabelecidas

por 'Abdu'l-Bahá nas Epístolas que Ele revelou para os Bahá'ís do Oriente, mas sua importância e

necessidade foram repetidamente enfatizadas por Ele em Suas elocuções e escritos. A concentração da

autoridade nas mãos dos representantes eleitos dos crentes; a necessidade da submissão de todo

aderente da Fé ao julgamento ponderado das Assembléias Bahá'ís; Sua preferência pela unanimidade

na decisão; o caráter decisivo do voto majoritário; e até mesmo a conveniência do exercício de

supervisão minuciosa sobre todas as publicações Bahá'ís, foram diligentemente instilados por 'Abdu'l-

Bahá, como é evidenciado por Suas autenticadas e amplamente divulgadas Epístolas. Aceitar Seus

amplos e humanitários Ensinamentos por um lado e, por outro, rejeitar e descartar com indiferença

negligente Seus preceitos mais desafiadores e notáveis, seria um ato de deslealdade manifesta àquilo

que Ele mais deu valor em Sua vida.

Que as Assembléias Espirituais de hoje serão substituídas no devido tempo pelas Casas de

Justiça, e são para todos os efeitos corpos idênticos e não separados, é abundantemente confirmado

pelo próprio 'Abdu'l-Bahá. De fato, em uma Epístola dirigida aos membros da primeira Assembléia

Espiritual de Chicago, o primeiro corpo Bahá'í instituído nos Estados Unidos. Ele se referiu aos

mesmos como os membros da "Casa de Justiça" para aquela cidade, e assim, estabeleceu com Sua

própria pena, acima de qualquer dúvida, a identidade das atuais Assembléias Espirituais Bahá'ís como

sendo as Casas de Justiça às quais Bahá'u'lláh se referiu. Por razões que não são difíceis de descobrir,

foi considerado aconselhável conferir aos representantes eleitos das comunidades Bahá'ís através do

mundo a designação temporária de Assembléias Espirituais, um termo que, à medida em que a posição

e os objetivos da Fé Bahá'í são melhor compreendidos e mais amplamente reconhecidos, será

gradualmente substituído pela designação permanente e mais apropriada de Casa de Justiça. As

Assembléias Espirituais da atualidade não só serão intituladas de modo diferente no futuro, mas,

também, serão capacitadas a adicionar às suas funções presentes aqueles poderes, deveres e

prerrogativas necessários ao reconhecimento da Fé de Bahá'u'lláh, não meramente como um dos

sistemas religiosos reconhecidos do mundo, mas como a Religião de Estado de um Poder Soberano e

independente. E à medida que a Fé Bahá'í permeia as massas dos povos do Oriente e Ocidente, e a sua

verdade é aceita pela maioria das pessoas de diversos Estados Soberanos do mundo, a Casa Universal

de Justiça alcançará a plenitude de seu poder, e exercerá, como o órgão supremo da comunidade bahá'í,

todos os direitos, os deveres e responsabilidades incumbentes ao futuro super-estado mundial.

Neste contexto, entretanto, deve ser salientado que, ao contrário do que foi confiantemente

afirmado, o estabelecimento da Suprema Casa de Justiça de modo algum é dependente da adoção da Fé

Bahá'í pela massa dos povos do mundo, nem pressupõe a sua aceitação pela maioria dos habitantes de

qualquer país. De fato, o próprio 'Abdu'l-Bahá, em uma de Suas mais antigas Epístolas, contemplou a

possibilidade da formação da Casa Universal de Justiça no decurso de Sua própria vida, e se não fosse

pelas circunstâncias desfavoráveis prevalecentes sob o regime turco, teria tomado, provavelmente, os

passos preliminares para o seu estabelecimento. Portanto, será evidente que existindo as circunstâncias

favoráveis, nas quais os Bahá'ís da Pérsia e dos países vizinhos sob domínio soviético possam eleger

seus representantes nacionais de acordo com os princípios orientadores estabelecidos nos escritos de

'Abdu'l-Bahá, o único obstáculo restante no que diz respeito à formação da Casa Internacional de

Justiça terá sido removido. Pois, de conformidade com as provisões explícitas do Testamento,

diretamente às Casas Nacionais de Justiça do Oriente e do Ocidente cabe a tarefa de eleger os membros

da Casa Internacional de Justiça. Somente quando eles próprios forem totalmente representativos do

corpo dos crentes em seus respectivos países, somente quando tiverem adquirido a influência e a

experiência que os capacitará a funcionar vigorosamente na vida orgânica da Causa, é que eles poderão

abordar sua sagrada tarefa e prover a base espiritual para a constituição de um corpo tão augusto no

mundo bahá'í.
A INSTITUIÇÃO DA GUARDIANIA

Deve, também, ser claramente compreendido por todo crente que a instituição da Guardiania, de

maneira alguma, ab-roga, ou mesmo diminui, no mínimo grau, os poderes concedidos à Casa Universal

de Justiça por Bahá'u'lláh no Kitáb-i-Aqdas, e repetida e solenemente confirmados por 'Abdu'l-Bahá

em Seu Testamento. Não constitui de modo algum uma contradição ao Testamento e Escritos de

Bahá'u'lláh, nem anula qualquer de Suas instruções reveladas. Realça o prestígio daquela exaltada

assembléia, estabiliza sua posição suprema, salvaguarda sua unidade, assegura a continuidade de seus

esforços, sem ousar, nem de leve, infringir a inviolabilidade de sua esfera claramente definida de

jurisdição. Na verdade, estamos demasiadamente próximos de um documento tão monumental para

reivindicar para nós mesmos uma compreensão completa de todas as suas implicações, ou supor que

tenhamos entendido os múltiplos mistérios que sem dúvida contém. Somente gerações futuras poderão

compreender o valor e o significado vinculado a esta Divina Obra-Prima que a mão do Arquiteto do

mundo projetou para a unificação e o triunfo da Fé mundial de Bahá'u'lláh. Somente aqueles que virão

depois de nós estarão em posição de perceber o valor da ênfase surpreendentemente forte que foi dada

à instituição da Casa de Justiça e da Guardiania. Somente eles apreciarão o significado da linguagem

vigorosa empregada por 'Abdu'l-Bahá com referência ao bando de rompedores do Convênio que se

opôs a Ele em Seus dias. Somente a eles será revelada a adequação das instituições iniciadas por

'Abdu'l-Bahá ao caráter da sociedade futura que deverá emergir do caos e da confusão da época

presente. Neste contexto, só posso rir da absurda e fantástica idéia de que Muhammad-'Alí, o principal

agente motor e o centro focal de inflexível hostilidade à pessoa de 'Abdu'l-Bahá, tenha se associado

livremente com os membros da família de 'Abdu'l-Bahá no forjamento de um testamento que, nas

palavras da própria autora, nada mais é que um "recital de maquinações", nas quais por trinta anos

Muhammad-'Alí esteve diligentemente ocupado. A uma vítima tão desesperada de idéias confusas,

sinto que melhor posso responder com uma genuína expressão de compaixão e piedade, mesclada com

minha esperança pela sua libertação de tão profunda ilusão. Foi em vista das observações

supramencionadas, após a infeliz e inevitável demora ocasionada pela minha falta de saúde e ausência

da Terra Santa durante o passamento do Mestre, que eu hesitei em recorrer à indiscriminada circulação

do Testamento, percebendo perfeitamente que ele era primariamente dirigido aos crentes reconhecidos

e somente indiretamente concernia ao conjunto mais amplo de amigos e simpatizantes da Causa.

O PROPÓSITO QUE ANIMA AS INSTITUIÇÕES Bahá'ís

E, agora, cumpre-nos refletir sobre o propósito que anima e as funções primárias destas

instituições divinamente estabelecidas, cujo caráter sagrado e cuja eficácia universal somente pode ser

demonstrado pelo espírito que difundem e o trabalho que de fato realizam. Não necessito estender-me

sobre o que já reiterei e enfatizei: que a administração da Causa deve ser concebida como um

instrumento e não um substituto para a Fé de Bahá'u'lláh, que ela deve ser considerada como um canal

através do qual Suas prometidas bênçãos podem fluir, que ela deva prevenir-se contra uma rigidez do

tipo que obstruiria e restringiria as forças libertadoras liberadas por Sua Revelação. Não necessito

estender-me no momento presente sobre o que afirmei no passado: que contribuições aos Fundos local

e nacional são de caráter puramente voluntário; que nenhuma coerção ou solicitação de fundos deve ser

tolerada na Causa: que apelos gerais dirigidos às comunidades como um corpo devem ser a única forma

pela qual as necessidades financeiras da Fé devem ser enfrentadas; que o sustento financeiro concedido

a uns poucos trabalhadores nos campos de ensino e administração é de natureza temporária; que as

restrições atuais impostas à publicação de literatura Bahá'í serão definitivamente abolidas; que a

atividade de Unidade Mundial está sendo realizada como uma experiência para testar a eficácia do

método indireto de ensino; que todo o mecanismo de assembléias, de comitês e convenções deve ser

considerado como um meio, e não como um fim em si mesmo; que eles irão ascender ou cair, de

acordo com sua capacidade de promover os interesses, coordenar as atividades, aplicar os princípios,

concretizar os ideais e executar o propósito da Fé Bahá'í. Quem, posso perguntar, ao observar o caráter

internacional da Causa, suas extensas ramificações, a crescente complexidade de seus assuntos, a

diversidade de seus aderentes, e o estado de confusão que por todos os lados assalta a infante Fé de

Deus, poderia, por um momento, questionar a necessidade de algum tipo de mecanismo que, em meio à

tempestade e tensão de uma civilização em dificuldades, possa assegurar a unidade da Fé, a

preservação de sua identidade, e a proteção de seus interesses? Repudiar a validade das assembléias dos

ministros eleitos da Fé de Bahá'u'lláh, seria rejeitar aquelas inumeráveis Epístolas de Bahá'u'lláh e

'Abdu'l-Bahá, nas quais exaltaram seus privilégios e deveres, enfatizaram a glória de sua missão,

revelaram a imensidade de sua tarefa, e os preveniram contra os ataques que devem esperar da falta de

sabedoria de seus amigos, bem como da malícia de seus inimigos. Àqueles em cujas mãos foi confiada

uma herança tão inestimável, compete certamente vigiarem devotadamente, a fim de que o instrumento

não venha a suplantar a própria Fé; a fim de que preocupação indevida com minúcias resultantes da

administração da Causa, não obscureçam a visão de seus promotores; a fim de que parcialidade,

ambição e mundanidade, não tendam, com o passar do tempo, a nublar a radiância, manchar a pureza, e

prejudicar a eficácia da Fé de Bahá'u'lláh.
SITUAÇÃO NO EGITO

Já me referi, nas minhas comunicações anteriores de 10 de janeiro de 1926 e 12 de fevereiro de

1927, à desconcertante, porém altamente significativa, situação que surgiu no Egito como resultado do

julgamento final da corte eclesiástica muçulmana naquele país, proferido contra nossos irmãos

egípcios, denunciando-os como hereges, expulsando-os de seu meio e lhes recusando a aplicação e os

benefícios da Lei Muçulmana. Também os inteirei das dificuldades com as quais eles se defrontam, e

os planos que conceberam, a fim de obter das autoridades civis egípcias um reconhecimento da posição

independente de sua Fé. Deve ser explicado, entretanto, que nos países muçulmanos do Oriente

Próximo e Médio, com exceção da Turquia que recentemente aboliu todas as cortes eclesiásticas sob

seu domínio, toda comunidade religiosa reconhecida tem, em assuntos de caráter pessoal tais como

casamento, divórcio e herança, sua própria corte eclesiástica, totalmente independente dos tribunais

civis e criminais, não existindo nesses casos um código civil promulgado pelo governo e abarcando

todas as diferentes comunidades religiosas. Até então, considerados como uma seita do islã, os Bahá'ís

do Egito, que em sua maioria são de origem muçulmana, e, por esse motivo, impossibilitados de se

dirigirem para fins de casamento e divórcio aos tribunais religiosos reconhecidos de qualquer outra

denominação, encontram-se, conseqüentemente, em uma situação delicada e anômala. Naturalmente,

resolveram referir seu caso ao governo egípcio e, para esse fim, prepararam uma petição a ser dirigida

ao chefe do gabinete egípcio. Neste documento relataram os motivos que os compeliam a procurar o

reconhecimento de seus governantes, asseveraram sua prontidão e suas qualificações para exercer as

funções de uma corte Bahá'í independente, os asseguraram de sua obediência e lealdade implícitas ao

Estado e de sua abstenção de interferência na política de seu país. Decidiram, também, enviar junto

com o texto de sua petição uma cópia do julgamento da Corte, seleções dos escritos Bahá'ís, e o

documento que expõe os princípios de sua constituição nacional que, com poucas exceções, é idêntica à

Declaração e os Estatutos promulgados pela vossa Assembléia.

Insisti que as cláusulas de sua constituição deveriam, em todos os seus detalhes, estar de acordo

com o texto da Declaração de Incumbência e Estatutos estabelecida por vós, procurando, deste modo,

preservar a uniformidade que sinto ser essencial em todas as Constituições Nacionais Bahá'ís. Gostaria,

portanto, de vos solicitar neste contexto, o que já dei a entender a eles, que quaisquer emendas que

possam decidir introduzir no texto da Declaração e dos Estatutos deve ser devidamente comunicada a

mim, a fim de que eu possa tomar os passos necessários para a introdução de modificações similares no

texto de todas as outras Constituições Nacionais Bahá'ís.

Será facilmente admitido que, em vista dos privilégios peculiares concedidos às Comunidades

religiosas reconhecidas nos países islâmicos do Oriente Próximo e Médio, a solicitação a ser submetida

pela Assembléia Nacional Bahá'í do Egito ao governo do Egito é mais substancial e de maior alcance

do que o que já foi concedido pelas Autoridades Federais à sua Assembléia. Pois a petição deles está

principalmente preocupada com uma solicitação formal do reconhecimento da Assembléia Espiritual

Nacional do Egito, por parte das mais altas autoridades civis no Egito, como uma corte Bahá'í

reconhecida e independente, livre e capaz de executar e aplicar em todas as questões de status pessoal

as leis e determinações conforme promulgadas por Bahá'u'lláh no Kitáb-i-Aqdas.

Solicitei que contatassem informalmente as respectivas autoridades e efetuassem a mais completa

indagação possível como uma medida preliminar para a apresentação formal de sua histórica petição.

Qualquer ajuda que vossa Assembléia, após cuidadosa deliberação possa achar aconselhável oferecer

aos valentes promotores da Fé naquele país será profundamente apreciada e servirá para confirmar a

solidariedade que caracteriza as Comunidades Bahá'ís do Oriente e do Ocidente. Qualquer que seja o

resultado final desta poderosa questão – e ninguém pode deixar de apreciar as possibilidades

incalculáveis da presente situação – podemos permanecer confiantes de que a Mão orientadora que

liberou estas forças continuará, em Sua sabedoria inescrutável e por seu poder onipotente, a moldar e

dirigir o curso deles para a glória, a emancipação final, e o reconhecimento absoluto de Sua Fé.

Seu verdadeiro irmão,
SHOGHI
Haifa, Palestina
27 de fevereiro de 1929
A ORDEM MUNDIAL DE Bahá'u'lláh
CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS

AOS AMADOS DO SENHOR E ÀS SERVAS DO MISERICORDIOSO POR TODO O OCIDENTE

Ternamente amados colaboradores,

Entre os relatórios que ultimamente chagaram à Terra Santa, a maioria dos quais dá testemunho

da marcha triunfante da Causa, uns poucos parecem revelar uma certa apreensão com respeito à

validade das instituições que se encontram inseparavelmente associadas com a Fé de Bahá'u'lláh. Estas

dúvidas assim expressas, parecem ser instigadas por certos murmúrios que emanaram de fontes que são

ou totalmente mal informadas a respeito dos princípios da Revelação Bahá'í, ou deliberadamente

planejam semear as sementes da dissensão nos corações dos fiéis.

UMA BÊNÇÃO DISFARÇADA

Visto à luz da experiência do passado, o resultado inevitável de tais tentativas fúteis, por mais

persistentes e maliciosas que sejam, é o de contribuir para um reconhecimento mais amplo e profundo,

tanto por parte de crentes como de descrentes, das características distintivas da Fé proclamada por

Bahá'u'lláh. Estes criticismos desafiantes, quer sejam ditados pela malícia ou não, só poderão servir

para galvanizar as almas de seus fiéis promotores. Através deles a Fé será purificada daqueles

elementos perniciosos, cuja contínua associação com os crentes, tende a desacreditar o bom nome da

Causa e a manchar a pureza de seu espírito. Deveríamos, portanto, acolher prazerosamente não

somente os ataques abertos que seus inimigos declarados persistentemente lançam contra ela, mas

também ver como uma benção disfarçada em cada tempestade de maldade com que os que apostataram

sua fé ou pretendem ser seus fiéis expoentes a assolam de tempos em tempos. Em vez de solapar a Fé,

tais ataques, tanto internos como externos, reforçam seus alicerces e intensificam sua chama,

determinados a nublar sua radiância, eles proclamam a todo o mundo o caráter exaltado de seus

preceitos, a perfeição de sua unidade, a incomparabilidade de sua posição, e a universalidade de sua

influência.

Nem por um momento sinto que tal clamor, principalmente atribuível à fúria impotente contra a

marcha irresistível da Causa de Deus, poderá jamais angustiar os valentes guerreiros da Fé. Pois estas

almas heróicas, quer estejam combatendo na fortaleza inexpugnável da América, ou se debatendo no

coração da Europa e além-mar até o continente da Australásia, já demonstraram abundantemente a

tenacidade de sua Fé e o permanente valor de sua convicção.

CARACTERÍSTICAS DISTINTIVAS DA ORDEM MUNDIAL BAHÁ'Í

Sinto, entretanto, que, em virtude das responsabilidades vinculadas à Guardiania da Fé, cabe a

mim estender-me mais amplamente a respeito do caráter essencial e das características distintivas

daquela ordem mundial, conforme concebida e proclamada por Bahá'u'lláh. Sinto-me impelido, no

presente estágio de evolução da Revelação Bahá'í, a afirmar, francamente e sem qualquer restrição,

tudo que a meu ver possa tender a assegurar a preservação da integridade das nascentes instituições da

Fé. Sinto fortemente a urgência de elucidar certos fatos que imediatamente revelariam, a todo

observador imparcial, o caráter excepcional daquela Civilização Divina, cujas bases a mão infalível de

Bahá'u'lláh estabeleceu, e cujos elementos essenciais a Última Vontade e Testamento de 'Abdu'l-Bahá

desvelou. Considero ser meu dever prevenir todo iniciante na Fé que as prometidas glórias da

Soberania, que os ensinamentos Bahá'ís prenunciam, somente podem ser reveladas na plenitude dos

tempos, que as implicações do Aqdas e do Testamento de 'Abdu'l-Bahá, como os repositórios gêmeos

dos elementos constituintes daquela Soberania, são por demais amplas para que esta geração os possa

compreender e totalmente apreciar. Não posso me abster de apelar aos que se identificam com a Fé a

desconsiderarem as idéias predominantes e as formas transitórias da época, e a darem-se conta, como

jamais antes, que as teorias desacreditadas e as instituições cambaleantes da civilização da atualidade

devem necessariamente aparecer em contraste penetrante com aquelas instituições divinamente

ordenadas que estão destinadas a se erguer sobre suas ruínas. Oro para que possam perceber, com todo

o seu coração e alma a glória inefável de sua vocação, a colossal responsabilidade de sua missão e a

espantosa imensidade de sua tarefa.

Que cada diligente defensor da Causa de Bahá'u'lláh se conscientize de que as tempestades que

esta militante Fé de Deus deve necessariamente enfrentar, à medida que o processo de desintegração da

sociedade avança, serão mais ferozes do que quaisquer que já tenha conhecido. Que ele esteja cônscio

de que tão logo a total medida da estupenda reivindicação da Fé de Bahá'u'lláh venha a ser

reconhecida por aquelas tradicionais e poderosas fortalezas de ortodoxia, cuja finalidade deliberada é a

de manter sua força opressora sobre os pensamentos e consciências dos homens, esta Fé infante terá de

enfrentar inimigos mais poderosos e mais insidiosos do que os mais cruéis torturadores profissionais e

os mais fanáticos clérigos que a afligiram no passado. Que inimigos não poderão surgir no decorrer das

convulsões que se apossarão de uma civilização moribunda, os quais reforçarão as indignidades já

acumuladas sobre ela?
O ATAQUE FURIOSO DE TODOS OS POVOS E RAÇAS

Precisamos unicamente nos referir às admoestações proferidas por 'Abdu'l-Bahá, a fim de nos

darmos conta do âmbito e do caráter das forças que estão destinadas a pelejar com a sagrada Fé de

Deus. Nos momentos mais tenebrosos de Sua vida, sob o regime de 'Abdu'l-Hamíd, quando Ele se

encontrava pronto para ser deportado às regiões mais inóspitas da África do Norte, e numa época em

que a luz auspiciosa da Revelação Bahá'í havia somente começado a surgir no Ocidente, Ele, em Sua

mensagem de despedida ao primo do Báb, proferiu estas proféticas e ominosas palavras:

"Quão grande, quão imensa é esta Causa! Quão violentamente furioso o ataque de todos os povos

e raças da terra! Em breve, o clamor da multidão através da África, através da América, o grito dos

europeus e dos turcos, os gemidos da Índia e China, serão ouvidos tanto de longe quanto de perto.

Cada um e todos, eles se levantarão com todo o seu poder para resistir à Sua Causa. Então os

cavaleiros do Senhor, assistidos por Sua graça oriunda do alto, fortalecidos pela Fé, ajudados pelo

poder da compreensão, e reforçados pelas legiões do Convênio, levantar-se-ão e tornarão

manifesta a verdade do versículo: 'Vede a confusão que sobreveio às tribos dos derrotados!'"

Por mais estupenda que seja a luta que Suas palavras prenunciam, elas dão também testemunho

da completa vitória que os defensores do Máximo Nome estão finalmente destinados a alcançar. Povos,

nações, aderentes de diversas fés, levantar-se-ão, em conjunto e sucessivamente, para despedaçar sua

unidade, solapar sua força e degradar seu sagrado nome. Eles irão atacar não somente o espírito que ela

inculca, mas também a administração que é o canal, o instrumento, a personificação daquele espírito.

Pois, à medida que a autoridade com que Bahá'u'lláh investiu a futura Comunidade Mundial Bahá'í se

tornar mais e mais aparente, mais feroz será o desafio que, de todos os lados, será lançado às verdades

que ela entesoura.

A DIFERENÇA ENTRE A FÉ Bahá'í E ORGANIZAÇÕES ECLESIÁSTICAS

Cumpre-nos, queridos amigos, envidar esforços não só para nos familiarizarmos com os aspectos

essenciais desta Obra suprema de Bahá'u'lláh, mas também para compreendermos a diferença

fundamental existente entre esta Ordem divinamente ordenada, de âmbito mundial, e as principais

organizações eclesiásticas do mundo, quer pertençam à Igreja de Cristo quer às ordens da Dispensação

Muçulmana.

Cedo ou tarde, aqueles cujo inestimável privilégio é o de administrar os assuntos, promover os

interesses, e zelar por estas instituições, terão que enfrentar a seguinte pergunta perscrutadora: "Em que

sentido e de que forma esta Ordem estabelecida por Bahá'u'lláh, que aparentemente nada mais é que

uma réplica das instituições estabelecidas no cristianismo e no islã, difere destas? Não sãos as

instituições gêmeas da Casa de Justiça e da Guardiania, a instituição das Mãos da Causa de Deus, a

instituição das Assembléias nacionais e locais, a instituição do Mashriqu'l-Adhkár, mais que nomes

diferentes para as instituições do papado e do califado, com todas as suas ordens eclesiásticas auxiliares

que os cristãos e muçulmanos defendem e advogam? Qual poderá ser o instrumento capaz de

salvaguardar estas instituições Bahá'ís, em alguns aspectos tão surpreendentemente parecidas àquelas

que foram erigidas pelos padres da Igreja e pelos apóstolos de Muhammad, de testemunharem a

deterioração do caráter, o rompimento da unidade, e a extinção da influência que têm acometido todas

as hierarquias religiosas organizadas? Por que não deveriam, finalmente, sofrer o mesmíssimo destino

das instituições que os sucessores de Cristo e Muhammad criaram?"

Da resposta dada a estas desafiadoras perguntas dependerá, em grande parte, o sucesso dos

esforços que os crentes em todas as partes estão agora envidando para o estabelecimento do reino de

Deus sobre a terra. Poucas pessoas deixarão de reconhecer que o Espírito insuflado no mundo por

Bahá'u'lláh, Espírito esse que está se manifestando em graus variados de intensidade, mediante os

esforços conscientes de Seus declarados apoiadores e, indiretamente, através de certas organizações

humanitárias, jamais poderá penetrar no gênero humano e exercer uma influência duradoura, a não ser

que, e até que, encarne em uma visível Ordem portadora de Seu nome, integralmente identificada com

Seus princípios e funcionando de conformidade com Suas leis. O fato de Bahá'u'lláh, em Seu livro do

Aqdas e, posteriormente, 'Abdu'l-Bahá, em Seu Testamento – documento este que confirma,

suplementa e correlaciona as provisões do Aqdas – terem apresentado na íntegra aqueles elementos

essenciais para a constituição da comunidade Bahá'í mundial, não pode ser negado por ninguém que os

tenha lido. De acordo com esses princípios administrativos, divinamente ordenados, deverá

necessariamente ser modelada a Dispensação de Bahá'u'lláh, a Arca da Salvação humana. Desses

princípios devem manar todas as futuras bênçãos e sobre eles deve finalmente repousar sua autoridade

inviolável.

Pois Bahá'u'lláh, devemos prontamente reconhecer, não somente imbuiu a humanidade de um

Espírito novo e regenerador. Ele não apenas enunciou certos princípios universais e propôs uma bem

definida filosofia, não importa quão potentes, sãos e universais eles sejam. Além disso, Ele, como

também 'Abdu'l-Bahá depois dEle, diferentemente das eras religiosas do passado, estabeleceram clara

e especificamente um código de Leis e instituições bem definidas, e proveram os princípios essenciais

de uma Economia Divina. Esses princípios estão destinados a servir de modelo para a sociedade futura,

constituem um instrumento supremo para a inauguração da Paz Máxima e são o único meio de unificar

o mundo e proclamar o reino de retidão e justiça na terra. Eles não só revelaram todas as orientações

necessárias para a realização prática daqueles ideais que os Profetas de Deus visualizaram e que desde

tempos imemoriais estimularam a imaginação de visionários e poetas em todas as épocas. Mas também

nomearam, em linguagem inequívoca e enfática, aquelas instituições gêmeas da Casa de Justiça e da

Guardiania como seus Sucessores escolhidos, destinados a aplicar os princípios, promulgar as leis,

proteger as instituições, adaptar leal e inteligentemente a Fé às necessidades da sociedade progressista,

e consumar a incorruptível herança que os Fundadores da Fé legaram ao mundo.

Se volvermos o olhar ao passado, se investigarmos a Bíblia e o Alcorão, prontamente

reconheceremos que nem a Dispensação Cristã nem a Islâmica podem oferecer um paralelo, quer ao

sistema de Economia Divina tão cuidadosamente estabelecido por Bahá'u'lláh, quer às salvaguardas

que Ele estabeleceu para a sua preservação e progresso. Nisto, estou profundamente convencido, reside

a resposta àquelas questões às quais já me referi.

Ninguém, sinto eu, questionará o fato de que a razão fundamental pela qual a unidade da Igreja

de Cristo foi irreparavelmente despedaçada, e sua influência solapada com o passar do tempo, foi que o

Edifício que os padres da Igreja ergueram após o passamento do Seu Primeiro Apóstolo foi um Edifício

que de modo algum se apoiava sobre as instruções explícitas do próprio Cristo. A autoridade e as

características de sua administração foram totalmente pressupostas, e indiretamente obtidas, com maior

ou menor justificação, de certas referências vagas e fragmentárias que eles encontraram espalhadas

entre Suas elocuções segundo registradas na Bíblia. Nenhum dos sacramentos da Igreja; nenhum dos

ritos e cerimônias que os padres cristãos delinearam elaboradamente e observaram ostensivamente;

nenhum dos elementos da disciplina severa que impuseram rigorosamente sobre os cristãos primitivos;

nenhum destes se baseou sobre a autoridade direta de Cristo, ou emanou de Suas elocuções específicas.

Nenhum destes foi concebido por Cristo, a ninguém Ele concedeu autoridade específica suficiente quer

para interpretar Sua Palavra, ou para adicionar àquilo que Ele não prescrevera especificamente.

Por esta razão, nas gerações posteriores, vozes se levantaram em protesto contra a auto-nomeada

Autoridade que se arrogava privilégios e poderes que não emanaram do texto explícito do Evangelho

de Jesus Cristo, e que constituiu um afastamento grave do espírito que aquele Evangelho inculcava.

Argumentaram com força e justificativa que os cânones promulgados pelos concílios da Igreja não

eram leis divinamente ordenadas, mas meros instrumentos humanos que nem ao menos se baseavam

sobre as elocuções concretas de Jesus. Sua contenda centralizou-se ao redor do fato que as palavras

vagas e inconclusivas, dirigidas por Cristo a Pedro: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha

Igreja", jamais poderiam justificar as medidas extremas, os cerimoniais elaborados, os credos e dogmas

entravantes com os quais Seus sucessores gradualmente oprimiram e obscureceram Sua Fé. Se tivesse

sido possível aos padres da Igreja, cuja autoridade não confirmada foi assim atacada por todos os lados,

refutar as denúncias que lhes foram imputadas através da citação de elocuções específicas de Cristo

com respeito à administração futura de sua Igreja, ou à natureza da autoridade de seus sucessores,

seguramente teriam sido capazes de extinguir a chama da controvérsia e de preservar a unidade da

cristandade. Entretanto, o Evangelho, o único repositório das elocuções de Cristo, não proporcionou tal

abrigo a estes atormentados líderes da Igreja, os quais se acharam indefesos em face dos ataques

impiedosos de seus inimigos, e que finalmente tiveram que se submeter às forças do cisma que invadiu

sua ordem.

Na Revelação de Muhammad, entretanto, ainda que em comparação com a de Cristo Sua Fé fosse

mais completa e mais específica nas suas provisões quanto à administração de Sua Dispensação, na

questão de sucessão, todavia, não deu quaisquer instruções escritas, consistentes e conclusivas àqueles

cuja missão era propagar Sua Causa. Porquanto o texto do Alcorão, cujas determinações a respeito da

oração, jejum, casamento, divórcio, herança, peregrinação e similares, permaneceram intactas e

operantes após a passagem de mil e trezentos anos, não dá qualquer orientação definida a respeito da

Lei da Sucessão, origem de todas as dissensões, controvérsias e cismas que mutilaram e desacreditaram

o islã.

Isto não ocorre com a Revelação de Bahá'u'lláh. Ao contrário da Dispensação de Cristo, ao

contrário da Dispensação de Muhammad, ao contrário de todas as Dispensações do passado, os

apóstolos de Bahá'u'lláh em todas as partes, onde quer que trabalhem e labutem, têm perante si em

linguagem clara, inequívoca e enfática, todas as leis, regulamentos, princípios, instituições e orientação

que necessitam para o prosseguimento e realização de sua tarefa. Tanto nas provisões administrativas

da Dispensação Bahá'í, como na questão da sucessão, incorporadas nas instituições gêmeas da Casa de

Justiça e da Guardiania, os seguidores de Bahá'u'lláh podem solicitar a ajuda de evidências tão

irrefutáveis da Orientação Divina que ninguém poderá resistir, ninguém poderá depreciar ou ignorar.

Nisso reside a característica distintiva da Revelação Bahá'í. Nisso reside a força da unidade da Fé, da

validade da Revelação que reivindica não destruir ou diminuir Revelações anteriores, mas sim ligar,

unificar e consumá-las. Esta é a razão porque tanto Bahá'u'lláh como 'Abdu'l-Bahá revelaram e até

insistiram em certos detalhes relativos à Economia Divina que legaram a nós, seus seguidores. É por

esta razão que em seus Testamentos deram tanta ênfase aos poderes e prerrogativas dos ministros de

sua Fé.

Pois nada a não ser as orientações explícitas de seu Livro e a linguagem surpreendentemente

enfática com que eles revestiram as provisões de seus Testamentos, poderiam salvaguardar a Fé para a

qual ambos tão gloriosamente labutaram no decorrer de suas vidas. Nada a não ser isto poderia protegê-

la das heresias e calúnias com que denominações, povos e governos têm se empenhado, e se

empenharão, com crescente vigor, a atacá-la no futuro.

Deveríamos também ter em mente que o caráter distintivo da Revelação Bahá'í não consiste

somente na completude e validade inquestionável da Dispensação que os ensinamentos de Bahá'u'lláh

e 'Abdu'l-Bahá estabeleceram. Sua excelência reside também no fato de que aqueles elementos que em

Dispensações passadas se tornaram, sem a menor autoridade de parte de seus Fundadores, uma fonte de

corrupção e dano incalculável à Fé de Deus, foram estritamente excluídos pelo texto claro dos escritos

de Bahá'u'lláh. Aquelas práticas não autorizadas, relacionadas com o sacramento do batismo, da

comunhão, da confissão de pecados, do ascetismo, da autoridade sacerdotal, de cerimoniais elaborados,

da guerra santa e da poligamia, foram todos rigidamente suprimidos pela Pena de Bahá'u'lláh; ao

mesmo tempo em que a rigidez e o rigor de certas observâncias, tal como jejum, que são necessárias

para a vida devocional do indivíduo, foram consideravelmente reduzidos.

UM ORGANISMO VIVO

Deve-se também ter em mente que o mecanismo da Causa foi moldado de tal modo que tudo

quanto seja considerado necessário a fim de mantê-la na vanguarda de todos os movimentos

progressistas, pode, de acordo com as provisões feitas por Bahá'u'lláh, ser incorporado a ela com

segurança. Disso dão testemunho as palavras de Bahá'u'lláh, como registradas na Oitava Folha do

exaltado Paraíso:

"Incumbe aos Fideicomissários da Casa de Justiça, em conjunto, consultarem a respeito daqueles

assuntos que não foram revelados ostensivamente no Livro, e fazerem vigorar o que lhes aprouver.

Deus, em verdade, lhes inspirará qualquer coisa que deseje, e Ele, em verdade, é Quem provê, o

Onisciente."

A Casa de Justiça não só foi investida por Bahá'u'lláh com a autoridade para legislar o que quer

que não tenha sido explícito e visivelmente registrado em Seus Escritos sagrados, mas a ela foi

conferido também, pela Última Vontade e Testamento de 'Abdu'l-Bahá, o direito e o poder para ab-

rogar, de acordo com as mudanças e necessidades da época, o que quer que já tenha sido decretado e

colocado em vigor por uma Casa de Justiça precedente. Neste contexto, Ele revelou o seguinte em Seu

Testamento:

"E já que essa Casa de Justiça tem o poder de decretar leis relativas às transações diárias – leis que

não estejam expressamente registradas no Livro – assim lhe cabe também o poder de revogá-las.

Por exemplo, a Casa de Justiça decreta hoje uma certa lei e a põe em vigor, e daqui a cem anos,

havendo as circunstâncias mudado radicalmente, sendo outras as condições, a Casa de Justiça de

então terá o poder de alterar a lei anterior de acordo com as exigências do tempo. Poderá fazer isso

porque a referida lei não faz parte do explícito Texto Divino. A Casa de Justiça é tanto o criador,

como o anulador de suas próprias leis."

Tal é a imutabilidade de Sua Palavra revelada. Tal é a elasticidade que caracteriza as funções de

Seus designados ministros. A primeira preserva a identidade de Sua Fé e protege a integridade de Sua

lei. A segunda capacita-a, assim como um organismo vivo, a se expandir e se adaptar às necessidades e

exigências de uma sociedade em constante transformação.

Queridos amigos! Embora fraca nossa Fé possa parecer agora aos olhos dos homens, os quais ou

a denunciam como um ramo do islamismo, ou desdenhosamente a ignoram como mais uma daquelas

seitas obscuras que abundam no Ocidente, esta gema inestimável de Revelação Divina, estando ainda

em seu estado embrionário, evoluirá dentro da concha de Sua lei, e avançará rapidamente, individida e

ilesa, até que abarque a totalidade da humanidade. Unicamente aqueles que já reconheceram a posição

suprema de Bahá'u'lláh, somente aqueles cujos corações foram tocados por Seu amor, e se

familiarizaram com a potência de Seu espírito, podem adequadamente apreciar o valor desta Economia

Divina – Sua dádiva inestimável para a humanidade.

Líderes da religião, expoentes de teorias políticas, governantes de instituições humanas, que

presentemente testemunham com perplexidade e consternação a falência de suas idéias e a

desintegração de sua mão-de-obra, bem poderiam dirigir o olhar para a Revelação de Bahá'u'lláh e

meditar sobre a Ordem Mundial que, encerrada em Seus ensinamentos, lenta e imperceptivelmente

surge em meio ao tumulto e ao caos da presente civilização. Não devem ter dúvida nem ansiedade a

respeito da natureza, da origem ou da validade das instituições que os aderentes da Fé estão erigindo

em toda parte do mundo. Pois estas se encerram nos próprios ensinamentos, não sendo adulteradas ou

obscurecidas por inferências injustificáveis ou interpretações de Sua Palavra que não sejam

autorizadas.

Quão prementes e sagradas as responsabilidades que agora pesam sobre aqueles que já estão

familiarizados com estes ensinamentos! Quão gloriosa a tarefa daqueles que são chamados a vindicar

sua verdade e demonstrar sua viabilidade a um mundo descrente! Nada, a não ser uma convicção

inabalável em sua origem divina, e sua incomparabilidade nos anais da religião; nada, a não ser um

propósito resoluto para executar e aplicá-los ao mecanismo administrativo da Causa, pode ser

suficiente para estabelecer sua realidade e assegurar seu sucesso. Quão vasta é a Revelação de

Bahá'u'lláh! Quão grande a magnitude de Suas bênçãos derramadas sobre a humanidade neste dia! E,

contudo, quão pobre, quão inadequada nossa concepção de seu significado e glória! Esta geração

encontra-se demasiadamente próxima a uma Revelação tão colossal para apreciar, em sua medida total,

as possibilidades infinitas de Sua Fé, o caráter sem precedente de Sua Causa e as misteriosas

dispensações de Sua Providência.

No Íqán, Bahá'u'lláh, desejando enfatizar o caráter transcendente deste novo Dia de Deus,

destaca a força de Seu argumento fazendo referência ao texto de uma tradição correta e autorizada, que

revela o seguinte:

"O conhecimento consiste em vinte e sete letras. Tudo o que os Profetas revelaram são duas dessas

letras. Homem algum até agora conheceu mais do que essas duas letras. Mas quando surgir o

Qá'im, Ele tornará manifestas as vinte e cinco letras restantes."

E seguem-se imediatamente estas confirmadoras e iluminadoras palavras de Bahá'u'lláh:

"Considera: Ele declarou que o Conhecimento consistia em vinte e sete letras e julgou haverem

sido todos os Profetas, desde Adão até o próprio Muhammad, o 'Selo', expositores de somente

duas dessas letras. Diz ele também que o Qá'im revelará todas as restantes vinte e cinco letras.

Dessa afirmação, vê tu como é grande e elevada Sua posição! Seu grau excede ao de todos os

Profetas e Sua Revelação transcende a compreensão e o entendimento de todos os Seus eleitos.

Uma Revelação da qual os Profetas de Deus, Seus santos e eleitos, ou não tinham conhecimento

ou, de acordo com o inescrutável Decreto de Deus, não o deixaram aparecer – tal Revelação essas

pessoas vis e perversas tentam medir com suas próprias inteligências deficientes, com sua própria

compreensão e seus conhecimentos imperfeitos."

Em outra passagem do mesmo livro, referindo-se à transformação levada a efeito por cada

Revelação nos modos, pensamentos e maneiras do povo, Bahá'u'lláh revela estas palavras:

"Não é o objetivo de cada Revelação efetuar uma transformação em todo o caráter da humanidade,

transformação essa que se manifeste tanto exterior como interiormente, que afete a vida íntima e

também as condições externas? Pois se o caráter da humanidade não fosse mudado, a futilidade do

Manifestante Universal de Deus se tornaria evidente."

O próprio Cristo pronunciou estas palavras, dirigidas aos Seus discípulos:

"Tenho ainda muito a vos dizer, mas não podeis agora compreender. Quando vier o Espírito da

Verdade, ele vos guiará à verdade plena."

Do texto desta reconhecida tradição, assim como das palavras de Cristo, segundo o Evangelho as

atesta, cada observador sem preconceito perceberá prontamente a magnitude da Fé revelada por

Bahá'u'lláh e haverá de reconhecer o espantoso peso de Sua reivindicação. Não admira que 'Abdu'l-

Bahá tenha retratado com cores tão sombrias a fúria da agitação que em dias vindouros haverá de se

concentrar ao redor das nascentes instituições da Fé. Agora, apenas vagamente podemos discernir os

começos daquele tumulto que a ascensão e ascendência da Causa de Deus está destinada a lançar no

mundo.

O MAIOR DE TODOS OS DRAMAS DA HISTÓRIA ESPIRITUAL DO MUNDO

Quer seja na feroz e insidiosa campanha de repressão e crueldade que os governantes da Rússia

lançaram contra os sustentadores da Fé sob seu regime; quer na animosidade inflexível com que os

xiitas do islã estão pisoteando os direitos sagrados dos aderentes da Causa com relação à casa de

Bahá'u'lláh em Bagdá; quer na fúria impotente que impeliu os líderes eclesiásticos da seita sunita do

islã a expulsar nossos irmãos egípcios de seu meio – em tudo isso podemos perceber as manifestações

do ódio implacável que povos, religiões e governos nutrem contra uma Fé tão pura, tão inocente, tão

gloriosa.

É nosso o dever de ponderar estas coisas em nossos corações, de nos empenharmos em ampliar

nossa visão, de aprofundarmos nossa compreensão desta Causa, e de nos levantarmos, resolutamente e

sem reservas, para desempenhar nosso papel, não importa quão pequeno, neste maior de todos os

dramas da história espiritual do mundo.
Vosso irmão e colaborador,
SHOGHI
Haifa, Palestina.
21 de março de 1930
A META DE UMA NOVA ORDEM MUNDIAL
Companheiros de crença na Fé de Bahá'u'lláh,

A marcha inexorável dos recentes eventos transportou a humanidade para tão próximo da meta

prenunciada por Bahá'u'lláh que nenhum seguidor responsável de Sua Fé, ao contemplar por todos os

lados as evidências aflitivas das dores de parto do mundo, pode permanecer indiferente ao pensamento

de sua iminente libertação.

Não pareceria inadequado, numa época em que estamos comemorando em todo o mundo o

término da primeira década desde o repentino desaparecimento de 'Abdu'l-Bahá* de nosso meio,

ponderarmos, à luz dos ensinamentos por Ele legados ao mundo, eventos tais como os que

propenderam a apressar a gradual emergência da Ordem Mundial antecipada por Bahá'u'lláh.

*28 de novembro de 1921. N.T.

Há dez anos, nesta mesma data, o telégrafo transmitiu ao mundo a notícia do passamento

dAquele único que, através da enobrecedora influência de Seu amor, força e sabedoria, poderia ter-se

revelado seu esteio e conforto nas múltiplas aflições que estava destinado a sofrer.

Quão bem, nós, o pequeno grupo de seus declarados apoiadores que reivindicamos ter

reconhecido a Luz que nEle brilhou, ainda podemos nos lembrar de Suas repetidas alusões, ao

entardecer de Sua vida terrena, às tribulações e perturbações com que uma humanidade impenitente

viria a ser progressivamente afligida. Quão pungentemente alguns de nós podem relembrar Suas

significativas observações, na presença dos peregrinos e visitantes que se apinhavam às Suas portas no

dia seguinte às jubilosas celebrações que saudaram o término da Guerra Mundial – uma guerra que, em

virtude dos horrores que evocou, as perdas que impôs e as complicações que causou, estava destinada a

exercer tão imensa influência nos destinos da humanidade. Quão serenamente, embora poderosamente,

Ele enfatizou a cruel decepção que um Pacto, saudado por povos e nações como a concretização de

justiça triunfante e o instrumento infalível de uma paz duradoura, reservava para uma humanidade

impenitente. "Paz, Paz," quantas vezes O ouvimos dizer: "proclamam incessantemente os lábios de

potentados e povos, enquanto o fogo de ódios não extintos ainda estão ardendo latentes em seus

corações." Quantas vezes O ouvimos levantar Sua voz, enquanto o tumulto do entusiasmo triunfante

ainda estava no auge e muito antes que as mais tênues dúvidas pudessem ser sentidas ou expressas,

confiantemente declarando que o Documento, exaltado como a Carta Magna de uma humanidade

liberada, continha dentro de si as sementes de decepções tão amargas que iriam subjugar ainda mais o

mundo. Quão abundantes são agora as evidências que atestam a perspicácia de Seu julgamento

infalível!

Dez anos de perturbações incessantes, tão carregadas de angústias, tão repletas de conseqüências

incalculáveis para o futuro da civilização, trouxeram o mundo à beira de uma calamidade

demasiadamente medonha para ser contemplada. Triste, realmente, é o contraste entre as manifestações

de entusiasmo confiante a que os Plenipotenciários em Versailles tão livremente se entregaram e o grito

de aflição indissimulável que vencedores e vencidos estão agora igualmente levantando na hora de

amarga desilusão.
UM MUNDO CANSADO DE GUERRA

Nem a força que os criadores e abonadores dos Tratados de Paz reuniram, nem os elevados ideais

que originalmente animaram o autor do Convênio da Liga das Nações, provaram ser um baluarte

suficiente contra as forças de ruptura interna com que uma estrutura tão laboriosamente arquitetada foi

consistentemente assaltada. Nem as provisões do assim chamado Acordo que os Poderes vitoriosos

procuraram impor, nem a maquinaria de uma instituição que o ilustre e previdente Presidente da

América havia concebido, provaram, quer na concepção ou na prática, ser instrumentos adequados para

assegurar a integridade da Ordem que se empenharam em estabelecer. Em janeiro de 1920, 'Abdu'l-

Bahá escreveu:

"Estes males dos quais o mundo agora sofre multiplicar-se-ão; o desalento que o envolve

aumentará. Os Bálcãs permanecerão descontentes. Sua inquietação aumentará. Os Poderes

conquistados continuarão a perturbar. Valer-se-ão de qualquer meio que possa reacender a chama

da guerra. Movimentos recém-nascidos e de âmbito mundial envidarão o máximo esforço para a

promoção de seus desígnios. Os Movimentos da Esquerda adquirirão grande importância. Sua

influência se espalhará."

Desde que estas palavras foram escritas, dificuldade econômica juntamente com confusão

política, convulsões financeiras, inquietação religiosa e animosidade racial, parecem ter conspirado

para aumentar imensuravelmente o fardo sob o qual um mundo empobrecido e cansado de guerra, está

gemendo. Tal tem sido o efeito cumulativo destas sucessivas crises que se seguem uma após a outra

com rapidez tão atordoante, que as próprias bases da sociedade estão estremecendo. O mundo, qualquer

que seja o continente a que volvamos nosso olhar, por mais remota que seja a região que avaliemos, é

atacado em todas as partes por forças que não pode explicar nem controlar.

A Europa, até então considerada como o berço de uma civilização altamente alardeada, como o

portador da tocha da liberdade e o incentivo principal das forças da indústria e comércio mundiais,

encontra-se atordoada e paralisada ante a visão de tão tremenda convulsão. Ideais há muito acalentados

na esfera política e não menos na esfera econômica da atividade humana, estão sendo severamente

testados sob a pressão de forças reacionários, de um lado, e de persistente e insidioso radicalismo, do

outro. Do coração da Ásia estrondos distantes, agourentos e insistentes, pressagiam a persistente

investida de um credo que, por negar a Deus, Suas Leis e Princípios, ameaça despedaçar as bases da

sociedade humana. O clamor de um nacionalismo nascente, unido a uma recrudescência de ceticismo e

descrença, sobrevém como infortúnios adicionais a um continente até então considerado como o

símbolo de estabilidade duradoura e resignação imperturbada. Da tenebrosa África, podem ser

crescentemente discernidos os primeiros sinais de uma revolta consciente e determinada contra os

objetivos e métodos do imperialismo político e econômico, contribuindo com sua parcela às crescentes

vicissitudes de uma era perturbada. Nem mesmo a América, que até bem recentemente se orgulhava de

sua política tradicional de afastamento e o caráter auto-suficiente de sua economia, a invulnerabilidade

de suas instituições e as evidências de sua crescente prosperidade e prestígio, tem sido capaz de resistir

às forças impulsoras que a arrebataram para o vértice de um furacão econômico que agora ameaça

prejudicar a base de sua própria vida industrial e econômica. Até mesmo a longínqua Austrália, a qual,

em virtude de sua grande distância dos focos de agitação da Europa, supor-se-ia imune às provações e

tormentas de um continente enfermo, foi presa deste remoinho de paixão e contenda, impotente para se

livrar da armadilha de sua influência.
OS SINAIS DE CAOS IMINENTE

Na verdade, nunca existiram convulsões tão difundidas e básicas, seja na esfera social,

econômica ou política da atividade humana, como as que agora estão em andamento em diferentes

partes do mundo. Nunca existiram tantas e tão variadas fontes de perigo como as que agora ameaçam a

estrutura da sociedade. As seguintes palavras de Bahá'u'lláh são de fato significativas quando paramos

para refletir a respeito do estado atual de um mundo estranhamente desordenado:

"Por quanto tempo a humanidade persistirá em sua insubordinação? Por quanto tempo a injustiça

haverá de continuar? Por quanto tempo o caos e a confusão reinarão entre os homens? Por quanto

tempo a discórdia agitará a face da sociedade? Os ventos do desespero sopram, lastimavelmente,

de todas as direções, e a contenda que divide e aflige a raça humana aumenta dia a dia. Os sinais

de caos e convulsões iminentes podem agora ser discernidos, desde que a ordem que predomina

parece ser lamentavelmente defeituosa."

A influência inquietante de mais de trinta milhões de pessoas vivendo em condições minoritárias

através do continente da Europa; o vasto e sempre-crescente exército de desempregados com seu fardo

esmagador e sua influência desmoralizante sobre governos e povos; a perversa e desenfreada corrida

armamentista que devora uma parcela sempre-crescente dos recursos de nações já empobrecidas; a total

desmoralização da qual os mercados financeiros internacionais estão agora sofrendo cada vez mais; o

violento ataque do secularismo invadindo o que até então foi considerado como o baluarte

inexpugnável da ortodoxia cristã e muçulmana – estes se destacam como os sintomas mais graves que

agourentam a estabilidade futura da estrutura da civilização moderna. Não admira que um dos

pensadores mais preeminentes da Europa, honrado por sua sabedoria e moderação, tenha sido forçado a

fazer uma afirmação tão audaz: "O mundo está atravessando a mais grave crise na história da

civilização." "Encontramo-nos", escreve outro, "perante uma catástrofe mundial, ou, talvez, perante a

aurora de uma era maior de verdade e sabedoria." "É nestas ocasiões", ele acrescenta, "que religiões

perecem e nascem."

Não podemos discernir desde já, à medida que perscrutamos o horizonte político, o alinhamento

daquelas forças que novamente estão dividindo o continente europeu em campos de combatentes

potenciais, determinados a uma disputa que poderá marcar, de modo diverso da última guerra, o fim de

uma época, uma grande época, na história da evolução humana? Somos nós, os custódios privilegiados

de uma Fé inestimável, chamados a testemunhar uma mudança cataclísmica, politicamente tão

fundamental e espiritualmente tão benéfica como aquela que precipitou a queda do Império Romano no

Ocidente? Não poderá ocorrer – todo vigilante aderente da Fé de Bahá'u'lláh bem pode pausar para

refletir – que desta erupção mundial fluam forças de tamanha energia espiritual que lembrarão, ou

melhor, eclipsarão, o esplendor daqueles sinais e prodígios que acompanharam o estabelecimento da Fé

de Jesus Cristo? Não poderá emergir, da agonia de um mundo abalado, um renascimento espiritual de

tal âmbito e poder que transcenda até mesmo a potência daquelas forças de orientação mundial com

que as Religiões do Passado, a intervalos determinados e de acordo com uma Sabedoria inescrutável,

reavivaram o destino de eras e povos em declínio? Não poderá a própria falência desta atual, desta

altamente alardeada civilização materialista, remover as ervas sufocantes que agora impedem o

desdobramento e a eflorescência futura da empreendedora Fé de Deus?

Que o próprio Bahá'u'lláh irradie a iluminação de Suas palavras sobre o nosso caminho à medida

que seguimos nosso rumo entre as armadilhas e misérias desta era atribulada. Há mais de cinqüenta

anos, num mundo* muito distante dos males e testes que agora o atormentam, fluíram de Sua Pena

estas palavras proféticas:

"O mundo agoniza e sua agitação aumenta dia a dia. Sua face inclina-se para a desobediência e a

descrença. Tal há de ser seu dilema que não seria apropriado ou conveniente revelá-lo agora. Sua

perversidade continuará por muito tempo. E quando chegar a hora marcada, aparecerá de súbito o

que fará tremerem os membros do gênero humano. Então, e somente então, será içado o Estandarte

Divino e o Rouxinol do Paraíso cantará sua melodia."

*Acre, Palestina. N.T.
A IMPOTÊNCIA DA ESTADÍSTICA

Ternamente amados amigos! A humanidade, quer vista à luz da conduta individual do homem,

quer nas relações existentes entre as comunidades e nações organizadas, já se desviou demais,

infelizmente, e sofreu um declínio muito grande, para se redimir, sem outro apoio, simplesmente

através dos esforços dos melhores entre seus reconhecidos governantes e estadistas, por mais

desinteressados que sejam seus motivos, por mais unida que seja sua ação e ainda que seu entusiasmo e

devoção à sua causa sejam incondicionais. Nenhum plano ainda realizável através dos cálculos da mais

alta estadística; nenhuma doutrina que os mais ilustres expoentes de teorias econômicas possam ter

esperança de promulgar; nenhum princípio que o mais ardente dos moralistas se possa esforçar por

incutir, pode, em último recurso, fornecer alicerces adequados para sustentar o futuro de um mundo

desvairado.

Nenhum apelo para a tolerância mútua que os sábios do mundo possam erguer, por mais

persuasivo e insistente que seja, poderá lhe acalmar as paixões ou ajudar a restaurar seu vigor. Nem

qualquer esquema geral de simples cooperação internacional organizada, em qualquer esfera de

atividade humana, por mais engenhoso que seja em concepção ou alcance, conseguirá remover a causa

primária do mal que tão bruscamente destruiu o equilíbrio da sociedade hodierna. Aventuro-me, ainda,

a dizer que nem o próprio ato de inventar o mecanismo necessário para a unificação política e

econômica – um princípio que tem sido cada vez mais defendido nos tempos recentes – traz em si o

antídoto ao veneno que constantemente mina o vigor das nações e povos organizados. De nenhum

outro modo, poderíamos afirmar com confiança, senão pela adoção incondicional do Programa Divino

– há sessenta anos enunciado por Bahá'u'lláh com tanta simplicidade e força, e que em sua essência

incorpora o plano delineado por Deus para a unificação do gênero humano nesta era – acompanhado

por uma indomável convicção da eficácia infalível de cada uma e todas as suas provisões, é finalmente

capaz de enfrentar as forças da desintegração interna, as quais, se não detidas, haverão de continuar a

corroer as vísceras de uma sociedade desesperada. É para essa meta – a meta de uma Nova Ordem

Mundial, divina em origem, de âmbito irrestrito, eqüitativa em seus princípios, e de características

desafiadoras – que a humanidade atribulada deve dirigir seus esforços.

Alegar que se haja inteirado de todos os significados implícitos do prodigioso plano de

Bahá'u'lláh para a solidariedade humana universal, ou que se tenha penetrado no âmago de seu intuito,

seria presunçoso mesmo por parte dos declarados aderentes de Sua Fé. Tentar conceber todas as suas

possibilidades, avaliar seus futuros benefícios, descrever sua glória, seria prematuro mesmo numa etapa

tão adiantada na evolução da humanidade.
OS PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ORDEM MUNDIAL

Tudo que razoavelmente podemos nos aventurar a fazer é nos esforçar por obter um pálido

vislumbre dos primeiros traços da prometida Aurora, a qual, na plenitude dos tempos, há de dissipar as

trevas que envolvem a humanidade. Tudo que podemos fazer é indicar, em seu mais amplo esboço,

aquilo que nos parece ser os princípios norteadores que alicerçam a Ordem Mundial de Bahá'u'lláh,

segundo desenvolvido e enunciado por 'Abdu'l-Bahá, o Centro de Seu Convênio com toda a

humanidade e o nomeado Intérprete e Expositor de Sua Palavra.

Só uma mente parcial pode negar que o desassossego e sofrimento que afligem a generalidade da

raça humana são em grande parte conseqüências diretas da Guerra Mundial e atribuíveis também à falta

de sabedoria e visão daqueles que formularam os Tratados de Paz. Nenhuma mente imparcial

questionaria que as obrigações financeiras contraídas no decorrer da guerra, assim como a imposição

de um fardo atordoante de reparações a serem feitas pelos derrotados, têm sido responsáveis, em

grande parte, pela má distribuição e conseqüente escassez do suprimento mundial do ouro monetário, o

que por sua vez acentuou imensa e implacavelmente o fardo de países empobrecidos. Que os débitos

inter-governamentais impuseram uma tensão severa às massas dos povos na Europa, transtornaram o

equilíbrio dos orçamentos nacionais, paralisaram indústrias nacionais, e elevaram o número de

desempregados, não é menos evidente a um observador sem preconceitos. Que o espírito de vingança,

de suspeita, de medo e rivalidade, gerados pela guerra, e que as provisões dos Tratados de Paz serviram

para perpetuar e promover, levou a um aumento desmedido dos armamentos competitivos nacionais,

envolvendo durante o último ano o dispêndio total de não menos de um bilhão de libras esterlinas, o

que por sua vez acentuou os efeitos da depressão mundial, é uma verdade que até o observador mais

superficial admitirá prontamente. Que um nacionalismo tacanho e brutal, reforçado pela teoria da

autodeterminação do pós-guerra, tem sido o principal responsável pela política de tarifas altas e

proibitivas, tão prejudiciais ao fluxo saudável do comércio internacional e para o mecanismo das

finanças internacionais, é um fato que poucos se aventurariam a contestar.

Seria fútil, entretanto, alegar que a guerra, mesmo com todos os prejuízos que causou, todas as

paixões que incitou e todos os desgostos que deixou em seu rastro, tenha sido a causa única da

confusão sem precedentes em que quase todo o mundo civilizado está atualmente submerso. Não será

um fato – e esta é a principal idéia que desejo focalizar – que a causa fundamental dessa inquietação

que prevalece no mundo não seja tanto a conseqüência daquilo que se há de reconhecer, cedo ou tarde,

como um desequilíbrio transitório nos assuntos de um mundo sempre em transformação, mas, antes, a

incapacidade daqueles em cujas mãos foram entregues os destinos imediatos dos povos e nações, de

adaptar seus sistemas de instituições econômicas e políticas às necessidades imperativas de uma era em

rápida evolução? Essas crises intermitentes que convulsionam a sociedade hodierna – não serão

devidas primariamente à lamentável incapacidade dos reconhecidos líderes do mundo de entenderem

corretamente os sinais dos tempos, de se livrarem, de uma vez para sempre, de suas idéias

preconcebidas e seus credos sufocantes, e de remodelarem o mecanismo de seus respectivos governos

de acordo com aqueles padrões implícitos na declaração suprema de Bahá'u'lláh, a da Unidade do

Gênero Humano – a principal característica distintiva da Fé por Ele proclamada? Pois o princípio da

Unidade do Gênero Humano, a pedra fundamental do domínio universal de Bahá'u'lláh, significa nada

mais nada menos que a realização de Seu plano para a unificação do mundo – plano a que já nos

referimos. 'Abdu'l-Bahá escreve:

"Em toda Dispensação a luz da Guia Divina focaliza-se num tema central... Nesta maravilhosa

Revelação, neste século glorioso, o fundamento da Fé Divina e a característica distintiva de Sua

Lei é a consciência da Unidade do Gênero Humano."

Dignos de lástima são, de fato, os esforços daqueles líderes das instituições humanas que, não

levando em consideração o espírito da época, lutam para aplicar processos nacionais, próprios dos

tempos antigos em que cada nação era auto-suficiente, a uma época que tem de atingir a unidade do

mundo, conforme prenunciada por Bahá'u'lláh, ou perecer. Numa hora tão crítica na história da

civilização, cumpre aos líderes de todas as nações do mundo, tanto pequenas como grandes, orientais

como ocidentais, quer vencedoras ou vencidas, atenderem ao chamado de clarim que Bahá'u'lláh fez

soar e, inteiramente imbuídos de um senso de solidariedade mundial, o "sine qua non" de lealdade à

Sua Causa, levantarem-se corajosamente para pôr em prática integralmente o remédio único que Ele, o

Médico Divino, prescreveu para uma humanidade enferma. Que afastem de si, definitivamente, toda

idéia preconcebida, todo preconceito nacional, e atendam ao conselho sublime de 'Abdu'l-Bahá, o

autorizado Expositor de Seus ensinamentos. A um alto oficial no serviço do governo federal dos

Estados Unidos da América, que Lhe havia interrogado a respeito da melhor maneira de promover os

interesses de seu governo e do povo, 'Abdu'l-Bahá respondeu:

"Podeis melhor servir a vosso país se, em vossa capacidade de cidadão do mundo, envidardes

esforços para facilitar a aplicação final do princípio do federalismo, no qual se baseia o governo de

vosso próprio país, às relações que atualmente existem entre os povos e nações do mundo."

Em "O Segredo da Civilização Divina"*, a contribuição proeminente de 'Abdu'l-Bahá à futura

reorganização do mundo, lemos o seguinte:

"A verdadeira civilização desfraldará sua bandeira no íntimo do coração do mundo onde quer que

um certo número de seus distinguidos e magnânimos soberanos – os brilhantes exemplares de

devoção e determinação – erguerem-se, pelo bem-estar e a felicidade de toda a humanidade, com

resolução firme e visão clara, a fim de estabelecerem a Causa da Paz Universal. Eles devem fazer

da Causa da Paz objeto de consulta geral e buscar, por todos os meios em seu poder, estabelecer

uma União das nações do mundo. Eles devem concluir um tratado obrigatório e estabelecer um

convênio cujas provisões sejam sólidas, invioláveis e definidas. Eles devem proclamá-la ao mundo

inteiro e obter para ele a sanção de toda a raça humana. Este supremo e nobre empreendimento – a

verdadeira fonte da paz e bem-estar do mundo todo – deve ser considerado sagrado por todos os

que habitam a terra. Todas as forças da humanidade devem ser mobilizadas para assegurar a

estabilidade e permanência deste Supremo Convênio. Neste Pacto todo-abrangente devem ser

claramente determinados os limites e fronteiras de cada nação, definitivamente formulados os

princípios que fundamentam as relações dos governos entre si e averiguados todos os acordos e

obrigações internacionais. De igual modo, o volume dos armamentos de cada governo deve ser

estritamente limitado, pois se os preparativos para guerra e as forças militares de qualquer nação

fossem permitidos a aumentar, eles despertariam a suspeita das outras. O princípio fundamental

que forma a base deste Pacto solene deve ser tão estável que, se qualquer governo violar

posteriormente alguma de suas provisões, todos os governos da terra devem se levantar para

reduzi-lo à absoluta submissão, mais ainda, a raça humana como um todo deve decidir, com todo o

poder à sua disposição, destruir esse governo. Se este maior de todos os remédios for aplicado ao

corpo enfermo do mundo, ele indubitavelmente se recuperará de suas doenças e permanecerá salvo

e seguro."

*Anteriormente publicado em inglês sob o título "The Mysterious Forces of Civilization".

Ele acrescenta:

"Poucos inconscientes do poder latente no esforço humano, consideram esta questão altamente

impraticável, ainda mais, até mesmo além dos extremos esforços do homem. contudo, este não é o

caso. Pelo contrário, graças à infalível graça de Deus, à amorosa bondade de Seus favorecidos, aos

esforços incomparáveis das almas sábias e capazes, e aos pensamentos e idéias dos inigualáveis

líderes desta era, nada absolutamente pode ser considerado inatingível. Esforço, incessante esforço

é necessário. Nada menos que uma indomável determinação pode concebivelmente alcançá-la.

Numerosas causas que eras passadas consideraram puramente visionárias, neste dia já se tornaram,

em sua maioria, acessíveis e praticáveis. Por que deveria esta maior e mais elevada causa – a

estrela d'alva do firmamento da verdadeira civilização e a causa da glória, do avanço, do bem-

estar e do sucesso de toda a humanidade – ser considerada uma façanha impossível? Certamente,

dia virá quando sua bela luz irradiará esplendor sobre a assembléia do homem."

AS SETE LUZES DA UNIDADE

Em uma de Suas Epístolas, elucidando ainda mais Seu nobre tema, 'Abdu'l-Bahá diz o seguinte:

"Em ciclos passados, embora a harmonia tenha sido estabelecida, ainda assim, devido à falta de

meios, a unidade de todo o gênero humano não poderia ter sido conquistada. Os continentes

permaneciam separados por grandes distâncias – até mais, mesmo entre os povos do mesmo

continente a associação e o intercâmbio de idéias eram praticamente impossíveis. Em

conseqüência disso, as relações mútuas, o entendimento e a unidade entre todas as nações e raças

da Terra eram irrealizáveis. Nos dias atuais, entretanto, os meios de comunicação têm-se

multiplicado, e os cinco continentes da Terra fundiram-se virtualmente num só... De modo igual,

todos os membros da família humana, quer povos, quer governos, cidades ou aldeias, têm-se

tornado cada vez mais interdependentes. A auto-suficiência não mais é possível a nenhum deles,

pois todos os povos e nações estão unidos por laços políticos e cada dia mais se fortalecem as

relações de comércio e indústria, de agricultura e educação. Portanto, a unidade de todo o gênero

humano pode ser conseguida na época atual. Em verdade, isso não é senão uma das maravilhas

desta admirável era, deste século glorioso. Disso, as eras passadas foram privadas, pois este século

– o século da luz – foi dotado de glória, poder e iluminação incomparáveis. Daí a miraculosa

revelação de nova maravilha a cada dia. Há de vir o dia em que se verá quão intensamente ardem

suas velas na Assembléia da humanidade.

Vede como sua luz agora alvorece no tenebroso horizonte do mundo. A primeira vela é a unidade

no reino da política, da qual podem agora ser discernidos os primeiros clarões. A segunda vela é a

unidade de pensamento em atividades mundiais, cuja consumação dentro em breve se haverá de

testemunhar. A terceira vela é a unidade na liberdade, a qual seguramente se realizará. A quarta

vela é a unidade na religião, sendo esta a pedra angular do próprio alicerce; através do poder de

Deus será revelada em todo seu esplendor. A quinta vela é a unidade das nações – unidade esta

que será seguramente estabelecida neste século, fazendo com que todos os povos do mundo

considerem-se cidadãos da mesma pátria. A sexta vela é a unidade das raças: todos os que habitam

a Terra haverão de tornar-se povos de uma só raça. A sétima vela é a unidade de idioma, isto é, a

escolha de uma língua universal a ser ensinada a todos os povos, e na qual todos poderão

conversar. Tudo isso, sem exceção, haverá de se realizar, inevitavelmente, porque o poder do

Reino de Deus ajudará e facilitará tal consumação."

Um Super-Estado Mundial

Em Sua Epístola à rainha Vitória, há mais de sessenta anos, dirigindo-se à "assembléia dos governantes

da terra", Bahá'u'lláh revelou o seguinte:

"Deliberai em conjunto, considerando somente aquilo que possa trazer benefício ao homem e lhe

melhorar a condição... Vede o mundo como o corpo humano, o qual, embora criado completo e

perfeito, foi, por várias razões, vítima de graves doenças e males. Nem por um só dia teve repouso;

ao contrário, suas enfermidades tornaram-se mais severas, pois foi tratado por médicos inaptos,

que se deixaram levar pelos seus desejos mundanos e erraram lastimavelmente. E se alguma vez,

através dos cuidados de um médico hábil, um membro desse corpo foi curado, os demais

permaneceram aflitos como antes. Assim vos informa o Onisciente, o Sapientíssimo... O que o

Senhor ordenou como o remédio soberano e o mais poderoso instrumento para a cura do mundo

inteiro é a união de todos os seus povos numa Causa universal, numa Fé comum. Isso, de modo

algum há de se realizar salvo através do poder de um Médico hábil, onipotente e inspirado. Isto,

deveras, é a verdade e tudo o mais é senão erro."

Em outra passagem Bahá'u'lláh acrescenta estas palavras:

"Vemos que a cada ano aumentais vossos desembolsos, cujo peso cai sobre o povo que governais;

isso, em verdade, não é senão deplorável injustiça. Temei os suspiros e as lágrimas deste Injuriado

e não aflijais vossos povos mais do que podem suportar... Sede reconciliados entre vós, a fim de

que não mais preciseis de armamentos, salvo na medida necessária para salvaguardar vossos

territórios e domínios. Sede unidos, ó assembléia dos soberanos do mundo, pois assim a

tempestade de discórdia entre vós se aquietará e vossos povos encontrarão tranqüilidade. Se

qualquer um dentre vós lançar mão de armas contra outro, levantai-vos todos contra ele, pois isto

nada mais é que justiça manifesta."

Que outra coisa poderiam significar essas poderosas palavras, senão que a irrestrita soberania

nacional deveria se submeter a uma limitação inevitável como preliminar imprescindível à formação da

futura Comunidade de todas as nações do mundo? Alguma forma de super-estado mundial há de ser

desenvolvida, em cujo favor todas as nações do mundo de boa vontade cederão todo e qualquer direito

de fazer guerra, certos direitos de cobrar impostos e todos os direitos de ter armamentos além do

necessário para a manutenção da ordem interna em seus respectivos domínios. Tal estado terá que

incluir dentro de seu campo de ação um Executivo Internacional capaz de exercer autoridade suprema e

inquestionável sobre qualquer membro recalcitrante da comunidade mundial; um Parlamento Mundial,

cujos membros serão eleitos pelos povos de seus respectivos países, e cuja eleição será confirmada

pelos respectivos governos; e um Supremo Tribunal cuja decisão terá autoridade mesmo nos casos em

que os envolvidos não consintam voluntariamente em submeter seu caso à sua consideração. Uma

comunidade mundial em que todas as barreiras econômicas tenham sido permanentemente demolidas,

em que se haja reconhecido definitivamente a interdependência entre Capital e Trabalho; em que o

clamor do fanatismo e da contenda religiosa tenha cessado para sempre; em que a chama da

animosidade de raça esteja finalmente apagada; em que um só código de lei internacional – o resultado

do juízo ponderado dos representantes federados do mundo – tenha como sua sanção a intervenção

instantânea e coerciva das forças combinadas das unidades federadas; e finalmente, uma comunidade

mundial em que a fúria de um nacionalismo caprichoso e militante tenha sido transmutada em uma

consciência duradoura de cidadania mundial – isto de fato parece ser, em seu esboço mais abrangente, a

Ordem prenunciada por Bahá'u'lláh, uma Ordem que virá a ser considerada como o fruto mais belo de

uma era em lento amadurecimento.

Bahá'u'lláh proclama em Sua Mensagem a todo o gênero humano:

"Ergueu-se o Tabernáculo da Unidade, não vos considereis uns aos outros como

estranhos... Sois os frutos de uma só árvore e as folhas do mesmo ramo... A terra é

um só país e os seres humanos seus cidadãos... Que o homem não se glorie em amar

seu país, que ele se glorie, sim, em amar sua espécie."

UNIDADE NA DIVERSIDADE

Que não haja dúvida quanto ao propósito animador da Lei Universal de Bahá'u'lláh. Longe de

mirar à subversão dos alicerces existentes da sociedade, ela visa lhe alargar a base, remodelar as

instituições de maneira consoante com as necessidades de um mundo sempre em transformação. Não

pode estar em conflito com nenhuma fidelidade legítima, nem pode minar lealdades essenciais. Sua

finalidade não é abafar a chama de um patriotismo são e inteligente no coração do homem, nem abolir

o sistema de autonomia nacional tão indispensável para evitar os males da centralização excessiva. Não

deixa de levar em consideração, nem tenta suprimir, a diversidade de origem étnica, de clima, de

história, de idioma e tradição, de pensamento e hábito, que diferencia os povos e as nações do mundo.

Clama por uma lealdade mais ampla, uma aspiração maior que qualquer outra que já tenha animado a

raça humana. Insiste em que os impulsos e interesses nacionais sejam subordinados às necessidades

imperativas de um mundo unificado. Repudia a centralização excessiva por um lado e, por outro, rejeita

todas as tentativas de uniformidade. O seu lema é a unidade na diversidade, como explicou o próprio

'Abdu'l-Bahá:

"Considerai as flores de um jardim: diferem em espécie, cor, forma e aspecto. Não obstante, desde

que são refrescadas pelas águas da mesma fonte, revivificadas pelos sopros de um só vento e

revigoradas pelos raios de um único Sol, sua diversidade lhes aumenta o encanto e realça a beleza.

Assim, quando a força unificadora que é a influência penetrante do Verbo de Deus faz efeito, a

variedade de costumes, procedimentos, hábitos, idéias, opiniões e temperamentos embeleza o

mundo da humanidade. Tal diversidade, tal diferença, é análoga à dessemelhança e variedade

natural dos membros e órgãos do corpo humano, pois cada qual contribui para a beleza, eficiência

e perfeição do todo. Quando a alma soberana do homem exerce sua influência sobre esses

diferentes membros e órgãos e o poder da alma permeia os membros e partes, as veias e artérias do

corpo, então a diferença vem reforçar a harmonia, a diversidade fortalece o amor e a

multiplicidade se torna o maior fator de coordenação."

O chamado de Bahá'u'lláh é dirigido primariamente contra todas as formas de provincialismo, toda

estreiteza mental e preconceitos. Se os ideais há muito nutridos e as instituições consagradas pelo

tempo, se certas hipóteses sociais e fórmulas de religião já não promovem mais o bem-estar dos

homens em geral, se não correspondem mais às exigências de uma humanidade sempre em evolução,

que sejam então repelidos e relegados ao limbo das doutrinas obsoletas e esquecidas. Por que deveriam

eles, em um mundo sujeito à lei inalterável da transformação e decadência, ser isentos da deterioração

que há forçosamente de alcançar toda instituição humana? Pois o fim único das normas legais, das

teorias políticas e econômicas, é a proteção dos interesses da humanidade inteira e não que a

humanidade deva ser crucificada a fim de se preservar a integridade de qualquer lei ou doutrina.

O PRINCÍPIO DA UNIDADE

Que ninguém se engane, o princípio da Unidade do Gênero Humano – o eixo em torno do qual

giram todos os ensinamentos de Bahá'u'lláh – não é mera exibição de sentimentalismo pouco

inteligente, nem a expressão de uma vaga e piedosa esperança. Seu apelo não deve ser meramente

identificado com um renascimento do espírito de fraternidade e benevolência entre os homens, tão

pouco seu fim é apenas a promoção de cooperação harmoniosa entre os diferentes povos e nações. Suas

implicações são mais profundas, suas reivindicações maiores que as de qualquer um dos profetas da

antigüidade. Sua mensagem é aplicável não só ao indivíduo, mas trata primariamente da natureza

daquelas relações essenciais que hão de ligar todos os estados e nações como membros de uma única

família humana. Não constitui simplesmente a enunciação de um ideal; está inseparavelmente

associado a uma instituição capaz de incorporar sua verdade, demonstrar sua validade e perpetuar sua

influência. Implica uma transformação orgânica na estrutura de nossa sociedade hodierna, uma

transformação como o mundo jamais presenciou. Constitui um desafio, a um tempo audaz e universal,

aos critérios obsoletos de credos nacionais – credos que já tiveram seu dia e devem, no decurso normal

dos acontecimentos, segundo moldados e dirigidos pela Providência, ceder seu lugar a um novo

evangelho que difere fundamentalmente de qualquer conceito que já existe no mundo, e lhe é

infinitamente superior. Exige nada menos que a reconstrução e a desmilitarização de todo o mundo

civilizado – um mundo organicamente unificado em todos os aspectos essenciais de sua vida – seu

mecanismo político, sua aspiração espiritual, seu comércio e suas finanças, sua escrita e língua, e, ainda

assim, de uma diversidade infinita nas características nacionais de suas unidades federadas.

Este princípio representa a consumação da evolução humana – uma evolução que teve seus

primórdios no despontar da vida em família, desenvolveu-se posteriormente ao alcançar a solidariedade

tribal, que por sua vez levou à constituição da cidade-estado, e cuja expansão subseqüente resultou na

instituição das nações independentes e soberanas.

O princípio da Unidade do Gênero Humano, segundo proclamado por Bahá'u'lláh, abrange nada

mais nada menos que uma solene asserção de que atingir a etapa final dessa estupenda evolução não

somente é necessário, mas inevitável, que sua realização rapidamente se aproxima e que nada senão um

poder oriundo de Deus conseguirá estabelecê-lo.

Uma concepção tão maravilhosa encontra as suas manifestações mais remotas nos esforços

conscientemente exercidos e nos começos modestos já alcançados pelos aderentes declarados da Fé de

Bahá'u'lláh que, cônscios da sublimidade do seu chamado e iniciados nos princípios enobrecedores de

Sua Administração, estão avançando rapidamente para estabelecer Seu Reino nesta terra. Tem sua

manifestação indireta na difusão gradual do espírito de solidariedade mundial que está surgindo

espontaneamente da confusão de uma sociedade desorganizada.

Seria estimulante acompanhar a história do crescimento e desenvolvimento desta concepção

sublime que deve ocupar cada vez mais a atenção dos guardiões responsáveis pelos destinos de povos e

nações. Aos estados e principados que acabam de emergir da confusão da grande convulsão

napoleônica, cuja preocupação principal foi recuperar os seus direitos a uma existência independente

ou alcançar sua unidade nacional, a concepção de solidariedade mundial não só parece remota mas

inconcebível. Foi somente depois que as forças do nacionalismo tiveram sucesso em derrubar as bases

da Sagrada Aliança, a qual havia procurado refrear seu crescente poder, que a possibilidade de uma

ordem mundial que transcendesse em âmbito as instituições políticas que estas nações haviam

estabelecido, veio a ser seriamente nutrida. Foi somente após a Guerra Mundial que estes expoentes de

nacionalismo arrogante vieram a considerar tal ordem como o objeto de uma doutrina perniciosa com

tendência a solapar aquela lealdade essencial da qual dependia a continuação da existência de sua vida

nacional. Com um vigor que lembrava a energia com que os membros da Sagrada Aliança procuravam

abafar o espírito de um nacionalismo crescente entre os povos libertados do jugo napoleônico, estes

defensores de uma soberania nacional irrestrita, por sua vez, trabalharam e ainda estão trabalhando para

desacreditar princípios dos quais, em última instância, depende a salvação deles próprios.

A violenta oposição dirigida ao malogrado esquema do Protocolo de Genebra, o escárnio lançado

à proposta subseqüentemente promovida de Estados Unidos da Europa, e o fracasso do esquema geral

para a união econômica da Europa, podem parecer como reveses aos esforços de um punhado de

pessoas previdentes em prol da promoção deste nobre ideal. E, no entanto, não seria justificável obter

novo encorajamento disso, quando observamos que a própria consideração de tais propostas é uma

evidência de seu constante crescimento nas mentes e nos corações dos homens? Nas tentativas

organizadas que estão sendo feitas para desacreditar uma concepção tão exaltada, não estamos vendo,

numa escala mais ampla, a repetição daquelas agitadas lutas e veementes controvérsias que precederam

o nascimento, e ajudaram na reconstrução, das nações unificadas do Ocidente?

A FEDERAÇÃO DA HUMANIDADE

Para citar apenas um exemplo. Quão confiantes eram as afirmações feitas nos dias que

precederam a unificação dos estados do continente norte-americano com respeito às barreiras

insuperáveis que impediam sua federação final! Não foi ampla e enfaticamente declarado que os

interesses conflitantes, a desconfiança mútua, as diferenças de governo e hábito que dividiam os

estados, eram tais que nenhuma força, quer temporal ou espiritual, jamais poderia esperar harmonizar

ou controlar? Quão diferentes, no entanto, eram as condições que prevaleciam há cento e cinqüenta

anos das que caracterizam a sociedade hodierna! Na realidade, não seria exagero dizer que a ausência

daquelas facilidades que o moderno progresso científico colocou a serviço da humanidade, em nossos

dias, fez do problema de unificar os estados americanos em uma única federação, por similares que

fossem em certas tradições, uma tarefa infinitamente mais complexa do que aquela que se apresenta a

uma humanidade dividida, em seus esforços para alcançar a unificação de toda a humanidade.

Quem sabe se, para concretizar tão elevado conceito, a humanidade não terá que passar por um

sofrimento mais intenso do que qualquer que já lhe tenha experimentado? Poderia algo a não ser o fogo

de uma guerra civil, com toda a sua violência e vicissitudes – uma guerra que quase destruiu a grande

república norte-americana – ter fundido os estados, não apenas numa União de unidades independentes,

mas sim numa Nação, apesar de todas as diferenças étnicas que caracterizavam suas partes

componentes? Parece pouco provável que uma revolução tão fundamental, envolvendo mudanças tão

imensas na estrutura da sociedade, possa ser realizada pelos processos comuns da diplomacia e da

educação. Basta contemplarmos as páginas sangrentas da história da humanidade para verificarmos que

nada, a não ser uma agonia intensa, tanto mental como física, tem podido precipitar aquelas

transformações que constituem os mais notáveis marcos na história da civilização humana.

O FOGO DE UMA TRIBULAÇÃO SEVERA

Por grandes que tenham sido essas transformações no passado, e por maior que tenha sido seu

âmbito, quando vistas em sua perspectiva apropriada, não podem ser consideradas senão como ajustes

subsidiários a preludiar a transformação, de majestade e âmbito sem precedentes, pela qual a

humanidade haverá de passar nesta época atual. Torna-se, infelizmente, cada vez mais claro, que só as

forças de uma catástrofe mundial podem precipitar essa nova fase do pensamento humano. Os

acontecimentos futuros haverão de demonstrar, cada vez mais, que nada senão o fogo de uma

tribulação severa, sem paralelo em sua intensidade, poderá fundir e unir as entidades discordantes que

constituem os elementos de nossa civilização hodierna em componentes integrantes da comunidade

mundial do futuro.

A voz profética de Bahá'u'lláh, nas passagens finais de As Palavras Ocultas, advertindo "os

povos do mundo" de que "uma calamidade imprevista os segue e penosa punição os espera", lança uma

luz realmente lúgubre sobre o destino imediato da humanidade aflita. Nada a não ser uma provação

flamejante, da qual a humanidade emergirá, purificada e preparada, conseguirá implantar aquele senso

de responsabilidade que os líderes de uma era recém-nascida deverão erguer sobre seus ombros.

Gostaria de chamar vossa atenção novamente para aquelas palavras ominosas de Bahá'u'lláh que

já citei:

"E quando soar a hora marcada, aparecerá de súbito o que fará tremerem os

membros do gênero humano."

Não afirmou o próprio 'Abdu'l-Bahá em linguagem inequívoca que "outra guerra, mais feroz que

a última, seguramente irromperá"?

Da consumação deste colossal, deste indizivelmente glorioso empreendimento – um

empreendimento que fez malograr os recursos da estadística romana e que os esforços desesperados de

Napoleão não conseguiram alcançar – dependerá a realização final daquele milênio do qual poetas de

todos os tempos cantaram e visionários há muito sonham. Dele dependerá o cumprimento das profecias

proferidas pelos Profetas de antanho quando espadas serão transformadas em arados e o leão e o

cordeiro deitar-se-ão juntos. Somente ele pode introduzir o Reino do Pai Celestial segundo antecipado

pela Fé de Jesus Cristo. Só ele pode colocar as bases da Nova Ordem Mundial visualizada por

Bahá'u'lláh – uma Ordem Mundial que refletirá sobre este plano terrestre, mesmo que tenuemente, os

indizíveis esplendores do Reino de Abhá.

Ainda uma palavra em conclusão. A proclamação da Unidade do Gênero Humano – pedra

fundamental do domínio todo-abrangente de Bahá'u'lláh – não pode, em absoluto, ser comparada com

as expressões de esperança piedosa que foram pronunciadas no passado. Não é um mero apelo feito por

Ele, só e sem apoio, em face da implacável e coligada oposição de dois dos mais poderosos potentados

orientais de Seu tempo – enquanto Ele próprio se encontrava preso e exilado nas mãos deles. Trata-se,

ao mesmo tempo, de uma admoestação e uma promessa – a admoestação de que nela se encontra o

único meio de salvação para um mundo severamente atribulado, e a promessa de que está próxima a

sua realização.

Feita numa época em que a possibilidade de sua realização ainda não havia sido seriamente

considerada em nenhuma parte do mundo, em virtude da potência celestial nela insuflada pelo Espírito

de Bahá'u'lláh, veio finalmente a ser considerada, por um crescente número de pessoas ponderadas,

não apenas como uma possibilidade iminente, mas como a conseqüência inevitável das forças

atualmente em ação no mundo.
O PORTA-VOZ DE DEUS

Certamente o mundo, contraído e transformado em um só organismo altamente complexo em

conseqüência do admirável progresso realizado no campo da ciência física, da expansão universal do

comércio e da indústria, lutando sob a pressão de forças econômicas mundiais, e ameaçado pelas

armadilhas de uma civilização materialista, tem urgente necessidade de uma nova exposição da

Verdade que é a base de todas as Revelações do passado e em uma linguagem adequada às suas

necessidades essenciais. E qual voz senão a de Bahá'u'lláh – o Porta-Voz de Deus para esta era – será

capaz de efetivar na sociedade uma transformação tão radical como aquela que Ele já realizou nos

corações de homens e mulheres, tão diversificados e aparentemente irreconciliáveis, que constituem o

corpo de Seus declarados seguidores no mundo inteiro?

Poucas pessoas, em verdade, podem duvidar do fato de que esse conceito tão poderoso esteja

rapidamente germinando nas mentes dos homens, ou de que vozes estão se levantando em seu apoio,

ou ainda, que suas características mais marcantes em breve haverão de se cristalizar na consciência de

pessoas que exercem autoridade. Somente quem tiver o coração maculado pelo preconceito deixará de

perceber que seu início modesto já se manifestou na Administração de âmbito mundial à qual estão

associados os aderentes da Fé de Bahá'u'lláh.

Mui amados colaboradores, é o dever supremo de, com visão límpida e zelo inabalável, continuar

colaborando para a construção final daquele Edifício cujos alicerces Bahá'u'lláh colocou em nossos

corações, de obter mais esperança e fortaleza da tendência geral dos acontecimentos recentes, por mais

obscuros que sejam seus efeitos imediatos, e de orar com infatigável fervor para que Ele apresse a

aproximação da realização daquela Visão Maravilhosa que constitui a emanação mais esplendorosa de

Sua Mente, e o fruto mais precioso daquela mais preciosa civilização cujo igual o mundo jamais

conheceu.

Não deveria o centésimo aniversário da Declaração da Fé de Bahá'u'lláh marcar a inauguração

de tão grandiosa era na história humana?
Seu irmão verdadeiro,
SHOGHI
Haifa, Palestina,
28 de novembro de 1931
A IDADE ÁUREA DA CASA DE Bahá'u'lláh

AOS AMADOS DE DEUS E SERVAS DO MISERICORDIOSO ATRAVÉS DOS ESTADOS UNIDOS E CANADÁ

Amigos e companheiros defensores da Fé de Bahá'u'lláh,

Por significativas que tenham sido as mudanças que ultimamente sobrevieram a uma humanidade

em rápido despertar, nesta fase de transição de sua diversificada história, a firme consolidação das

instituições que os administradores da Fé de Bahá'u'lláh estão construindo não deve ser considerada

menos digna de nota, mesmo para aqueles que ainda não se deram conta dos obstáculos que eles

tiveram de superar ou dos parcos recursos com os quais podiam contar.

O fato de uma Fé, que há dez anos foi severamente abalada pela súbita perda de um Mestre

incomparável, ter conseguido manter sua unidade diante de tremendos obstáculos, resistido aos ataques

malévolos de seus inimigos, silenciado seus caluniadores, ampliado a base de sua vasta administração e

sobre ela criado as instituições que simbolizam seus ideais de adoração e serviço, deveria ser

considerado como suficiente evidência do invencível poder que o Todo-Poderoso lhe concedeu desde o

momento de seu nascimento.

Que a Causa associada com o nome de Bahá'u'lláh nutre-se daquelas fontes ocultas de força

celestial é um fato que nenhum poder de origem humana, qualquer que seja seu fascínio, poderá

substituir; que sua confiança se baseia unicamente naquela Fonte mística com a qual nenhuma posição

mundana, seja ela riqueza, fama, ou sabedoria, pode ser comparada; que ela se propaga através de

meios misteriosos e inteiramente diferentes dos padrões aceitos pela generalidade da humanidade,

tornar-se-á uma realidade cada vez mais manifesta, se já não estiver evidente, à medida que a Causa

avança rumo a novas conquistas em sua luta pela regeneração espiritual da humanidade.

Na verdade, como poderia ela, sem qualquer apoio, dos conselhos e dos recursos dos sábios, dos

ricos e dos eruditos na terra de seu nascimento, ter conseguido romper os grilhões que pesavam sobre

ela na hora de seu nascimento, ter conseguido emergir ilesa das tormentas que agitaram sua infância,

não tivesse recebido seu hálito de vida daquele espírito que é nascido de Deus, e do qual deve

finalmente depender todo sucesso, onde e como quer que seja buscado?

Não me é necessário relembrar, nem mesmo em rápido esboço, os detalhes emocionantes daquela

terrível tragédia que marcou as dores de nascimento de nossa bem amada Fé, ocorrida em uma terra

notoriamente conhecida por seu fanatismo desenfreado, sua ignorância crassa, sua crueldade incontida.

Nem preciso discorrer sobre o valor e a sublime fortaleza daqueles que desafiaram os cruéis carrascos

daquela raça, destacar o número, ou enfatizar a pureza de vida daqueles que morreram abnegadamente

para que Sua Causa pudesse sobreviver e prosperar.

Nem é necessário falar da indignação que aquelas atrocidades evocaram, e dos sentimentos de

inigualável admiração que despertaram nos corações de incontáveis homens e mulheres, em regiões

bem distantes da cena daquelas indescritíveis atrocidades. Basta dizer que a esses heróis da terra nativa

de Bahá'u'lláh foi concedido o privilégio inestimável de selar com seu sangue os primeiros triunfos de

sua amada Fé, e de preparar o caminho para suas iminentes vitórias. No coração de inumeráveis

mártires da Pérsia se encontra a semente da Administração divinamente criada, a qual, transplantada de

seu solo nativo, está agora brotando, sob vosso carinhoso cuidado, para desabrochar em uma nova

ordem destinada a abranger a humanidade inteira.
A CONTRIBUIÇÃO DA AMÉRICA PARA A CAUSA

Por maiores que tenham sido as realizações, e inesquecíveis os serviços dos pioneiros da idade

heróica da Causa na Pérsia, a contribuição que seus descendentes espirituais, os crentes americanos,

construtores da estrutura orgânica da Causa, estão agora demonstrando para o cumprimento do Plano

que deverá trazer a idade áurea da Causa, não é menos meritória neste difícil período de sua história.

São poucos, se é que existe algum, eu me aventuraria a afirmar, dentre esses privilegiados criadores e

custódios da constituição da Fé de Bahá'u'lláh, os que estão, mesmo que tenuemente, conscientes do

papel preponderante que o continente norte-americano está destinado a exercer na futura orientação de

sua Causa de âmbito mundial. Nem há qualquer número apreciável entre eles que pareça

suficientemente consciente da decisiva influência que já exercem na orientação e administração de seus

assuntos.
'Abdu'l-Bahá escreveu em fevereiro de 1917:

"O continente americano","é, aos olhos do Deus verdadeiro, a terra na qual os

esplendores de Sua luz serão revelados, os mistérios de Sua Fé desvelados, onde os

retos habitarão e os livres se reunirão."

Que os apoiadores da Causa de Bahá'u'lláh, através dos Estados Unidos e do Canadá, estão

demonstrando cada vez mais a verdade desta afirmação solene, é evidente até mesmo ao observador

casual dos registros de seus inúmeros serviços, sejam como iniciativas individuais ou através de

esforços coletivos. As manifestações espontâneas de lealdade que marcaram suas respostas aos desejos

expressos de um Mestre que partiu; a generosidade que têm demonstrado, em mais de uma ocasião,

para ajudar os necessitados e perseguidos irmãos de Fé na Pérsia; o vigor com que resistiram aos

vergonhosos ataques que inimigos incansáveis, tanto internos como externos, têm com freqüência

lançado contra eles; o exemplo que o corpo de seus representantes nacionais deram a suas Assembléias

irmãs ao modelar os instrumentos essenciais ao trabalho efetivo de seus deveres coletivos; a bem

sucedida intervenção em nome de seus perseguidos companheiros de Fé na Rússia; o apoio moral que

deram aos seus co-irmãos no Egito em uma fase bem crítica de sua luta pela emancipação dos grilhões

da ortodoxia islâmica; os históricos serviços prestados por aqueles intrépidos pioneiros que, fiéis ao

chamado de 'Abdu'l-Bahá, deixaram seus lares para implantar, nos recantos mais remotos do globo, o

estandarte de Sua Fé; e por fim, mas não menos importante, a grandeza de sua abnegação, culminando

com o término da superestrutura do Mashriqu'l-Adhkár – cada uma dessas realizações se destaca como

testemunho eloqüente do caráter indômito da Fé que Bahá'u'lláh acendeu em seus corações.

Poderia alguém, ao contemplar tão esplêndido registro de serviços, duvidar que esses fiéis

promotores da graça redentora de Deus não tenham preservado, de forma pura e em perfeita união, a

herança preciosa que lhes foi legada? Não conseguiram eles, bem se poderia pensar, de uma forma que

somente futuros historiadores irão definir, alcançar o elevado padrão que caracterizou os feitos de

renome imperecível realizados por aqueles que os antecederam?

Não pelos recursos materiais que os membros desta infante comunidade possam agora convocar

em seu auxílio; nem pela força numérica de seus atuais apoiadores; nem mesmo por quaisquer

benefícios diretamente tangíveis que seus defensores venham a conferir ao grande número de

necessitados e desconsolados dentre seus concidadãos, poderiam ser testadas suas potencialidades ou

determinado seu valor. Em nenhum outro fator a não ser na pureza de seus preceitos, na sublimidade de

seus padrões, na integridade de suas leis, na razoabilidade de suas afirmativas, na abrangência de seu

escopo, na universalidade de seu programa, na flexibilidade de suas instituições, nas vidas de seus

fundadores, no heroísmo de seus mártires, e no poder transformador de sua influência, deveria qualquer

observador imparcial buscar o verdadeiro critério que lhe permitirá sondar seus mistérios ou avaliar

suas virtudes.

Quão injusto, quão irrelevante seria aventurar qualquer comparação entre a consolidação lenta e

gradual da Fé proclamada por Bahá'u'lláh e aqueles movimentos criados pelos homens, os quais, tendo

sua origem em desejos humanos e suas esperanças centradas sobre o domínio mortal, devem

inevitavelmente declinar e perecer! Surgindo de uma mente finita, alimentados pela fantasia humana, e

muitas vezes frutos de intenções maldosas, tais movimentos conseguem por algum tempo, em razão de

sua novidade, de seus apelos aos mais baixos instintos e de sua dependência dos recursos de um mundo

sórdido, deslumbrar os homens, só para finalmente caírem da altura de sua meteórica carreira na

escuridão do esquecimento, dissolvidos pelas próprias forças que ajudaram a criá-las.

Não é o que acontece com a Revelação de Bahá'u'lláh. Nascida em um ambiente de terrível

degradação, surgida em um solo mergulhado em antigas corrupções, ódios e preconceitos, inculcando

princípios irreconciliáveis com os padrões aceitos na época, e enfrentando desde o início uma

implacável inimizade do governo, da igreja e do povo, esta nascente Fé de Deus, em virtude do poder

celestial da qual foi dotada, conseguiu, em menos de setenta anos, emancipar-se dos grilhões do

domínio islâmico, proclamar a auto-suficiência de seus ideais e a integridade independente de suas leis,

implantar seu estandarte em não menos de quarenta dos mais avançados países do mundo, estabelecer

postos avançados em terras além dos mares mais remotos, consagrar seus edifícios religiosos no

coração dos continentes asiático e americano, levar dois dos mais poderosos governos do Ocidente a

ratificarem os instrumentos essenciais às suas atividades administrativas, obter da realeza honrosos

tributos à excelência de seus ensinamentos, e, finalmente, levar suas queixas à atenção dos

representantes do mais elevado Tribunal do mundo civilizado, obtendo de seus membros afirmativas

escritas que equivalem a um tácito reconhecimento de sua condição de religião independente e uma

declaração expressa da legitimidade de sua causa.

Por limitado que no momento possa parecer seu poder como força social, e aparentemente óbvia

a atual ineficácia de seu programa de abrangência mundial, nós que nos identificamos com seu nome

sagrado, só podemos nos maravilhar diante da grandeza de suas proezas se apenas os compararmos

com as modestas realizações que marcaram o nascimento de Dispensações anteriores. Onde mais,

senão na Revelação de Bahá'u'lláh, pode o pesquisador imparcial de religiões comparadas citar

exemplos de uma reivindicação tão estupenda como aquelas que o Autor da Fé fomentou, inimigos tão

implacáveis como os que Ele enfrentou, devoção mais sublime do que aquela que Ele despertou, uma

vida tão memorável e tão encantadora como a que Ele viveu?

Acaso o cristianismo ou o islã, ou alguma outra Dispensação que as precedeu, ofereceram

exemplos de tal combinação de coragem e prudência, de magnanimidade e poder, de mente aberta e

lealdade, como aqueles que caracterizaram a conduta dos heróis da Fé de Bahá'u'lláh? Onde mais

encontramos evidência de uma transformação tão rápida, tão completa e tão súbita, como aquelas

ocorridas nas vidas dos apóstolos do Báb? Poucos, na verdade, são os exemplos registrados, em

quaisquer dos anais autênticos das religiões do passado, de uma abnegação tão completa, uma

constância tão firme, uma magnanimidade tão sublime, uma lealdade tão determinada, como aquelas

que deram testemunho do caráter daquele grupo imortal que se identifica com esta Revelação Divina –

esta última e mais grandiosa manifestação do amor e da onipotência do Todo-Poderoso!

CONTRASTE COM AS RELIGIÕES DO PASSADO

Inutilmente poderemos buscar, nos registros dos primórdios de qualquer religião reconhecida do

passado, episódios de tão emocionantes detalhes, ou de tão amplas conseqüências como aqueles que

iluminaram as páginas da história desta Fé. As circunstâncias quase inacreditáveis que envolveram o

martírio daquele jovem Príncipe de Glória; as forças de bárbara repressão que esta tragédia provocou

subseqüentemente; as manifestações de heroísmo insuperável que surgiram; as exortações e

advertências que emanaram da pena do Prisioneiro Divino em Suas Epístolas aos potentados da Igreja e

aos monarcas e governantes do mundo; a indomável lealdade com a qual nossos irmãos estão lutando

em países muçulmanos contra as forças da ortodoxia religiosa – bem podem ser considerados como os

aspectos mais marcantes que o mundo irá reconhecer como o maior drama na história espiritual do

mundo.

Com relação a isso, não preciso relembrar os malfadados episódios que, reconhecida e

amplamente, arruinaram os primórdios da história tanto do judaísmo como do islã. Nem é necessário

enfatizar o efeito devastador dos excessos, das rivalidades e divisões, as manifestações de fanatismo e

atos de ingratidão associados com o desenvolvimento inicial do povo de Israel e com a carreira

militante dos impiedosos pioneiros da Fé de Muhammad.

Seria suficiente, para o meu propósito, chamar a atenção ao grande número daqueles que, nos

primeiros dois séculos da era cristã, "escolheram uma vida ignominiosa ao entregarem as Escrituras

sagradas nas mãos dos infiéis", a conduta escandalosa daqueles bispos que foram por isso acusados de

traidores, a discórdia da Igreja Africana, a infiltração gradual na doutrina cristã dos princípios do culto

mitraico, da escola de pensamento de Alexandria, dos preceitos do zoroastrismo e da filosofia grega, e

a adoção pelas igrejas da Grécia e da Ásia das instituições dos sínodos provinciais de um modelo que

adotaram dos conselhos representativos de seus respectivos países.

Quão grande foi a obstinação com a qual os judeus, convertidos entre os primeiros cristãos,

aderiam às cerimônias de seus ancestrais, e quão fervorosa sua ansiedade em impô-las aos gentios! Não

foram os primeiros quinze bispos de Jerusalém todos judeus circuncidados, e não havia a congregação

que eles presidiam juntado as leis de Moisés com a doutrina de Cristo? Não é um fato que não mais que

a vigésima parte dos cidadãos do império romano haviam se alistado sob o estandarte de Cristo antes

da conversão de Constantino? Não foi a ruína do Templo, na cidade de Jerusalém, e da religião pública

dos judeus, severamente sentida pelos assim chamados Nazarenos, que por mais de um século

perseveravam na prática da Lei mosaica?

Quão evidente é o contraste, quando recordamos, à luz dos fatos acima mencionados, o número

daqueles seguidores de Bahá'u'lláh que na época de Sua Ascensão se haviam alistado como firmes

apoiadores de Sua Fé, na Pérsia e nos países vizinhos! Como é encorajador observar a lealdade com

que seus valorosos seguidores preservam a pureza e a integridade de Seus claros e inequívocos

ensinamentos! Quão edificante o espetáculo daqueles que estão batalhando com as forças de uma

ortodoxia ainda firmemente entrincheirada, lutando por sua emancipação dos grilhões de um credo

ultrapassado! Quão inspiradora a conduta daqueles seguidores muçulmanos de Bahá'u'lláh, os quais

viram, não com pesar ou apatia, senão com sentimentos de incontida satisfação, o castigo merecido que

o Todo-Poderoso infligiu àquelas duas instituições do sultanato e califado, instrumentos que eram de

despotismo e inimigos declarados da Causa de Deus!

PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA VERDADE RELIGIOSA

Que ninguém, porém, se engane quanto ao meu propósito. A Revelação, da qual Bahá'u'lláh é a

fonte e o centro, não ab-roga nenhuma das religiões que a precederam, nem tenta, no mínimo grau,

distorcer suas feições ou diminuir seu valor. Repudia qualquer intenção de menosprezar qualquer dos

Profetas do passado, ou de desmerecer o valor das verdades eternas de seus ensinamentos. Não pode,

de forma alguma, conflitar com o espírito que anima suas asserções, nem busca solapar a adesão das

pessoas à sua causa. Seu principal e declarado propósito é possibilitar a todo seguidor dessas fés um

entendimento mais completo da religião com que se identifica, e adquirir uma compreensão mais clara

de seus propósitos. Não é eclética na apresentação de suas verdades, nem arrogante na afirmação de

seus postulados. Seus ensinamentos giram em torno do princípio fundamental de que a verdade

religiosa não é absoluta, mas relativa, que a Revelação Divina é progressiva, não final. De forma

inequívoca e sem a menor reserva, proclama que todas as religiões estabelecidas são de origem divina,

idênticas em seus objetivos, complementares em suas funções, contínuas em seus propósitos,

indispensáveis em seu valor para a humanidade.
Afirma Bahá'u'lláh no Kitáb-i-Íqán:

"Todos os Profetas de Deus habitam no mesmo tabernáculo, voam no mesmo céu,

sentam-se no mesmo trono, proferem as mesmas palavras e proclamam a mesma

Fé."

Desde o "começo que não tem começo" esses Expoentes da Unidade de Deus e Canais de Sua

incessante elocução fizeram jorrar a luz da Beleza invisível sobre a humanidade, e continuarão, até o

"fim que não tem fim", a conceder novas revelações de Seu poder e experiências adicionais de Sua

incomparável glória. Afirmar que determinada religião é final, que "toda Revelação terminou, tendo-se

fechado os portais da misericórdia Divina, que jamais um sol surgirá de um alvorecer da santidade

eterna, que para sempre o oceano da perene generosidade se aquietou e os Mensageiros de Deus

cessaram de se manifestar do Tabernáculo da glória antiga" seria na verdade pura blasfêmia.

Bahá'u'lláh explica naquela mesma Epístola:

"Diferem somente na intensidade de suas revelações e na potência comparativa de

sua luz."

E isso não por causa de qualquer incapacidade inerente de qualquer um deles em revelar numa

maior medida a glória da Mensagem que Ele recebeu, mas devido à imaturidade e a incapacidade da

era na qual Ele viveu para entender e absorver todas as potencialidades latentes naquela Fé.

Bahá'u'lláh explica:

"Sabei com certeza que a luz da Revelação Divina, em cada Dispensação, foi concedida aos

homens em proporção direta à sua capacidade espiritual. Considerai o sol. Como são fracos seus

raios no momento em que surge acima do horizonte. Quão gradativamente seu calor e sua potência

aumentam, à medida que se aproxima do zênite, capacitando, entrementes, todas as coisas criadas

a adaptarem-se à crescente intensidade de sua luz. E como declina, constantemente, até alcançar o

ponto do ocaso. Fosse Ele manifestar de súbito suas energias latentes, isso, sem dúvida, causaria

dano a todas as coisas criadas... De igual modo, se o Sol da Verdade, nas primeiras fases de Sua

manifestação, revelasse repentinamente a plena medida das potências das quais a providência do

Todo-Poderoso o dotou, a terra da compreensão humana viria a definhar e ser consumida, pois os

corações dos homens não poderiam suportar a intensidade de Sua revelação, nem refletir o

esplendor de Sua luz. Esmorecidos e acabrunhados, deixariam de existir."

É por esta razão, e somente por esta razão, que aqueles que reconheceram a Luz de Deus nesta

era, não reivindicam qualquer caráter final para a Revelação com a qual se identificam, nem arrogam

para a fé que abraçaram poderes e atributos intrinsecamente superiores, ou essencialmente diferentes

daqueles que caracterizaram qualquer dos sistemas religiosos que a precederam.

Não faz o próprio Bahá'u'lláh alusão à progressividade da Revelação Divina e às limitações que

uma Sabedoria inescrutável decidiu Lhe impor? O que mais pode essa passagem de As Palavras

Ocultas significar a não ser que Ele, sendo o revelador dela, negou o caráter final para a Revelação a

Ele outorgada pelo Todo-Poderoso?

"Ó Filho da Justiça! Ao anoitecer, a beleza do Ser imortal retirou-se das alturas

esmeraldas da fidelidade, indo ao Sadratu'l-Muntahá, onde chorou com tal pranto

que a assembléia no alto e os habitantes dos reinos do além gemeram por causa de

Seu lamento. Com isso se perguntou: Por que os gemidos e o choro? E Ele deu

resposta: Assim como Me fora ordenado, Eu, cheio de expectativas, esperava no

monte da fidelidade, mas não senti a fragrância da fidelidade daqueles que habitam

na terra. Então, ao ser chamado a regressar, olhei e eis ! certos pombos da

santidade estavam sendo atormentados nas garras dos cães terrenos. Com isso, a

Donzela do céu, resplandecente, sem véu, apressou-se a sair de Sua mansão mística

e perguntou seus nomes, e todos foram ditos, menos um. E ao se insistir, a primeira

letra deste foi pronunciada, quando então os habitantes dos aposentos celestiais se

apressaram a sair de sua morada de glória. E enquanto se pronunciava a segunda

letra, todos se prostraram sobre o pó. Nesse momento, uma voz, vindo do mais

recôndito santuário, se fez ouvir: 'Até aí e não além.' Em verdade, damos

testemunho daquilo que fizeram e agora fazem."
Declara Bahá'u'lláh explicitamente:

"A Revelação da qual sou portador é adequada à receptividade e à capacidade

espiritual da humanidade; pois a Luz que brilha dentro de Mim não aumenta nem

diminui. O que quer que Eu manifeste não é nem mais nem menos do que a medida

da glória Divina que Deus Me ordenou revelar."

Se a Luz que agora se irradia sobre uma humanidade cada vez mais receptiva, com um esplendor

que promete superar o esplendor dos triunfos que as forças da religião alcançaram em dias passados; se

os sinais e os marcos que proclamaram seu advento foram, em muitos aspectos, inigualáveis nos anais

das Revelações anteriores; se seus apoiadores demonstraram traços e qualidades sem paralelo na

história espiritual da humanidade; esses fatores devem ser atribuídos não a qualquer mérito de

superioridade da Fé de Bahá'u'lláh, como Revelação isolada e diferente de qualquer das Dispensações

anteriores, mas, sim, devem ser vistos e explicados como resultado inevitável das forças que fizeram da

era atual uma era infinitamente mais avançada, mais receptiva e mais insistente em receber uma medida

maior da Guia Divina da que até então foi concedida à humanidade.

A NECESSIDADE DE UMA NOVA REVELAÇÃO

Amigos muito queridos: Quem, ao contemplar o desamparo, os temores e as misérias da

humanidade em nossos dias, questionaria a necessidade de uma nova revelação do poder renovador, do

amor e da guia redentora de Deus? Quem, ao contemplar de um lado o estupendo avanço alcançado no

campo do conhecimento humano, do poder, da habilidade e inventividade, e ao ver, por outro lado, o

caráter sem precedente dos sofrimentos que afligem e os perigos que ameaçam a sociedade atual,

poderia ser tão cego a ponto de duvidar que a hora é chegada para o advento de uma Revelação, para a

reafirmação do Propósito Divino e para o conseqüente reavivar daquelas forças espirituais que, a

intervalos fixos, reabilitaram os destinos da sociedade humana?

Não é fato que a própria operação das forças unificadoras, ora em ação no mundo, necessitam

que Aquele que é o Portador da Mensagem de Deus em nossos dias não somente reafirme o mesmo

elevado padrão de conduta individual inculcado pelos Profetas que O antecederam, como também

incorporar em Seu apelo a todos os povos e governantes os pontos essenciais daquele código social,

daquela Economia Divina, que deverá guiar os esforços conjuntos da humanidade para o

estabelecimento de uma federação de âmbito mundial, o qual irá sinalizar o advento do Reino de Deus

nesta terra?

Não devemos, portanto, nós que reconhecemos a necessidade de tal revelação do poder redentor

de Deus, meditar sobre a grandeza suprema do Sistema delineado pela mão de Bahá'u'lláh neste dia?

Não devemos fazer uma pausa, por mais pressionados que estejamos pelas preocupações diárias que o

volume sempre crescente de atividades administrativas de Sua Fé possa engendrar, refletir sobre a

santidade das responsabilidades que são nosso privilégio ombrear?

A POSIÇÃO DO Báb

Não é somente no caráter da revelação de Bahá'u'lláh, por mais estupenda que seja a Sua

asserção, que reside a grandeza desta Dispensação. Pois entre as características distintivas de Sua Fé,

como evidência adicional à sua singularidade, existe a verdade fundamental de que todo seguidor de

Bahá'u'lláh reconhece na pessoa de Seu Precursor, o Báb, não apenas um anunciador inspirado mas

uma Manifestação direta de Deus. Eles crêem firmemente que, não importando quão curta tenha sido a

duração de Sua Dispensação, e por mais breve que tenha sido o período da validade de Suas leis, o Báb

foi dotado de uma potência que a nenhum fundador de qualquer das religiões do passado a providência

do Todo-Poderoso permitiu possuir. Que Ele não foi meramente o precursor da Revelação de

Bahá'u'lláh, que foi muito mais que um personagem divinamente inspirado, que em Sua condição de

Manifestante de Deus foi independente e auto-suficiente, é algo profusamente demonstrado por Ele

próprio, afirmado em termos insofismáveis por Bahá'u'lláh, e finalmente confirmado pela Última

Vontade e Testamento de 'Abdu'l-Bahá.

Em nada menos que o Kitáb-i-Iqán, a majestosa exposição de Bahá'u'lláh da verdade unificadora

subjacente em todas as Revelações do passado, podemos encontrar uma definição mais clara da

potência das forças inerentes naquela Manifestação Preliminar com a qual a Sua própria Fé está

indissoluvelmente associada. Discorrendo sobre a insondável importância dos sinais e indícios que

acompanharam a Revelação proclamada pelo Báb, o prometido Qá´im, Ele relembra estas palavras

proféticas:

"O Conhecimento consiste em vinte e sete letras. Tudo que os Profetas revelaram são duas

dessas letras. Homem algum até agora conheceu mais do que essas duas letras. Mas quando surgir

o Qá'im, Ele tornará manifestas as vinte e cinco letras restantes."

E Bahá'u'lláh adiciona:
"Vê tu como é grande e elevada é Sua posição!"
E diz mais:

"Uma Revelação da qual os Profetas de Deus, Seus santos e eleitos, não tinham

conhecimento, ou, de acordo com o inescrutável Decreto de Deus, não o deixaram aparecer."

E ainda assim, por imensuravelmente exaltada que seja a posição do Báb, e maravilhosos os

acontecimentos que assinalaram o advento de Sua Causa, tão estupenda Revelação não pode senão

empalidecer diante da fulgência daquele Orbe de esplendor insuperável cujo surgimento Ele anunciou e

cuja superioridade prontamente reconhecia. Temos apenas que recorrer aos escritos do próprio Báb

para avaliar a importância daquela Quintessência de Luz da qual Ele, com toda a majestade de Seu

poder, foi apenas o humilde e escolhido Precursor.

Repetidamente o Báb confessa, em ardente e inequívoca linguagem, o caráter preeminente de

uma Fé destinada a se tornar manifesta depois dEle e a sobrepujar Sua Causa. Afirma Ele no Bayán

persa, o principal e o mais bem preservado repositório de Suas leis:

"O embrião que contém dentro de si mesmo as potencialidades da Revelação que há de vir, está

dotado de uma potência superior às forças combinadas de todos aqueles que Me seguem."

Repetidamente o Báb proclama em Seus escritos:

"De todos os tributos que prestei Àquele que há de vir depois de Mim, o maior é este: Minha

confissão por escrito de que palavra alguma por Mim proferida pode descrevê-Lo adequadamente,

nem qualquer menção a Seu respeito em Meu Livro, o Bayán, pode ser equânime à Sua Causa."

Dirigindo-se a Siyyid Yaháy-i-Dárábí, intitulado Vahíd, o mais culto e influente dentre Seus

seguidores, Ele diz:

"Pela retidão dAquele cujo poder faz a semente germinar e que infunde o espírito da vida em todas

as coisas, tivesse Eu a certeza de que no dia de Sua Manifestação tu O negarias, sem hesitação Eu

te renegaria e repudiaria tua fé... Se, por outro lado, Me disserem que um cristão, que não deve

lealdade à Minha Fé, irá crer nEle, Eu o considerarei a menina dos Meus olhos."

A TORRENTE DE GRAÇA DIVINA
Afirma o próprio Bahá'u'lláh:

"Se todos os povos do mundo fossem investidos dos poderes e atributos destinados às Letras do

Vivente, os discípulos escolhidos do Báb, cuja posição é dez mil vezes mais gloriosa do que a

alcançada por qualquer um dos apóstolos do passado, e se eles, cada um e todos, por um momento

sequer hesitassem em reconhecer a Luz de Minha Revelação, sua fé seria inútil, e eles seriam

considerados infiéis."
E Ele escreve:

"Tão tremenda é a torrente de graça Divina nesta Dispensação, que se mãos mortais pudessem ser

tão rápidas para registrá-las, dentro do espaço de apenas um dia e uma noite, jorraria tão grande

torrente de versos que equivaleria a todo o Bayán persa."

Tal é, queridos amigos, a efusão da graça celestial derramada pelo Todo-Poderoso nesta era,

neste século iluminado! Estamos muito próximos de uma Revelação tão colossal para esperar que,

neste primeiro século de sua era, possamos avaliar com justiça sua imensurável grandeza, suas infinitas

possibilidades, sua transcendente beleza. Por menor que seja nosso atual número de membros, ou

pequena nossa influência, nós, em cujas mãos foi entregue um legado tão puro, tão tenro e precioso,

devemos nos esforçar continuamente, com ininterrupta vigilância, para nos abstermos de quaisquer

pensamentos, palavras ou ações que possam mesmo de leve ofuscar seu brilho ou prejudicar seu

crescimento. Quão tremenda é nossa responsabilidade; quão delicada e laboriosa nossa tarefa!

Queridos amigos: Das claras e enfáticas instruções que nosso saudoso Mestre reiteradamente, em

incontáveis Epístolas, legou aos Seus seguidores no mundo inteiro, alguns poucos, devido à restrita

influência da Causa no Ocidente, foram propositalmente retidos em relação ao grupo de Seus

discípulos ocidentais, os quais, a despeito de sua inferioridade numérica, estão agora exercendo tão

preponderante influência na direção e administração de seus assuntos. Sinto, portanto, ser minha

incumbência destacar, agora que o tempo é propício, a importância de uma instrução que, no atual

estágio da evolução de nossa Fé, deve ser cada vez mais enfatizada, sem restrição de sua aplicação no

Oriente ou no Ocidente. E este princípio outro não é senão aquele que envolve a não participação dos

seguidores da Fé de Bahá'u'lláh, seja individual ou coletivamente como Assembléias Locais ou

Nacionais, em qualquer forma de atividade que possa ser interpretada, direta ou indiretamente, como

interferência em assuntos políticos de qualquer governo. Seja nas publicações que iniciem ou

supervisionem; ou em suas deliberações oficiais e públicas; ou em postos que ocupem e em serviços

que prestem; ou em comunicações que dirijam aos seus companheiros de fé; ou em seus contatos com

pessoas proeminentes e autoridades; ou em suas afiliações a sociedades e organizações afins, é minha

firme convicção de que sua primeira e sagrada obrigação é abster-se de quaisquer palavras ou ações

que possam ser reconhecidas como violação deste princípio vital.

A POLÍTICA DIVINA

Que de forma alguma se associem, seja por palavras ou ações, às atividades políticas de suas

respectivas nações, aos programas de ação de seus governos e às maquinações e programas dos

partidos e facções. Em tais controvérsias, eles não devem levantar qualquer acusação, tomar qualquer

partido, favorecer qualquer esquema, e identificar-se com qualquer sistema que possa ser prejudicial

aos melhores interesses daquela Fraternidade mundial que é seu objetivo preservar e promover. Que

estejam atentos para não serem utilizados como instrumentos de políticos inescrupulosos, ou enredados

pelas artimanhas traiçoeiras dos conspiradores e dos desleais entre seus concidadãos. Que organizem

suas vidas e regulem sua conduta de modo que nenhuma acusação de dissimulação, fraude, suborno ou

intimidação, embora sem fundamento algum, possa ser lançada contra eles. Que permaneçam sempre

acima de todo e qualquer tipo de partidarismo e particularismo, acima de vãs disputas, de maquinações

mesquinhas, de paixões transitórias que agitam a face e envolvem a atenção de um mundo em

transformação. Eles devem se esforçar para reconhecer, tão claramente quanto possível, e se necessário

com a ajuda de seus representantes eleitos, a diferença entre postos e funções políticas ou diplomáticas

e os que são de caráter puramente administrativo e que sob circunstância alguma são afetados pelas

mudanças e vicissitudes que necessariamente afetam atividades políticas e partidos governamentais em

todas as terras. Que eles afirmem sua inabalável determinação em apoiar, com firmeza e sem reservas,

o padrão de Bahá'u'lláh, evitando disputas e contendas que são inseparáveis da atividade política, e

buscando tornar-se dignos instrumentos daquela Política Divina que encarna o Propósito imutável de

Deus para todos os seres humanos.

Deve ficar perfeitamente claro que tal atitude não implica a mínima indiferença à causa e aos

interesses de seu próprio país, nem significa qualquer insubordinação de sua parte à autoridade de

governos legalmente estabelecidos. Nem constitui um repúdio ao seu sagrado dever de promover, da

melhor maneira possível, os melhores interesses de seus governos e povos. Demonstra o anseio sincero

de todo verdadeiro e leal seguidor de Bahá'u'lláh em servir, de modo altruísta, despretensioso e

patriótico, os mais elevados interesses do país ao qual pertence, e de uma forma que não o desvie dos

elevados padrões de integridade e fidedignidade associados aos ensinamentos de sua Fé.

À medida que o número de comunidades Bahá'ís em várias partes do mundo se multiplicar, e seu

poder como força social se tornar mais e mais aparente, elas sem dúvida ver-se-ão cada vez mais

sujeitas à pressão que pessoas de autoridade e influência, no campo político, irão exercer sobre elas na

esperança de obterem o apoio que precisam para levar avante seus objetivos. Essas comunidades, além

disso, irão sentir uma crescente necessidade da boa-vontade e ajuda de seus respectivos governos em

seus esforços para ampliar o escopo e consolidar os alicerces das instituições sob sua responsabilidade.

Que estejam atentas, porém, para que em seu zelo pelo progresso dos objetivos de sua amada Causa,

não sejam involuntariamente levadas a barganhar com sua Fé, comprometer seus princípios básicos, ou

sacrificar a integridade de seus ideais espirituais, em retribuição a qualquer vantagem material que suas

instituições possam obter. Que proclamem que qualquer que seja o país em que residam, e por mais

avançadas que sejam suas instituições, ou profundo seu desejo de inculcar as leis e aplicar os princípios

enunciados por Bahá'u'lláh, eles, sem hesitar, subordinarão a operação de tais leis e a aplicação de tais

princípios às exigências e provisões legais de seus respectivos governos. Não é seu propósito, ao se

esforçarem em conduzir e aperfeiçoar os assuntos administrativos de sua Fé, violar, sob quaisquer

circunstâncias, as provisões da constituição de seu país, muito menos permitir que a maquinaria de sua

administração suplante o governo de seus respectivos países.

Deve-se ter em mente, também, que a própria amplitude das atividades nas quais estamos

engajados, e a variedade das comunidades que trabalham sob as diversas formas de governo, tão

essencialmente diferentes em seus padrões, políticas e métodos, tornam absolutamente essencial que

todos os membros declarados de qualquer dessas comunidades evitem qualquer ação que, levantando

suspeita ou provocando antagonismo de qualquer governo, possa envolver seus irmãos em novas

perseguições ou complicar a natureza de suas tarefas. De que outro modo, pergunto eu, uma Fé tão

grandiosa – que transcende as limitações políticas e sociais, que inclui em seu seio uma tão grande

variedade de raças e nações, que tem de contar cada vez mais, à medida que avança, com a boa vontade

e apoio de variados e divergentes governos da terra – poderia preservar sua unidade, salvaguardar seus

interesses e garantir o constante e pacífico desenvolvimento de suas instituições?

Tal atitude, porém, não é ditada por considerações de conveniência egoísta, mas decorre,

primeiro e acima de tudo, do claro princípio de que os seguidores de Bahá'u'lláh, sob circunstância

alguma, se deixarão envolver, seja individual ou coletivamente, em assuntos que possam acarretar o

mínimo desvio das verdades e dos ideais fundamentais de sua Fé. Nem as acusações que os mal-

informados e os maliciosos possam levantar contra eles, nem as seduções de honrarias e recompensas

que possam lhes oferecer, nada poderá induzi-los a renunciar sua fé ou desviá-los de seu caminho. Que

suas próprias palavras proclamem, e sua conduta confirme, que aqueles que seguem Bahá'u'lláh, onde

quer que vivam, não são estimulados por qualquer ambição egoísta, que não buscam nem poder, nem

se preocupam com qualquer onda de impopularidade, desconfiança ou críticas que uma firme adesão

aos seus padrões possa provocar.

Por difíceis e delicadas que sejam nossas tarefas, o poder sustentador de Bahá'u'lláh e Sua guia

Divina seguramente nos ajudarão, se seguirmos firmemente em Seu caminho e nos esforçarmos por

apoiar a integridade de Suas leis. A luz de Sua graça redentora, que nenhum poder terreno pode

obscurecer, há de iluminar nosso caminho, se perseverarmos ao caminhar em meio a ciladas e

armadilhas de uma era turbulenta, e nos permitirá realizar nossos deveres de modo a resultar na glória e

na honra de Seu abençoado Nome.
NOSSO AMADO TEMPLO

E finalmente, irmãos muito amados, permitam-me uma vez mais chamar vossa atenção para as

prementes reivindicações do Mashriqu'l-Adhkár, nosso amado Templo. Preciso lembrar-vos da

imperiosa necessidade de concluir vitoriosamente, enquanto ainda há tempo, esse grande

empreendimento do qual somos responsáveis aos olhos de um mundo sempre atento? Preciso enfatizar

o grande prejuízo que uma maior demora na continuação dessa tarefa divinamente ordenada, mesmo

nestas circunstâncias críticas e imprevisíveis, irá causar ao prestígio de nossa amada Causa? Eu tenho,

posso vos assegurar, perfeita consciência da severidade das circunstâncias que vós enfrentais, das

condições difíceis em que desenvolveis vosso trabalho, das preocupações que pesam sobre vossos

ombros, da premência das demandas que incessantemente recaem sobre vossos já exauridos recursos.

Tenho, porém, ainda mais profunda consciência do caráter sem precedentes da oportunidade que é

vosso privilégio agarrar e utilizar. Tenho consciência das incalculáveis bênçãos que esperam o término

de um empreendimento coletivo, o qual, pela abrangência e qualidade dos sacrifícios que impuseram,

merece ser contado entre os exemplos mais destacados de solidariedade Bahá'í desde aqueles feitos de

brilhante heroísmo que imortalizaram a memória dos heróis de Nayríz, de Zanján e de Tabarsí. Faço-

vos um apelo, portanto, amigos e condiscípulos de Bahá'u'lláh, por uma medida mais copiosa de

abnegação, por um padrão mais elevado de esforço coletivo, por uma evidência ainda mais convincente

da realidade da fé que brilha dentro de vós.

E neste fervoroso apelo, minha voz é mais uma vez reforçada pela apaixonada, e talvez a última,

súplica da Folha Mais Sagrada, cujo espírito, agora pairando às margens do Grande Além, anseia

realizar seu vôo ao Reino de Abhá, e à presença de um divino e todo-poderoso Pai, segura da feliz

consumação de um empreendimento, cujo progresso tão fortemente iluminou os dias finais de sua vida

terrena. Que os crentes americanos, esses destemidos pioneiros da Fé de Bahá'u'lláh, irão

unanimemente responder com aquela mesma espontânea generosidade e aquela mesma medida de

abnegação que caracterizaram sua resposta a seus apelos no passado, ninguém que esteja familiarizado

com a vitalidade de sua fé poderá questionar.

Permita Deus que ao final da primavera de 1933, as multidões que dos mais remotos recantos do

globo afluírem aos recintos da Grande Feira a ser realizada nas vizinhanças daquele santuário sagrado,

possam, em conseqüência de vosso inabalável espírito de abnegação, ter o privilégio de contemplar o

magnífico esplendor de sua cúpula – uma cúpula que permanecerá como um brilhante farol e um

símbolo de esperança em meio às trevas de um mundo desesperado.

Seu verdadeiro irmão,
SHOGHI
Haifa, Palestina, Março de 1932
A AMÉRICA E A
PAZ MÁXIMA
AOS AMADOS DO SENHOR E
ÀS SERVAS DO MISERICORDIOSO NOS
ESTADOS UNIDOS E CANADÁ
Amigos e companheiros promotores da Fé de Deus:

Quarenta anos terão transcorrido, no encerramento deste próximo verão, desde que o nome de

Bahá'u'lláh foi mencionado pela primeira vez no continente americano. Estranhas de fato devem

parecer, aos olhos de todo observador que em seu coração pondere o significado deste grande marco na

história espiritual da grande República Americana, as circunstâncias que envolveram esta primeira

referência pública ao Autor de nossa amada Fé. Ainda mais estranhas devem parecer as associações

que as poucas palavras proferidas naquela histórica ocasião devem ter evocado nas mentes daqueles

que as ouviram.

Não houve qualquer pompa e circunstância, nem qualquer manifestação de regozijo público ou

de aplauso popular, para saudar esta primeira convocação* aos cidadãos americanos sobre a existência

e o propósito da Revelação proclamada por Bahá'u'lláh. Nem mesmo ele que foi seu escolhido

instrumento se declarava um crente no potencial existente nas boas novas que transmitia, nem

suspeitava da magnitude das forças que tão rápida menção estava destinada a liberar.

*Num discurso proferido por dr. Henry H. Jessup no Parlamento das Religiões, na Exposição de

Columbia, em Chicago, em 1893. (N. E. – edição americana)

Anunciada pela boca de um declarado apoiador daquele estreito clericalismo que a própria Fé

tem desafiado e busca extirpar, caracterizada no momento de seu nascimento como uma obscura

ramificação de um credo desprezível, a Mensagem do Máximo Nome, alimentada pelas torrentes de

incessante provação e aquecida pela luz do carinhoso cuidado de 'Abdu'l-Bahá, conseguiu enraizar-se

profundamente no cordial solo americano, em menos de meio século estendeu seus galhos e ramos aos

lugares mais remotos do globo, e agora se encontra, adornada pela majestade do consagrado Edifício

que ergueu no coração daquele continente, determinada a proclamar seus direitos e vindicar sua

capacidade de redimir um povo aflito. Sem apoio de qualquer das vantagens que talento, posição e

riquezas podem conferir, a comunidade dos crentes americanos, a despeito de sua tenra idade, sua

pequena força numérica e sua experiência limitada, conseguiu alcançar, em virtude da inspirada

sabedoria, da vontade unificada, da lealdade incorruptível de seus administradores e instrutores, a

distinção e uma liderança indiscutível entre suas comunidades irmãs do Oriente e do Ocidente para

apressar o advento da Idade Áurea prevista por Bahá'u'lláh.

E, ainda assim, quão grave é a crise que esta infante, esta abençoada comunidade tem sofrido no

decurso de sua diversificada história! Quão lento e doloroso o processo que gradualmente a fez emergir

da obscuridade de uma negligência consumada para a ampla claridade do reconhecimento público!

Quão severos os golpes que a comunidade de seus devotados adeptos têm suportado pela deserção dos

tíbios de coração, da malícia dos promotores da sedição, da traição dos orgulhosos e ambiciosos! Que

tormentas de escárnio, insulto e calúnia seus representantes tiveram de enfrentar em seu decidido apoio

à integridade, e sua corajosa defesa do imaculado nome da Fé que desposaram! Quão persistentes têm

sido as vicissitudes, e desconcertantes os reveses aos quais seus privilegiados membros, jovens e idosos

igualmente, individual e coletivamente, tiveram de enfrentar em seus heróicos esforços para escalarem

as alturas a que um amoroso Mestre os convocou!

Muitos e poderosos têm sido seus inimigos, os quais, tão logo descobriram as evidências da

crescente ascendência de seus apoiadores declarados, rivalizaram-se entre si para atacá-los com as mais

vís imputações e derramar sobre o Objeto de sua devoção o veneno de sua mais violenta ira. Quão

freqüentemente zombaram da escassez de seus recursos e da aparente estagnação de sua vida! Quão

amargamente ridicularizaram suas origens e entendendo mal seus propósitos, descartaram-na como

inútil apêndice de um credo moribundo! Não estigmatizaram, em seus ataques escritos, a pessoa

heróica do Precursor de tão sagrada Revelação como um covarde retratador, um pervertido apóstata, e

não denunciaram todo o conjunto de Seus volumosos escritos como um vão palavreado de um homem

insano? Não decidiram imputar a seu divino Fundador os motivos mais vís que um inescrupuloso

conspirador e usurpador pode conceber, e não consideraram o Centro de Seu Convênio como a

incorporação de uma tirania implacável, um promotor de injúrias e um notório expoente de

oportunismo e fraude? Seus princípios de unidade mundial, esses insensatos inimigos de uma Fé em

firme crescimento repetidamente denunciaram como fundamentalmente falsos, seu programa todo-

abrangente, acusaram de inteiramente fantasioso, e sua visão do futuro, consideraram como quimérica e

positivamente enganosa. As verdades fundamentais que constituem sua doutrina, seus néscios

malquerentes apresentaram como um disfarce de um falso dogma, sua maquinaria administrativa,

recusaram-se a diferenciá-la da alma da própria Fé, e os mistérios que reverenciam e defendem, eles os

identificaram como pura superstição. O princípio de unificação que advoga e com o qual se identifica,

eles o deturparam como uma simples busca de uniformidade, suas repetidas asserções da realidade das

intervenções supernaturais, condenaram como vã crença em magia, e a glória de seu idealismo,

rejeitaram como mera utopia. Todo processo de purificação através do qual uma Sabedoria inescrutável

decidiu, de tempos em tempos, purgar o corpo de Seus escolhidos seguidores da corrupção dos

indesejáveis e indignos, essas vítimas de uma incansável inveja consideraram como um sintoma de

forças invasoras de um cisma que logo iria solapar sua força, diminuir sua vitalidade e levá-lo à ruina.

Amigos muito queridos! Não cabe a mim, nem parece estar dentro da competência de qualquer

um da atual geração, traçar a história exata e completa do crescimento e da consolidação gradual deste

braço invencível, deste órgão poderoso, de uma Causa em contínuo progresso. Seria prematuro, neste

estágio de sua evolução, tentar fazer uma análise exaustiva, ou chegar a uma estimativa justa das forças

impulsoras que a têm levado avante para ocupar tão exaltada posição entre os vários instrumentos que a

Mão da Onipotência moldou e está agora aperfeiçoando para a execução de Seu Propósito divino.

Futuros historiadores desta poderosa Revelação, dotados de penas mais capazes do que qualquer um de

seus atuais apoiadores afirme possuir, sem dúvida irão transmitir à posteridade uma magistral

exposição das origens dessas forças que, através de um notável movimento pendular, fizeram com que

o centro administrativo da Fé gravitasse, longe de seu nascedouro, até as praias do continente

americano e até seu próprio coração – a presente fonte e principal baluarte de suas instituições em

rápido desenvolvimento. Sobre eles repousa a tarefa de registrar a história, e avaliar o significado de

tão radical revolução nos destinos de uma Fé em lenta maturação. Sua será a oportunidade de exaltar as

virtudes e imortalizar a memória daqueles homens e mulheres que participaram de sua realização.

Deles, o privilégio de avaliar a parte que coube a cada um desses mestres-construtores da Ordem

Mundial de Bahá'u'lláh em introduzir aquele Milênio áureo, cuja promessa se encontra entesourada em

Seus ensinamentos.

Não oferecem a história do cristianismo primitivo e o surgimento do islã, cada um deles a seu

modo, um espantoso paralelo com este estranho fenômeno cujos primórdios agora estamos

testemunhando, neste que é o primeiro século da era bahá'í? O Impulso Divino que deu nascimento a

cada um desses grandes sistemas religiosos, não foi levado, através da operação dessas forças que o

crescimento irresistível da própria Fé liberou, a buscar longe da terra de seu nascimento, e em climas

mais propícios, um campo preparado e o meio mais adequado para a encarnação de seu espírito e

propagação de sua Causa? Não foram as igrejas asiáticas de Jerusalém, da Antióquia e de Alexandria,

as quais consistiam principalmente de judeus convertidos cujo caráter e temperamento os levavam a

simpatizar com as cerimônias tradicionais da Dispensação Mosaica, forçadas, à medida que

rapidamente entravam em declínio, a reconhecerem a crescente ascendência de seus irmãos gregos e

romanos? Não foram eles compelidos a reconhecer o valor superior e a adestrada eficiência que

capacitaram esses porta-estandartes da Causa de Jesus Cristo a erigirem os símbolos de Seu domínio de

âmbito mundial sobre as ruínas de um império falido? Não foi o espírito animador do islã obrigado, sob

a pressão de circunstâncias similares, a abandonar os inóspitos desertos de seu Lar Árabe, palco de seus

maiores sofrimentos e heroísmos, para dar fruição, em uma terra distante, aos mais belos frutos de sua

civilização em lenta maturação?
Afirma o próprio 'Abdu'l-Bahá:

"Desde o princípio dos tempos até a presente data a luz da Revelação Divina

ergueu-se no Oriente e irradiou sua luz sobre o Ocidente. A Luz assim irradiada, no

entanto, adquiriu um esplendor extraordinário no Ocidente. Considerai a Fé

proclamada por Jesus. Embora tenha aparecido primeiro no Oriente, a plena medida

de suas potencialidades, porém, só se manifestou quando sua luz foi irradiada sobre

o Ocidente."
Ele nos assegura em outra passagem:

"Aproxima-se o dia em que testemunhareis como, através do esplendor da Causa de

Bahá'u'lláh, o Ocidente terá tomado o lugar do Oriente, irradiando a luz da

Orientação Divina."
Ele novamente afirma:

"Nos livros dos Profetas estão registradas certas boas-novas, absolutamente

verdadeiras e indubitáveis. O Oriente tem sido sempre o nascedouro do Sol da

Verdade, no Oriente surgiram todos os Profetas de Deus... O Ocidente adquiriu

iluminação do Oriente, mas em alguns aspectos o reflexo da luz foi maior no

Ocidente. Isto é particularmente verdadeiro com relação ao cristianismo. Jesus

Cristo surgiu na Palestina e Seus ensinamentos foram estabelecidos naquele país.

Embora as portas do Reino se abrissem primeiro naquela terra e as bênçãos de Deus

fossem difundidas de seu centro, os povos do Ocidente abraçaram e proclamaram o

cristianismo mais completamente do que os povos do Oriente."

Pouco surpreende que da mesma pena infalível tenha fluido, depois da memorável visita de

'Abdu'l-Bahá ao Ocidente, estas palavras freqüentemente citadas, cuja importância ser-me-ia

impossível deixar de enfatizar, Ele as anunciou em uma Epístola na qual revela Seu Plano Divino aos

crentes residentes nos Estados do Nordeste da República Americana:

"O continente americano é aos olhos do Deus uno e verdadeiro, a terra onde os

esplendores de Sua luz hão de ser revelados, onde os mistérios de Sua Fé serão

desvelados, onde os justos habitarão e os livres se reunirão."

Ele mesmo, em Sua visita à América, foi ouvido ressaltar:

"Que esta democracia americana seja a primeira nação a estabelecer os

fundamentos do entendimento internacional. Que seja a primeira nação a proclamar

a universalidade do gênero humano. Que seja a primeira a erguer o estandarte da

Suprema Paz... O povo americano de fato merece ser o primeiro a construir o

tabernáculo da suprema paz e proclamar a unidade do gênero humano... que a

América se torne o centro de difusão da iluminação espiritual, e o mundo inteiro

receba esta bênção celestial! Pois a América desenvolveu poderes e capacidades

maiores e mais poderosas do que outras nações... Que os habitantes deste país se

tornem como anjos do céu, com as faces constantemente voltadas para Deus. Que

todos eles se tornem servos do Onipotente. Que se elevem acima desta atual

realização material e atinjam tais alturas que a iluminação celestial possa se projetar

deste centro para todos os povos do mundo... Esta nação americana está equipada e

tem o poder de consumar aquilo que há de adornar as páginas da história, para se

tornar a inveja do mundo e ser abençoada no Oriente e no Ocidente pelo triunfo de

seu povo... O continente americano dá evidentes sinais de grande progresso; seu

futuro é ainda mais promissor, pois sua influência e iluminação são de ampla

projeção e espiritualmente liderará todas as nações."

Pareceria extravagante, à luz de tão sublime elocução, esperar que em meio a tão invejável região

da terra e longe da agonia e decadência de uma crise sem precedentes, surgisse um renascimento

espiritual que, ao se propagar por intermédio dos crentes americanos, irá reabilitar os destinos de uma

era decadente? Foi o próprio 'Abdu'l-Bahá, afirmam Seus mais íntimos companheiros, que em mais de

uma ocasião, deu a entender que o estabelecimento da Fé de Seu Pai no continente norte-americano

possuía a posição mais destacada no tríplice propósito que, conforme Ele concebia, constituíam o

objetivo principal de Seu ministério. Foi Ele que, no apogeu de Sua vida e quase imediatamente após a

Ascensão de Seu Pai, concebeu a idéia de inaugurar Sua missão alistando os habitantes de um país tão

promissor sob a bandeira de Bahá'u'lláh. Foi Ele que, em sua infalível sabedoria e a generosidade de

Seu coração, decidiu conceder a Seus discípulos escolhidos, até o último dia de Sua vida, os sinais de

Sua infalível solicitude, e dominá-los com as marcas de Seu favor especial. Foi Ele que, em Seus anos

finais, logo após ter sido libertado de Seus grilhões de um longo e cruel encarceramento, decidiu visitar

a terra que por tantos anos havia sido o objeto de Seu infinito cuidado e amor. Foi Ele que, através do

poder de Sua presença e do encanto de Suas elocuções, infundiu no corpo inteiro de Seus seguidores

aqueles sentimentos e princípios que seriam os únicos que poderiam fortalecê-los em meio a provações

que a realização de suas tarefas inevitavelmente engendrariam. Ele que, através das diversas atividades

que realizou enquanto viveu em seu meio, seja na colocação da pedra angular de sua Casa de

Adoração, ou na Festa que lhes ofereceu e na qual decidiu servi-los pessoalmente, ou na ênfase que, na

mais solene ocasião, deu às implicações de Sua posição espiritual – não estava, desse modo,

deliberadamente concedendo a eles todos os aspectos essenciais daquela herança espiritual que sabia

iriam habilmente salvaguardar e através de seus feitos continuamente enriquecer? E, finalmente, quem

poderá duvidar que, no Plano divino que, no crepúsculo de Sua vida, Ele desvelou a seus olhos, estava

investindo-lhes daquela primazia espiritual na qual podiam confiar no cumprimento de seu elevado

destino?
Ele assim lhes fala em uma de Suas Epístolas:

"Ó vós apóstolos de Bahá'u'lláh! Que Minha vida seja um sacrifício a vós!...

Contemplai os portais que Bahá'u'lláh abriu diante de vós! Considerai quão excelsa

e sublime é a condição a que fostes destinados a atingir; quão incomparáveis são os

favores com os quais fostes dotados."
Ele lhes diz em outra passagem:

"Meus pensamentos estão dirigidos a vós e meu coração se agita dentro de mim

mediante vossa menção. Se soubésseis como minha alma arde com vosso amor, tão

grande felicidade inundaria vossos corações que vos tornaríeis enamorados uns

pelos outros."
E declara em outra Epístola:

"A plena medida de vosso sucesso ainda permanece oculta e sua importância

desconhecida. Dentro em breve testemunhareis, com vossos próprios olhos, quão

brilhantemente cada um de vós, tal como uma estrela esplendorosa, irradiará a luz

da Guia Divina no firmamento de seu país e conferirá ao seu povo a glória da vida

eterna."
E mais uma vez, Ele afirma:

"A extensão de vossas realizações futuras ainda permanece desconhecida. Espero

fervorosamente que, num futuro próximo a terra inteira seja impulsionada e

sacudida com o fruto de vossas realizações."
E lhes assegura:

"O Todo-Poderoso sem dúvida alguma vos concederá o auxílio de Sua graça,

investir-vos-á com os sinais de Seu poder e dotará vossas almas com o poder

sustentador de Seu espírito Santo."
Porém, os adverte:

"Não considereis a escassez de vosso número, nem vos deixeis intimidar pela

multidão de um mundo descrente... Esforçai-vos; vossa missão é indizivelmente

gloriosa. Se o sucesso coroar vosso empreendimento, a América tornar-se-á

seguramente um centro de onde emanarão as ondas de poder espiritual e o trono do

Reino de Deus será firmemente estabelecido com a plenitude de sua majestade e

glória."
Ele, assim, os estimula:

"A esperança que 'Abdu'l-Bahá nutre por vós é que o mesmo sucesso, que vem

acompanhando vossos esforços na América possa coroar vossos empenhos em

outras partes do mundo, e que através de vós a celebridade da Causa de Deus possa

ser difundida inteiramente no Oriente e no Ocidente e o advento do Reino do

Senhor das Hostes proclamado por todos nos cinco continentes do globo... Até

agora tendes sido infatigáveis em vosso trabalho. Que doravante vosso esforço

aumente mil vezes. Convocai os povos desses países, capitais, ilhas, grupos e

igrejas a entrarem no Reino de Abhá. O âmbito de vosso esforço deve ser ampliado.

Quanto mais ampla sua abrangência, maior será a evidência da assistência divina...

Ó pudesse eu viajar, ainda que a pé e na máxima pobreza, a essas regiões e,

erguendo o chamado de Yá-Bahá'u'l-Abhá em cidades, aldeias, montanhas,

desertos e oceanos, promover os ensinamentos divinos! Isso, infelizmente, eu não

posso fazer! Quão intensamente eu lamento! Apraza a Deus que vós o possais

fazer!"

E, finalmente, como se para coroar todas as Suas elocuções anteriores, esta afirmação solene

incorpora Sua visão do destino espiritual da América:

"No momento em que os crentes americanos levarem avante esta Mensagem Divina

da costa americana, propagando-a através dos continentes da Europa, Ásia, África e

Austrália, até as longínquas ilhas do Pacífico, essa comunidade se verá seguramente

estabelecida no trono de um domínio eterno. Então, todos os povos do mundo

testemunharão que essa comunidade é espiritualmente iluminada e divinamente

guiada. E toda a terra ressoará com os louvores de sua majestade e grandeza."

É à luz dessas palavras de 'Abdu'l-Bahá que todo crente previdente e consciencioso deve

ponderar sobre a importância desta significativa afirmativa de Bahá'u'lláh:

"No Oriente irrompeu a Luz de Sua Revelação; no Ocidente os sinais de Seu

domínio apareceram. Ponderai isto em vossos corações, ó povo, e não sejais dos

que desatenderam às admoestações dAquele que é o Todo-Poderoso, o Todo-

Louvado... Se tentarem ocultar sua luz no continente, ela seguramente levantará a

cabeça no coração do oceano, e, erguendo sua voz, proclamará: 'Eu sou quem dá

vida ao mundo!'"

Amigos muito queridos: Estarão nossos olhos tão turvos que não conseguem reconhecer na

angústia e no tumulto que, mais do que em qualquer outro país e de forma sem precedentes em sua

história, estão agora afligindo a nação americana, as evidências dos primórdios daquela renascença

espiritual que essas fecundas palavras de 'Abdu'l-Bahá tão claramente prenunciam? As dores e os

tormentos de agonia que a alma de uma nação em gestação está agora começando a sentir

abundantemente a proclamam. Comparai a triste condição das nações da terra, e em particular desta

grande república do Ocidente, com as nascentes fortunas daquela mancheia de seus cidadãos, cuja

missão, se forem fiéis à sua incumbência, deverá curar suas feridas, restaurar sua confiança e reavivar

suas esperanças despedaçadas. Comparai as convulsões terríveis, os conflitos destruitivos, as vãs

disputas, as controvérsias ultrapassadas, as revoluções intermináveis que agitam as massas, com a nova

e calma luz da Paz e da Verdade que envolve, guia e sustenta aqueles valentes herdeiros da lei e do

amor de Bahá'u'lláh. Comparai as instituições em desintegração, as desacreditadas diplomacias, as

teorias destruídas, a degradação assustadora, as loucuras e as fúrias, os artifícios, as fraudes e as

concessões que caracterizam a sociedade atual, com a firme consolidação, a santa disciplina, a unidade

e a coesão, a inabalável convicção, a lealdade incondicional, e a heróica abnegação que constituem o

marco desses fiéis defensores e precursores da idade áurea da Fé de Bahá'u'lláh.

Não é de admirar que estas palavras proféticas tenham sido reveladas por 'Abdu'l-Bahá. Ele nos

assegura:

"O Oriente foi verdadeiramente iluminado com a Luz do Reino. Dentro em breve

esta mesma luz haverá de emitir sobre o Ocidente uma iluminação ainda maior.

Então os corações de seus povos serão vivificados pela potência dos ensinamentos

de Deus e suas almas serão iluminadas pelo fogo imorredouro de Seu amor."

E Ele afirma:

"O prestígio da Fé de Deus cresceu imensamente. Sua grandeza está agora

manifesta. Aproxima-se o dia em que ela terá provocado um tremendo tumulto nos

corações humanos. Regozijai-vos, portanto, ó habitantes da América, regozijai-vos

com inexcedível alegria!"

Irmãos muito amados e valiosos! Ao voltarmos nosso olhar para os quarenta anos que

transcorreram desde que os auspiciosos raios da Revelação de Bahá'u'lláh pela primeira vez aqueceram

e iluminaram o continente americano, constataremos que eles bem podem ser divididos em quatro

períodos distintos, cada um deles culminando em um evento de tal importância que se constituíram em

marcos ao longo do caminho que tem levado os crentes americanos à sua prometida vitória. A primeira

dessas décadas (1893-1903), caracterizada por um processo de lenta mas constante fermentação, pode

ser dita como tendo culminado com as históricas peregrinações dos discípulos americanos de 'Abdu'l-

Bahá ao Santuário de Bahá'u'lláh. Os dez anos que se seguiram (1903-1913), tão cheios de testes e

provações que agitaram, limparam e energizaram o corpo dos primeiros pioneiros da Fé nessa terra,

tiveram como seu feliz clímax a memorável visita de 'Abdu'l-Bahá à América. O terceiro período

(1913-1923), um período de quieta e ininterrupta consolidação, teve como seu inevitável resultado o

nascimento daquela Administração divinamente designada, cujos alicerces a Última Vontade do finado

Mestre havia estabelecido de forma inequívoca. Os dez anos remanescentes (1923-1933), inteiramente

marcados por um desenvolvimento adicional interno, como também por uma notável expansão de

atividades internacionais de uma comunidade em crescimento, testemunharam o término da

superestrutura do Mashriqu'l-Adhkar – o poderoso baluarte da Administração, o símbolo de sua força e

o sinal de sua glória futura.

Cada um desses períodos sucessivos parece ter contribuído com sua parcela distinta para o

enriquecimento da vida espiritual daquela comunidade, e como preparação de seus membros para se

desincumbirem das tremendas responsabilidades de sua inigualável missão. As peregrinações que seus

mais destacados representantes foram levados a realizar, naqueles primeiros tempos de sua história,

incandesceram as almas de seus membros com um amor e zelo que nenhuma adversidade poderia

arrefecer. Os testes e tribulações que subseqüentemente sofreram, capacitaram aqueles que a elas

sobreviveram a obter um entendimento das implicações de sua fé de que nenhuma oposição, por mais

determinada e bem organizada que fosse, jamais poderia esperar enfraquecer. As instituições que seus

fiéis seguidores, testados e provados, mais tarde estabeleceram, alimentaram seus promotores com

aquela firmeza e estabilidade que o crescimento de seus números e a incessante expansão de suas

atividades urgentemente demandavam. E finalmente o Templo, que os expoentes de uma

Administração já firmemente estabelecida foram inspirados a erigir, deu-lhes a visão que nem as

tempestades de distúrbios internos, nem os vendavais da comoção internacional poderiam de alguma

forma obscurecer.

Seria necessário me estender muito para tentar mesmo uma breve descrição dos primeiros

alvoroços causados pela introdução da Revelação Bahá'í no Novo Mundo, conforme concebida,

iniciada e dirigida por nosso bem amado Mestre. E o espaço não me permite narrar as circunstâncias

que envolveram a historicamente marcante visita dos primeiros peregrinos americanos ao Santuário

sagrado de Bahá'u'lláh, para relatar os feitos que sinalizaram o retorno desses portadores de um

Evangelho recém nascido para seu país nativo, ou avaliar as conseqüências imediatas de suas

realizações. Nenhuma palavra minha seria suficiente para expressar quão instantaneamente a revelação

das expectativas, esperanças e propósitos de 'Abdu'l-Bahá para um continente despertado, eletrizou as

mentes e os corações daqueles que tiveram o privilégio de ouvi-Lo, que se tornaram os recipientes de

Suas bênçãos inestimáveis e os repositórios escolhidos de Sua confiança e certeza. Jamais esperaria

interpretar adequadamente os sentimentos que se agitaram naqueles heróicos corações ao se sentarem

aos pés do Mestre, ao abrigo de Seu lar-prisão, ansiosos para absorver e decididos a preservar as

efusões de Sua divina sabedoria. Jamais poderia prestar um tributo condigno àquele espírito de

inabalável determinação que o impacto de uma personalidade magnética e o encanto de uma poderosa

elocução despertou na inteira companhia desses peregrinos que retornaram, desses consagrados

precursores do Convênio de Deus, em tão decisiva época de sua história. A memória de nomes como os

de Lua, Chase, MacNutt, Dealy, Goodall, Dodge, Farmer e Brittingham – para mencionar apenas

algumas das estrelas daquela galáxia imortal agora reunidas à glória de Bahá'u'lláh – permanecerá para

sempre associada com o nascimento e o estabelecimento de Sua Fé no continente americano, e

continuará a irradiar sobre seus anais um esplendor que o tempo jamais poderá enfraquecer.

Foi por intermédio desses peregrinos, ao se sucederem uns aos outros nos anos imediatamente

após a ascensão de Bahá'u'lláh, que o esplendor do Convênio, obscurecido por algum tempo pela

aparente ascendência de seu Arqui-Rompedor, emergiu triunfante em meio às vicissitudes que o

haviam afligido. Foi pela chegada daqueles peregrinos, e deles somente, que as sombras que

envolveram os membros desconsolados da família de 'Abdu'l-Bahá foram finalmente dispersas. Foi

pela ação desses visitantes sucessivos que a Folha Mais Sagrada – que sozinha com seu Irmão dentre os

membros da família de seu Pai, teve de confrontar a rebelião de quase todos os seus parentes e

associados – encontrou aquele conforto que tão poderosamente a sustentou até o final de sua vida.

Pelas forças que este pequeno grupo de peregrinos, ao regressar, conseguiu liberar no coração daquele

continente é que o mau-agouro de toda e qualquer conspiração de pretensos destruidores da Causa de

Deus foi eliminado.

As Epístolas que foram subseqüentemente reveladas pela incansável pena de 'Abdu'l-Bahá,

incorporando em linguagem apaixonada e inequívoca Suas instruções e conselhos, Seus apelos e

comentários, Suas esperanças e desejos, Seus temores e admoestações, logo começaram a ser

traduzidas, publicadas e circularam por todos os recantos do continente norte-americano, provendo o

sempre crescente grupo dos primeiros crentes com o alimento espiritual, o qual, apenas ele, poderia

capacitá-los a sobreviver às severas provações que teriam de enfrentar em breve.

A hora de uma crise sem precedentes, porém, estava inexoravelmente se aproximando.

Evidências de dissensão, alimentadas pelo orgulho e ambição, começavam a obscurecer o brilho e

retardar o crescimento de uma comunidade recém nascida, a qual os apostólicos instrutores daquele

continente tinham tanto se esforçado para estabelecer. Aquele que fora um instrumento na inauguração

de tão esplêndida era na história da Fé, a quem o Centro do Convênio de Bahá'u'lláh havia conferido

os títulos de "Pedro da Fé Bahá'í", de "Pastor dos Rebanhos de Deus", de "Conquistador da América",

a quem havia sido concedido o privilégio único de ajudar 'Abdu'l-Bahá a colocar a pedra fundamental

do Mausoléu do Báb no Monte Carmelo – tal homem, cego por seu extraordinário sucesso e aspirando

um domínio irrestrito sobre as crenças e as atividades de seus condiscípulos, insolentemente levantou a

bandeira da rebelião. Separando-se de 'Abdu'l-Bahá e unindo-se ao Arqui-Inimigo da Fé de Deus, esse

iludido apóstata tentou, ao perverter os ensinamentos e lançar uma incansável campanha de difamação

contra a pessoa de 'Abdu'l-Bahá, solapar a fé daqueles crentes aos quais ele, por não menos de oito

anos, tão incansavelmente se esforçou em converter. Pelas calúnias que publicou com ativa

colaboração dos emissários de seu principal Aliado, e reforçadas pelos empenhos que os inimigos

eclesiásticos cristãos da Revelação Bahá'í estavam começando a exercer, ele conseguiu lançar contra a

nascente Fé de Deus um golpe do qual somente aos poucos e dolorosamente ela foi se recuperando.

Não preciso discorrer sobre os efeitos imediatos desta séria, embora transitória, ruptura nas

fileiras dos crentes americanos da Causa de Bahá'u'lláh. Nem sobre o caráter dos escritos difamatórios

que sobre eles lançaram. Não é necessário, igualmente, relatar as medidas tomadas por um Mestre

sempre atento para amenizar e então dissipar suas apreensões. Os futuros historiadores é que deverão

avaliar a importância da missão de cada um dos quatro mensageiros escolhidos por 'Abdu'l-Bahá, os

quais, em rápida sucessão, foram enviados por Ele para pacificar e revigorar aquela aflita comunidade.

Sua será a tarefa de investigar, no trabalho que esses representantes de 'Abdu'l-Bahá foram autorizados

a realizar, os primórdios daquela vasta Administração, cuja pedra fundamental esses mensageiros

foram instruídos a assentar – uma Administração cujo edifício simbólico Ele, mais tarde, iria

pessoalmente fundar e cujos alicerces e escopo as provisões de Sua Última Vontade estavam destinados

a ampliar.

Basta dizer que neste estágio de sua evolução, as atividades de uma Fé invencível haviam

assumido tais dimensões que forçaram, de um lado, seus inimigos a criar novas armas para seus

planejados assaltos e, por outro, estimular seu Promotor supremo a instruir seus seguidores através de

representantes e instrutores qualificados sobre os rudimentos de uma Administração que, com sua

evolução, iria logo encarnar, salvaguardar e promover seu espírito. As ações de tão obstinados

agressores, como as de Vatralsky, Wilson, Jessup e Richardson, rivalizavam-se entre si em suas fúteis

tentativas de manchar sua pureza, impedir sua marcha e tentar levá-la à rendição. Quanto às acusações

de niilismo, heresia, gnosticismo muçulmano, imoralidade, ocultismo e comunismo, tão livremente

levantadas contra eles, vítimas impávidas de tão ultrajantes acusações, agindo sob as instruções de

'Abdu'l-Bahá, responderam iniciando uma série de atividades através das quais, por sua própria

natureza, seriam precursoras das instituições permanentes e oficialmente reconhecidas. A inauguração

da primeira Casa de Espiritualidade, em Chicago, designada por 'Abdu'l-Bahá como a "Casa de

Justiça" daquela cidade; o estabelecimento da Sociedade Bahá'í de Publicações; a fundação do "Grupo

de Amigos de Green Acre"; a publicação da revista "Star of the West"; a realização da primeira

Convenção Nacional, sincronizando-se com a transferência dos sagrados restos do Báb ao seu sepulcro

definitivo no Monte Carmelo; o registro legal do "Bahá'í Temple Unity" e a formação do Comitê

Executivo do Mashriqu'l-Adhkar –destacam-se como as mais notáveis realizações dos crentes

americanos que imortalizaram a memória do mais turbulento período de sua história. Lançada através

dessas mesmas ações num mar revolto de incessantes tribulações, pilotada pelo braço poderoso de

'Abdu'l-Bahá e manejada pelas ousadas iniciativas e abundante vitalidade de um grupo de discípulo

duramente testados, a Arca do Convênio de Bahá'u'lláh conseguiu, desde aqueles dias, manter-se firme

em seu rumo, indiferente às tempestades de amargas adversidades que a assaltaram e ainda deverão

assolá-la, à medida que ela for seguindo, imperturbada, seu caminho ao prometido paraíso de segurança

e paz.

Insatisfeita com as realizações que coroaram os esforços conjuntos de seus representantes eleitos

dentro do continente americano, e encorajada pelo sucesso inicial de seus primeiros instrutores, além de

suas fronteiras, na Grã-Bretanha, França e Alemanha, a comunidade dos crentes americanos decidiu

conquistar em climas distantes novos recrutas para o crescente exército de Bahá'u'lláh. Partindo das

praias ocidentais de sua terra natal e impelidos pela energia poderosa de uma fé recém nascida, esses

instrutores itinerantes do Evangelho de Bahá'u'lláh alcançaram as ilhas do Pacífico e foram a regiões

distantes como China e Japão, determinados a estabelecer postos avançados de sua amada Fé além dos

mares mais longínquos. Tanto em seu próprio país, como no exterior, esta comunidade já havia

demonstrado, naquele tempo, sua capacidade de ampliar o âmbito e consolidar os alicerces de seus

enormes empreendimentos. As furiosas vozes que se levantaram em protesto contra seu surgimento

estavam se afogando em meio às aclamações com que o Oriente aplaudiu suas recentes vitórias.

Aqueles aspectos repulsivos que se haviam mostrado tão ameaçadores foram gradualmente diminuindo,

desaparecendo à distância, propiciando um campo ainda mais amplo para aqueles nobres guerreiros

expressarem suas energias latentes.

A Fé de Bahá'u'lláh havia em verdade ressuscitado no continente americano. Como uma fênix,

ela surgira em toda a sua formosura, vigor e beleza, e estava agora, pela voz de seus vitoriosos

expoentes, insistentemente chamando a 'Abdu'l-Bahá, implorando-Lhe para realizar uma viagem aos

seus rincões. Os primeiros frutos da missão delegada a seus dignos apoiadores haviam emprestado tal

força ao seu chamado que 'Abdu'l-Bahá, recém libertado dos grilhões de uma tirania cruel, não

conseguiu resistir. Seu grande, Seu incomparável amor por Seus filhos favorecidos O impeliram a

responder. O apaixonado apelo que fizeram, havia sido, além disso, reforçado pelos numerosos

convites que representantes de várias organizações interessadas, seja religiosas, educacionais ou

humanitárias, haviam encaminhado a Ele, expressando sua ansiedade em ouvir de Sua própria boca

uma exposição dos ensinamentos de Seu Pai.

Embora sob o peso da idade, e sofrendo de males resultantes de preocupações acumuladas

durante cinqüenta anos de exílio e cativeiro, 'Abdu'l-Bahá partiu em Sua memorável viagem através de

oceanos à terra que iria abençoar com Sua presença, santificar com Seus feitos, os poderosos feitos que

Seu espírito havia estimulado que Seus discípulos realizassem. As circunstâncias que acompanharam

Sua jornada triunfal através das principais cidades dos Estados Unidos e do Canadá, minha pena é

totalmente incapaz de descrever. As alegrias que o anúncio de Sua chegada evocou, a publicidade que

Suas atividades criaram, as forças que Suas elocuções liberaram, a oposição que as implicações de Seus

ensinamentos levantaram, os significativos episódios que Suas palavras e ações continuamente

ocasionaram – serão sem dúvida detalhada e condignamente registradas por futuras gerações. Eles

cuidadosamente delinearão seus aspectos, estimarão e preservarão sua memória, e transmitirão, de

forma intacta, os registros de suas detalhadas minúcias aos seus descendentes. Seria na verdade

presunção de nossa parte tentar, no tempo atual, esboçar, mesmo superficialmente, um tema tão vasto e

tão fascinante. Ao contemplar, depois de um lapso de mais de vinte anos, este marco notável na história

espiritual da América, ainda nos sentimos impelidos a confessar nossa incapacidade de entender

devidamente sua importância ou de penetrar seu mistério. Aludi, nas páginas precedentes, a alguns dos

aspectos mais salientes daquela inesquecível visita. Esses incidentes, ao fazermos uma retrospectiva

deles, eloqüentemente proclamam o propósito específico de 'Abdu'l-Bahá de, através dessas funções

simbólicas, conferir às recém nascidas comunidades do Ocidente, aquela primazia espiritual que iria ser

um direito inato dos crentes americanos.

As sementes que as incessantes atividades de 'Abdu'l-Bahá tão profusamente espalharam,

haviam dotado os Estados Unidos e o Canadá, ou melhor, todo o continente, com potencialidades como

jamais foram conhecidas em sua história. Ao pequeno grupo de Seus treinados e amados discípulos, e

através deles aos seus descendentes, Ele, com Sua visita, legou-lhes uma herança preciosa – uma

herança que continha em si a sagrada e fundamental obrigação de se levantarem e levarem avante,

naquele solo fértil, o trabalho que Ele tão gloriosamente havia iniciado. Podemos tenuemente fazer uma

imagem mental dos desejos que devem ter brotado de Seu coração ansioso ao dar Seu último adeus

àquele país promissor. Uma Sabedoria inescrutável, bem podemos imaginá-Lo observando aos Seus

discípulos às vésperas de Sua partida, em Sua infinita graça, selecionou vossa terra natal para a

execução de um poderoso propósito. Graças ao Convênio de Bahá'u'lláh, eu, como um lavrador, fui

chamado desde o início de meu ministério, a revirar e arar seu terreno. As poderosas confirmações que

desde os primeiros dias têm sido derramadas, ajudaram a preparar e fortalecer seu solo. As tribulações

que subseqüentemente vós tivestes de enfrentar, ocasionaram os profundos sulcos no terreno que

minhas mãos haviam preparado. As sementes que me foram entregues, eu as espalhei por toda parte

diante de vós. Sob vosso amoroso cuidado, e pelos vossos incessantes esforços, todas essas sementes

devem germinar, cada uma deve dar seus próprios frutos. Um inverno de severidade sem precedentes

logo se abaterá sobre vós. Suas nuvens tempestuosas se juntam rapidamente no horizonte. Ventos

avassaladores sopram sobre vós de todos os lados. A Luz do Convênio será obscurecida pela minha

partida. No entanto, essas fortes rajadas de vento e essa desolação hibernal hão de passar. A semente

dormente manifestará vigorosa atividade. Desenvolverá seus botões, revelará suas folhas e flores em

forma de fortes instituições. As chuvas primaverís da amorosa misericórdia que meu Pai celestial fará

cair sobre vós, fará com que esta tenra planta estenda seus ramos a regiões bem além dos confins de

vossa terra natal. E, finalmente, o sol de Sua Revelação que firmemente se levanta, brilhando em seu

esplendor meridiano, fará com que esta poderosa Árvore de Sua Fé produza, na plenitude do tempo e

em vosso solo, seus preciosos frutos.

As implicações de uma mensagem de despedida não poderiam mais permanecer ocultas aos

discípulos iniciados de 'Abdu'l-Bahá. Logo que Ele concluiu Sua longa e árdua viagem pelo continente

americano e pela Europa, os tremendos acontecimentos aos quais Ele havia aludido começaram a se

manifestar. Um conflito, como Ele havia predito, interrompeu por algum tempo todos os meios de

comunicação com aqueles aos quais Ele entregara tão tácito legado, e de quem tanto esperava resposta.

A desolação hibernal, com toda a sua devastação e massacre, prosseguiu seu incansável curso durante

quatro anos, enquanto Ele, retornando à quieta solitude de Sua residência, nas proximidades do sagrado

santuário de Bahá'u'lláh, continuava a comunicar Seus pensamentos e desejos àqueles que havia

deixado para trás e àqueles a quem havia conferido as incomparáveis provas de Seu favor. Nas imortais

Epístolas que, nas longas horas de Sua comunhão com Seus ternamente amados amigos, Ele foi

impelido a revelar, estendeu diante de seus olhos Sua concepção do destino espiritual deles e Seu Plano

para a missão que Ele desejava que assumissem. Ele estava agora aguando as sementes que Suas mãos

haviam plantado, com aquele mesmo cuidado, aquele mesmo amor e paciência que haviam

caracterizado Seus esforços anteriores enquanto laborava dedicadamente em seu meio.

O chamado de clarim que 'Abdu'l-Bahá havia levantado era o sinal para um despertar de

renovada atividade que, tanto pelos motivos que inspirou como pelas forças que colocou em ação, a

América raramente havia experimentado. Adicionando um ímpeto sem precedentes ao trabalho que os

ativos embaixadores da Mensagem de Bahá'u'lláh haviam iniciado em terras distantes, este movimento

poderoso continuou a se espalhar até nossos dias, ganhou ímpeto ao estender suas ramificações sobre a

face do globo, e continuará a acelerar sua marcha até que os últimos desejos de seu primeiro Promotor

sejam completamente cumpridos.

Deixando seus lares, parentes, amigos e posição social, um punhado de homens e mulheres,

inflamados por um zelo e confiança que nenhuma outra instituição humana poderia acender,

levantaram-se para cumprir o mandato que 'Abdu'l-Bahá havia emitido. Viajando para o norte a

regiões distantes como o Alasca, apressando-se para as Índias Ocidentais, penetrando no continente

sul-americano até as margens do Amazonas, e através dos Andes para as regiões do extremo sul da

República Argentina, dirigindo-se para o oeste até a ilha de Taiti e mais além, para o continente

australiano, e ainda mais distante, para Nova Zelândia e Tasmânia, esses intrépidos arautos da Fé de

Bahá'u'lláh conseguiram, com seus próprios atos, estabelecer para a presente geração de seus irmãos

de fé no Oriente um exemplo que eles bem podem emular. Tendo à frente sua ilustre representante, a

qual, desde que o chamado de 'Abdu'l-Bahá foi erguido, já deu duas voltas em torno do globo e está

ainda, com força e coragem maravilhosas, enriquecendo os incomparáveis anais de seus serviços, esses

homens e mulheres foram instrumentos de expansão da influência do domínio universal de Bahá'u'lláh,

a um ponto ainda não superado na história bahá'í. Em face de obstáculos praticamente insuperáveis, em

muitos dos países pelos quais passaram, ou nos quais estabeleceram residência, eles conseguiram

proclamar os ensinamentos de sua Fé, fazer circular sua literatura, defender sua causa, estabelecer os

alicerces de suas instituições e reforçar o número de seus declarados apoiadores. Seria impossível para

mim expor, neste pequeno espaço, a história de tão heróicas ações. Nem poderia qualquer tributo meu

fazer justiça ao espírito que possibilitou a esses porta-estandartes da Religião de Deus conquistar tais

lauréis e conferir tal distinção à geração a que pertenceram.

A Causa de Bahá'u'lláh conseguira, então, circundar todo o globo. Sua luz, nascida na tenebrosa

Pérsia, havia sido levada sucessivamente para os continentes da europeu, africano e americano, e estava

agora penetrando no coração da Austrália, abrangendo com isso a terra inteira com uma grinalda de

glória esplendorosa. O papel que tão condignos, tão corajosos discípulos, tiveram em animar os últimos

dias da vida terrena de 'Abdu'l-Bahá, só Ele pode verdadeiramente reconhecer e avaliar

completamente. A importância singular e eterna de tais realizações certamente será revelada pelos

futuros labores da nova geração, e a memória de seus serviços, condignamente preservados e louvados.

Quão profunda satisfação 'Abdu'l-Bahá deve ter tido, consciente que estava da iminência de Sua

partida, ao constatar os primeiros frutos de serviços internacionais desses heróis da Fé de Seu Pai! Aos

seus cuidados Ele confiara uma grande herança. No crepúsculo de Sua vida terrena, Ele pôde descansar

contente, com a serena certeza de que em tão hábeis mãos podia ser confiada a tarefa de preservar sua

integridade e exaltar suas virtudes.

O passamento de 'Abdu'l-Bahá, ocasionado por tão súbitas causas, e de conseqüências tão

dramáticas, não poderia impedir a operação de tão dinâmica força, nem obscurecer seu propósito.

Aqueles apelos fervorosos, incorporados na Última Vontade e Testamento de um Mestre que recém

partira, apenas poderiam confirmar seu objetivo, definir seu caráter e reforçar as promessas de seu

sucesso final.

Das dores de agonia que Seus seguidores, agora órfãos, haviam sofrido, em meio ao calor e à

poeira que os ataques lançados por um inimigo incansável haviam precipitado, nascera a Administração

da invencível Fé de Bahá'u'lláh. As poderosas energias liberadas pela ascensão do Centro de Seu

Convênio haviam se cristalizado neste supremo e infalível Órgão para o cumprimento do Propósito

Divino. A Última Vontade e Testamento de 'Abdu'l-Bahá desvelou seu caráter, reafirmou seus

alicerces, suplementou seus princípios, confirmou sua indispensabilidade e enumerou suas principais

instituições. Com aquela mesma espontaneidade que caracterizara sua resposta à Mensagem

proclamada por Bahá'u'lláh, a América havia agora se levantado para desposar a causa da

Administração que a Última Vontade e Testamento de Seu Filho havia estabelecido inequivocamente.

Nos anos turbulentos que se seguiram à revelação de tão significativo Documento, a ela, e somente a

ela foi concedido o direito de se tornar a destemida defensora daquela Administração, o pivô de suas

recém nascidas instituições e a principal promotora de sua influência. Para os irmãos persas, os quais

na idade heróica da Fé haviam conquistado a coroa do martírio, os crentes americanos, precursores de

sua idade áurea, estavam agora conseguindo ostentar condignamente uma vitória duramente

conquistada. Os registros insuperáveis de seus ilustres feitos haviam estabelecido, sem qualquer sombra

de dúvida, sua parcela preponderante no delineamento dos destinos de sua Fé. Em um mundo sofrido,

precipitando-se para o caos, esta comunidade – vanguardeira das forças libertadoras de Bahá'u'lláh –

conseguira erguer, nos anos seguintes ao passamento de 'Abdu'l-Bahá, muito além do nível alcançado

por suas instituições irmãs no Oriente e no Ocidente, o que bem pode constituir o pilar principal

daquela futura Casa – uma Casa que a posteridade irá considerar como o último refúgio de uma

civilização cambaleante.

No prosseguimento de suas tarefas, nem os sussurros dos traidores, nem os virulentos ataques de

seus inimigos declarados os fizeram desviar de seus elevados propósitos, ou solaparam sua fé na

sublimidade de sua vocação. A agitação provocada por aquele que em sua incessante e sórdida busca

de riquezas terrenas teria, não fosse a advertência de 'Abdu'l-Bahá, maculado o bom nome de sua Fé,

não chegou a perturbá-los. Escolados por tribulações e seguros na fortaleza de suas instituições em

rápido desenvolvimento, eles repudiaram suas insinuações e por sua lealdade inquestionável foram

capazes de arrasar suas esperanças malévolas. Recusaram-se permitir qualquer consideração ao

reconhecido prestígio e aos serviços passados de seu pai e de seus associados enfraquecerem sua

determinação de ignorar totalmente a pessoa a quem 'Abdu'l-Bahá tão enfaticamente condenara. Os

ataques velados com os quais um punhado de entusiastas iludidos subseqüentemente lançaram nas

páginas de seus periódicos para reprimir o crescimento e tentar atrapalhar os objetivos de uma nascente

Administração, também falharam em seus propósitos. A atitude que uma mulher perturbada

posteriormente assumiu, suas ridículas asserções, sua ousadia em zombar da Última Vontade de

'Abdu'l-Bahá e desafiar sua autenticidade, e suas tentativas de subverter seus princípios foram

novamente incapazes de produzir a mínima brecha nas fileiras de seus leais apoiadores. As traiçoeiras

maquinações que o ambicioso, pérfido e o mais recente de seus inimigos tramou, e através do qual ele

ainda está se esforçando para deturpar o nobre trabalho de 'Abdu'l-Bahá e corromper seus princípios

administrativos, estão sendo mais uma vez completamente frustrados. Essas intermitentes e abortivas

tentativas da parte de seus agressores para forçar a rendição de uma recém construída fortaleza da Fé,

foram desde o início inteiramente desprezadas pelos seus defensores. Não importa quão ferozes tenham

sido os assaltos do inimigo, ou habilidosos seus estratagemas, eles se recusaram a transigir um jota ou

um til de suas estimadas convicções. Suas insinuações e clamores eles consistentemente ignoraram. Os

motivos que animavam suas ações, os métodos que insistentemente utilizava, os precários privilégios

que pareceu ele estar momentaneamente recebendo, eles só podiam desprezar. prosperando, durante

algum tempo, por intermédio de artifícios concebidos pelas suas mentes maquinadoras e apoiados por

efêmeras vantagens concedidas por fama, habilidade ou sorte, esses notórios exponentes da corrupção e

da heresia conseguiram por algum tempo expor suas horrendas feições apenas para afundar, tão

rapidamente quanto surgiram, no atoleiro de um fim ignominioso.

Em meio a esses testes angustiantes, em alguns aspectos reminiscentes da violenta tempestade

que acompanhara o nascimento da Fé em sua terra de origem, os crentes americanos tinham novamente

emergido triunfantes, seu progresso inatingido, sua fama imaculada, sua herança intocada. Uma série

de magníficas realizações, cada uma mais significativa que a anterior, iriam lançar crescente brilho em

seus anais já distintos. Nos anos obscuros imediatamente após a ascensão de 'Abdu'l-Bahá, seus feitos

brilharam com uma radiância que os fez objeto de inveja e admiração de seus irmãos menos

privilegiados. Toda a comunidade, desimpedida e supremamente confiante, levantava-se diante de uma

enorme e gloriosa oportunidade. As forças que motivaram seu nascimento, que ajudaram sua ascensão,

estavam agora acelerando seu crescimento de uma forma e com tal rapidez que nem as lamúrias de uma

aflição mundial, nem as incessantes convulsões de uma era perturbada puderam paralisar seus esforços

ou retardar sua marcha.

Internamente, a comunidade iniciou inúmeros empreendimentos que iriam capacitá-la, de um

lado, a expandir ainda mais o âmbito de sua jurisdição espiritual e, de outro, modelar os instrumentos

essenciais à criação e consolidação das instituições que tal expansão imperiosamente demandava.

Externamente, suas realizações eram inspiradas pelo duplo objetivo de prosseguir mais intensamente

do que nunca com o admirável trabalho que seus instrutores internacionais haviam iniciado em cada

um dos cinco continentes, e em assumir uma crescente parcela na gestão e na solução de delicados e

complexos problemas que uma Fé recém emancipada estava enfrentando. O nascimento da

Administração naquele continente havia sinalizado esses louváveis empenhos. Sua gradual

consolidação estava destinada a assegurar sua continuidade e acentuar sua efetividade.

Tudo que eu posso fazer é enumerar somente as realizações mais destacadas que aumentaram tão

acentuadamente o prestígio dos crentes americanos em seu próprio país e além de suas fronteiras, e que

contribuíram para a glória e a honra do Máximo Nome, deixando para as futuras gerações a tarefa de

explicar sua importância e definir uma estimativa adequada de seu significado. Ao corpo de seus

representantes eleitos deve ser atribuída a honra de ter sido a primeira entre suas Assembléias irmãs do

Oriente e do Ocidente de criar, promulgar e legalizar os instrumentos essenciais para o efetivo

desempenho de seus deveres coletivos – instrumentos que toda comunidade Bahá'í devidamente

constituída deve considerar como modelo digno de ser copiado e adotado. Aos seus esforços deve-se,

da mesma forma, imputar o feito histórico de assentar suas propriedades nacionais sobre uma base

permanente e incontestável, e de criar a necessária mediação para a formação daqueles órgãos

subsidiários cuja função é administrar, em nome de seus fideicomissários, as propriedades que forem

adquiridas fora dos limites de sua jurisdição imediata. Pelo peso de seu apoio moral tão liberalmente

estendido aos seus irmãos egípcios, foram capazes de remover alguns dos mais tremendos obstáculos

que a Fé teve de superar em sua luta para emancipar-se dos grilhões da ortodoxia muçulmana. Através

da rápida e oportuna intervenção desses mesmos representantes eleitos, eles foram capazes de evitar os

infortúnios e perigos que ameaçavam seus perseguidos companheiros de fé nas Repúblicas Soviéticas,

e afastar a ira que ameaçava arruinar completamente uma das mais preciosas e nobres instituições

Bahá'ís. Nada menos que essa ajuda sincera, seja moral ou financeira, que os crentes americanos,

individual ou coletivamente, decidiram conceder em diversas ocasiões aos seus carentes e perseguidos

irmãos na Pérsia, poderia ter salvo essas vítimas indefesas das calamidades que os afligiram nos tempos

que se seguiram à ascensão de 'Abdu'l-Bahá. A publicidade que os esforços de seus irmãos americanos

haviam conseguido, os protestos que foram levados a fazer, os apelos e petições que apresentaram, é

que mitigaram esses sofrimentos e refrearam a violência lançada pelo pior e o mais tirano dos

oponentes da Fé naquela terra. Quem mais, a não ser alguém dentre seus mais destacados

representantes, se levantou para levar à atenção do mais elevado Tribunal que o mundo jamais vira –

as injustiças que uma Fé, privada de um de seus mais sagrados santuários, estava sofrendo nas mãos de

um usurpador? Quem mais, através de esforço paciente e persistente, conseguiu defender aquelas

afirmações por escrito que proclamam a justiça de uma causa perseguida e tacitamente reconhecer seu

direito à condição de uma religião independente? "A Comissão", é a resolução aprovada pela Comissão

de Mandatos Permanentes da Liga das Nações, "recomenda que o Conselho deve solicitar que governo

britânico apresente protesto ao governo do Iraque com vistas a uma imediata reparação à negação de

justiça a que foram sujeitos seus requerentes (a Assembléia Espiritual Local dos Bahá'ís de Bagdá)."

Alguém mais a não ser um crente americano foi levado a obter da realeza testemunhos tão admiráveis e

reiterados sobre o poder regenerador da Fé de Deus, tão extraordinárias referências à universalidade de

seus ensinamentos e à sublimidade de sua missão. "O ensinamento bahá'í", tal é o testemunho escrito

da rainha, "traz paz e entendimento. É como um grande abraço reunindo todos aqueles que há muito

buscam palavras de esperança. Aceita todos os grandes Profetas do passado, não destrói outros credos e

deixa abertas todas as portas. Entristecida pela contínua contenda entre os crentes de muitas confissões

e cansada de sua intolerância uns para com os outros, descobri no ensinamento Bahá'í o verdadeiro

espírito de Cristo tão freqüentemente negado e mal interpretado: Unidade em vez de contenda,

Esperança em vez de condenação, Amor em vez de ódio, e uma grande confiança para todos os

homens." Não demonstraram os crentes americanos da Fé de Bahá'u'lláh, pela coragem de um dos

mais brilhantes membros de sua comunidade, terem sido um instrumento na pavimentação do caminho

para a remoção daquelas barreiras que por cerca de um século haviam impedido o crescimento e

paralisado a energia de seus companheiros de fé na Pérsia? Não foi a América que, sempre atenta ao

chamado apaixonado de 'Abdu'l-Bahá, enviou aos confins da terra um número cada vez maior de seus

mais consagrados cidadãos – homens e mulheres cujo único desejo de suas vidas é consolidar os

alicerces da soberania mundial de Bahá'u'lláh? Nas capitais mais setentrionais da Europa, na maioria

de seus estados centrais, através da Península dos Balcãs, ao longo das costas dos continentes africano,

asiático e sul-americano encontram-se atualmente um pequeno grupo de mulheres pioneiras as quais,

sozinhas e com parcos recursos, estão trabalhando para o advento do dia previsto por 'Abdu'l-Bahá.

Não foi a atitude da Folha Mais Sagrada que, ao se aproximar do final de sua vida, deu testemunho

eloqüente ao incomparável papel que seus firmes e abnegados devotos naquele continente tiveram em

aliviar a carga que por tanto tempo e tão fortemente pesou em seu coração? E, finalmente, quem pode

ser tão imprudente a ponto de negar que o término da super-estrutura do Mashriqu'l-Adhkar – a coroa

de glória das realizações passadas e presentes da América – tenha moldado aquela corrente mística que

deve ligar, mais firmemente do que nunca, os corações de seus promotores a Ele, a Fonte e o Centro de

sua Fé e o Objeto de sua mais sincera adoração?

Queridos companheiros de fé no continente americano! Grandes em verdade têm sido vossas

realizações passadas e presentes! Imensuravelmente maiores serão as maravilhas que o futuro reserva

para vós! O Edifício que vossos sacrifícios levantaram ainda precisa ser revestido. A Casa que deve ser

mantida pela mais elevada instituição administrativa que vossas mãos criaram, ainda não foi

construída. As provisões do principal Repositório daquelas leis que devem governar sua operação não

foram ainda reveladas inteiramente. O Estandarte que deve ser erguido em vosso próprio país, se é para

realizar os desejos de 'Abdu'l-Bahá, ainda não foi desfraldado. A Unidade, cujo símbolo deve ser

aquele estandarte, está ainda longe de ser estabelecida. A maquinaria que deverá encarnar e preservar

aquela unidade não foi nem criada. Será a América, será um dos países da Europa, que há de se

levantar para assumir a liderança essencial ao delineamento dos destinos desta era perturbada? Irá a

América permitir que qualquer uma de suas comunidades irmãs do Oriente ou do Ocidente alcance tal

ascendência que a prive daquela primazia espiritual com a qual foi investida e que até agora manteve

tão nobremente? Não irá ela, ao contrário, contribuir com uma demonstração adicional daqueles

poderes inerentes que lhe motivam a vida, para enriquecer a preciosa herança que o amor e a sabedoria

de um saudoso Mestre lhe conferiu?

Seu passado é um testemunho da vitalidade inexaurível de sua fé. Não irá seu futuro confirmá-la?

Seu irmão verdadeiro,
SHOGHI
Haifa, Palestina,
21 de abril de 1933
A DISPENSAÇÃO DE Bahá'u'lláh
AOS AMADOS DE DEUS E
SERVOS DO MISERICORDIOSO
EM TODO O OCIDENTE
Colaboradores da Vinha Divina,

No dia 23 de Maio deste auspicioso ano, o mundo Bahá'í celebrará o nonagésimo aniversário da

fundação da Fé estabelecida por Bahá'u'lláh. Nós que nesta hora nos encontramos no limiar da última

década do primeiro século da era bahá'í, bem poderíamos nos deter a fim de refletir sobre as graças

misteriosas de tão augusta e momentosa Revelação. Que vasto e fascinante panorama é o que se

desenrola ante nossos olhos com a revolução de noventa anos! Quase que nos acabrunha sua grandeza

sobrepujante. Se apenas se contemplar este espetáculo sem paralelo e formar um conceito, por mais

inadequado que seja, das circunstâncias que acompanharam o surgir dessa suprema Teofania e seu

desenvolvimento gradativo, e se forem lembradas, ainda que em seu mais simples esboço, as dolorosas

lutas que proclamaram seu início e aceleraram sua marcha, isto será o bastante para convencer todo

observador imparcial daquelas verdades eternas que motivam a vida desta Revelação e devem

continuar a impulsioná-la até que alcance sua destinada ascendência.

Dominando todo o âmbito deste deslumbrante espetáculo, sobressai a figura incomparável de

Bahá'u'lláh, de transcendente majestade, serena, venerável, de uma sublimidade sem par. Aliado,

embora subordinado em grau, e investido da autoridade de presidir, com Ele, os destinos desta suprema

dispensação, brilha sobre este quadro mental o Báb, em toda a glória de Sua juventude, com Sua

infinita ternura, com Seu encanto irresistível e heroísmo jamais excedido, e Seu paralelo nas

circunstâncias dramáticas de Sua curta e momentosa vida. E surge, finalmente, a personalidade

vibrante, magnética de 'Abdu'l-Bahá, ainda que num plano próprio e numa categoria inteiramente

distinta daquela ocupada pelas Figuras gêmeas que O precederam. Num grau jamais alcançado por

homem algum, por elevada que fosse sua posição, reflete 'Abdu'l-Bahá a glória e o poder possuídos

por Aqueles – e por Aqueles somente – que são os Manifestantes de Deus.

Com a ascensão de 'Abdu'l-Bahá e, sobretudo, com o falecimento de Sua bem-amada e ilustre

irmã, a Folha Mais Sagrada, a última sobrevivente de uma era heróica e gloriosa, encerrou-se o

primeiro e o mais comovente capítulo da história bahá'í, marcando a conclusão do Período Primitivo e

Apostólico da Fé de Bahá'u'lláh. Foi 'Abdu'l-Bahá quem pelas provisões de Seu poderoso Testamento,

forjou o elo vital que há de ligar para sempre a era que acaba de expirar com aquela em que ora

vivemos – o Período Transitório e Formativo da Fé – etapa que há de florescer na plenitude dos tempos

e frutificar nas proezas e nos triunfos destinados a anunciar a Idade Áurea da Revelação de

Bahá'u'lláh.

Meus amados amigos! Graças aos cuidados dos escolhidos de uma Fé de vasto alcance, estão se

reunindo e organizando agora, gradualmente, ante os nossos próprios olhos, as forças impetuosas que

dois Manifestantes independentes, vindos em rápida sucessão, milagrosamente liberaram. Essas forças

estão se cristalizando pouco a pouco em instituições que virão a ser consideradas os marcos gloriosos

da era que devemos estabelecer agora e imortalizar pelas nossas obras. Pois, das tentativas que fazemos

hoje e, sobretudo, da intensidade do nosso esforço por reformar nossas vidas segundo o modelo de

sublime heroísmo associado àqueles que nos precederam, deve depender a eficácia dos instrumentos

que agora moldamos – instrumentos esses que devem erigir a estrutura daquela bem-aventurada

Comunidade que irá assinalar a Idade Áurea de nossa Fé.

Não é meu propósito, ao passar em revista estes anos repletos de proezas, tentar fazer nem

sequer um breve relato dos grandiosos acontecimentos ocorridos desde 1844 até hoje. Nem tenciono

analisar as forças que os precipitaram, ou avaliar sua influência sobre povos e instituições em quase

todos os continentes do globo. Os fatos autênticos registrados sobre a vida dos primeiros crentes do

período inicial de nossa Fé, bem como a assídua investigação que deve ser empreendida por

competentes historiadores Bahá'ís do futuro, transmitirão à posteridade uma exposição da história dessa

época muito mais magistral do que qualquer esforço meu conseguiria fazer. O que mais me preocupa

neste período tão desafiador da história bahá'í, é o dever de levar à atenção daqueles destinados a

serem os campeões na construção da Ordem Administrativa de Bahá'u'lláh, certas verdades

fundamentais cuja elucidação lhes há de facilitar grandemente o eficaz prosseguimento de sua

grandiosa obra.

Além disso, a posição internacional já atingida pela Religião de Deus exige imperativamente o

esclarecimento definitivo de seus princípios básicos. O ímpeto sem precedente que os brilhantes feitos

dos Bahá'ís americanos deram à marcha da Fé; o intenso e rápido interesse que o primeiro Mashriqu'l-

Adhkár do Ocidente está despertando entre as diversas raças e nações; a consolidação gradual das

instituições Bahá'ís em nada menos de quarenta dos países mais adiantados do mundo; a disseminação

da literatura Bahá'í em vinte e cinco dos mais difundidos idiomas; o êxito que coroou os esforços dos

Bahá'ís persas, recentemente, em seus passos preliminares para o estabelecimento, nos arredores da

capital de sua terra natal, do terceiro Mashriqu'l-Adhkár do mundo bahá'í; as medidas que já estão

sendo tomadas para a formação imediata de sua primeira Assembléia Espiritual Nacional, que deve

representar os interesses da grande maioria dos adeptos Bahá'ís; a ereção, já projetada, de mais um pilar

da Casa Universal de Justiça, primeiro em seu gênero no hemisfério meridional; os testemunhos, tanto

verbais como escritos que a Fé, em seu esforço incansável, tem recebido de realezas, de instituições

governamentais, de tribunais internacionais e dignitários eclesiásticos; a publicidade devida às próprias

acusações dirigidas contra ela por inimigos inexoráveis, antigos e recentes; o ato formal que libertou

uma parte de seus adeptos dos grilhões da ortodoxia muçulmana em um país considerado o mais

adiantado entre as nações islâmicas – tudo isso prova sobejamente a crescente rapidez com que a

comunidade invencível do Nome Supremo se aproxima da vitória final.

Amigos, mui estimados! Numa época em que a luz da publicidade está focalizada cada vez mais

sobre nós, considero que minha incumbência – em virtude das obrigações e responsabilidades que eu,

como Guardião da Fé de Bahá'u'lláh, devo cumprir – dar ênfase especial a certas verdades que baseiam

nossa Fé, e cuja integridade é nosso primeiro dever salvaguardar. Estou convencido de que estas

verdades, se forem corajosamente apoiadas, e assimiladas de um modo adequado, reforçarão muito o

vigor de nossa vida espiritual e concorrerão para neutralizar as intrigas de um inimigo implacável e

vigilante.

É minha convicção inalterável que todo fiel adepto deve ter, como sua primeira obrigação e o

objeto de seu constante esforço, adquirir um conhecimento mais adequado do significado da estupenda

Revelação de Bahá'u'lláh. Uma compreensão exata e completa de tão vasto sistema, de tão sublime

revelação, de tão sagrada incumbência, está, por óbvias razões, fora do alcance de nossas mentes

limitadas. Contudo podemos – e é nosso dever incontestável, enquanto trabalhamos na propagação de

Sua Fé – procurar derivar nova inspiração e maior apoio, mediante um conceito mais nítido das

verdades que essa Fé encerra, e dos princípios em que se baseia.

Ao explicar a posição do Báb, numa das comunicações dirigidas aos crentes americanos, fiz

uma ligeira referência à incomparável grandeza da Revelação de que Ele se considerava o humilde

Precursor. Ele – aclamado por Bahá'u'lláh no Kitáb-i-Iqán, como o prometido Qá'im – Aquele que

manifestou nada menos que vinte e cinco dentre as vinte e sete letras destinadas a ser reveladas por

todos os profetas – esse tão grande Revelador testemunhou. Ele mesmo, a respeito da preeminência da

Revelação superior que dentro em breve haveria de suceder à Sua própria. Assevera o Báb no Bayán

persa:

"O embrião que contém dentro de si as potencialidades da Revelação que há de vir, é dotado de um

poder superior às forças reunidas de todos os que Me seguem."

Ele afirma ainda:

"De todos os tributos que prestei Àquele destinado a Me suceder, o maior é este: Minha confissão, por

escrito, de que palavra alguma por Mim proferida poderá descrevê-Lo adequadamente e, tão pouco,

referência alguma a Seu respeito em Meu Livro, o Bayán, poderá apresentar, de uma maneira digna, a

Sua Causa."
Declarou Ele categoricamente no mesmo Livro:

"O Bayán e quem quer que nele esteja mencionado, giram em torno das palavras dAquele que Deus

tornará manifesto, assim como o Alif (o Evangelho) e qualquer um que nele estivesse mencionado

giraram ao redor das palavras de Muhammad, o Apóstolo de Deus."

Disse mais:

"A leitura do Bayán ainda que seja feita mil vezes, não poderá igualar a leitura cuidadosa de um só

versículo a ser revelado por Aquele que Deus tornará manifesto... O Bayán encontra-se hoje em estado

embrionário; a sua perfeição completa será mostrada ao iniciar-se a Revelação dAquele que Deus

tornará manifesto... O Bayán e todos seus crentes anelam por Ele mais ardentemente do que qualquer

amante por sua amada... Toda a glória do Bayán deriva dAquele que Deus tornará manifesto... Bem-

aventurado quem nEle acreditar, e ai de qualquer um que rejeite Sua Verdade!"

Dirigindo-se a Siyyid Yahyáy-i-Dárábí, conhecido como Vahíd, o mais proeminente entre os

adeptos, em virtude de sua erudição, sua eloqüência e seu prestígio, o Báb pronuncia esta advertência:

"Pela justiça dAquele cujo poder faz germinar a semente e que infunde o espírito da vida

em todas as coisas! Se eu soubesse que, no dia de Sua manifestação, tu O negarias, não

vacilaria em te renunciar e repudiar tua fé... Se, por outro lado, Me disserem que um

cristão, que não deve lealdade à Minha Fé, virá a crer nEle, a este Eu considerarei como

a menina de Meus Olhos."

Numa de Suas orações, Ele assim comunga com Bahá'u'lláh:

"Exaltado sejas, ó meu Senhor, o Onipotente! Quão insignificantes e desprezíveis

parecem minhas palavras e tudo o que me pertence, a não ser que estejam relacionados à

Tua grande glória. Permite, pela Tua graça, que qualquer coisa que me pertença seja

aceitável ante os Meus olhos."

No Qayyúmu'l-Asmá – o comentário do Báb sobre o Súrih de José, caracterizado pelo Autor do

Iqán como "o primeiro, o maior e o mais poderoso" dos livros revelados pelo Báb – lemos as seguintes

referências a Bahá'u'lláh:

"Do simples nada, ó grande e onipotente Mestre, Tu, através da potência celestial de Tua

grandeza, me fizeste aparecer e me levantaste para proclamar esta Revelação. Em

ninguém exceto em Ti depositei minha confiança; não dependi senão de Tua vontade...

Ó Tu, Remanescente de Deus, sacrifiquei-me inteiramente por Ti; aceitei maldições por

Tua causa, e nada anelei senão o martírio no caminho de Teu amor. Testemunho

suficiente para mim é Deus, o Excelso, o Protetor, o Ancião dos Dias..."

Dirigindo-se novamente a Bahá'u'lláh no mesmo comentário, disse o Báb:

"E quando houver soado a hora designada deves Tu, com a aprovação de Deus, o

Onipotente, revelar das alturas do Monte Místico, do Monte mais sublime, uma centelha

ligeira, infinitésima, de Teu impenetrável Mistério, para que, aqueles que hajam

reconhecido o brilho do Esplendor Sinaico, possam esvair-se e falecer ao avistar um

fugaz vislumbre da Luz ardente, carmesim, que envolve Tua Revelação."

Como mais uma prova da grandeza da Revelação de Bahá'u'lláh, podem ser citados os

seguintes extratos de uma Epístola dirigida por 'Abdu'l-Bahá a um eminente adepto zoroastriano:

"Havias escrito que se encontra nos livros sagrados daqueles que seguem Zoroastro a

profecia de que, nos últimos dias, em três Dispensações distintas, o sol haveria de parar.

Na primeira Dispensação, segundo a predição, o sol permanecerá imóvel por dez dias;

na segunda, por duas vezes este tempo; na terceira, por nada menos de um mês inteiro. A

interpretação dessa profecia é a seguinte: a primeira Dispensação a que ela se refere é a

Dispensação Muçulmana, durante a qual o Sol da Verdade permaneceu imóvel por dez

dias. Cada dia representa um século. A Era Muçulmana, portanto, deve ter durado nada

menos de mil anos – exatamente o período que transcorreu entre o ocaso da Estrela do

Imanato e o advento da Era proclamada pelo Báb. A segunda Dispensação mencionada

nesta profecia é aquela inaugurada pelo próprio Báb, sendo que começou no ano 1260

(depois da Hégira) e findou no ano 1280 (depois da Hégira). Quanto à terceira – a

Revelação proclamada por Bahá'u'lláh – desde que o Sol da Verdade, ao atingir essa

posição, brilha na plenitude de seu esplendor meridiano, fixou-se um mês inteiro como o

período de sua duração – o tempo máximo para a passagem do sol por um signo do

zodíaco. Disto podes imaginar a magnitude do ciclo Bahá'í – um ciclo que há de

abranger um período de pelo menos quinhentos mil anos."

Pelo texto dessa explícita e autorizada interpretação de tão antiga profecia, é evidente quão

necessário se torna que todo fiel seguidor da Fé aceite a origem divina da Revelação Muçulmana e

sustente sua posição independente. Nestas mesmas passagens, além disso, está implicitamente

reconhecida a validade do Imanato – aquela instituição divinamente estabelecida, de cujo membro mais

eminente era o próprio Báb descendente direto, e que, por um período não inferior a duzentos e

sessenta anos, continuou a ser guiada pelo Todo-Poderoso e a ser o depositário de um dos mais

preciosos legados do islã.

Esta mesma profecia – devemos reconhecer – atesta também o caráter independente da

Revelação do Báb e corrobora indiretamente o fato de que, segundo o princípio da revelação

progressiva, cada Manifestante divino deve, necessariamente, conceder a divina guia à humanidade de

Seu Tempo, em escala mais ampla do que teria sido possível em qualquer época anterior privada ainda

da capacidade de a receber ou apreciar. Por isso – e não por algum mérito superior, inerente, que se

possa atribuir à Fé Bahá'í – essa profecia dá testemunho da glória e do poder sem paralelo, de que foi

investida a Dispensação de Bahá'u'lláh – uma Dispensação cujas potencialidades apenas começamos

agora a perceber e nunca haveremos de determinar toda a sua plenitude.

A Fé Bahá'í deve ser considerada – se quisermos ser fiéis às tremendas implicações de sua

mensagem – como a culminação de um ciclo, a etapa final numa série de revelações sucessivas,

preliminares e progressivas. Começando com Adão e terminando com o Báb, estas revelações vêm

preparando o caminho para o advento daquele Dia dos Dias, antecipando-o com uma ênfase sempre

crescente – o Dia em que o Prometido de Todos os Tempos haveria de se manifestar.

Dessa verdade encontramos, nas palavras de Bahá'u'lláh, amplo testemunho. Basta uma ligeira

referência às declarações feitas por Ele mesmo, repetidas vezes, com tanta veemência e tão irresistível

poder, para se demonstrar plenamente o caráter da Revelação de que Ele foi escolhido portador. Às

palavras, pois, que emanam de Sua Pena – manancial de tão intensiva Revelação – devemos dirigir

nossa atenção se quisermos obter uma compreensão mais nítida de sua importância e significado. Quer

seja ao fazer Suas asseverações sem precedentes, quer seja em Suas alusões às forças misteriosas por

Ele liberadas, ou em tais passagens que exaltam as glórias de Seu Dia há tanto esperado, ou que

engrandeçam a posição destinada àqueles que tenham reconhecido as virtudes ocultas neste Dia –

Bahá'u'lláh, e também, o Báb e 'Abdu'l-Bahá em grau quase igual, legaram à posteridade tesouros de

tão grande valor que nenhum de nós que pertencemos à presente geração podemos avaliar

adequadamente. Tais testemunhos acerca deste tema estão impregnados de tal poder, e revelam tanta

beleza, que só aqueles versados nos idiomas originais podem dizer que os tenham apreciado

devidamente. E tão grande é seu número que seria necessário escrever um volume inteiro para compilar

só os mais salientes dentre eles. Tudo o que eu posso aventurar-me a fazer, neste momento, é

compartilhar as passagens que pude escolher de Seus volumosos escritos.

Bahá'u'lláh proclama:

"Dou testemunho perante Deus da grandeza, da inconcebível grandeza desta Revelação.

Repetidamente, na maioria de Nossas Epístolas, temos atestado essa verdade a fim de despertar de sua

indiferença o gênero humano."
Anuncia Ele de modo inequívoco:

"Nesta poderosíssima Revelação todas as Revelações do passado alcançaram sua consumação mais alta

e final. O que se manifestou nessa Revelação sublime, proeminente, não tem paralelo nos anais do

passado, e tão pouco será igualado em épocas futuras."

Proclama ainda Bahá'u'lláh referindo-se a Si próprio:

"Foi Ele quem o Velho Testamento chamava de Jeová, Aquele designado no Evangelho como o

Espírito da Verdade, e no Alcorão aclamado como o Grande Anúncio. Se não fosse Ele, a nenhum

Mensageiro divino se haveria conferido o manto de profeta, nem se teria revelado nenhuma das

sagradas escrituras. Disso dão testemunho todas as coisas criadas. A palavra proferida neste Dia, por

Deus, Uno e Verdadeiro, ainda que seja a mais comum e familiar das expressões, está investida de

distinção suprema, inigualável. A maioria da humanidade acha-se, todavia, imatura. Se houvesse

adquirido capacidade suficiente, Nós lhe teríamos concedido tão ampla porção de Nossa sabedoria que

todos os que habitam na terra e no céu se haveriam tornado – em virtude das graças emanadas de Nossa

Pena – completamente independentes de todo o conhecimento, exceto o conhecimento de Deus e

teriam se estabelecido com toda segurança no trono da perene tranqüilidade. A Sagrada Pena – afirmo

solenemente perante Deus – escreveu sobre a nívea brancura de Minha fronte, em letras de refulgente

glória, estas palavras radiantes, perfumadas de almíscar, sacratíssima: 'Eis aqui, vós que habitais na

terra, e vós, moradores do céu, dai testemunho: Ele, em verdade, é vosso Bem-Amado. É Aquele cujo

igual jamais foi visto pelo mundo da criação, cuja deslumbrante beleza deleitou os olhos de Deus, o

Ordenador, o Todo-Poderoso, o Incomparável.'"

Exclama Bahá'u'lláh, dirigindo-se à toda a cristandade:

"Seguidores do Evangelho! Eis aqui, abertos de par em par, os portais do céu. Aquele

que para aí ascendera, veio agora. Escutai a Sua voz, que clama através da terra e do

mar, anunciando a toda a humanidade o advento desta Revelação – uma Revelação por

cujo intermédio a Língua da Grandeza ora proclama: 'Eis aqui! Cumpriu-se a sagrada

Promessa, pois já veio o Prometido!' Do santo vale clama a voz do Filho do Homem:

'Eis-Me aqui, eis-Me aqui, ó Deus, meu Deus!...' Enquanto vem da Sarça Ardente o

grito de: 'Vêde, o Desejado do mundo se manifestou em Sua transcendente glória!' O

Pai já veio. Cumpriu-se aquilo que vos foi prometido no Reino de Deus. Eis o Verbo que

o Filho revelou quando disse àqueles a Seu redor que naquele tempo não o podiam

suportar... Verdadeiramente, o Espírito da Verdade veio a fim de vos guiar a toda a

verdade... Ele foi quem glorificou o Filho e Lhe exaltou a Causa... O Confortador,

prometido em todas as Escrituras, veio agora para vos revelar todo o conhecimento e

sabedoria. Buscai-O por toda a superfície da terra, para que possais, porventura,

encontrá-Lo."
Bahá'u'lláh escreve:

"Chama Sião, ó Carmelo! e anuncia as boas novas: 'Já veio Aquele que estava oculto

aos olhos mortais; está manifesta Sua soberania suprema; revelou-se Seu esplendor que

tudo abarca... Apressa-te e circunda a Cidade Divina descida do céu, a Kaaba celestial,

objeto da adoração dos favorecidos de Deus, dos puros de coração, e da companhia dos

anjos mais sublimes.'"
Ele afirma em outra ocasião:

"Eu sou Aquele que foi louvado pela língua de Isaías, Aquele cujo Nome adornou tanto

a Tora como o Evangelho. Apressa-se a glória do Sinai a circundar a Aurora desta

Revelação, enquanto das alturas do Reino se ouve a voz do Filho de Deus a proclamar:

'Levantai-vos, ó vós, soberbos da terra, e sem demora aproximai-vos dEle!' O Carmelo

apressou-se neste Dia, com anelo e adoração, para alcançar Sua Corte, enquanto surge

do coração do Sião este brado: 'Cumpriu-se agora a Promessa de todos os tempos.

Manifestou-se aqui o que fora anunciado nas Sagradas Escrituras de Deus, o Bem-

Amado, o Altíssimo.' Hijáz desperta com os sopros divinos que anunciam as novas de

uma jubilosa reunião, e ouvimo-la exclamar: 'Louvado sejas, ó meu Senhor, o

Altíssimo! Por causa de minha separação de Ti eu estava morta e os sopros fragrantes de

Tua Presença ressuscitaram-me. Feliz de quem se dirigir a Ti, e ai daquele que se

desviar.' Por Deus, Uno e Verdadeiro, Elias apressou-se para Minha Corte e circundou,

dia e noite, o Meu Trono de glória. Salomão, em toda a sua majestade, circula-Me em

adoração, neste dia, pronunciando estas elevadas palavras: Voltei minha face para Tua

face, ó poderosíssimo Rei do mundo! Estou completamente desprendido de todas as

coisas que me pertencem, e anelo por aquilo que Tu possues."

Bahá'u'lláh escreve numa Epístola que revelou às vésperas de Seu desterro para a colônia penal

de 'Akká:

"Se Muhammad, o Apóstolo de Deus, houvesse atingido esse Dia, Ele teria exclamado:

'Em verdade, Eu Te reconheci, ó Tu, Desejo dos Mensageiros Divinos.' Tivesse Abraão

o alcançado, Ele também ter-se-ia prostrado ao solo e com absoluta humildade ante o

Senhor teu Deus exclamado: 'Meu coração está cheio de paz, ó Tu, Senhor de tudo o

que existe no céu e na terra! Declaro que Tu desvendaste aos meus olhos toda a glória de

Teu poder e a plena majestade de Tua lei!...' Se o próprio Moisés o tivesse atingido,

também teria levantado a voz, dizendo: 'Toda a glória seja a Ti, por haveres feito surgir

sobre mim a luz de Teu semblante e me incluído entre aqueles que tiveram o privilégio

de contemplar Tua face!' Tanto o Norte como o Sul vibram ao ouvir anunciado o

advento de Nossa Revelação. Podemos ouvir a voz de Meca exclamando: 'Todo o

louvor seja a Ti, ó Senhor Meu Deus, o Todo-Glorioso, por haveres exalado sobre mim

os sopros fragrantes de Tua Presença!' E Jerusalém, de modo semelhante, chama em voz

alta: 'Louvado e glorificado és Tu, ó Bem-Amado da terra e do céu, por haveres

transformado a agonia de minha separação de Ti em regozijo, pela força ressuscitadora

da reunião!'"

Afirma Bahá'u'lláh, desejoso de revelar a plena potência de Seu invencível poder:

"Pela justiça de Deus se um homem, completamente só, se levantar em nome de Bahá e

vestir a armadura de Seu amor, o Todo-Poderoso conceder-lhe-á a vitória, ainda que se

juntem contra ele as forças da terra e do céu. Por Deus – e não há outro Deus além dEle!

– Se qualquer um se esforçar pelo triunfo de Nossa Causa, Deus torná-lo-á vitorioso,

embora dezenas de milhares se aliem contra ele. E se seu amor por Mim aumentar, Deus

estabelecerá sua ascendência sobre todos os poderes da terra e do céu. Assim insuflamos

o espírito do poder em todas as regiões."

Tal é o modo que Ele exalta a época que testemunhou o advento de Sua Revelação:

"Este é o Rei dos Dias – o Dia que presenciou a vinda do Mais Amado, dAquele que é

aclamado, desde toda a eternidade, o Desejo do Mundo." O mundo existente brilha neste

Dia com o esplendor desta Revelação Divina. Todas as coisas criadas elogiam suas

graças salvadoras e cantam seus louvores. O universo acha-se envolto num êxtase de

júbilo e contentamento. As Escrituras das Dispensações passadas celebram o grande

regozijo que há de saudar este, o mais grandioso Dia de Deus. Bem-aventurado quem

viveu até ver esse Dia e reconheceu o grau de sua grandeza. Se a humanidade desse

ouvidos, de uma maneira digna, a apenas uma palavra deste louvor, encher-se-ia de

deleite ao ponto de ficar enlevada de admiração. Extasiada, brilharia, pois,

resplandecente sobre o horizonte da verdadeira compreensão."

Assim faz Ele seu apelo à humanidade:

"Sede justos, ó vós, povos do mundo! Será digno e decoroso que ponhais em dúvida a

autoridade de um Ser cuja presença 'Aquele que conversou com Deus' (Moisés) ansiou

por alcançar, a beleza de cujo semblante o 'Bem-Amado de Deus' (Muhammad) anelou

contemplar, graças à potência de cujo amor o 'Espírito de Deus' (Jesus) subiu ao céu, e

por cuja Causa o 'Ponto Primordial' (o Báb) ofereceu em holocausto a sua vida?"

Adverte Ele aos que O seguem:

"Aproveitai vossa oportunidade, pois um momento fugaz neste Dia excede em valor

séculos de uma era passada... Dia igual jamais foi visto, nem pelo sol nem pela lua... É

evidente ter sido divinamente ordenada toda era em que tenha vivido um Manifestante

de Deus, podendo ser caracterizada, pois, de certo modo, como o Dia designado de

Deus. Este Dia, porém, é incomparável e deve ser distinguido dos que o precederam. A

designação de 'Selo dos Profetas' revela e demonstra plenamente sua alta posição."

Dissertando sobre as forças latentes em Sua Revelação, Bahá'u'lláh revela o seguinte:

"Através do movimento de Nossa Pena de glória – por imperativo do Onipotente, que

tudo ordena – insuflamos uma vida nova em cada ser humano, e imbuímos cada palavra

de uma nova potência. Todas as coisas criadas proclamam as evidências dessa

regeneração universal. São as novas mais grandiosas, mais regozijantes..."

E acrescenta Ele:

"...que a Pena deste Injuriado já participou à humanidade."

Exclama Ele em outra passagem:

"Como é grande a Causa! Quão acabrunhador o peso de sua mensagem! Este é o dia de

que se disse: Ó meu filho! Em verdade, Deus há de revelar tudo, mesmo que tenha

apenas o peso de um grão de mostarda e esteja escondido numa rocha, quer no céu, quer

na terra, pois Deus é Quem tudo penetra e de tudo está informado. Pela retidão de Deus,

Uno e Verdadeiro! Se for perdida a mais infinitésima jóia, ficando ela enterrada debaixo

de um monte de pedras, e escondida além dos sete mares, a Mão da Onipotência

seguramente há de revelá-la neste Dia, pura e livre de escória. Quem participar das águas

de Minha Revelação provará as incorruptíveis delícias ordenadas por Deus desde o

princípio que não teve princípio até o fim que não terá fim. Cada uma das letras

procedentes de Nossa boca é dotada de um poder regenerador que a torna capaz de fazer

aparecer uma nova criação – uma criação cuja magnitude é inescrutável para todos

exceto Deus. Ele, em verdade, tem conhecimento de todas as coisas. Está em Nosso

poder – se assim quisermos – fazer com que uma partícula flutuante de pó, em menos de

um abrir e fechar de olhos, gere sóis de infinito e inconcebível esplendor, ou uma gota

de orvalho se converta em vastos e inumeráveis oceanos, ou em cada letra seja infundida

uma força que a torne capaz de revelar todo o conhecimento das épocas passadas e

futuras. Possuímos tamanho poder que se for revelado, transmutará o veneno mais

mortal em panacéia de infalível eficácia."

Avaliando a posição do verdadeiro crente, Ele observa:

"Pelos pesares que afligem a beleza do Todo-Glorioso! É tal a posição destinada ao

verdadeiro crente que, se fosse revelada à humanidade uma pequena parte de sua glória

– menor até em tamanho que o furo de uma agulha – todos os que a contemplassem

consumir-se-iam na ânsia de alcança-la. Eis porque se decretou que, nesta vida terrena,

ficasse velada para os olhos do crente a glória de sua própria posição em toda a sua

plenitude."
Afirma Ele também:

"Se levantasse o véu, manifestando assim a plena glória da posição dos que se tenham

voltado inteiramente para Deus e renunciado o mundo por Seu amor, toda a criação

ficaria estupefata."

Fazendo ressaltar o caráter superlativo de Sua Revelação, comparada com aquela que lhe

precedeu, Bahá'u'lláh faz a seguinte afirmação:

"Se todos os povos do mundo forem investidos dos poderes e atributos destinados às

Letras do Vivente – os discípulos escolhidos do Báb e cuja posição é dez mil vezes mais

gloriosa que qualquer das posições alcançadas pelos apóstolos da antigüidade – e se um

destes povos hesitar, ou até mesmo todos hesitarem, embora seja por menos de um abrir

e fechar de olhos, em reconhecer a luz de Minha Revelação, de nada lhes servirá a sua

fé e eles serão contados entre os infiéis. Tão tremenda é a efusão das graças divinas

nesta Era que, se houvessem mãos mortais bastante ágeis para registrá-las, fluiriam

versículos com tal abundância, no breve espaço de um dia e uma noite que equivaleriam

ao conteúdo inteiro do Bayán persa."
Assim Ele se dirige a Seus conterrâneos:

"Escutai minha advertência, ó vós, povo da Pérsia! Se eu for sacrificado por vossas

mãos, Deus seguramente fará surgir outro que tomará o lugar deixado vazio com a

Minha morte, pois este é o método usado por Deus desde os tempos antigos, e

modificação alguma podereis encontrar em Seu modo de proceder. Se tentarem ocultar

Sua luz no continente, Ele, com toda a certeza, levantará a cabeça no próprio âmago do

oceano e, alçando Sua voz, proclamará: 'Eu sou quem dá vida ao mundo'... E se O

arrojarem dentro de um fosso escuro, encontrá-Lo-ão sentado nos cumes mais elevados

da terra, exclamando a toda a humanidade: 'Veio o Desejo do mundo! Ei-Lo em Sua

majestade, Sua soberania e Seu domínio transcendente!' E se O sepultarem nas

profundezas da terra, Seu espírito, remontando ao ápice do céu, fará ressoar este

chamado: 'Eis o advento da Glória; vede o Reino de Deus, o Santíssimo, o Clemente, o

Todo-Poderoso!'"
Consta ainda outra estupenda declaração:

"Há acentos aprisionados na garganta deste Jovem os quais, se forem revelados à

humanidade, embora em porção menor que a contida no fundo de uma agulha, bastarão

para fazer desmoronarem todas as montanhas, descolorirem-se as folhas das árvores e

caírem seus frutos; para obrigar toda cabeça a se inclinar em veneração e toda face a se

dirigir em adoração a este Rei onipotente que, em várias épocas e de modos diversos,

aparece como uma chuva devoradora, ou um oceano encapelado, ou uma luz radiante,

ou como a árvore que, arraigada ao solo da santidade, eleva seus galhos e estende seus

ramos até mesmo além do trono da glória perene."

Antecipando o Sistema que o irresistível poder de Sua Lei estava destinado a desenvolver em

épocas subseqüentes, Ele escreve:

"O equilíbrio do mundo foi alterado pela vibrante influência desta nova e mais grandiosa

Ordem Mundial. A vida ordenada do gênero humano foi revolucionada pela ação deste

Sistema maravilhoso, incomparável, cujo igual jamais foi visto por olhos mortais. A mão

da Onipotência estabeleceu Sua Revelação sobre alicerces inexpugnáveis, perenes. As

tempestades das lutas humanas são impotentes para minar sua base, nem tampouco

poderão as fantásticas teorias dos homens danificar-lhe a estrutura."

No Súratu'l-Haykal, uma das mais imponentes obras de Bahá'u'lláh, encontram-se os seguintes

versículos, cada um dos quais prova o irresistível poder infundido pelo seu Autor, na Revelação que

Ele proclamara:

"Em Meu Templo, nada se vê senão o Templo de Deus; em Minha beleza, não se vê

senão Sua Beleza; em Meu ser, só é visível Seu Ser; em Mim mesmo, outro não se

manifesta senão Ele Mesmo; em Meu movimento se vê apenas Seu Movimento; em

Minha aquiescência, se vê apenas Sua Aquiescência, e em Minha pena, apenas Sua

Pena, a Poderosa, de todos louvada. Jamais houve em Minh'alma outra coisa senão a

Verdade, e em Mim mesmo nada se viu a não ser Deus. O próprio Espírito Santo foi

gerado em virtude de uma só letra revelada por este Espírito Supremo – se pudésseis

compreender... Dentro do tesouro dos Nossos conhecimentos, jaz um que ainda não foi

revelado, do qual bastaria uma só palavra – se a quiséssemos divulgar à humanidade –

para fazer todo ser humano reconhecer o Manifestante de Deus e admitir Sua

onisciência, descobrir os segredos de todas as ciências, e alcançar tal posição que se

tornasse completamente independente de toda erudição, quer do passado, quer do futuro.

Possuímos outros conhecimentos, também, dos quais nenhuma só letra podemos revelar;

tampouco achamos a humanidade capaz de ouvir a mais ligeira referência do seu

significado. Assim, Nós nos informamos do conhecimento de Deus, o Onisciente, o

Sapientíssimo. Aproxima-se o dia em que Deus, por um ato de Sua Vontade, terá criado

uma raça de homens cuja natureza será inescrutável para todos exceto para Ele, o Todo-

Poderoso, o Independente. Muito em breve fará Ele com que se elevem do Seio da

Potestade, as Mãos da Ascendência e do Poder – Mãos que se esforçarão pela vitória

deste Jovem e purificarão a humanidade da corrupção dos ímpios e degradados. Essas

Mãos serão as destemidas campeãs da Fé divina, e, em Meu Nome, o Independente, o

Poderoso, subjugarão os povos e raças da terra. Ao entrarem nas cidades, encherão de

temor os corações de todos seus habitantes. Tais são as evidências do poder de Deus;

como é temível, como é veemente Seu poder!"

Deste modo, queridos amigos, Bahá'u'lláh deu Seu próprio testemunho, por escrito, a respeito

da natureza de Sua Revelação. Já me referi às afirmações do Báb, cada uma das quais apóia essas

notáveis declarações, aumentando-lhes a força e confirmando-lhes a verdade. O que ainda me resta

considerar, relativo a este assunto, são aquelas passagens nos escritos de 'Abdu'l-Bahá – o designado

intérprete dessas mesmas declarações – que ampliam e esclarecem mais os diversos aspectos deste

cativante tema. Tão enfática, realmente, é Sua linguagem como a de Bahá'u'lláh ou do Báb, e não

menos fervoroso é Seu tributo.
Afirma Ele em uma de Suas primeiras Epístolas:

"Não apenas séculos, mas eras devem passar antes que a Estrela d'Alva da Verdade

volte a brilhar com todo seu fulgor estival, ou apareça outra vez resplandecente em sua

glória primaveril... Como devemos ser gratos por havermos sido escolhidos, neste Dia,

para sermos os recipientes de tão grandioso favor! Oxalá tivéssemos dez mil vidas para

oferecer como ação de graças por tão raro privilégio, tão alta realização e tão inestimável

dádiva!"
E acrescenta Ele:

"A mera contemplação da Era inaugurada pela Abençoada Beleza teria sido suficiente

para deixar atônitos os santos das eras passadas, os quais tanto anelaram participar, por

um momento apenas, de sua grande glória. Os santos de eras e séculos passados – todos

eles sem exceção – com os olhos vertendo lágrimas na intensidade de seu desejo,

anelaram viver no Dia de Deus, ainda que fosse por um só momento. Sem poderem

satisfazer sua aspiração, porém, passaram para o Grande Além. Quão generosa é a

Beleza de Abhá que, sem levar em conta essa falta absoluta de merecimento, graças à

Sua Misericórdia, insuflou-nos o espírito da vida neste século divinamente iluminado,

reuniu-nos sob o estandarte do Bem-Amado do mundo e se dignou a nos conferir aquela

dádiva almejada em vão pelos mais poderosos das épocas passadas."

Afirma Ele também:

"As almas dos eleitos da Assembléia do alto, os sagrados habitantes do Paraíso excelso,

acham-se sedentos de regressar a este mundo neste dia, a fim de prestarem qualquer

serviço de que sejam capazes no limiar da Beleza de Abhá."

Declara Ele, num trecho que alude ao crescimento e ao futuro progresso da Fé:

"O Esplendor da refulgente Misericórdia Divina envolveu todos os povos e raças da

terra, ficando o mundo inteiro imerso em sua glória radiante... Breve virá o dia em que a

luz da Divina União tenha a tal ponto penetrado o Oriente e o Ocidente que jamais

homem algum se atreverá a desprezá-la. Agora a Mão do Poder Divino lançou no mundo

contingente os alicerces firmes dessa suprema generosidade, desse maravilhoso dom.

Tudo o que estiver latente no mais recôndito deste sagrado ciclo há de surgir e se

manifestar gradativamente, pois agora é apenas o começo de seu crescimento, a aurora

da revelação de seus sinais. Antes do fim deste século e desta era, terá se tornado claro e

evidente como foi admirável esse período primaveril, e celestial esse dom!"

Confirmando a elevada posição do verdadeiro crente de que falara Bahá'u'lláh, revelou Ele o

seguinte:

"A posição a ser atingida por aquele que haja reconhecido verdadeiramente esta

Revelação, é igual àquela destinada aos profetas da casa de Israel que não sejam

considerados Manifestantes dotados de constância."

Quanto aos Manifestantes subseqüentes à Revelação de Bahá'u'lláh, a seguinte declaração clara

e importante é feita por 'Abdu'l-Bahá:

"No que concerne aos Manifestantes que futuramente descerão nas sombras das nuvens,

saibam que, em verdade, se acham à sombra da Antiga Beleza no que diz respeito à

fonte de Sua inspiração. Em Sua relação à época em que aparecem, entretanto, cada um

'faz aquilo que Lhe aprouver.'"

Disse Ele, em uma de Suas Epístolas, dirigindo-se a uma pessoa de reconhecida autoridade e

posição:

"Ó meu amigo! O Fogo imperecível que o Senhor do Reino acendeu na Árvore Sagrada,

flameja intensamente no âmago do mundo. A conflagração assim provocada há de

envolver toda a terra. Suas chamas ardentes iluminarão seus povos e raças. Já se

revelaram todos os sinais; já se manifestou aquilo a que os profetas aludiram. Tudo o

que as Escrituras do passado encerraram tornou-se evidente. Não mais será possível

duvidar ou hesitar... O tempo urge. O Corcel Divino impacienta-se; não mais esperará. É

nosso dever apressarmo-nos e, antes que seja tarde, ganhar a vitória."

E vejamos, finalmente, este trecho tão comovente que Ele, num momento de exultação, se

sentiu impelido a dirigir a um de Seus mais fiéis e eminentes adeptos, nos primeiros dias de Seu

ministério:

"Que mais posso Eu dizer? Que mais pode Minha pena relatar? Com as vibrações de tão

forte chamado, que repercute do Reino de Abhá, os ouvidos mortais quase ensurdecem.

Toda a criação parece-me cambalear e se desmoronar em conseqüência do chamado

Divino que procede do trono da glória. Mais do que isso não posso escrever."

Caríssimos amigos! Basta o que já foi dito, com os numerosos e variados excertos citados das

obras do Báb, de Bahá'u'lláh e de 'Abdu'l-Bahá, para convencer o leitor consciencioso da sublimidade

deste ciclo sem paralelo na história religiosa do mundo. Seria absolutamente impossível exagerar sua

significação ou dar demasiado valor à influência que exerceu e há de continuar a exercer, cada vez

mais, à medida que seu grande sistema vá se desenvolvendo em meio ao tumulto de uma civilização já

em colapso.

Antes de prosseguir com o desenvolvimento de meu tema, entretanto, parece-me aconselhável

fazer uma advertência a quem quer que leia estas páginas. Aquele que procura, à luz dos trechos supra-

citados, meditar sobre a natureza da Revelação de Bahá'u'lláh, não deve se enganar a respeito de seu

caráter ou interpretar erroneamente a intenção de Seu Autor. De modo algum deve-se admitir um

conceito errado da divindade atribuída a um Ser tão grandioso e da encarnação completa dos nomes e

das qualidades de Deus numa Pessoa tão sublime. O templo humano que se fez o veículo de tão

transcendente Revelação deve – se nos mantivermos fiéis aos princípios de nossa Fé – ficar sempre

completamente distinto daquele "Espírito dos Espíritos", daquela "Eterna Essência das Essências",

daquele Deus invisível, conquanto racional, cuja Realidade infinita, incognoscível, incorruptível, que

tudo abrange, de modo algum poderia se encarnar na forma concreta, limitada, de um ser mortal, por

mais que exaltemos a divindade daqueles Seres que O manifestam na terra. Com efeito, à luz dos

ensinamentos de Bahá'u'lláh, um Deus que pudesse de tal modo encarnar Sua própria Realidade,

deixaria imediatamente de ser Deus. Essa teoria tosca, fantástica, de encarnação divina é tão

incompatível com os princípios essenciais da crença Bahá'í como o são as não menos inadmissíveis

concepções panteístas e antropomórficas de Deus, as quais os ensinamentos de Bahá'u'lláh

enfaticamente repudiam como falsas.

Aquele que, em inumeráveis passagens, disse ser Sua palavra a "Voz da Divindade, o Chamado

do próprio Deus", faz no Kitáb-i-Iqán a seguinte afirmação solene:

"Para todo coração esclarecido, dotado de discernimento, torna-se evidente ser Deus, a

Essência incognoscível, o Divino Ser, incomensuravelmente exaltado acima de todos os

atributos humanos, tais como existência corporal, ascensão e descida, saída e regresso...

Ele está – e sempre esteve – velado na antiga eternidade de Sua Essência, e permanecerá

na Sua Realidade eternamente oculto da vista dos homens... Elevado está, além de toda

separação e união, de toda proximidade e de todo afastamento... 'Deus estava só;

ninguém havia senão Ele' é um testemunho seguro dessa verdade."

Bahá'u'lláh, falando de Deus, explica:

"Desde os tempos imemoriais Ele, o Ente Divino, esteve velado na inefável santidade de

Seu próprio Ser excelso, e continuará à Essência incognoscível... Dez mil Profetas, cada

um dEles um Moisés, ficam atônitos no Sinai de Sua busca, ao ouvirem a voz de Deus

assim lhes proibir: 'Jamais Me verás!', enquanto miríades de Mensageiros, cada um tão

grande como Jesus, estão cheios de consternação em Seus tronos celestiais ante a

interdição de: 'Minha Essência, nunca a compreenderás!'"

Afirma Bahá'u'lláh em Sua comunhão com Deus:

"Quanto fico perplexo, insignificante que sou ao tentar sondar as sagradas profundezas

de Teu conhecimento! Quão fúteis são meus esforços para conceber a magnitude do

poder inerente à Tua obra – a revelação de Teu poder criador!"

Testifica Ele em ainda outra oração revelada e escrita de Seu próprio punho:

"Quando contemplo, ó meu Deus, a relação que une a Ti sinto-me impelido a proclamar

a todos os seres criados: 'Em verdade, Eu sou Deus!'; e quando considero meu próprio

ser – ei-lo! – parece-me mais grosseiro que o barro!"

Diz Bahá'u'lláh ainda no Kitáb-i-Iqán:

"Estando assim fechada diante de todos os seres a porta para o conhecimento do Ancião

dos Dias Ele, a Fonte das graças infinitas, fez aparecerem do reino do espírito essas

luminosas Jóias de Santidade, na nobre forma do templo humano, e se manifestarem

ante todos os homens, para que transmitissem ao mundo o conhecimento dos mistérios

do Ser imutável e das sutilezas de Sua Essência imperecedoura... Todos os Profetas de

Deus, Seus eleitos, Seus santos Mensageiros são, sem exceção, portadores de Seus

Nomes e manifestam Seus atributos... Esses Tabernáculos da Santidade, esses Espelhos

Primazes que refletem a luz da glória que não se esvaece, são apenas expressões

dAquele que é o Invisível dos Invisíveis."

Apesar da intensidade sobrepujante de Sua Revelação, Bahá'u'lláh deve ser visto como um

desses Manifestantes de Deus, não podendo jamais ser identificado com aquela Realidade invisível, a

Essência da própria Divindade. Constitui isso um dos princípios básicos de nossa Fé, e nunca deve

qualquer adepto permitir que fique obscurecido ou que lhe comprometa a integridade.

Embora a Revelação Bahá'í se declare a culminação de um ciclo profético e o cumprimento da

promessa de todas as eras, nem por isso pretende, sob quaisquer circunstâncias, invalidar aqueles

princípios primordiais, eternos, que eram vitais e básicos nas religiões que a precederam. Admite e

estabelece como sua própria base final e mais firme, a mesma autoridade divina que fora concedida a

cada uma dessas religiões. Considera-as como apenas diferentes etapas na história eterna e na evolução

constante de uma só religião, divina e indivisível, da qual constitui, ela mesma, uma parte integrante.

Não pretende obscurecer-lhes a origem divina, nem menosprezar a reconhecida magnitude de suas

realizações colossais. Não admite tentativa alguma de lhes deformar as feições ou de desacreditar as

verdades que incutem. Os ensinamentos da Revelação Bahá'í não divergem – nem pela grossura de um

fio de cabelo – das verdades que elas também encerram, e de modo algum sua imponente mensagem

diminui, por um jota ou til, a influência que as religiões anteriores exercem, ou a lealdade que inspiram.

Longe de querer derrubar o alicerce espiritual dos sistemas religiosos do mundo, seu fim declarado e

inalterável é o de lhes alargar a base, dando nova expressão aos princípios antigos fundamentais,

conciliando-lhes os propósitos e lhes restaurando a vida. Visa demonstrar a unidade inerente a todas,

restaurar a pureza primitiva dos ensinamentos de todas, coordenando-lhes as funções e lhes facilitando

a realização das mais altas aspirações. "Essas religiões divinamente reveladas" – assim se expressou

graficamente alguém que as observara de perto – "são destinadas não a morrer mas sim a renascer...

'Não é um fato que a criança sucumbe no jovem, e este no homem, e contudo, não perece nem a

criança nem o jovem?'"
Explica Bahá'u'lláh no Kitáb-i-Iqán:

"Aqueles que são as Luminárias da Verdade e os Espelhos que refletem a luz da

Unidade Divina em qualquer época ou ciclo que sejam enviados de suas habitações

invisíveis de glória antiga, para este mundo, a fim de educar as almas dos homens e

revestir de graças todas as coisas criadas, são dotados, invariavelmente, de um poder

sobrepujante e uma soberania invencível... Esses Espelhos santificados, essas Auroras da

glória antiga, são todos, sem exceção, os expoentes na terra dAquele que é o Orbe

central do universo, a essência e o propósito final. DEle recebem o conhecimento e o

poder; dEle derivam a soberania. A beleza do semblante deles é apenas um reflexo de

Sua Imagem, e o que revelam nada mais é que um sinal de Sua glória perene... Através

deles se transmite uma graça que é infinita, e se revela a luz que jamais se esvairá...

Nunca poderá língua humana cantar louvores que lhes sejam dignos; jamais palavra

humana desvendará seu mistério."
Acrescenta Ele:

"Essas Aves do Trono celestial, já que todas são enviadas do céu da Vontade de Deus e

se levantam para proclamar Sua Fé irresistível, devem ser consideradas como uma só

alma, com a mesma pessoa... Todas habitam no mesmo tabernáculo, remontam ao

mesmo céu, sentam-se no mesmo trono, proferem as mesmas palavras e proclamam a

mesma Fé. Apenas diferem na intensidade de sua revelação e na potência comparativa

de sua luz... Por não haverem essas Essências do Desprendimento manifestado

exteriormente um certo atributo divino, não quer isso dizer, de modo algum, que essas

Auroras dos atributos de Deus, esses Tesouros de Seus santos Nomes, realmente não

possuíssem tal atributo."

Deve-se lembrar, também, de que esta Revelação, por maior que seja o poder por ela

manifestado, e não obstante o vasto alcance da Dispensação que seu Autor inaugurou, repudia

enfaticamente a pretensão de ser considerada a revelação final da vontade e do plano de Deus para a

humanidade. Adotar-se tal conceito de seu caráter e suas funções equivaleria trair sua causa e negar sua

verdade. Estaria em conflito, necessariamente, com o princípio fundamental que constitui o alicerce

sólido da crença bahá'í, isto é, que a verdade religiosa não é absoluta, mas relativa: que a Revelação

Divina é metódica, contínua e progressiva, e não espasmódica ou final. De fato, a categórica rejeição,

pelos adeptos da Fé de Bahá'u'lláh, da declaração de que qualquer sistema religioso inaugurado pelos

Profetas do passado é o estágio final, é tão clara e enfática como sua própria recusa a fazer essa

pretensão no caso da Revelação com que eles se identificam.

"Acreditar que tenha findado toda a revelação, que estejam fechados os portais da Divina

Misericórdia, que jamais dos albores da santidade terna possa nascer um sol, que para sempre o oceano

das graças imperecedouras tenha deixado de se mover, que não mais se possam manifestar, do

tabernáculo da glória antiga, os Mensageiros de Deus" – tal crença deve constituir, aos olhos de todo

seguidor da Fé, uma violação grave, imperdoável, de um de seus princípios mais estimados e

fundamentais.

Para estabelecermos sem a menor sombra de dúvida a verdade desse princípio cardeal, bastará,

certamente, referirmo-nos a algumas das palavras já citadas de Bahá'u'lláh e 'Abdu'l-Bahá. Não

poderá também a seguinte passagem das Palavras Ocultas ser interpretada como uma alusão alegórica

ao caráter progressivo da Revelação Divina, uma admissão por parte do Autor de que a Mensagem que

Lhe fora confiada não seja a última, a expressão final da vontade do Todo-Poderoso?:

"Ó Filho da Justiça! Ao anoitecer a beleza do Ser imortal retirou-se das alturas esmeraldas da

fidelidade, indo ao Sadratu'l-Muntahá, onde chorou com tal pranto que a assembléia no alto e os

habitantes os reinos do além gemeram por causa de Seu lamento. Com isso se perguntou: Por que os

gemidos e choro? E Ele deu a resposta: Assim como Me fora ordenado, Eu, cheio de expectativas,

esperava no monte da fidelidade, mas não senti a fragrância da fidelidade daqueles que habitam na

terra. Então, ao ser chamado a regressar, olhei e eis! certos pombos da santidade estavam sendo

atormentados nas garras dos cães terrenos. Com isso a Donzela do céu, resplandecente, sem véu,

apressou-se a sair de Sua mansão mística e perguntou seus nomes, e todos foram ditos, menos um. E ao

se insistir, a primeira letra deste foi pronunciada, quando então os habitantes dos aposentos celestiais se

apressaram a sair de sua morada e glória. E enquanto se pronunciava a segunda letra, todos se

prostraram sobre o pó. Nesse momento, uma voz, vindo do mais recôndito do santuário, se fez ouvir:

'Até aí e não além.' Em verdade, damos testemunho daquilo que fizeram e agora fazem."

Numa de Suas Epístolas reveladas em Adrianópolis, atesta Bahá'u'lláh esse fato em linguagem

mais explícita:

"Saibam que, em verdade, não se levantou completamente o véu que oculta Nosso Semblante. Nós Nos

revelamos num grau correspondente à capacidade do povo de Nosso tempo. Se a Beleza Antiga se

revelasse na plenitude de Sua glória, a deslumbrante intensidade de Sua Revelação cegaria os olhos

mortais."

No Súriy-i-Sabr, revelado no ano de 1863, no mesmo dia de Sua chegada no Jardim de Ridvan,

Ele faz a seguinte afirmação:

"Deus enviou Seus Mensageiros para suceder a Moisés, e Jesus, e assim continuará a

fazer até 'o fim que não tem fim'; de modo que Suas graças possam descer

ininterruptamente do céu da Divina Generosidade para os homens."

Declara Bahá'u'lláh ainda mais explicitamente:

"Não estou apreensivo por Minha própria causa ,Meus receios são para Aquele que vos

será enviado após Mim – Aquele que será investido de grande soberania e poderoso

domínio."

E ainda outra vez escreve Ele, no Súratu'I-Haykal:

"Nas palavras que revelei, não Me refiro a Mim mesmo, mas Àquele que virá depois de

Mim. Testemunha disso é Deus, o Onipotente."
E acrescenta:
"Não trateis a Ele como tratastes a Mim."

Num trecho mais detalhado de Seus escritos, o Báb sustenta a mesma verdade, escrevendo no

Bayán persa:

"É claro e evidente que todas as Eras anteriores visaram preparar o caminho para o

advento de Muhammad, o Apóstolo de Deus. Por sua vez, a Era Maometana juntamente

com essas tiveram em mira a Revelação proclamada pelo Qá'im. E é o objetivo desta

Revelação, como o foi das precedentes, anunciar do mesmo modo o advento da Fé

dAquele que Deus tornará manifesto. E essa Fé – a Fé dAquele que Deus tornará

manifesto – por sua vez com todas as Revelações anteriores, tem por objeto a

Manifestação destinada a sucedê-la. Também esta última, do mesmo modo que as

Revelações precedentes, preparará o caminho para a Revelação futura. Assim o processo

do nascer e do por do Sol da verdade há de continuar por um tempo indeterminado – é

um processo que não teve começo nem terá fim."
Explica Bahá'u'lláh sobre esse ponto:

"Saibam com segurança que em cada Era, a Luz da Revelação Divina concedida aos homens é

diretamente proporcional à sua capacidade espiritual. Considerem o sol. Como são fracos seus raios no

momento em que surge no horizonte. Quão gradual é o aumento em seu calor e sua potência à medida

que se aproxima do zênite, permitindo deste modo que todas as coisas criadas se adaptem à crescente

intensidade de sua luz. Testemunhamos, em seguida, seu declínio constante até alcançar seu ocaso. Se

as suas energias latentes se manifestassem subitamente, isso, sem dúvida, danificaria todas as coisas

criadas... De igual maneira, se o Sol da Verdade, nas primeiras etapas de Sua manifestação, revelasse

de repente os plenos poderes que a providência do Todo-Poderoso lhe concedeu, a terra da

compreensão humana seria danificada, consumir-se-ia, pois os corações dos homens não poderiam

suportar a intensidade de sua revelação, nem seriam capazes de refletir o esplendor de sua luz.

Consternados e acabrunhados, deixariam de existir."

É nosso dever óbvio, à luz desta nítida e concludente exposição, tornar indubitavelmente claro –

para todo aquele que busca a verdade – que, desde "o começo que não teve começo", os Profetas de

Deus, Uno e Incognoscível, inclusive o próprio Bahá'u'lláh, todos – como intermediários das graças

divinas, expoentes de Sua unidade, Espelhos de Sua Luz e Reveladores de Seu plano – foram

incumbidos de conceder à humanidade, em medida cada vez maior a Sua verdade, uma sempre

crescente compreensão de Sua vontade inescrutável e de Sua divina direção, e continuarão, até "o fim

que não terá fim", a conceder ainda mais completas e poderosas revelações de Sua ilimitada grandeza e

glória.

Bem podemos ponderar em nossos corações os seguintes trechos de uma oração revelada por

Bahá'u'lláh, pois afirmam de um modo enfático a grande verdade essencial que se encerra no próprio

âmago de Sua Mensagem ao gênero humano, e fornecem mais uma evidência de sua realidade:

"Louvado Sejas Tu, ó Senhor meu Deus, pelas maravilhosas revelações de Teu decreto inescrutável e

pelas múltiplas provações e angústias que Tu me destinaste. Num tempo, Tu me entregaste às mãos de

Nimrod; e em outro, permitiste que a vara do faraó me perseguisse. Somente Tu – graças à Tua

onisciência e à operação de Tua vontade – podes avaliar as incalculáveis aflições que tenho sofrido nas

mãos deles. Em outra ocasião, Tu me arrojaste na prisão dos ímpios, só porque me sentia impelido a

sussurrar nos ouvidos dos favorecidos habitantes de Teu Reino uma ligeira idéia da visão com que Tu,

pelo Teu conhecimento, me inspiraras, e cujo significado, através da eficácia do Teu poder, Tu me

havias revelado. E, em outra ocasião, decretaste que eu fosse decapitado pela espada do infiel. Em

ainda outra ocasião, fui crucificado, por haver revelado aos olhos dos homens as jóias ocultas de Tua

gloriosa unidade, e lhes desvendado os maravilhosos sinais de Teu poder soberano e eterno. Quão

amargas as humilhações amontoadas sobre mim, numa época subseqüente, na planície de Karbilá!

Como me sentia solitário no meio de Teu povo; a que estado de desamparo fui reduzido naquela terra!

Não satisfeitos com tamanhas indignidades, meus perseguidores decapitaram-me e, levando minha

cabeça de terra em terra, exibiram-na ante a multidão, incrédula e depositaram-na na sede dos

perversos e infiéis. E em outra época ainda, suspenderam-me, e meu peito foi alvo das flechas da

crueldade maliciosa de meus inimigos. Crivaram-me de balas os membros do meu corpo e

despedaçaram-no. E finalmente, neste dia, vê como meus inimigos traiçoeiros se têm aliado contra mim

e tramado continuamente para instilar nas almas de Teus servos o veneno do ódio e da malícia.

Recorrem a toda maquinação possível a fim de realizar seu propósito. Por pesaroso que seja meu

dilema, ó Deus, meu Bem-Amado, agradeço-Te, e meu espírito está cheio de gratidão por qualquer

coisa que me tenha sucedido no caminho da Tua vontade. Estou muito contente por aquilo que

ordenaste para mim, e acolherei com prazer, por mais aflitivas que sejam, as angústias e tristezas que

me sobrevierem."
O Báb

Caríssimos amigos! Ainda outra verdade fundamental que a Mensagem de Bahá'u'lláh

proclama com insistência – e que seus adeptos devem sustentar incondicionalmente – é que o Báb, o

iniciador da Era Bábí, deve ser considerado um Manifestante de Deus independente, investido de poder

e autoridade soberanos, podendo Ele, assim, exercer todas as prerrogativas de Profeta independente.

Um fato que me sinto obrigado a demonstrar, a fazer ressaltar, é que Ele não deve ser julgado apenas

um inspirado Precursor da Revelação Bahá'í. Muito ao contrário – como Ele mesmo testifica no Bayán

persa – devemos ver em Sua Pessoa o cumprimento da missão de todos os Profetas que O precederam.

Faltaríamos, certamente, ao nosso dever para com a Fé que professamos, violaríamos um de seus

princípios básicos e sagrados, se, por nossas palavras ou nossa conduta, vacilássemos em reconhecer a

inferência deste princípio fundamental da crença bahá'í, ou nos recusássemos a sustentar

incondicionalmente sua integridade e demonstrar sua verdade. De fato, ao empreender a tarefa de

redigir e traduzir a narrativa imortal de Nabíl, visava eu, antes de tudo, proporcionar a todos os adeptos

da Fé no Ocidente a uma compreensão mais fácil e completa do que significa, em suas largas

repercussões, a elevada posição do Báb, para que Lhe dedicassem mais ardente admiração e amor.

Constitui a característica mais distintiva da Dispensação Bahá'í, sem a menor dúvida, a dupla

missão que o próprio Báb tão intrepidamente proclamou, a qual Lhe fora ordenada pelo Onipotente –

missão essa afirmada repetidas vezes por Bahá'u'lláh e sancionada, finalmente, pelo Testamento de

'Abdu'l-Bahá. Essa característica incomparável contribui grandemente para o poder de que foi

investido esse sagrado ciclo, para sua força e autoridade misteriosas. Em verdade, a grandeza do Báb

consiste, sobretudo, não em ser Ele o Precursor divinamente designado para tão transcendente

Revelação, mas, antes, no fato de que possuía aquele poder inerente a quem inicia uma dispensação

religiosa distinta, e também no fato de que empunhava o cetro de profeta independente, num grau não

rivalizado pelos Profetas anteriores.

Nem a exígua duração de Sua Era, nem o âmbito restrito em que Suas leis e Seus mandatos têm

vigorado, devem ser tomados como critério para se julgar a origem divina dessa Era ou avaliar a

potência de Sua mensagem. Explica o próprio Bahá'u'lláh:

"O fato de haver tão pequeno intervalo entre esta maravilhosa e poderosíssima

Revelação e Minha Manifestação anterior, é um segredo que homem algum pode

descobrir, um mistério que mente alguma é capaz de penetrar. Sua duração foi

predestinada, e ninguém jamais perceberá a razão disso, a não ser que e até que ele se

informe do conteúdo de Meu Livro Oculto."

Expõe Bahá'u'lláh ainda no Kitáb-i-Badí – obra em que refuta os argumentos do povo do

Bayán:

"Vede como, ao se completar o novo ano dessa maravilhosa, benéfica e sacratíssima

Revelação, foi consumado imediata, mas secretamente, o número exigido de almas puras

que demonstraram santidade e consagração absoluta."

As extraordinárias ocorrências que prenunciaram o advento do Fundador da Era Bábí, as

dramáticas circunstâncias de Sua própria vida tão repleta de acontecimentos notáveis, a miraculosa

tragédia de Seu martírio, a influência mágica que Ele exercia sobre os mais eminentes e poderosos de

Seus conterrâneos – segundo testifica cada capítulo da comovente narrativa de Nabíl – tudo isso

devemos aceitar como ampla evidência do direito do Báb a tão elevada posição entre os Profetas com a

que Ele para si reclama.

Conquanto nítido o registro de Sua vida que o eminente cronista transmitiu à posteridade, tal

brilhante narrativa empalidece diante do luminoso tributo que é prestado ao Báb pela pena de

Bahá'u'lláh. E o próprio Báb dá pleno apoio a esse tributo, em Suas claras asseverações, enquanto o

testamento de 'Abdu'l-Bahá, por escrito, lhe reforça poderosamente o caráter e elucida o significado.

Onde, a não ser no Kitáb-i-Iqán, pode o estudante da Revelação Bábí encontrar as afirmações

que inequivocamente atestem o poder e o espírito que nenhum homem, a não ser um Manifestante

Divino, jamais poderá demonstrar? E Bahá'u'lláh exclama:

"Poderia tal coisa se manifestar, se não através da potência de uma Revelação Divina e

da invencível Vontade de Deus? Pela justiça de Deus! Fosse alguém nutrir no coração

uma Revelação tão grandiosa, bastaria só o pensar em tamanha declaração para

confundi-lo! Se fossem comprimidos dentro de seu coração os corações de todos os

homens, ele ainda hesitaria em se atrever a tão formidável empreendimento."

E afirma Ele em outra passagem:

"Jamais se viu tão grande efusão de graças nem se ouviu de Revelação igual, de tanta

misericórdia. ... Cada um dos Profetas dotados de constância, cuja glória e sublimidade

brilham como o sol, foi honrado com um Livro que todos já viram, os versículos do qual

foram devidamente averiguados. Enquanto os versículos, porém, que caíram como uma

chuva copiosa desta Nuvem da Divina Misericórdia, foram de tal abundância que

ninguém conseguiu até agora estimar seu número... Como podem menosprezar esta

Revelação? Já houve outra era que visse tão momentosos acontecimentos?"

Comentando o caráter e a influência daqueles heróis e mártires que o espírito do Báb

magicamente transformara, Bahá'u'lláh revela o seguinte:

"Se não são esses companheiros que verdadeiramente buscam a Deus, haverá outro que

possa pretender a tal distinção? ... Se, apesar de todos os seus admiráveis testemunhos e

suas maravilhosas obras, esses companheiros forem falsos, quem será digno de reclamar

para si a verdade? ... Será que o mundo desde os dias de Adão tenha testemunhado

tumulto igual, tão violenta comoção? ... Só em virtude de sua firmeza, parece-me, foi

que se revelou a paciência, e a própria fidelidade não foi gerada senão pelos seus feitos."

Querendo ressaltar a sublimidade da elevada posição do Báb em comparação com a dos

Profetas passados, Bahá'u'lláh, na mesma Epístola, assevera:

"Nenhuma compreensão pode abranger a natureza de Sua Revelação, nem conhecimento

algum abarcar, em toda a plenitude, Sua Fé."

Cita Ele, então, em confirmação ao Seu argumento, estas palavras proféticas:

"O conhecimento é representado por vinte e sete letras. Tudo o que os Profetas até agora

revelaram foram apenas duas dessas letras. Homem algum já conheceu mais do que

essas duas letras. Mas o Qá'im, ao aparecer, fará manifestarem-se as vinte e cinco letras

restantes. Eis a grandeza, a sublimidade, de Sua posição!"

E acrescenta:

"Excede a de todos os Profetas, e Sua Revelação transcende a compreensão de todos os

Seus eleitos."
E diz ainda:

"Os Profetas de Deus, Seus Santos e eleitos, não foram informados de Sua Revelação

ou, então, segundo o decreto inescrutável de Deus, não a divulgaram."

Entre todos os atributos que a pena infalível de Bahá'u'lláh se dignou prestar à memória do

Báb, Seu "Mais-Amado", a seguinte passagem, breve porém eloqüente, que tanto relevo dá ao trecho

final da mesma Epístola, é o mais memorável e comovente. Escreve Ele, referindo-se às penosas

provações e aos perigos que O cercavam na cidade de Bagdá:

"Entre todos estamos aqui, com a vida na mão, inteiramente resignados à Sua Vontade –

porventura, graças à Divina Misericórdia, esta Letra revelada, manifesta, (Bahá'u'lláh)

possa oferecer a vida em holocausto no caminho do Ponto Primordial, do Verbo Excelso

(o Báb). Por Aquele em virtude de cuja ordem falou o Espírito, se não fosse esse ardente

desejo em nossa alma, não mais teríamos demorado – nem por um momento sequer –

nesta cidade."

Caríssimos amigos! Tão ressoante elogio, tão audaz asserção como essa que emanou da pena de

Bahá'u'lláh, numa obra tão imponente, é refletida plenamente na linguagem em que a Fonte da

Revelação Bábí se dignou expressar Sua própria declaração. Assim, no Qayyúmu'l-Asmá', o Báb

proclama Sua posição:

"Sou o Templo Místico que a Mão da Onipotência ergueu. Sou a Lâmpada que o Dedo

de Deus acendeu dentro de seu nicho e fez brilhar com esplendor imortal. Sou a Chama

daquela Luz superna que resplandeceu sobre o Sinai, no Lugar jubiloso, e jazia oculta

dentro da Sarça Ardente."

E exclama Ele, dirigindo-se a si próprio no mesmo comentário:

"Ó Qurratu'l-'Ayn! Não reconheço em Ti senão o 'Grande Anúncio' – o Anúncio

proclamado pela Assembléia no alto. Por esse nome, testifico, aqueles que circundam o

Trono da Glória sempre Te têm conhecido."
E acrescenta ainda:

"Com cada um dos Profetas que enviamos no passado estabelecemos um Convênio

separado relativo à 'Lembrança de Deus' e Seu Dia. Manifestos, no reino da glória e

através do poder da verdade, estão a 'Lembrança de Deus' e Seu Dia ante os olhos dos

anjos que rodeiam Seu trono de misericórdia."
E afirma novamente:

"Se for Nosso desejo está em Nosso poder, por meio de apenas uma letra de Nossa

Revelação, compelir o mundo, e tudo o que nele está, a reconhecer, em menos de um

abrir e fechar de olhos, a verdade de Nossa Causa."

Assim o Báb, da prisão-fortaleza de Máh-kú, se dirige a Muhammad Sháh:

"Sou o Ponto Primordial, do qual se geraram todas as coisas criadas – Sou o Semblante

de Deus, e nunca Seu esplendor se esvairá; sou a luz divina, e jamais decrescerá o Seu

brilho... Todas as chaves do céu, Deus as quis por à Minha Mão direita, e todas as

chaves do inferno, à Minha esquerda... Sou um dos pilares que sustentam o Verbo

Primaz de Deus. Quem quer que me tenha reconhecido, terá sabido tudo o que seja

direito e verdadeiro, terá atingido a tudo o que seja bom e digno... A substância de que

Deus Me criou não é a argila de que formou os outros. Ele Me conferiu aquilo que os

versados nos conhecimentos do mundo jamais poderão compreender, nem os fiéis

descobrir."

Afirma categoricamente o Báb, desejando frisar as ilimitadas potencialidades latentes em Sua

Revelação:

"Neste dia, se uma pequenina formiga quisesse possuir o poder de desenredar as mais

obscuras e intrincadas passagens do Alcorão, seu desejo, sem dúvida, seria satisfeito, já

que o mistério do poder eterno vibra dentro do âmago de todas as coisas criadas."

'Abdu'l-Bahá comenta a respeito desta espantosa afirmação:

"Se tão impotente criatura pode ser dotada de uma capacidade tão sutil, quanto mais

eficaz não deve ser o poder libertado através das graças abundantes de Bahá'u'lláh!"

A essas autorizadas asserções e solenes declarações, feitas por Bahá'u'lláh e pelo Báb, deve ser

acrescentado o testemunho incontroverso de 'Abdu'l-Bahá. Ele, o designado intérprete das palavras de

Bahá'u'lláh e também do Báb, corrobora a verdade dessas declarações já citadas, não indireta, mas sim,

clara e categoricamente, tanto em Suas Epístolas como em Seu Testamento.

Numa Epístola dirigida a um Bahá'í em Mázindarán, na qual 'Abdu'l-Bahá explica o que

realmente significa uma afirmação acerca do nascer do Sol da Verdade neste século que Lhe fora

atribuída e que havia sido mal interpretada, Ele expõe, de um modo resumido porém concludente, o

que deve ser para sempre nosso verdadeiro conceito da relação entre os dois Manifestantes associados à

Revelação Bahá'í. Explica Ele:

"Ao fazer tal afirmação não me referia senão ao Báb e a Bahá'u'lláh, sendo meu

propósito a elucidação do caráter de Suas Revelações. A do Báb pode ser comparada ao

sol, sendo que sua posição corresponde ao primeiro signo do zodíaco, o de Áries, no

qual o sol entra no equinócio vernal. A posição da Revelação de Bahá'u'lláh, por outro

lado, é representada pelo signo de Leão, a mais elevada posição do sol, a do pleno verão.

Quer isso dizer que esta sagrada Revelação é iluminada pela luz do Sol da Verdade

brilhando de sua posição mais elevada, na plenitude de seu esplendor, sua glória, e seu

ardor."

Afirma 'Abdu'l-Bahá, mais especificamente, em outra Epístola:

"O Báb, o Excelso é o Amanhecer da Verdade, o esplendor de cuja luz brilha através de

todas as regiões. Ele é também o Arauto da Luz Suprema, a Luminária de Abhá. A

Abençoada Beleza é Aquele prometido pelos Livros Sagrados do passado, a revelação

da Fonte de luz que brilhou sobre o Monte Sinai, cujo fogo ardeu no meio da Sarça

Ardente. Nós todos somos servos no Seu limiar; cada um de nós é um humilde zelador à

Sua porta."
Sua advertência ainda é mais enfática:

"Todas as provas e profecias e toda espécie de evidência, quer baseada no raciocínio,

quer no texto das escrituras e tradições, devem ser consideradas como focalizadas nas

pessoas de Bahá'u'lláh e do Báb. Neles se há de encontrar seu pleno cumprimento."

E em conclusão, em Seu Testamento, repositório de Suas últimas vontades e instruções finais,

Ele põe o selo de Seu testemunho quanto à elevada posição do Báb, na seguinte passagem designada

especificamente para expor os princípios de guia da crença bahá'í:

"A base da crença do povo de Bahá – Oxalá lhe seja oferecida em holocausto a minha

vida! – é esta: Sua Santidade, o Excelso (o Báb) é a Manifestação da Unidade Divina e o

Precursor da Beleza Antiga (Bahá'u'lláh). Sua Santidade, a Beleza de Abhá

(Bahá'u'lláh) – Oxalá minha vida seja oferecida em holocausto por Seus amigos leais! –

é o Supremo Manifestante de Deus e a Aurora de Sua mais divina Essência."

E acrescenta significativamente:

"Todos os outros são Seus servos e cumpridores de Sua Vontade."

'Abdu'l-Bahá

Caríssimos amigos! Nas páginas precedentes aventurei-me a tentar uma exposição daquelas

verdades implícitas – segundo minha firme convicção – na proclamação dAquele que é a Fonte Primaz

da Revelação Bahá'í. Tentei, além disso, dissipar quaisquer conceitos errôneos que possam,

naturalmente, surgir no espírito de quem contemple tão transcendente manifestação da glória de Deus.

Esforcei-me para explicar o significado da divindade com que deve ser investido Aquele que é o

veículo de tão misterioso poder. Tentei demonstrar também, o mais que pude, que a Mensagem de que

este grande Ser foi incumbido por Deus de transmitir à humanidade, nesta época, admite a origem

divina de todas as Revelações inauguradas pelos Profetas do passado, lhes sustenta os princípios

fundamentais, como também está inextricavelmente relacionada com todas elas. Achei necessário

provar e ressaltar, igualmente, o fato de que o Autor desta Fé não diz que Sua Revelação, embora tão

vasta, seja final, do mesmo modo que Ele repudia pretensões nesse sentido por parte de líderes de

diversas denominações. Que o Báb, não obstante a exígua duração de Sua Dispensação, deve ser

considerado primariamente não como o escolhido Precursor da Fé Bahá'í, mas sim, como um Ser

investido da autoridade incondicional assumida por cada um dos Profetas independentes vindos no

passado – parecia-me ser ainda outro princípio básico cuja elucidação seria extremamente desejável na

presente etapa da evolução de nossa Causa.

Urge agora – estou plenamente convencido – tentarmos esclarecer a posição ocupada por

'Abdu'l-Bahá e compreender o seu significado nesta sagrada Dispensação. Seria verdadeiramente

difícil – para nós que estamos ainda tão próximos dessa imponente figura e que somos atraídos pelo

misterioso poder desta personalidade tão magnética – obter uma compreensão clara e exata do papel e

do caráter dAquele que, não somente na Revelação de Bahá'u'lláh, mas em todo o terreno da história

religiosa, preenche uma função ímpar. Assim, movendo-se em uma esfera própria e possuindo um grau

radicalmente diferente daquele do Autor e do Precursor da Revelação Bahá'í, 'Abdu'l-Bahá forma,

juntamente com estes – em virtude da posição que lhe foi ordenada pelo Convênio de Bahá'u'lláh –

aquilo que se pode chamar as Três Figuras Centrais de uma Fé que permanece sem par na história

espiritual do mundo. Dominando, com eles, os destinos desta nascente Fé divina, ergueu-se de um nível

a que jamais poderá aspirar, dentro de um período de mil anos completos, nenhum indivíduo ou grupo

que venha a servir os interesses da Fé após Ele. Se alguém tentasse diminuir-lhe o prestígio

incomparável, julgando que Seu grau fosse em pouco ou nada superior ao daqueles sobre cujos ombros

tenha caído o manto de Sua autoridade, isso seria um ato de impiedade tão grave como a crença, não

menos herética, que visa exaltá-Lo a um estado de igualdade absoluta com a Figura central de nossa Fé

ou com Seu Precursor. Por mais largo que seja o abismo que separa 'Abdu'l-Bahá dAquele que é a

Fonte de uma Revelação independente, nunca poderá ser considerado tão vasto como a distância entre

Ele, o Centro do Convênio, e Seus ministros que hão de continuar Sua obra, não importando quais

sejam os seus nomes, categorias, funções ou futuras realizações. Os que conheceram 'Abdu'l-Bahá e,

atraídos pela Sua magnética personalidade, Lhe dedicaram tão fervorosa admiração, devem refletir, à

luz dessa afirmação, sobre a grandeza dAquele cuja posição é tão superior.

Que 'Abdu'l-Bahá não é Manifestante Divino, e não ocupa posição similar à posição de Seu

Pai, embora seja o sucessor deste, e que ninguém exceto o Báb ou Bahá'u'lláh poderá reclamar para si

semelhante grau antes da expiração de mil anos completos – são verdades que encerram as específicas

palavras tanto do Fundador de nossa Fé como do Intérprete de Seus ensinamentos.

O Kitáb-i-Aqdas adverte-nos explicitamente:

"Antes de expirado um milênio completo, quem afirmar ser portador de uma Revelação

direta de Deus será seguramente impostor mentiroso. Rogamos a Deus que, por Sua

graça, o ajude a retratar-se e a repudiar tal pretensão. Se se arrepender, Deus sem dúvida

o perdoará. Porém, se persistir em seu erro, é certo que Deus enviará quem o trate

impiedosamente. Terrível, deveras, é Deus quando pune!"

E para tornar ainda mais enfático este ponto, Ele acrescenta:

"Quem interpreta esse versículo senão em seu sentido óbvio está privado do Espírito de

Deus e de Sua misericórdia que abarca todas a criação."

Outra afirmação é concludente:

"Se aparecer um homem antes de se completar um período de mil anos – sendo que cada

ano consiste de doze meses, segundo o Alcorão, e de dezenove meses de dezenove dias

cada, segundo o Bayán – e se este homem revelar ante vossos olhos todos os sinais de

Deus, rejeita-o, sem a menor hesitação!"

Com Suas próprias afirmações, 'Abdu'l-Bahá corrobora essa advertência, em termos não menos

enfáticos e incondicionais, declarando:

"Esta é minha convicção firme e inabalável, a essência da minha crença manifesta e

explícita – uma convicção e uma crença com que estão de pleno acordo os habitantes do

Reino de Abhá: A Abençoada Beleza é o Sol da Verdade, e Sua luz é a luz da verdade.

Do mesmo modo é o Báb o Sol da Verdade, e Sua luz, a luz da verdade... Minha posição

é a da servitude – uma servitude que é completa, pura e real, firmemente estabelecida,

durável, óbvia, explicitamente revelada e não condicionada a interpretação alguma... Sou

Eu o Intérprete da Palavra de Deus; é essa minha interpretação."

E no próprio testamento de 'Abdu'l-Bahá – num tom e numa linguagem que bem poderiam

confundir até os mais inveterados dos infratores do Convênio de Seu Pai – não torna Ele nula a arma

principal daqueles que se haviam esforçado tão persistentemente afim de Lhe imputar a pretensão tácita

de ser igual, ou até mesmo superior, a Bahá'u'lláh? Assim proclama uma das mais imponentes

passagens deste último documento, deixado para transmitir, à toda a posteridade, as instruções e

vontades de um Mestre que partira:

"A base da crença do povo de Bahá é esta: Sua Santidade o Excelso (o Báb), é a

manifestação da Unidade Divina e o Precursor da Beleza Antiga. Sua Santidade a Beleza

de Abhá (Bahá'u'lláh) – Oxalá minha vida seja oferecida em holocausto por Seus

amigos leais – é o supremo Manifestante de Deus e a Aurora de Sua mais divina

Essência. Todos os outros são Seus servos e cumpridores de Sua Vontade."

Destas declarações, entretanto, tão inequívocas, categóricas, e incompatíveis que são com

qualquer pretensão de ser Profeta, não devemos inferir, de modo algum, que 'Abdu'l-Bahá seja apenas

um dos servos da Abençoada Beleza, ou mesmo um cuja função se limite à interpretação autorizada

dos ensinamentos de Seu Pai. Longe de mim tal noção ou o desejo de incutir tais idéias, julgá-Lo assim

seria, claramente, uma traição da inestimável herança que Bahá'u'lláh legou à humanidade. A posição

que Lhe foi conferida pela Pena Suprema é incomensuravelmente exaltada acima e além do que se

infere dessas, Suas próprias declarações escritas. Quer seja no Kitáb-i-Aqdas, a mais imponente e

sagrada de todas as obras de Bahá'u'lláh, quer no Kitáb-i-'Ahd, o Livro de Seu Convênio, ou no Súriy-

i-Ghusn (Epístola do Ramo), as referências registradas pela pena de Bahá'u'lláh – referências estas,

poderosamente reforçadas pelas Epístolas que o Pai de 'Abdu'l-Bahá Lhe dirigiu, investem-no de um

poder e o cercam de uma auréola que a presente geração jamais poderá apreciar devidamente.

Ele é – e para todo o sempre deve assim ser considerado – primeiro e acima de tudo, o Centro e

Eixo do incomparável e todo abrangente Convênio de Bahá'u'lláh, Sua mais exaltada obra, o

imaculado Espelho de Sua Luz, o perfeito Exemplar de Seus ensinamentos, o infalível Intérprete de

Sua Palavra, a encarnação de todos os ideais e virtudes Bahá'ís, o Mais Poderoso Ramo nascido da Raiz

Antiga, o Sustentáculo da Lei de Deus, o Ser "em torno de Quem giram todos os nomes", o Manancial

da Unidade do Gênero Humano, o Porta-Estandarte da Paz Máxima, a Lua do Orbe Central desta mais

sagrada Revelação – denominações e títulos estes que são implícitos e que acham sua mais alta,

verdadeira e justa expressão no nome mágico: 'Abdu'l-Bahá. Acima e além dessas denominações, Ele

é o "Mistério de Deus" – uma expressão que o próprio Bahá'u'lláh escolhera para designá-Lo e que,

embora de modo algum justifique que se Lhe atribua a posição de Profeta, mostra como na pessoa de

'Abdu'l-Bahá se reúnem e harmonizam completamente as incompatíveis características de uma

natureza humana e de um conhecimento e perfeição sobre-humanos.

Proclama o Kitáb-i-Aqdas:

"Quando o Oceano de Minha Presença estiver em refluxo, e o Livro de Minha

Revelação houver terminado voltai as faces para Aquele que Deus designou, que brotou

desta Raiz Antiga."
E também:

"Quando a Pomba Mística tiver alçado vôo de seu Santuário de Louvor e procurado seu

destino remoto, sua morada oculta, qualquer coisa que não compreendais no Livro,

referi-a Àquele que brotou desta poderosa Estirpe."

No Kitáb-i-Ahd, além disso, Bahá'u'lláh declara solene e explicitamente:

"Incumbe aos Aghsán, aos Afnán e a todos os Meus parentes, voltarem as faces para o

Mais Poderoso Ramo. Considerai o que revelamos em Nosso Sacratíssimo Livro.

Quando o oceano de Minha presença estiver em refluxo, e o Livro de Minha Revelação

houver terminado, voltai as faces para Aquele que Deus designou, que brotou desta Raiz

Antiga. O objeto deste sagrado versículo não é outro senão o Mais Poderoso Ramo

('Abdu'l-Bahá). Através de Nossas graças, Nós vos revelamos Nossa Potentíssima

Vontade, e Eu sou em verdade o Misericordioso, o Onipotente."

No Súriy-i-Ghusn (Epístola ao Ramo) foram registrados os seguintes versículos:

"Brotou do Sadratu'l-Muntahá este sagrado e glorioso Ser, este Ramo de Santidade;

bem-aventurado quem tenha buscado Seu amparo e habite à Sua sombra. Em verdade, o

Sustentáculo da Lei divina surgiu desta Raiz que Deus plantou firmemente no Solo de

Sua Vontade, e cujo Ramo se ergueu até abranger a criação inteira. Glorificado seja Ele,

pois, por essa Obra sublime, abençoada, poderosa e exaltada!... Como prova de Nossa

misericórdia, emanou uma Palavra da Suprema Epístola – uma Palavra que Deus

embelezou com os adornos de Seu próprio Ser e fez soberana sobre a terra e tudo o que

nela está, e um sinal de Sua grandeza e poder entre seus povos... Agradecei a Deus, ó

povo, por haver Ele aparecido; pois, em verdade, Ele é a maior de todas as graças, a

mais perfeita dádiva a vós; e por Seu intermédio se ressuscitam até os ossos em

decomposição. Quem se dirigir a Ele terá se dirigido a Deus, e quem dEle se desviar,

terá se desviado de Minha Beleza, terá repudiado Minha Prova e transgredido contra

Mim. Ele é Quem Deus confiou a vós, de quem Ele vos incumbiu, Seu manifestante

entre vós, e o Seu aparecimento entre Seus servos favorecidos... Fizemo-Lo descer na

forma de um templo humano. Bendito e santificado seja Deus, que cria qualquer coisa

que deseje através de Seu decreto inviolável, infalível. Aqueles que se privam da sombra

do Ramo estão perdidos na solidão do erro, consumidos pelo fogo dos desejos

mundanos, são daqueles que, seguramente, hão de perecer."

Escreve Bahá'u'lláh, de próprio punho, dirigindo-se a 'Abdu'l-Bahá:

"Ó Tu que és a menina de Meus Olhos! Descansem sobre Ti Minha glória, o oceano de

Minha benevolência, o sol de Minha bondade, o céu de Minha misericórdia. Pedimos a

Deus que ilumine o mundo através de Teu conhecimento e Tua sabedoria, que ordenes

para Ti o que possa alegrar Teu coração e consolar Teus olhos."

Ele diz em outra Epístola:

"Que a glória de Deus esteja sobre Ti e sobre qualquer um que Te sirva e se mova a Teu

redor. Ai daquele que Te fizer oposição ou Te injuriar. Bem-aventurado quem Te jurar

lealdade; e que o fogo infernal atormente quem for Teu inimigo."

Afirma Ele em ainda outra Epístola:

"Nós Te fizemos um refúgio para toda a humanidade um escudo para todos os que estão

no céu e sobre a terra, uma cidadela para quem quer que tenha acreditado em Deus, o

Incomparável, o Onisciente. Permita Deus, que por Teu intermédio, Ele os possa

enriquecer e sustentar; que Ele Te inspire com aquilo que seja um manancial de riquezas

para todas as coisas criadas, um oceano de graças para todos os homens, e a aurora da

compaixão para todos os povos."

Numa oração revelada em honra de 'Abdu'l-Bahá, Bahá'u'lláh suplica:

"Tu sabes, ó meu Deus que nada desejo para Ele senão o que Tu desejaste, e nenhum

destino tenho escolhido para Ele senão aquele que Tu escolheras. Concede-Lhe a vitória,

pois, pelos Teus exércitos na terra e no céu... Imploro-Te, pela intensidade de Meu amor

a Ti, e por Meu fervoroso desejo de manifestar Tua Causa, que ordenes para Ele, como

também para aqueles que O amam, o que Tu destinastes a Teus Mensageiros e aos

incumbidos de transmitir a Tua Revelação, Em verdade, Tu és o Todo-Poderoso, o

Onipotente."

Numa carta ditada por Bahá'u'lláh e endereçada por Mirza Aqá Ján, Seu secretário, a 'Abdu'l-

Bahá, durante a estada deste em Beirut, lemos o seguinte:

"Louvado seja Ele por ter honrado a Terra de Bá (Beirut) com a presença dAquele em

torno de Quem giram todos os nomes. Todos os átomos da terra anunciaram a todas as

coisas criadas as novas de que surgira de trás dos portais da Cidade Prisão, brilhando por

cima de seu horizonte, a beleza do grande, do Supremo Ramo de Deus – Seu Mistério

antigo e imutável – encaminhando-se para uma outra terra. Tristeza envolve, pois, esta

Cidade Prisão, enquanto uma outra terra se regozija... Bendito, duplamente bendito o

solo pisado pelos Seus pés, benditos os olhos alegrados pela beleza de Seu semblante, os

ouvidos honrados pelo privilégio de escutar Seu chamado, o coração que experimentou a

doçura de Seu amor, o peito que vibrou com Sua comemoração, a pena que expressou

Seu louvor, o pergaminho a que foi conferido o testemunho de Seus escritos."

'Abdu'l-Bahá, confirmando a autoridade que Lhe fora conferida por Bahá'u'lláh, declara o

seguinte:

"De acordo com o explícito texto do Kitáb-i-Aqdas, Bahá'u'lláh designou para ser o

Intérprete de Sua Palavra o Centro do Convênio – um Convênio tão firme e poderoso

que nunca, desde o princípio do tempo até o dia presente, nenhuma Revelação religiosa

produziu igual."

Não obstante tão elevada posição, porém, e os elogios tão profusos com que Bahá'u'lláh

glorificou Seu Filho nestes sagrados Livros e Epístolas, essa distinção sem paralelo nunca deve ser

interpretada como prova de ser Sua condição idêntica à condição de Seu Pai, o próprio Manifestante,

ou, de modo algum, equivalente. Dar-se tal interpretação a qualquer dessas passagens citadas teria,

obviamente, o efeito imediato de a por em conflito com as asserções e advertências não menos claras e

autênticas às quais eu já me referi. De fato – como já tive ocasião de afirmar – os que atribuem a

'Abdu'l-Bahá um grau em demasia elevado são tão repreensíveis como aqueles que Lhe querem

diminuir o valor, nem é menos perniciosa a influência destes. E isso pela simples razão de que, quando

persistem em suas deduções inteiramente injustificáveis, tiradas dos escritos de Bahá'u'lláh, estão

fornecendo ao inimigo, se bem que inadvertidamente, contínuas provas para acusações falsas e

ambíguas.

Sinto-me compelido, pois, a declarar inequivocamente e sem a menor hesitação, que não existe

no Kitáb-i-Aqdas, nem no Livro do Convênio de Bahá'u'lláh, nem mesmo na Epístola do Ramo ou em

outra Epístola, quer revelada por Bahá'u'lláh, quer por 'Abdu'l-Bahá, autoridade alguma para a opinião

que tende a sustentar a assim chamada "unidade mística" de Bahá'u'lláh e 'Abdu'l-Bahá, ou a

estabelecer a identidade deste com Seu Pai ou com qualquer Manifestante anterior. Tal conceito

errôneo pode ser atribuído em parte a uma interpretação inteiramente extravagante de certos termos e

certas passagens na Epístola do Ramo, ao fato de se haver introduzido na tradução inglesa certas

palavras que não existem no original, ou que dão uma impressão errada, ou são ambíguas em sua

conotação. Baseia-se isso principalmente, sem dúvida, numa inferência que não é, em absoluto,

justificável, tirada das passagens iniciais de uma Epístola de Bahá'u'lláh, da qual alguns extratos,

segundo são reproduzidos na obra "Bahá'í Scriptures", precedem imediatamente a Epístola do Ramo

sem, entretanto, formarem parte integrante da mesma. A todos que lêem estes extratos, deve-se

esclarecer que a frase "a Língua do Antigo" se refere somente a Deus, que o termo "o Nome Supremo"

é uma referência óbvia a Bahá'u'lláh, e que "o Convênio" não quer dizer o Convênio específico de que

Bahá'u'lláh é o Autor imediato e 'Abdu'l-Bahá, o Centro, mas sim aquele Convênio geral que –

segundo os ensinamentos Bahá'ís – o próprio Deus, ao inaugurar uma nova Revelação, estabelece

invariavelmente com a humanidade. A "Língua" que "dá" as "boas novas", como dizem estes extratos,

não é outra senão a Voz de Deus referindo-se a Bahá'u'lláh, e não este se referindo a 'Abdu'l-Bahá.

Além disso, se, em vez de vermos na declaração – "Ele é Eu mesmo" – uma alusão à unidade

mística de Deus e Seus Manifestantes, segundo explica o Kitáb-i-Iqán, tentássemos provar por tal

declaração a identidade de 'Abdu'l-Bahá com Bahá'u'lláh, estaríamos violando diretamente o tão

frisado princípio da unidade dos Manifestantes de Deus – um princípio que o Autor destes mesmos

extratos tenta, por inferência acentuar.

Equivaleria isso, também, a uma reversão àquelas crenças irracionais e supersticiosas que se

insinuaram imperceptivelmente nos ensinamentos de Jesus Cristo, no primeiro século da era cristã, as

quais, cristalizando-se até se tornarem dogmas estabelecidos, tem diminuído a eficácia da Fé Cristã e

lhe obscurecido o alvo.

O comentário escrito pelo próprio 'Abdu'l-Bahá sobre a Epístola do Ramo é:

"Afirmo que o verdadeiro sentido, o significado real, o segredo íntimo destes versículos,

destas palavras, é minha servitude ao sagrado Limiar da Beleza de Abhá, minha

abnegação completa, e consciência de ser absolutamente nada perante Ele. Constitui isso

minha coroa resplandecente, meu mais precioso adorno. Disso me orgulho no reino da

terra e do céu. Está nisso minha glória na companhia dos favorecidos!"

Ele nos adverte na passagem que segue logo depois:

"A ninguém é permitido dar a estes versículos qualquer outra interpretação."

E afirma, sobre o mesmo ponto:

"De acordo com os textos explícitos do Kitáb-i-Aqdas e do Kitáb-i-'Ahd, Eu sou o

Intérprete manifesto da Palavra de Deus... Quem se desviar de minha interpretação será

vítima de sua própria fantasia."

Além disso, a inevitável dedução da crença na identidade do Autor da nossa Fé com Aquele que

é o Centro de Seu Convênio, seria a de colocar 'Abdu'l-Bahá em uma posição superior à do Báb,

quando justamente o inverso – muito embora ainda não reconhecido universalmente – é o princípio

fundamental desta Revelação. Isso justificaria, também, a acusação com que os violadores do

Convênio, durante todo o ministério de 'Abdu'l-Bahá, tentaram envenenar as mentes dos leais adeptos

de Bahá'u'lláh e perverter-lhes a compreensão.

Seria mais correto, como também estaria mais de acordo com os princípios estabelecidos por

Bahá'u'lláh e pelo Báb se, em vez de mantermos essa identidade fictícia com relação a 'Abdu'l-Bahá,

considerássemos como idênticos, na realidade, o Precursor e o Fundador de nossa Fé – verdade essa

que o texto do Súratu'l-Haykal afirma inequivocamente. A declaração de Bahá'u'lláh é explícita:

"Tivesse o Ponto Primordial (o Báb) sido outro, como pretendeis, e não Eu mesmo e

tivesse Ele atingido Minha Presença, nunca teria Ele permitido, na verdade, separar-se

de Mim; antes, haveríamos Nós nos deleitado mutuamente com a companhia, um do

outro, em Meus Dias."
E afirma Bahá'u'lláh ainda outra vez:

"Aquele que agora faz ouvir a Palavra de Deus não é senão o Ponto Primordial que

novamente se manifestou."

E diz referindo-Se a Si próprio, numa Epístola dirigida a uma das Letras da Vida:

"Ele é o mesmo que apareceu no ano sessenta (1260 após a Hégira). Este é, em verdade,

um de Seus poderosos sinais."
E é Seu apelo no Súriy-i-Damm:

"Quem se levantará para conseguir o triunfo da Beleza Primordial (o Báb) revelada no

semblante de Seu Manifestante subseqüente?"

E, referindo-se à Revelação proclamada pelo Báb, por outro lado, Ele a caracteriza como

"Minha própria Revelação anterior".

Numa declaração de 'Abdu'l-Bahá dirigida a alguns Bahá'ís da América do Norte, encontramos

mais uma exposição, clara e enfática, dos pontos que desejo acentuar neste capítulo: que 'Abdu'l-Bahá

não é Manifestante de Deus, que recebe Sua luz, Sua inspiração e Seu sustento diretamente da Fonte

Principal da Revelação Bahá'í; que é como um espelho límpido e perfeito que reflete os raios da glória

de Bahá'u'lláh, não possuindo inerentemente aquela realidade que desafia definição, que tudo penetra e

abarca – realidade essa que é o distintivo do Profeta única e exclusivamente; que Suas palavras não são

iguais em grau, embora possuam a mesma validade que as de Bahá'u'lláh; e que Ele não deve ser

aclamado como Jesus Cristo que tenha voltado – o Filho que virá "na glória do Pai". Em conclusão,

cito as referidas palavras de 'Abdu'l-Bahá:

"Escrevestes que há uma divergência entre os crentes a respeito da 'Segunda Vinda de

Cristo'. Deus Misericordioso! Inúmeras vezes tem surgido essa questão, e a resposta tem

emanado da pena de 'Abdu'l-Bahá em termos claros e irrefutáveis: o 'Senhor dos

Exércitos' e o 'Cristo Prometido' mencionados nas profecias referem-se à Abençoada

Perfeição (Bahá'u'lláh) e à Sua Santidade, o Excelso (o Báb). Meu nome é 'Abdu'l-

Bahá. Minha qualificação é 'Abdu'l-Bahá. Minha realidade é 'Abdu'l-Bahá. Meu louvor

é 'Abdu'l-Bahá. Ser escravo no limiar da Abençoada Perfeição é meu diadema glorioso

e refulgente, e servir a toda a humanidade é minha religião perpétua... Nenhum nome,

nenhum título, nenhuma menção, nenhuma recomendação tenho, nem terei jamais, a não

ser 'Abdu'l-Bahá. É isso o que desejo – é minha maior aspiração. É minha vida eterna,

minha glória imperecível."
A ORDEM ADMINISTRATIVA

Queridos companheiros de 'Abdu'l-Bahá! Com a ascensão de Bahá'u'lláh, a Estrela d'Alva da

Guia Divina que – como foi predito por Shaykh Ahmad e Siyyid Kázim, despontou em Shíráz, e,

durante o seu percurso para o Ocidente, atingiu o seu zênite em Adrianópolis, mergulhou no horizonte

de 'Akká, para não ressurgir antes de um ciclo de mil anos. Com o ocaso de tão fulgente Orbe,

terminara definitivamente a época da Revelação Divina – a etapa inicial e mais vitalizadora de toda a

era bahá'í. Este período, inaugurado pelo Báb e culminando com Bahá'u'lláh, que havia sido

antecipado e elogiado pela inteira companhia dos Profetas deste grandioso ciclo profético, foi

caracterizado por quase cinqüenta anos de Revelação contínua e progressiva – excetuando-se apenas o

pequeno intervalo entre o martírio do Báb e as comoventes experiências de Bahá'u'lláh no Síyáh-Chal

de Teerã. No que diz respeito à sua duração e à sua fecundidade, devemos considerar este período

como sem paralelo em toda a história espiritual do mundo.

O falecimento de 'Abdu'l-Bahá, por outro lado, assinala o término da Idade Heróica e

Apostólica desta mesma Dispensação – do período primitivo de nossa Fé, cujos esplendores jamais

serão rivalizados, e muito menos eclipsados, pela grandeza que há forçosamente de distinguir as futuras

vitórias da Revelação de Bahá'u'lláh. Pois nem o que realizaram os campeões na ereção das

instituições atuais da Fé Bahá'í, nem os triunfos assombrosos que os heróis de sua Idade Áurea hão de

conseguir nos dias vindouros, podem ser comparados, ou incluídos na mesma categoria, com as

maravilhosas obras associadas aos nomes daqueles que lhe geraram a própria vida e lançaram os

alicerces prístinos. O primeiro período da era bahá'í, o período criador, deve sobressair pela sua própria

natureza, distinguindo-se do período formativo em que já entramos e, igualmente, da idade áurea

destinada a sucedê-lo.

'Abdu'l-Bahá, que encarna uma instituição sem paralelo nos reconhecidos sistemas religiosos

do mundo, encerrou, pode-se dizer, a Era à qual Ele mesmo pertencia, e abriu esta em que nós agora

trabalhamos. Assim, pois, Seu Testamento deve ser considerado o elo perpétuo, indissolúvel, que a

mente dAquele que é o Mistério de Deus concebeu a fim de assegurar a continuidade dos três períodos

que constituem as partes componentes da Revelação Bahá'í. O período em que a semente da Fé havia

pouco a pouco germinado, fica deste modo entrelaçado com este que deve presenciar sua florescência,

como também com o ulterior, no qual a semente terá produzido finalmente seus frutos dourados.

As energias criadoras liberadas pela Lei de Bahá'u'lláh, penetrando e evoluindo na mente de

'Abdu'l-Bahá, produziram, pelo próprio contato e pela íntima interação, um Instrumento que pode ser

considerado a Carta da Nova Ordem Mundial, a qual é, a um tempo, a glória e a promessa desta

Dispensação suprema. Assim, pode-se aclamar o Testamento como o fruto inevitável do intercurso

místico entre Aquele que comunicou a influência geradora de Seu Plano Divino, e aquele que era seu

veículo, o escolhido recipiente. Sendo o Testamento de 'Abdu'l-Bahá, pois, o Filho do Convênio –

Herdeiro tanto do Originador como do Intérprete da Lei de Deus – é tão impossível separá-lo dAquele

que forneceu o impulso original, motivador, como dAquele que ulteriormente o concebeu. Devemos

nos lembrar sempre de que o plano inescrutável de Bahá'u'lláh se infundiu tão completamente na

conduta de 'Abdu'l-Bahá, e os motivos de ambos se uniram tão intimamente, que a mera tentativa de

desassociar os ensinamentos do primeiro, de qualquer sistema estabelecido pelo Exemplar ideal destes

mesmos ensinamentos, constituiria em si, um repúdio a uma das verdades mais sagradas e

fundamentais da Fé.

A Ordem Administrativa – que vem evoluindo desde a ascensão de 'Abdu'l-Bahá,

estabelecendo-se ante os nossos olhos em nada menos de quarenta dos países do mundo* – pode ser

considerada a estrutura do próprio Testamento, a inviolável cidadela em que o filho recém-nascido está

sendo nutrido e desenvolvido. Essa Ordem Administrativa, à medida que se for estendendo e

consolidando, haverá certamente de manifestar as potencialidades e o pleno significado deste poderoso

Documento, a mais notável expressão da Vontade de uma das mais notáveis Figuras da Revelação de

Bahá'u'lláh. Assim que suas partes componentes, suas instituições orgânicas, entrem em

funcionamento com eficiência e vigor, essa Ordem reivindicará sua pretensão e demonstrará sua

capacidade de ser considerada não somente o núcleo, mas o verdadeiro padrão da Nova Ordem

Mundial destinada a abranger, na plenitude dos tempos, a humanidade inteira.

*Escrito em 1934. N.T.

Devemos notar que esta Ordem Administrativa difere fundamentalmente de qualquer coisa

estabelecida pelos Profetas do passado, pois foi o próprio Bahá'u'lláh quem revelou os princípios e

determinou as instituições desta Ordem, designando a pessoa para interpretar Sua Palavra e concedendo

a devida autoridade ao organismo destinado a suplementar e aplicar Suas ordenanças legislativas. Aí

está o segredo da força da Ordem Administrativa, a distinção fundamental e a garantia contra a

desintegração e o cisma. Em parte alguma das Sagradas Escrituras de qualquer dos sistemas religiosos

do mundo, nem mesmo nos escritos do Inaugurador da Dispensação Bábí, encontramos provisões que

estabeleçam um convênio ou uma ordem administrativa que possam ser comparados – no que diz

respeito a seu âmbito e sua autoridade – com aqueles que estão na própria base da Revelação Bahá'í.

Tomemos, por exemplo, duas que se sobressaem entre as reconhecidas religiões do mundo, duas das

mais largamente difundidas, o cristianismo e o islamismo. Oferecem elas algo que possa ser

considerado igual ou equivalente ao Livro do Convênio de Bahá'u'lláh, ou ao Testamento de 'Abdu'l-

Bahá? Será que o texto do Evangelho ou o do Alcorão conferem autoridade suficiente àqueles líderes e

concílios que têm reclamado o direito e assumido a função de interpretar as provisões de suas sagradas

escrituras e de administrar os assuntos das suas respectivas comunidades? Pode Pedro, reconhecido

chefe dos apóstolos, ou o Imáme Alí, o primo e legítimo sucessor do Profeta, exibir em apoio da

primazia com que ambos foram investidos, afirmativas escritas e explícitas de Cristo e de Muhammad

que tivessem feito silenciar aqueles que, tanto entre seus contemporâneos como posteriormente, lhes

negaram a autoridade e precipitaram com as ações os cismas que persistem até os dias presentes? Onde

encontraremos nas palavras registradas de Jesus Cristo – bem podemos perguntar – quer seja sobre o

assunto da sucessão, quer no sentido de prover um código de leis específicas e ordenanças

administrativas claramente definidas – em distinção a princípios puramente espirituais – onde,

perguntamos, encontraremos algo que se aproxime das detalhadas injunções, leis e advertências tão

abundantes nas palavras autênticas tanto de Bahá'u'lláh como de 'Abdu'l-Bahá? Pode alguma

passagem do Alcorão – o qual, a respeito de seu código legal, suas ordenanças administrativas e

devocionais, assinala já um notável progresso sobre as Revelações anteriores e mais corruptas – ser

construída como se tivesse colocado sobre uma base inatacável a autoridade indiscutível com que

Muhammad, verbalmente e em várias ocasiões, investiu o Seu sucessor? Se bem que o Autor da

Revelação Bábí conseguisse, mediante as provisões do Bayán Persa, evitar um cisma tão permanente e

catastrófico como aqueles que afligiram o cristianismo e o islamismo, será que poderíamos afirmar

haver Ele produzido, a fim de salvaguardar Sua Fé, instrumentos tão bem definidos e da mesma

eficácia dos que hão de preservar, para todo o sempre, a união dos organizados seguidores da Fé

Bahá'í?

Dentre todas as Revelações, até a época atual, somente esta Fé – graças às explícitas instruções,

às repetidas advertências e aos autênticos meios de proteção incorporados e elaborados em seus

ensinamentos – conseguiu erigir uma estrutura da qual os adeptos de credos falidos e quebrados bem

poderiam se aproximar em sua perplexidade, a fim de examiná-la com atenção e procurar, antes que

seja tarde demais, a segurança invulnerável de seu refúgio mundial.

Não é de se admirar que Aquele que inaugurou com Seu Testamento uma Ordem tão vasta e

incomparável, Aquele que é o Centro de tão grandioso Convênio – tivesse escrito estas palavras:

"Tão firme e poderoso é este Convênio que nunca, desde o começo do tempo até o dia

de hoje, nenhuma Era religiosa produziu igual."

Escreveu Ele durante os dias mais escuros e perigosos de Seu ministério:

"Qualquer coisa que esteja latente no recôndito deste sagrado ciclo há de aparecer e se

tornar manifesto gradativamente, pois agora é apenas o começo de seu crescimento e a

aurora da revelação de seus sinais."

Então Suas palavras são confortadoras, prognosticando o surgir da Ordem Administrativa

estabelecida por Seu Testamento:

"Não tenhais receio se este Ramo for cortado deste mundo material e despido de suas

folhas; não, as folhas hão de medrar, pois este Ramo crescerá após haver sido cortado

deste mundo inferior, atingirá os pináculos da glória, e dará frutos cuja fragrância há de

perfumar o mundo."

Essa Ordem Administrativa – ou seja a futura Comunidade Mundial Bahá'í, em sua forma

rudimentar – é destinada a manifestar poder e majestade incomparáveis, pois a que outra coisa, senão a

isso, podem aludir as seguintes palavras de Bahá'u'lláh?

"O equilíbrio do mundo foi perturbado pela influência vibrante desta nova e mais

imponente Ordem Mundial. Revolucionou-se a vida ordenada do homem, em virtude

deste Sistema sem paralelo, maravilhoso – cujo igual jamais foi visto por olhos mortais."

O próprio Báb, em Suas referências "Àquele que Deus tornará manifesto", antecipa o Sistema e

glorifica a Ordem Mundial que a Revelação de Bahá'u'lláh é destinada a desenvolver. Sua

extraordinária afirmação no terceiro capítulo do Bayán persa é:

"Bem-aventurado aquele que dirigir o olhar à Ordem de Bahá'u'lláh e agradecer a seu

Senhor! Pois Ele há seguramente, de se manifestar. Deus, em verdade, ordenou isso,

irrevogavelmente, no Bayán."

Alguns fracos vislumbres – os primeiros prenúncios da natureza da Ordem Administrativa e de

sua atuação – as quais eram destinadas a ser proclamadas e formalmente estabelecidas em época

posterior, pelo Testamento de 'Abdu'l-Bahá, já podemos discernir nas Epístolas de Bahá'u'lláh que

designam e estabelecem formalmente as instituições das Casas de Justiça Nacionais e Locais: na

instituição das Mãos da Causa de Deus, criada primeiro por Bahá'u'lláh e depois por 'Abdu'l-Bahá; na

instituição das Assembléias, tanto nacionais como locais, que já funcionavam em estado embrionário

antes da ascensão de 'Abdu'l-Bahá, e na autoridade que o Autor de nossa Fé e o Centro de Seu

Convênio, segundo Suas Epístolas, se dignaram conferir a estas; na instituição do Fundo Local que

operava de acordo com as específicas injunções de 'Abdu'l-Bahá dirigidas a certas Assembléias no Irã,

nos versículos do Kitáb-i-Aqdas que antecipam claramente a instituição da Guardiania; e na explicação

dada por 'Abdu'l-Bahá numa Epístola, com especial ênfase, do princípio hereditário e da lei da

primogenitura, como havendo sido sustentados pelos Profetas do passado. Parece-me oportuno, a esta

altura, tentar uma explicação do caráter e das funções dos pilares gêmeos que sustentam esta poderosa

Estrutura Administrativa – as instituições da Guardiania e da Casa Universal de Justiça. Uma descrição

completa, porém, dos vários elementos que funcionam em conjunto com essas instituições, está além

do âmbito e do objetivo desta exposição geral das verdades fundamentais da Fé. Definir acurada e

minuciosamente as feições, e fazer uma análise completa, por um lado, da relação que liga esses dois

órgãos fundamentais do Testamento de 'Abdu'l-Bahá, e, por outro, da relação que une cada um destes

ao Autor da Fé e ao Centro de Seu Convênio, é uma tarefa que futuras gerações cumprirão, sem dúvida,

de um modo adequado. É minha intenção aqui elaborar certas feições salientes deste esquema, as quais,

embora nós estejamos muito próximos ainda de sua estrutura colossal, já se definiram com tal clareza

que não teremos desculpa se as concebermos erroneamente ou lhes negarmos a devida atenção.

Deve-se afirmar, antes de tudo, em termos claros e inequívocos, que essas instituições gêmeas

da Ordem Administrativa de Bahá'u'lláh têm que ser consideradas divinas em sua origem, essenciais

em suas funções, e complementares quanto a seu objetivo e seu propósito. O que ambas visam,

fundamentalmente, é garantir a permanência daquela autoridade divinamente concedida que emana da

Fonte de nossa Fé, salvaguardar a união de seus seguidores, e manter a integridade e a flexibilidade de

seus ensinamentos. Operando em conjunto, estas duas instituições inseparáveis tratam de lhe

administrar os afazeres, coordenar as atividades, promover os interesses, executar as leis e defender as

instituições subsidiárias. Cada instituição funciona dentro de uma bem definida esfera de jurisdição,

tendo também suas próprias instituições auxiliares – instrumentos designados para o eficiente

desempenho de suas responsabilidades e obrigações especiais. Exerce cada uma, dentro dos limites que

lhe são impostos, seus poderes, sua autoridade, seus direitos e suas prerrogativas, os quais não são

contraditórios, nem detraem, no mínimo grau, da posição que cada uma destas instituições ocupa.

Longe de serem incompatíveis ou mutuamente destrutivas, suplementam a autoridade e as funções uma

da outra, e são permanente e fundamentalmente unidas em seus objetivos.

Separada da instituição da Guardiania, a Ordem Mundial de Bahá'u'lláh ficaria mutilada e

privar-se-ia, permanentemente, daquele princípio hereditário que foi sempre sustentado pela Lei de

Deus, segundo nos disse 'Abdu'l-Bahá. Numa Epístola dirigida a um adepto da Fé na Pérsia, afirma

Ele:

"Em todas as Revelações Divinas deram ao filho mais velho distinções extraordinárias.

Até mesmo o grau de profeta era seu direito hereditário."

Sem essa instituição, correria perigo a integridade da Fé, e a estabilidade da estrutura inteira

correria grave perigo. Isso lhe prejudicaria o prestígio, e faltar-lhe-iam, completamente, os meios

necessários para conseguir uma visão longa, ininterrupta, abrangendo uma séria de gerações, como

também seria retirada totalmente a orientação indispensável para definir a esfera da ação legislativa de

seus representantes eleitos.

E se fosse separado da outra instituição, não menos essencial, isto é, da Casa Universal de

Justiça, este mesmo Sistema previsto pelo Testamento de 'Abdu'l-Bahá veria paralisar-se sua ação, e

privar-se-ia, em absoluto, do poder de encher aquelas lacunas que o Autor do Kitáb-i-Aqdas deixou,

deliberadamente, em Seu código legislativo e administrativo.

'Abdu'l-Bahá assevera, referindo-se às funções do Guardião da Fé, usando em Seu Testamento

o mesmo termo que Ele próprio escolhera ao refutar o argumento daqueles violadores do Convênio que

haviam desafiado Seu direito de interpretar as palavras de Bahá'u'lláh:

"Ele é o Intérprete da Palavra de Deus."
E acrescenta:

"Após Ele, sucederá o primogênito de Seus descendentes diretos."

Ele ainda expõe:

"A poderosa cidadela conservar-se-á inexpugnável e segura em virtude da obediência

àquele que é o Guardião da Causa de Deus. Incumbe aos membros da Casa de Justiça, a

todos os Aghsán e Afnán, às Mãos da Causa de Deus, demonstrar sua obediência,

submissão e subordinação ao Guardião da Causa de Deus."

Por outro lado, na Oitava Folha do Exaltado Paraíso, Bahá'u'lláh declara:

"Incumbe aos membros da Casa de Justiça deliberarem acerca dos assuntos que não

foram revelados exteriormente no Livro, e executar o que lhes aprouver. Deus, em

verdade, inspirá-los-á com qualquer coisa que Ele queria, e Ele é, em verdade, o

Provedor, o Onisciente."

Ao Sacratíssimo Livro (o Kitáb-i-Aqdas), afirma 'Abdu'l-Bahá em Seu Testamento:

"... deve cada um se dirigir, e qualquer assunto que nele não esteja expressamente

tratado deve ser referido à Casa Universal de Justiça. O que esta decidir, quer seja por

unanimidade quer por maioria, será, de fato, a verdade, e aquilo que o próprio Deus

deseja. Quem disso se desviar, será realmente um daqueles que amam a discórdia, terá

mostrado malícia e se desviado do Senhor do Convênio."

E 'Abdu'l-Bahá, em Seu Testamento, não só confirma a declaração de Bahá'u'lláh supracitada,

mas também investe a Casa Universal de Justiça com o direito e o poder de ab-rogar, segundo as

exigências do tempo, sua própria legislação, bem como a de uma Casa de Justiça anterior. É Sua

explícita afirmação em Seu Testamento:

"Assim como a Casa de Justiça tem o poder de fazer leis que não estejam expressamente

registradas no Livro e que tratem de transações diárias, tem ela também o poder de

anulá-las... Pode fazer isso porque estas leis não formam parte do explícito texto divino."

Com referência ao Guardião e à Casa de Justiça Universal, lemos estas palavras enfáticas:

"O sagrado e jovem Ramo, o Guardião da Causa de Deus, bem como a Casa Universal

de Justiça, a ser universalmente eleita e estabelecida, estão ambos sob o cuidado e a

proteção da Beleza de Abhá, protegidos e guiados infalivelmente pelo Excelso, o Báb.

Que minha vida seja oferecida por ambos! Qualquer coisa que eles decidam, é de Deus."

Em vista destas asserções, pois, torna-se indubitavelmente claro e evidente ser o Guardião da Fé

o designado Intérprete da Palavra, e a Casa Universal de Justiça a instituição investida com a função de

legislar sobre assuntos não expressamente tratados nos ensinamentos. A interpretação do Guardião, que

funciona dentro de sua própria esfera, é tão autorizada e incondicional como o é a legislação da Casa

Universal de Justiça, a qual tem a prerrogativa, o direito exclusivo, de dar o parecer e a decisão final

nos casos em que Bahá'u'lláh não revelou expressamente leis e ordenanças. Nenhuma das duas

instituições poderá, nem há de querer jamais infringir o sagrado domínio prescrito para a outra.

Nenhuma delas tentará diminuir a específica e indubitável autoridade com que foram ambas

divinamente investidas.

Embora o Guardião da Fé tenha sido designado o permanente chefe de tão augusto organismo,

jamais ele poderá, nem sequer provisoriamente, assumir o direito de legislação exclusiva. Não poderá

superar a decisão da maioria de seus co-membros, mas será obrigado a insistir que estes reconsiderem

qualquer legislação que a consciência lhe mostre ser contrária ao sentido e ao espírito das palavras

reveladas por Bahá'u'lláh. Ele interpreta o que foi especificamente revelado, e não pode legislar senão

em sua capacidade de membro da Casa Universal de Justiça. Não lhe é permitido estabelecer

independentemente a constituição destinada a governar as atividades organizadas de seus co-membros,

como tampouco deve ele exercer sua influência de uma maneira que possa usurpar a liberdade daqueles

que têm o sagrado direito de eleger o corpo de seus colaboradores.

Devemos lembrar-nos de que 'Abdu'l-Bahá antecipara a instituição da Guardiania, muito antes

de Sua própria ascensão, como evidencia uma alusão que Ele fez numa Epístola dirigida a três de Seus

amigos na Pérsia. Haviam estes perguntado se seria indicada alguma pessoa a quem todos os Bahá'ís se

devessem dirigir após Sua ascensão, ao que 'Abdu'l-Bahá deu a seguinte resposta:

"Quanto à pergunta que me fizestes, deveis saber, em verdade, que isso é um segredo

bem guardado. Assemelha-se a uma jóia oculta dentro de sua concha. Predestina-se a ser

revelado. Tempo virá em que sua luz aparecerá, suas evidências se tornarão manifestas,

e seus segredos desvendar-se-ão."

Caríssimos amigos! A despeito da elevada posição da Guardiania e da função vital desta

instituição na Ordem Administrativa de Bahá'u'lláh, e por mais acabrunhadora que deva ser a

responsabilidade que pesa sobre ela, não se deve, de modo algum, exagerar sua importância, não

obstante a linguagem do Testamento. Por grandes que sejam os méritos ou as realizações do Guardião

da Fé, jamais deverá ele, sob quaisquer circunstâncias, ser exaltado ao grau que lhe permita participar,

com 'Abdu'l-Bahá, da posição ímpar que o Centro do Convênio ocupa, e muito menos ainda deverá ser

elevado à condição ordenada exclusivamente para o Manifestante de Deus. Tão grave divergência dos

preceitos estabelecidos de nossa Fé nada menos é que aberta blasfêmia. Como já tive ocasião de expor,

ao tratar da posição de 'Abdu'l-Bahá, o abismo que O separa do Autor de uma Revelação Divina, se

bem que vasto, nunca pode ser comensurável com a distância entre Aquele que é o Centro do Convênio

de Bahá'u'lláh e os Guardiões escolhidos como os ministros deste Convênio. Muito, muito maior é a

distância que separa o Guardião e o Centro do Convênio, do que a que existe entre o Centro do

Convênio e seu Autor.

Sinto-me constrangido a fazer a seguinte declaração para ser registrada: nenhum Guardião da Fé

jamais poderá dizer-se o perfeito exemplar dos ensinamentos de Bahá'u'lláh, o espelho imaculado que

reflita Sua luz. Embora esteja à sombra da proteção constante, infalível, de Bahá'u'lláh e do Báb, e

ainda que participe, com 'Abdu'l-Bahá, do direito e da obrigação de interpretar os ensinamentos

Bahá'ís, ele é, não obstante, essencialmente humano e, se deseja ser fiel à sua incumbência, não pode

arrogar a si, sob pretexto algum, os direitos, os privilégios e as prerrogativas que Bahá'u'lláh se dignou

conferir ao Seu Filho. À luz desta verdade, pois, se orássemos ao Guardião da Fé ou o chamássemos de

senhor e mestre, ou o designássemos como sua santidade, procurando sua benção, ou se

comemorássemos seu aniversário natalício ou qualquer acontecimento de sua vida, estaríamos

divergindo daquelas verdades estabelecidas que nossa amada Fé encerra. O fato de haver sido o

Guardião especificamente dotado daquele poder que lhe é necessário, para que ele possa revelar o

intuito e o significado das palavras de Bahá'u'lláh não quer dizer que lhe tenha sido conferida uma

posição igual à dAqueles cujas palavras é incumbido de interpretar. Ele pode exercer este direito, e

desempenhar essa obrigação, e contudo permanecer infinitamente inferior a ambos quanto à posição, e

diferente em natureza.

Abundante testemunho da integridade deste princípio cardeal de nossa Fé, devemos encontrar

nas palavras e nos atos dos seus Guardiões presentes e futuros. Pela conduta e pelo exemplo deverão

eles estabelecer a verdade deste princípio sobre um alicerce inatacável, e transmitir, a futuras gerações,

evidências irrefutáveis desta realidade.

Se eu, da minha parte, hesitasse em reconhecer uma verdade tão vital, ou vacilasse em

proclamar tão firme convicção, isso constituiria uma vergonhosa traição da confiança depositada em

mim por 'Abdu'l-Bahá e uma imperdoável usurpação da autoridade com que Ele mesmo foi investido.

Seria oportuna aqui uma palavra sobre a teoria em que se baseia esta Ordem Administrativa, e

sobre o princípio que deve governar a operação de suas mais importantes instituições. Criaríamos uma

impressão inteiramente errada, se tentássemos fazer uma comparação, sequer, entre esta Ordem sem

paralelo, divinamente concebida, e qualquer um dos diversos sistemas inventados pelas mentes dos

homens, nos vários períodos da história, para o governo das instituições humanas. Tal tentativa

mostraria que nos falta uma adequada apreciação de tão excelente obra do seu grande Autor. Bem

sabemos que não poderia ser de outro modo quando nos lembramos de que esta Ordem constitui o

verdadeiro padrão daquela civilização divina destinada a ser estabelecida na terra pela Lei toda

poderosa de Bahá'u'lláh. Os sistemas políticos humanos, diversos e instáveis que são, sejam do

passado ou do presente, quer tenham se originado no Oriente, quer no Ocidente – não oferecem

nenhum critério adequado segundo o qual se possa estimar a potência de suas virtudes ocultas, ou

avaliar a solidez de seus alicerces.

A comunidade Bahá'í do futuro, alicerçada unicamente sobre esta vasta Ordem Administrativa,

não só desafia qualquer comparação em toda a história das instituições políticas, mas também não

encontra paralelo nos anais de qualquer um dos reconhecidos sistemas religiosos do mundo, quer seja

em teoria quer na prática. Forma alguma de governo democrático; sistema algum de autocracia ou de

ditadura, quer monárquico, quer republicano; nenhum esquema de ordem puramente aristocrático; nem

mesmo qualquer dos reconhecidos tipos de teocracia – seja da comunidade hebraica, ou das várias

organizações eclesiásticas cristãs, ou da dos imames ou do califado no islã – nenhum destes pode ser

considerado idêntico ou conforme a Ordem Administrativa moldada pela mão mestra de seu Arquiteto

perfeito.

Esta recém-nascida Ordem Administrativa incorpora, dentro de sua estrutura, certos elementos

que se encontram em cada uma das três reconhecidas formas de governo temporal, sem que ela seja,

em sentido algum, mera réplica de qualquer destas, e sem que introduza, dentro de seu mecanismo,

qualquer uma das feições desfavoráveis que elas inerentemente possuem. Esta Ordem une e harmoniza

as verdades salutares contidas, sem dúvida, em cada um destes sistemas – coisa que governo algum

moldado por mãos mortais até agora conseguiu fazer – e sem, contudo, viciar a integridade daquelas

verdades divinas em que, em última análise, se baseia.

De modo algum deve-se considerar como puramente democrática em caráter a Ordem

Administrativa da Fé de Bahá'u'lláh, desde que esta dispensação carece em absoluto, da assunção

básica segundo a qual todas as democracias têm de depender do povo, fundamentalmente, para seu

mandato. Quando tratam da administração da Fé e da legislação necessária para suplementar as leis do

Kitáb-i-Aqdas, os membros da Casa Universal de Justiça – devemos sempre nos lembrar – segundo

indicam claramente as palavras de Bahá'u'lláh – não são responsáveis perante as pessoas que eles

representam nem lhes é permitido guiar-se pelos sentimentos, pela opinião geral, ou mesmo pelas

convicções das massas dos fiéis, ou daqueles que diretamente os elegeram. Devem seguir, antes, numa

atitude de prece, a orientação e os ditames da própria consciência. Podem – ainda mais, devem –

procurar conhecer as condições que prevalecem entre a comunidade, e devem pesar em suas mentes,

desapaixonadamente, os méritos de qualquer caso que lhes seja apresentado para consideração, mas

devem contudo reservar para si o direito de uma decisão irrestrita. "Deus, em verdade, inspirá-los-á

com aquilo que Lhe aprouver", é a asseveração incontrastável de Bahá'u'lláh. Assim, pois, eles – e não

as pessoas que, direta ou indiretamente, os elegem – são os recipientes da orientação divina que é, a um

tempo, o sangue vital e a salvaguarda final desta Revelação. Além disto, aquele que simboliza o

princípio hereditário nesta Revelação foi designado o intérprete das palavras de seu Autor e, por

conseguinte, em virtude da autoridade real de que foi investido, deixa de ser a figura passiva associada

invariavelmente aos prevalecentes sistemas de monarquias constitucionais.

Nem pode a Ordem Administrativa Bahá'í ser relegada à categoria de sistema rígido, inflexível,

de uma autocracia incondicional, nem tampouco à de uma vã imitação de qualquer forma de governo

eclesiástico absolutista – quer seja o papado, o imanato, ou qualquer outra instituição semelhante, por

esta razão óbvia: foi concedido aos representantes internacionais pelos adeptos de Bahá'u'lláh o direito

exclusivo de legislar sobre questão não expressamente tratadas nas escrituras Bahá'ís. Jamais poderá o

Guardião da Fé, ou qualquer outra instituição, a não ser a Casa Universal de Justiça, usurpar este poder

vital, essencial, ou infringir este sagrado direito. Ainda mais evidência do caráter não-autocrático da

Ordem Administrativa Bahá'í e de sua inclinação para métodos democráticos, vemo-las na abolição do

clero profissional com seus sacramentos de batismo, comunhão e confissão de pecados, bem como nas

leis que requerem a eleição por sufrágio universal de todas as Casas de Justiça Locais, Nacionais e

Internacional, e na completa ausência de autoridade episcopal com os privilégios, as corrupções e as

tendências burocráticas que a acompanham.

Nem deve essa Ordem, identificada com o nome de Bahá'u'lláh, ser confundida com qualquer

sistema de governo puramente aristocrático, pois enquanto, por um lado, ela sustenta o princípio

hereditário, e confia ao Guardião da Fé a obrigação de interpretar seus ensinamentos, por outro,

providencia a eleição livre e direta, dentre os fiéis do corpo que constitui seu mais alto órgão

legislativo.

Embora não se possa dizer que esta Ordem Administrativa tenha sido modelada segundo

qualquer um dos reconhecidos sistemas de governo, ela incorpora, no entanto, dentro de sua estrutura e

reconcilia e assimila, alguns elementos salutares que se encontram em cada um deles. A autoridade

hereditária que o Guardião é incumbido de exercer, as funções vitais, essenciais, desempenhadas pela

Casa Universal de Justiça, as específicas provisões que exigem sua eleição democrática pelos

representantes dos fiéis – tudo isso demonstra a verdade deste fato: esta Ordem divinamente revelada,

se bem que não possa ser identificada com qualquer dos tipos padrões aos quais Aristóteles alude em

suas obras, aproveita, entretanto, os elementos benéficos possuídos por cada um destes, incorporados e

harmonizando-os com as verdades espirituais em que ela mesma se baseia. Sendo excluídos, rígida e

permanentemente, os reconhecidos males inerentes a cada um destes sistemas, esta Ordem

incomparável – nada importando quanto tempo dure ou quão extensamente se ramifique – jamais

poderá degenerar ao ponto de se tornar uma forma daquele despotismo ou daquela oligarquia ou

demagogia que, cedo ou tarde, corrompem o mecanismo de todas as instituições políticas –

essencialmente defeituosas que são – feitas pelo homem.

Caríssimos amigos! Por significativas que sejam as origens dessa poderosa estrutura

administrativa, e por incomparáveis que sejam suas características, não nos parecem menos notáveis os

acontecimentos que anunciaram – podemos dizer – seu nascimento, e que assimilaram a etapa inicial de

sua evolução. Como é nítido, e também edificante o contraste entre o processo da lenta e constante

consolidação que caracteriza o crescimento de sua força infantil e o ímpeto devastador das forças da

desintegração que atacam as instituições já obsoletas, tanto religiosas como seculares, da sociedade

atual!

A vitalidade tão claramente mostrada pelas instituições orgânicas desta grande Ordem, que se

expande com tanta rapidez; os obstáculos já vencidos pela alta coragem e destemida resolução de seus

administradores; o fogo de um entusiasmo inextinguível, ardendo aos corações de seus instrutores

itinerantes, com um fervor que não se esvaece; as alturas de abnegação agora sendo atingidas por seus

construtores campeões; a largueza de visão, a esperança confiante, a alegria criadora, a paz interior, a

integridade absoluta, a disciplina exemplar, a inabalável união e solidariedade que seus corajosos

defensores manifestam; o grau em que seu Espírito impulsor se tem mostrado capaz de assimilar,

dentro de seu âmbito, os mais divergentes elementos, purificando-os de toda forma de preconceito e

fundindo-os com sua própria estrutura – tudo isso evidencia um poder ao qual uma sociedade

desiludida e lastimavelmente agitada não deve deixar de dirigir a atenção.

Comparemos tão esplêndidas manifestações do espírito animando este corpo vibrante da Fé

Bahá'í, com os gritos e a agonia, as loucuras e as vaidades, a amargura e os preconceitos, a

perversidade e a divisão de um mundo enfermo e caótico. Vejamos o medo que atormenta seus líderes

e paralisa a ação de seus estadistas cegos e confusos. Como são violentos os ódios, falsas as ambições,

desprezíveis as ocupações, e profundamente arraigadas as suspeitas de seus povos! Quão alarmantes a

anarquia, a corrupção, a descrença, que corroem as vísceras de uma civilização cambaleante!

Não será que este processo de constante deterioração, agora invadindo insidiosamente tantos

setores de atividade e pensamentos humanos, deva ser considerado como necessariamente

concomitante ao surgir deste todo-poderoso Braço de Bahá'u'lláh? Não será que os momentosos

eventos que têm agitado tão profundamente todos os continentes da terra, no decorrer dos últimos vinte

anos, devam ser vistos como sinais ominosos proclamando simultaneamente a agonia de uma

civilização que se desintegra e as angústias do nascimento daquela Ordem Mundial – daquela Arca da

salvação humana – que há forçosamente de se erguer sobre suas ruínas?

O tumulto causado no mundo ao surgir este poderoso Órgão da Religião de Bahá'u'lláh é

atestado pela queda catastrófica de grandes monarquias e impérios no continente europeu, alguns dos

quais mencionados em Suas profecias; é atestado também, pelo declínio que começou, e ainda

continua, nas fortunas da hierarquia feita na própria terra natal de Bahá'u'lláh; pela queda da dinastia

de Qájár, o inimigo tradicional de Sua Fé, pelo desmoronamento do sultanado e do califado, pilares

estes do islã sunita – evento em que vemos um paralelo notável à destruição de Jerusalém em fins do

primeiro século da era cristã. É atestado pela onda de secularização que está invadindo as instituições

eclesiásticas maometanas no Egito, e minando a lealdade de seus mais firmes defensores; e vemos

ainda outra evidência nos humilhantes ataques dirigidos contra algumas das mais poderosas igrejas do

cristianismo na Rússia, na Europa Ocidental e na América Central; na disseminação daquelas doutrinas

subversivas que estão solapando os alicerces e derrubando a estrutura de cidadelas que pareciam

inexpugnáveis nas esferas social e política da atividade humana; e, afinal, nos sinais de uma catástrofe

iminente – fazendo lembrar extraordinariamente a queda do império romano no Ocidente – e que

ameaça engolfar a inteira estrutura de nossa civilização atual. E este tumulto há de ampliar seu âmbito e

aumentar sua intensidade na proporção em que se venha a compreender mais completamente o que

significa este Esquema que evolui ininterruptamente, ramificando-se e estendendo-se cada vez mais

sobre a superfície do globo.

Ainda uma palavra, em conclusão. O surgir e a consolidação desta Ordem Administrativa – a

concha que abriga e encerra tão preciosa jóia – constitui o distintivo do segundo período da era Bahá'í –

o período formativo. Virá a ser considerada, à medida que se afaste de nossos olhos, tornando-se cada

vez mais remota, como o principal agente incumbido de inaugurar a fase final, a consumação, desta

gloriosa Dispensação.

Que ninguém – enquanto este Sistema estiver ainda na infância – forme um conceito errôneo de

seu caráter, lhe diminua a significação ou lhe atribua um objetivo falso. A rocha que alicerça esta

Ordem Administrativa é o Propósito imutável de Deus para a humanidade de hoje. A Fonte de que

deriva sua inspiração não é outra senão o próprio Bahá'u'lláh. Seu escudo e seu defensor são as hostes

do Reino de Abhá, que lutam em batalha. Sua semente é o sangue de nada menos de vinte mil mártires

que ofereceram as vidas para que essa Ordem nascesse e se desenvolvesse. O eixo, em torno do qual

giram suas instituições, são as autênticas provisões da Última Vontade e Testamento de 'Abdu'l-Bahá.

Os princípios que a guiam são as verdades tão claramente enunciadas por Aquele Intérprete infalível

dos ensinamentos de nossa Fé, em Seus discursos públicos no Ocidente. As leis que lhe governa a

operação e limitam as funções são aquelas que foram expressamente ordenadas no Kitáb-i-Aqdas. A

sede na qual concentrar-se-ão suas atividades espirituais, humanitárias e administrativas é o

Mashriqu'l-Adhkár e as suas Dependências. Os pilares que lhe sustentam a autoridade e fortalecem a

estrutura são as instituições gêmeas da Guardiania e da Casa Universal de Justiça. O intuito central que

a baseia e anima é o estabelecimento da Nova Ordem Mundial, segundo esboçada por Bahá'u'lláh. Os

métodos que emprega, o padrão que ela inculca, não inclinam nem para Oriente nem Ocidente, judeu

ou gentio, nem para rico ou pobre, branco ou preto. Sua divisa é a unificação da espécie humana; seu

estandarte, a "Maior Paz"; sua consumação, o advento daquele milênio áureo – o Dia em que os reinos

deste mundo terão se transformado no Reino do próprio Deus, no Reino de Bahá'u'lláh.

SHOGHI
Haifa, Palestina.
8 de fevereiro de 1934
O DESENVOLVIMENTO
DA CIVILIZAÇÃO MUNDIAL
AOS AMADOS DE DEUS E
SERVAS DO MISERICORDIOSO NO OCIDENTE
Amigos e co-herdeiros da graça de Bahá'u'lláh,

Como seu companheiro na construção da Nova Ordem Mundial que a mente de Bahá'u'lláh

previu, e cujos aspectos distintivos a pena de 'Abdu'l-Bahá, seu Arquiteto perfeito, delineou, faço uma

pausa para contemplar com vocês o cenário que a revolução de quase 15 anos após Sua Ascensão

apresenta diante de nós.

O contraste das evidências cada vez maiores entre a sólida consolidação que acompanha o

crescimento da Ordem Administrativa da Fé de Deus e as forças de desintegração que estão demolindo

as estruturas de uma sociedade angustiada, é muito claro e impressionante. Tanto dentro como fora do

mundo bahá'í, os sinais e as evidências que, de uma forma misteriosa, estão anunciando o nascimento

daquela Ordem Mundial cujo estabelecimento sinaliza a Idade Áurea da Causa de Deus, estão

crescendo e se multiplicando dia a dia. Nenhum observador imparcial poderá deixar de discerni-los.

Não deverá deixar-se enganar pela aparente lentidão que caracteriza o desenvolvimento da civilização,

para cujo estabelecimento os seguidores de Bahá'u'lláh estão trabalhando. Nem poderá iludir-se pelas

manifestações efêmeras da volta de uma prosperidade que às vezes aparenta ser capaz de coibir a

influência destruidora dos males crônicos que afligem as instituições de uma era em decadência. Os

sinais dos tempos são por demais numerosos e avassaladores para permitir que alguém possa confundir

seu caráter ou ignorar seu significado. Se for justo em seu julgamento, poderá reconhecer a seqüência

de eventos que proclamam, de um lado a marcha irresistível das instituições diretamente associadas

com a Revelação de Bahá'u'lláh, e antecipam, por outro lado, a queda daqueles poderes e principados

que ignoraram ou se opuseram a ela – o observador pode reconhecer nesses eventos todas as evidências

da operação da irresistível Vontade de Deus e da existência de um Plano divino, perfeitamente

concebido e de alcance mundial.
As próprias palavras de Bahá'u'lláh proclamam:

"Breve será a presente ordem posta de lado, e uma nova se estenderá em seu lugar.

Deveras, teu Senhor diz a Verdade e é o Conhecedor das coisas invisíveis."

E declara solenemente:

"Por Meu próprio Ser! Aproxima-se o dia em que teremos posto de lado o mundo e tudo

o que nele se acha, e estendido uma nova ordem em seu lugar. Ele, em verdade, é

poderoso sobre todas as coisas."
E Ele explica:

"O equilíbrio do mundo foi alterado através da influência vibrante desta nova e mais

grandiosa Ordem Mundial. A vida regulada do gênero humano foi revolucionada por

meio deste Sistema único, maravilhoso – cujo igual jamais foi testemunhado por olhos

mortais."
Ele adverte os povos do mundo:

"Os sinais de caos e convulsões iminentes podem agora ser discernidos, desde que a

ordem que predomina parece ser lamentavelmente defeituosa."

Amigos muito queridos! Esta Nova Ordem Mundial, cuja promessa é uma das relíquias da

Revelação de Bahá'u'lláh, cujos princípios fundamentais foram enunciados nos Escritos do Centro de

Seu Convênio, abrange nada menos que a completa unificação da inteira raça humana. Esta unificação

deve estar de acordo com os princípios que diretamente se harmonizam com o espírito que anima e

com as leis que governam a operação das instituições que constituem a base estrutural da Ordem

Administrativa de Sua Fé.

Nenhuma maquinaria que os esforços coletivos da humanidade possam vir a conceber, que não

se harmonize com o padrão inculcado pela Revelação Bahá'í, e que esteja em desacordo com o padrão

sublime ordenado em Seus ensinamentos, jamais poderá conseguir algo superior ou além daquela "Paz

Menor" que o próprio Autor de nossa Fé aludiu em Seus escritos. Ele adverte por escrito aos reis e

governantes da terra:

"Agora que recusastes a Paz Maior, segurai-vos a essa, a Paz Menor, a fim de que talvez

possais melhorar em algum grau vossa própria condição e a daqueles que de vós

dependem."

Discorrendo sobre esta Paz Menor, Ele assim se dirige, naquela mesma Epístola, aos

governantes da terra:

"Sede reconciliados entre vós, para que não mais necessiteis de armamentos, salvo na

medida precisa a fim de proteger vossos territórios e domínios... Uni-vos, ó reis da terra,

pois assim a tempestade da discórdia se aquietará entre vós e vosso povo encontrará

sossego – se sois dos que compreendem. Se alguém dentre vós lançar mão de armas

contra outro, levantai-vos todos contra ele, pois isso nada mais é que justiça manifesta."

A Paz Máxima, por outro lado, conforme concebida por Bahá'u'lláh – uma paz que

inevitavelmente ocorrerá como conseqüência prática da espiritualização do mundo e da fusão de todas

as suas raças, credos, classes e nações – não poderá ser estabelecida sobre nenhuma outra base, nem

preservada através de nenhum outro meio senão pelos mandamentos divinos reveladas e que estão

implícitos na Ordem Mundial associada ao Seu Santo Nome. Em Sua Epístola à rainha Vitória,

revelada há cerca de setenta anos, Bahá'u'lláh, aludindo a esta Paz Máxima, declarou:

"O que o Senhor ordenou como o remédio soberano e o mais poderoso instrumento para

a cura do mundo inteiro é a união de todos os seus povos em uma Causa Universal, em

uma Fé comum. Isso de modo algum se há de realizar, salvo através do poder de um

Médico hábil, onipotente e inspirado. Isto, deveras, é a verdade, e tudo mais não é senão

erro... Considerai estes dias nos quais a Abençoada Beleza, Ele, que é o Máximo Nome,

foi enviado para regenerar e unificar a humanidade. Observai como, com espadas em

punho, se levantaram contra Ele, cometendo aquilo que fez tremer o Espírito Fiel. E

sempre que Ele lhes dizia: 'Vede, o Reformador do Mundo já veio!', eles respondiam:

'Ele, em verdade, é dos que incitam a injúria.'"
Ele, em outra Epístola, afirma:

"Cabe a todos os homens neste Dia segurarem-se ao Maior Nome e estabelecerem a

unidade de todo o gênero humano. Não há lugar para onde fugir, nem asilo que qualquer

um possa buscar, senão Ele."
A ERA DE MATURIDADE DA HUMANIDADE

A Revelação de Bahá'u'lláh, cuja suprema missão outra não é senão a realização desta unidade

orgânica e espiritual de todas as nações, deve ser considerada, se formos fiéis às suas implicações,

como sinalizando, com seu advento, a idade de maturidade da inteira raça humana. Ela deve ser vista

não apenas como mais uma renovação espiritual nos destinos sempre em transformação da

humanidade, nem apenas como um estágio superior em uma corrente de Revelações progressivas, nem

mesmo como a culminação de uma série de renovados ciclos proféticos, mas como a certeza do último

e mais elevado estágio na estupenda evolução da vida coletiva do ser humano neste planeta. A

emergência de uma comunidade mundial, a consciência da cidadania mundial, a fundação de uma

civilização e de uma cultura mundiais – tudo isso deve se sincronizar com os estágios iniciais do

desenvolvimento da Idade Áurea da era Bahá'í – devendo, em virtude de sua natureza, ser considerada,

no que concerne a esta vida planetária, como as fronteiras mais avançadas na organização da sociedade

humana, embora o homem, como indivíduo, continue, e até mesmo como resultado desta consumação,

indefinidamente a progredir e se desenvolver.

Tal mudança, mística, penetrante e completa, embora indefinível, que associamos ao estágio de

maturidade inevitável na vida do indivíduo e fruto de seu desenvolvimento, deve, se formos entender

corretamente as elocuções de Bahá'u'lláh, ter sua contrapartida na evolução da organização da

sociedade humana. Um estágio similar deverá, cedo ou tarde, ser alcançado na vida coletiva da

humanidade, produzindo um fenômeno ainda mais surpreendente nas relações mundiais e dotando a

inteira raça humana de tais potencialidades para seu bem-estar que deverá prover, através de idades

sucessivas, o principal incentivo exigido para o cumprimento final de seu elevado destino. Tal estágio

de maturidade no processo da governabilidade humana deverá, para sempre, se fielmente

reconhecermos a tremenda reivindicação de Bahá'u'lláh, permanecer identificado com a Revelação da

qual Ele é Portador.

Em uma das passagens mais marcantes que Ele próprio revelou, Bahá'u'lláh afirma, numa

linguagem para ninguém confundir, a verdade deste princípio básico da crença bahá'í:

"Foi decretado por Nós que a Palavra de Deus e todas as potencialidades dela

decorrentes serão manifestadas aos homens em estrita conformidade com as condições

pré-ordenadas por Ele, o Onipotente e Onisciente... Se a Palavra fosse revelada de

súbito, com todas as energias nela latentes, nenhum homem poderia suportar o peso de

tão poderosa Revelação... Considerai aquilo que foi enviado por Muhammad, o Apóstolo

de Deus. A medida da Revelação da qual Ele foi o Portador foi claramente pré-ordenada

por Ele que é o Onipotente, o Todo-Poderoso. Aqueles que O ouviram, no entanto,

puderam apreender Seu propósito somente na extensão de sua condição e capacidade

espiritual. Ele, da mesma forma, desvelou a Face da Sabedoria na proporção da

capacidade do povo em suportar o peso de Sua Mensagem. Não antes de ter alcançado o

estágio de maturidade, poderá a humanidade usufruir as energias latentes das quais foi

dotada decorrente da Palavra revelada – energias que se manifestaram na plenitude de

sua glória quando a Beleza Antiga apareceu, no ano sessenta, na pessoa de 'Alí-

Muhammad, o Báb."

'Abdu'l-Bahá, elucidando esta verdade fundamental, escreveu:

"Todas as coisas têm seu grau ou estágio de maturidade. O período de maturidade na

vida de uma árvore é o tempo de sua fruição... O animal também atinge a idade de seu

completo desenvolvimento, e no reino humano o homem chega à maturidade quando a

luz de sua inteligência atinge seu máximo poder e desenvolvimento... De forma

semelhante, existem períodos e estágios na vida coletiva da humanidade. Num tempo,

ela passou pela época da infância; em outro período, chegou à adolescência, mas agora

está adentrando a longamente anunciada fase de maturidade, cujas evidências aparecem

em toda parte... Aquilo que serviu às necessidades humanas durante os primórdios da

história da raça não pode mais atender ou satisfazer as demandas deste dia, um período

de novidades e realizações. A humanidade emergiu de seu antigo estado de limitação e

capacitação preliminar. O homem precisa agora imbuir-se de novas virtudes e poderes,

de novos padrões morais e novas capacidades. Novas graças, bênçãos perfeitas, estão

esperando e já descendo sobre ele. Os dons e bênçãos do período da juventude, embora

úteis e suficientes durante a adolescência da humanidade, são agora incapazes de atender

às exigências de sua maturidade."
O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO

Tão singular e significativas crises na vida organizada da humanidade, pode, em muitos

aspectos, ser comparada ao estágio culminante na evolução política da grande República americana – o

estágio que marcou a emergência de uma comunidade unificada de estados confederados. O

movimento decorrente de uma nova consciência nacional e o nascimento de um novo tipo de

civilização, infinitamente mais rica e nobre do que qualquer outra que suas partes componentes

pudessem separadamente esperar atingir, pode-se dizer que proclamou a idade de maturidade do povo

americano. Dentro dos limites territoriais dessa nação, a consumação deste estágio pode ser vista como

a culminação do processo de governabilidade humana. Os elementos diversificados e dispersos de uma

comunidade dividida foram reunidos, unificados e incorporados em um sistema coerente. Embora essa

entidade possa continuar aumentando seu poder coesivo, a unidade então alcançada possa ser

consolidada, e a civilização à qual somente aquela unidade poderia ter originado venha a se expandir e

florescer, ainda assim, a maquinaria essencial a tal desenvolvimento, pode-se dizer, foi erigida em sua

estrutura essencial e o impulso necessário para guiá-la e sustentá-la foi fundamentalmente alcançado.

Não se pode imaginar qualquer estágio superior, ou além da realização da unidade nacional, dentro dos

limites geográficos daquela nação, embora o elevado destino de seu povo, como elemento constituinte

de uma entidade bem maior, que irá abarcar a totalidade da humanidade, continue ainda por ser

alcançado. Considerado como uma unidade isolada, porém, seu processo de integração pode ser

considerado como tendo conseguido sua maior e final consumação.

Idêntico é o estágio do qual uma humanidade em evolução está coletivamente se aproximando.

A Revelação concedida pelo Todo-Poderoso Ordenador a Bahá'u'lláh, crêem firmemente Seus

seguidores, assim foi dotada de potencialidades perfeitamente adequadas à maturidade da raça humana

– o estágio mais avançado e significativo em sua evolução da infância à maturidade.

Os sucessivos Fundadores das Religiões do passado, que desde tempos imemoriais refletiram

com intensidade cada vez maior o esplendor de uma Revelação comum em seus vários estágios, os

quais marcaram o avanço da humanidade no caminho de sua maturidade, podem, em certo sentido, ser

considerados como Manifestantes preliminares, antecipando e preparando o caminho para o advento

daquele Dia dos Dias quando a terra inteira terá frutificado e a árvore da humanidade terá dado os

frutos previstos.

Incontestável como é esta verdade, seu caráter desafiador jamais poderá anuviar o propósito,

distorcer o princípio ou subestimar as elocuções de Bahá'u'lláh – elocuções que estabeleceram para

todos os tempos a absoluta unidade de todos os Profetas, incluindo Ele próprio, sejam do passado ou do

futuro. Embora a missão dos Profetas que precederam a Bahá'u'lláh possa ser vista sob aquela luz,

embora, como resultado deste processo de evolução, a medida de Revelação Divina com a qual cada

um deles foi dotado seja necessariamente diferente, sua origem comum, sua unidade essencial e sua

identidade de propósito, não podem, em tempo algum e sob nenhuma circunstância, ser mal-entendidas

ou negadas. Que todos os Profetas de Deus "habitam no mesmo Tabernáculo, voam no mesmo céu, se

sentam no mesmo trono, proferem as mesmas palavras e proclamam a mesma Fé", deve permanecer,

por mais elevado que seja o louvor com que louvamos a medida da Revelação Divina concedida à

humanidade neste estágio culminante de sua evolução, como o fundamento inalterável e a tese central

da crença bahá'í. Quaisquer variações no esplendor que cada um desses Manifestantes da Luz de Deus

tenha derramado sobre o mundo, devem ser atribuídas não a qualquer superioridade inerente ao caráter

essencial de qualquer um deles, mas sim à capacidade progressiva, à crescente receptividade espiritual

que a humanidade, em seu rumo à maturidade, tem invariavelmente manifestado.

A CONSUMAÇÃO FINAL

Somente aqueles que associam a Revelação proclamada por Bahá'u'lláh com a consumação de

tão estupenda evolução na vida coletiva da inteira raça humana podem entender o significado das

palavras que Ele, ao aludir às glórias deste Dia prometido e à duração da era bahá'í, julgou adequado

afirmar. Ele exclama:

"Este é o Rei dos Dias, o Dia que contemplou a vinda do Mais-Amado, Aquele que, por

toda a eternidade, tem sido aclamado como o Desejo do Mundo."

Ele afirma também:

"As Escrituras das Dispensações passadas celebraram o grande jubileu que irá saudar o

maior Dia de Deus. Bem aventurado aquele que viver para ver este Dia e reconhecer seu

grau."
Ele, em ainda outra passagem, explica:

"É evidente que cada era em que um Manifestante de Deus tem vivido é divinamente

ordenada e pode, em certo sentido, ser caracterizada como o Dia designado de Deus.

Este Dia, entretanto, é único e deve ser distinguido dos que o precederam. A designação

'Selo dos Profetas' revela plenamente seu alto grau. O Ciclo Profético, em verdade,

findou. A Verdade Eterna veio agora. Ele ergueu a Insígnia do Poder e agora irradia

sobre o mundo o desnublado esplendor de Sua Revelação."

E declara, em linguagem categórica:

"Nesta mais poderosa Revelação todas as Dispensações do passado alcançaram sua mais

elevada, sua consumação final. Aquilo que se tornou manifesto nesta preeminente, nesta

mais exaltada Revelação, não tem paralelo nos anais do passado, nem as eras futuras

irão testemunhar algo igual."

Os pronunciamentos autênticos de 'Abdu'l-Bahá, da mesma forma, confirmam, de maneira não

menos enfática, a vastidão incomparável da Dispensação Bahá'í. Ele afirma em uma de Suas Epístolas:

"Séculos, melhor dizendo, eras incontáveis, deverão passar até que o Sol da Verdade

brilhe novamente em seu esplendor meridiano, ou apareça uma vez mais no esplendor de

sua glória primaveril... A mera contemplação da Dispensação inaugurada pela

Abençoada Beleza seria suficiente para deslumbrar os santos de eras passadas – santos

que ansiavam participar, por um momento apenas, desta grande glória."

E afirma em linguagem ainda mais precisa:

"Quanto aos Manifestantes que virão no futuro, 'nas sombras das nuvens', saibam que,

verdadeiramente, no que diz respeito às suas relações com a Fonte de sua inspiração,

eles se encontram à sombra da Antiga Beleza. Em sua relação, porém, com a era na qual

aparecem, cada um e todos eles 'fazem o que quer que desejem'."

Ele explica, aludindo à Revelação de Bahá'u'lláh:

"Esta sagrada Dispensação é iluminada com a luz do Sol da Verdade brilhando de sua

mais elevada posição e na plenitude de seu resplendor, seu calor e glória."

ANGÚSTIAS DE MORTE E NASCIMENTO

Amigos ternamente queridos: Embora a Revelação de Bahá'u'lláh tenha sido enunciada, a

Ordem Mundial dela decorrente está ainda por nascer. Embora a Idade Heróica de Sua Fé tenha

passado, as energias criativas que aquela Era liberou, não foram ainda cristalizadas naquela sociedade

mundial que, no auge dos tempos, espelhará a luz de Sua glória. Embora a estrutura de Sua Ordem

Administrativa tenha sido erigida, e o Período Formativo da era Bahá'í tenha se iniciado, ainda assim o

Reino prometido, no qual as sementes de Suas instituições deverão amadurecer, não foi ainda

inaugurado. Embora Sua Voz tenha sido levantada, e as insígnias de Sua Fé erguidas em nada menos

de quarenta países, tanto no Oriente como no Ocidente, o fato é que a totalidade da raça humana ainda

não a reconheceu, sua unidade não foi inteiramente proclamada e a bandeira da Paz Máxima não foi

ainda hasteada.
Afirma o próprio Bahá'u'lláh:

"As alturas que o homem mortal pode atingir, neste Dia, através do mais benévolo favor

de Deus, ainda não foram reveladas à sua vista. O mundo da existência jamais teve

revelação igual, nem para isso possui ainda capacidade. Aproxima-se o dia, entretanto,

em que as potencialidades de tão grande favor, em virtude de Seu mando, se

manifestarão aos homens."

Para que tão grande graça seja revelada, um período de intensa agitação e muitos sofrimentos

parece ser indispensável. Esplendorosa como foi a Era que testemunhou o nascimento da Missão da

qual Bahá'u'lláh foi incumbido, o intervalo que deve decorrer até que aquela Era dê seus melhores

frutos, condição que se torna cada vez mais aparente, deverá passar por uma grande decadência moral e

social, a qual irá, por fim, preparar uma humanidade impenitente para alcançar, finalmente, a condição

gloriosa que está destinada a herdar.

É na direção desse período que estamos agora, firme e irresistivelmente, nos encaminhando. Em

meio às sombras que crescentemente se formam sobre nós, podemos discernir debilmente os clarões da

soberania divina de Bahá'u'lláh brilhando de forma ainda tênue no horizonte da história. A nós, a

"geração da meia-luz", vivendo em um tempo que pode ser designado como o período de incubação da

Comunidade Mundial de Nações prevista por Bahá'u'lláh, foi dada essa tarefa, cujo alto privilégio

jamais poderemos apreciar e cuja veemência apenas podemos reconhecer de forma muito tênue. Bem

podemos acreditar, nós que somos chamados a experimentar a operação das forças sombrias destinadas

a desprender uma torrente do doloroso sofrimento que deve preceder a alvorada da Idade Áurea de

nossa Fé, ainda não foi infligida. Profunda como é a escuridão que já envolve o mundo, as provações

aflitivas pelas quais a humanidade deverá passar estão ainda em preparação, e sua imensidade ainda

não pode ser imaginada. Estamos no limiar de uma era cujas convulsões proclamam tanto as aflições da

morte de uma velha ordem como as dores do parto de uma nova. Pode-se dizer que esta Nova Ordem

Mundial foi concebida pela influência geradora da Fé anunciada por Bahá'u'lláh. Já podemos, no

momento presente, sentir sua agitação no ventre de uma era em gestação – uma era à espera da devida

hora em que poderá produzir seus melhores frutos.

Escreve Bahá'u'lláh:

"A terra toda se acha em estado de prenhez. Aproxima-se o dia em que terá produzido

seus mais nobres frutos, em que as mais sublimes árvores, as flores mais encantadoras,

as bênçãos mais celestiais dela se terão manifestado. Imensuravelmente exaltada é a

brisa que sopra das vestes de teu Senhor, o Glorificado! Pois, vede, já soprou sua

fragrância e renovou todas as coisas! Bem-aventurados aqueles que compreendem."

Proclama Ele, na Súratu'l-Haykal:

"Os ventos impetuosos da graça de Deus sopraram sobre todas as coisas. Cada criatura

foi dotada de todas as potencialidades que pode manifestar. E ainda assim os povos do

mundo têm rejeitado esta graça. Cada árvore foi dotada dos mais excelentes frutos, cada

oceano enriquecido com as jóias mais luminosas. O próprio ser humano foi investido

com os dons da compreensão e do conhecimento. A criação inteira foi feita o recipiente

da revelação do Todo-Misericordioso, e a terra o repositório de coisas inescrutáveis a

todos exceto a Deus, a Verdade, o Conhecedor das realidades ocultas. Aproxima-se o

tempo em que cada coisa criada terá dados seus frutos. Glorificado seja Deus, Aquele

que concedeu esta graça que abrange todas as coisas, visíveis e invisíveis."

Escreveu 'Abdu'l-Bahá:

"O Chamado de Deus quando erguido, insufla nova vida no corpo inteiro da humanidade

e infunde um novo espírito em toda a criação. É por esta razão que o mundo foi agitado

profundamente e avivados os corações e as consciências dos homens. Em breve, as

evidências desta regeneração serão reveladas, e aqueles que se encontram

profundamente adormecidos serão despertados."
FERMENTAÇÃO UNIVERSAL

Ao observarmos o mundo à nossa volta, somos compelidos a notar as inúmeras evidências

daquela fermentação universal que, em todos os continentes do globo e em cada setor da vida humana,

seja religioso, social, econômico ou político, está purificando e reformando a humanidade em

antecipação ao Dia no qual a integralidade da raça humana será reconhecida e sua unidade estabelecida.

Um duplo processo, porém, pode ser distinguido, cada um tendendo, de seu próprio jeito e de forma

acelerada, levar ao clímax as forças que estão transformando a face de nosso planeta. O primeiro é

essencialmente um processo integrativo, enquanto que o segundo é fundamentalmente destrutivo. O

primeiro, em sua constante evolução, descortina um Sistema que bem pode servir como modelo para

aquela Ordem mundial em cuja direção um mundo totalmente desordenado está avançando

continuamente; enquanto o segundo, à medida que sua influência desintegradora se aprofunda, tende a

despedaçar, com incrível violência, as antiquadas barreiras que se antepõem ao progresso da

humanidade rumo à sua meta predestinada. O processo construtivo está associado com a nascente Fé de

Bahá'u'lláh e é precursora da Nova Ordem Mundial que a Fé deverá, por fim, estabelecer. As forças

destrutivas que caracterizam o outro, deve ser identificada com uma civilização que tem se recusado a

responder às expectativas de uma nova era, e que está, conseqüentemente, a caminho do caos e

declínio.

Uma luta titânica, um empenho espiritual, sem paralelo em sua magnitude, embora

inimaginavelmente gloriosa em suas conseqüências finais, está sendo empreendida como resultado

dessas tendências opostas, nesta era de transição pela qual a comunidade organizada dos seguidores de

Bahá'u'lláh e a humanidade como um todo estão passando.

O espírito que se encarnou nas instituições de uma Fé crescente, no decorrer de sua marcha pela

redenção do mundo, defrontou-se e está agora em luta contra as forças que são, em muitos casos, a

própria negação daquele Espírito, e cuja existência deve inevitavelmente impedi-la de alcançar seu

propósito. Deve-se observar que as instituições já vazias e desgastadas, as doutrinas e crenças

obsoletas, e as tradições estéreis e desacreditadas que tais forças representam, foram, em muitos

sentidos, enfraquecidas em decorrência de sua senilidade, perda de seu poder coesivo e de sua inerente

corrupção. Algumas foram varridas pelas forças impetuosas que a Fé Bahá'í, quando de seu

nascimento, liberou de forma tão misteriosa. Outras, como resultado direto de uma resistência vã e

débil ao seu surgimento ainda nos estágios iniciais de seu desenvolvimento, acabaram desaparecendo

totalmente desacreditadas. Outras ainda, temerosas da influência penetrante das instituições nas quais

aquele mesmo Espírito se incorporou em um estágio posterior, mobilizaram suas forças e lançaram

seus ataques, os quais, por seu turno, depois de um breve e ilusório sucesso, sofreram uma derrota

ignominiosa.
ESTA ERA DE TRANSIÇÃO

Não é meu propósito relembrar, muito menos tentar fazer uma análise detalhada das lutas

espirituais que se seguiram, ou destacar as vitórias que resultaram na glória da Fé de Bahá'u'lláh desde

o dia de sua fundação. Minha preocupação central não está nos acontecimentos que distinguiram a

Primeira, a Era Apostólica da Dispensação Bahá'í, mas sim com os eventos importantes que se

apresentam e nas tendências que caracterizam o período formativo de seu desenvolvimento, esta Era de

Transição, cujas tribulações são precursoras daquela Era de bem-aventurada felicidade que irá encarnar

o propósito maior de Deus para toda a humanidade.

Quanto à queda catastrófica de reinos e impérios poderosos, na véspera da partida de 'Abdu'l-

Bahá, cuja ascensão pode ser dita como tendo introduzido a fase inicial da Era de Transição na qual

agora vivemos, já tive a oportunidade de aludir brevemente em uma comunicação anterior. A

dissolução do império germânico, a derrota humilhante infligida ao seu governante, sucessor e

descendente direto do rei e imperador prussiano, ao qual Bahá'u'lláh havia feito Sua advertência solene

e histórica, juntamente com a extinção da monarquia austro-prussiana, remanescente do outrora grande

e sagrado império romano, foram ambos precipitados por uma guerra cuja irrupção sinalizou a abertura

da Era de Frustração destinada a preceder o estabelecimento da Ordem Mundial de Bahá'u'lláh. Esses

significativos eventos podem ser vistos como as primeiras ocorrências daquela Era turbulenta, em cujas

fronteiras de sua fase mais tenebrosa estamos agora adentrando.

Quanto ao vencedor de Napoleão III, o Autor de nossa Fé havia dirigido, nas vésperas da vitória

do rei, em Seu Livro Sacratíssimo, esta clara e profética advertência:

"Ó rei de Berlim! Dai ouvidos à Voz que brada deste Templo manifesto: 'Em verdade,

não há outro Deus senão Eu, o Eterno, o Incomparável, o Ancião dos Dias.' Acautelai-

vos para que o orgulho não vos impeça de reconhecer o Alvorecer da Revelação Divina,

nem os desejos terrenos, qual um véu, vos apartem do Soberano do Trono nas alturas e

da região terrestre. Assim vos aconselha a Pena do Altíssimo. Ele, em verdade, é o Mais

Misericordioso, o Generosíssimo. Recordai aquele cujo poder transcendia o vosso poder

e cuja posição era superior à vossa. Onde está Ele? Onde foi parar tudo o que possuía?

Sede advertido, e não dos que estão profundamente adormecidos. Foi ele quem

desprezou a Epístola de Deus quando Nós o informamos do que as hostes da tirania Nos

fizeram sofrer. Por isso a desgraça atacou-o de todos os lados e ele baixou ao pó em

grande ruína. Ponderai bem, ó rei, sobre o que sucedeu a ele e aos que, como vós,

conquistaram cidades e dominaram homens. O Todo-Misericordioso fê-los descer de

seus palácios às suas sepulturas. Sede advertido, sede dos que refletem."

Bahá'u'lláh, em outra passagem daquele mesmo Livro, profetiza:

"Ó margens do Reno! Nós vos vimos cobertas de sangue, pois as espadas da represália

desembainharam-se contra vós; e haverá ainda outra vez. E ouvimos os lamentos de

Berlim, embora hoje esteja em glória conspícua."
COLAPSO DO ISLÃ

O colapso do poder da hierarquia xiita, em uma terra que por séculos fora uma das mais

inexpugnáveis fortalezas do fanatismo muçulmano, foi a conseqüência inevitável daquela onda de

secularização que, num tempo posterior, iria invadir algumas das mais poderosas e conservadoras

instituições eclesiásticas tanto no continente europeu como no americano. Embora não como

conseqüência direta da última guerra, esta súbita comoção que abalou este até então irremovível pilar

da ortodoxia islâmica, acentuou os problemas e aprofundou o desassossego com o qual um mundo

cansado de guerra estava sendo afligido. O islã xiita perdera para sempre seu poder combativo, na terra

nativa de Bahá'u'lláh e como conseqüência direta de sua implacável hostilidade contra a Sua Fé; fora

privado de seus direitos e privilégios, degradado e desmoralizado, e estava sendo condenado a uma

inevitável obscuridade e extinção final. Não menos de vinte mil mártires, porém, tiveram suas vidas

sacrificadas até que a Causa à qual apoiavam e pela qual morreram, pôde registrar esta vitória inicial

sobre aqueles que foram os primeiros a repudiar suas reivindicações e eliminar seus bravos guerreiros.

"Vileza e pobreza estavam estampados neles, e foram punidos com a cólera de Deus."

Escreve Bahá'u'lláh comentando sobre o declínio de um povo decaído:

"Observa como os dizeres e os atos do islã xiita ofuscaram a alegria e o fervor de seus

primeiros dias, e mancharam o brilho prístino de sua luz. Em seus dias primitivos,

enquanto eles aderiam aos preceitos associados ao nome de seu Profeta, o Senhor da

humanidade, sua carreira foi marcada por uma sucessão de vitórias e triunfos. À medida

que gradualmente se afastaram do caminho do Líder e Mestre ideal, voltando as costas à

luz de Deus e corrompendo o princípio de Sua Divina unidade, e enquanto concentraram

sua atenção cada vez mais naqueles que eram apenas os reveladores da potência de Sua

Palavra, seu poder transformava-se em fraqueza, sua glória em vergonha e sua coragem

em medo. Tu testemunhas a que estado chegaram."

A queda da dinastia Qájár, a reconhecida defensora e decidida apoiadora de um clero decrépito,

foi praticamente sincronizada com a humilhação que os líderes eclesiásticos xiitas sofreram. Desde

Muhammad Sháh até o último e fraco monarca daquela dinastia, a Fé de Bahá'u'lláh jamais recebeu a

consideração devida, nem teve o tratamento justo e imparcial que Sua Causa por direito pleiteava. Fora,

ao contrário, cruelmente atormentada e consistentemente traída e perseguida. O martírio do Báb; o

banimento de Bahá'u'lláh; o confisco de Suas possessões terrenas; Seu encarceramento em

Mázindarán; o reinado de terror que O confinou no mais pestilento dos calabouços; as intrigas, os

protestos e calúnias que por três vezes renovaram Seus exílios e O levaram ao Seu aprisionamento final

na mais desolada das cidades; a vergonhosa sentença recebida, com a conivência das autoridades

judiciais e eclesiásticas, contra as pessoas, as propriedades e a honra de Seus inocentes seguidores –

estes se destacam como os atos mais tenebrosos pelos quais a posteridade julgará responsável essa

sanguinolenta dinastia. Mais uma barreira que tentou obstruir a marcha ascensional da Fé estava agora

removida.

Embora Bahá'u'lláh tenha sido banido de Sua terra natal, a onda de calamidades que tão

furiosamente se abatera contra Ele, bem como aos seguidores do Báb, de forma alguma diminuíra. Sob

a jurisdição do sultão da Turquia, o arquiinimigo de Sua Causa, um novo capítulo fora aberto na

história de Suas renovadas provações. A queda do sultanato e do califado, os pilares gêmeos do islã

sunita, certamente pode ser considerada como conseqüência inevitável da violenta, contínua e

deliberada perseguição que os monarcas da decadente Casa de 'Uthman, os sucessores reconhecidos do

Profeta Muhammad, haviam lançado contra ela. Da cidade de Constantinopla, a sede tradicional tanto

do sultanato como do califado, os governantes da Turquia, por um período de cerca de três quartos de

século, empenharam-se, com a máxima persistência, por impedir o avanço de uma Fé que temiam e

abominavam. Desde que Bahá'u'lláh colocou os pés em solo turco, e foi feito um virtual prisioneiro do

mais poderoso potentado do islã, até o ano da libertação da Terra Santa do jugo turco, sucessivos

califas, em particular os sultões Abdu'l-Aziz e Abdu'l-Hamid, no exercício pleno da autoridade

espiritual e temporal que seus elevados cargos lhes outorgaram, haviam atormentado tanto o Fundador

de nossa Fé como o Centro de Seu Convênio causando-Lhes tal aflição e tribulação que mente alguma

pode avaliar, nem pena ou língua descrever. Somente Eles podem avaliá-las ou suportá-las.

A essas aflitivas provações Bahá'u'lláh repetidamente se referiu:

"Pela retidão do Todo-Poderoso! Fosse Eu relatar a ti a história das coisas que Me

sucederam, as almas e as mentes dos homens seriam incapazes de suportar seu peso. O

próprio Deus é Minha testemunha."

Ele escreveu, dirigindo-se aos reis da cristandade:

"Passaram-se vinte anos, ó reis, durante os quais a cada dia provamos a agonia de uma

nova tribulação. Nenhum de Nossos antecessores suportou o que Nós temos suportado.

Oxalá pudésseis perceber isso! Os que contra Nós se levantaram, trucidaram-Nos,

derramaram Nosso sangue, espoliaram Nossos bens e violaram Nossa honra."

Em outra oportunidade, Ele revelou:

"Lembrai-vos de Minhas tristezas, Minhas inquietações e ansiedades, Minhas aflições e

provações, a condição de Meu cativeiro, as lágrimas que derramei, o amargor de Minha

angústia, e agora Meu aprisionamento nesta terra longínqua... Pudesse ser relatado a ti o

que sobreveio à Beleza Antiga, tu fugirias para o deserto e chorarias com grande

pranto... Toda manhã, ao levantar de Meu leito, Eu descobria as hostes de incontáveis

aflições que se avolumavam à Minha porta; e toda noite ao deitar, eis, Meu coração

estava partido de agonia com o que sofrera pela crueldade satânica de seus inimigos."

As ordens que esses inimigos emitiram, os banimentos que decretaram, as indignidades que

infligiram, os planos que criaram, as investigações que instigaram, as ameaças que pronunciaram, as

atrocidades que se prepararam para cometer, as intrigas e traições que eles, seus ministros, seus

governadores e comandantes militares haviam arremetido, constituem um registro que dificilmente

encontra paralelo na história de qualquer religião relevada. A mera citação dos aspectos mais salientes

de tão sinistro tema é suficiente para encher um volume. Eles sabiam muito bem que o Centro espiritual

e administrativo da Causa que tentavam erradicar havia agora se transferido para seus domínios, que

seus líderes eram cidadãos turcos, e que quaisquer recursos que eles pudessem conseguir estava à sua

mercê. Que por um período de setenta anos, embora ainda na plenitude de sua inquestionável

autoridade, somada às intermináveis maquinações das autoridades civis e eclesiásticas de uma nação

vizinha, e certo do apoio daqueles parentes de Bahá'u'lláh que se haviam rebelado contra a Sua Causa

e dela se afastado, seu despotismo falharia finalmente em extirpar uma mera mancheia de seus

condenados seguidores, tais fatos devem permanecer, aos olhos do observador descrente, como um dos

episódios mais intrigantes e misteriosos da história contemporânea.

A Causa cujo líder visível ainda era Bahá'u'lláh, a despeito das maquinações de um inimigo

obtuso, havia triunfado de forma inegável. Nenhuma mente, imparcial, mesmo analisando

superficialmente as condições que envolviam o Prisioneiro de 'Akká, não mais poderá enganar-se ou

negar. Embora a tensão tivesse sido relaxada por algum tempo depois da ascensão de Bahá'u'lláh, e os

perigos de uma situação ainda não superada tivessem sido renovados, tornava-se cada vez mais

evidente que as forças insidiosas da decadência, que por longos anos vinham corroendo as vísceras de

uma nação doentia, encaminhavam-se agora a um clímax. Já irrompera a série de convulsões internas,

cada uma mais devastadora que a anterior, destinadas a trazer em seu bojo uma das mais catastróficas

ocorrências dos tempos modernos. O assassinato daquele arrogante déspota no ano de 1876; o conflito

russo-turco que ocorreu logo a seguir; as guerras de libertação que o sucederam; o surgimento do

movimento dos Jovens Turcos; a Revolução Turca de 1909 que precipitou a queda de Abdu'l-Hamid;

as guerras dos Balcãs com suas calamitosas conseqüências; a libertação da Palestina em cujo coração

se encontram as cidades de 'Akká e Haifa, o centro mundial de uma Fé emancipada; o

desmembramento posterior decretado pelo Tratado de Versalhes; a abolição do sultanato e a queda da

Casa de 'Uthman; a extinção do califado; a desestabilização da Religião-Estado; a anulação da Lei

Sharí'ah e a promulgação de um Código Civil Universal; a supressão de várias ordenanças, crenças,

tradições e cerimoniais que se acredita estarem inseparavelmente interligados com a estrutura da Fé

Muçulmana – são fatos que ocorreram com uma facilidade e rapidez realmente imprevisíveis. Nesses

devastadores golpes, desferidos tanto por inimigos como por amigos, por nações cristãs e muçulmanas,

todo seguidor da perseguida Fé de Bahá'u'lláh reconhece – são evidências da Mão orientadora do

falecido Fundador de sua religião, Aquele que do Reino invisível vinha liberando um dilúvio de

calamidades bem merecidas sobre uma religião e uma nação rebelde.

Compare-se as evidências de retribuição divina que caiu sobre os perseguidores de Jesus Cristo

com estas retribuições históricas que, na última parte do primeiro século da era bahá'í, lançaram ao pó

o principal adversário da religião de Bahá'u'lláh. Não foi o imperador romano, que na segunda metade

do primeiro século da Era Cristã, depois do angustiante cerco de Jerusalém, arrasou a Cidade Sagrada,

destruiu o Templo, profanou e roubou os tesouros do Santo dos santos e os transportou para Roma,

desenvolveu uma colônia pagã no Monte Sião, massacrou os judeus, exilou e dispersou seus

sobreviventes?

Compare-se, além disso, as palavras que o perseguido Cristo, segundo testemunhado no

Evangelho, dirigiu a Jerusalém, àquilo que Bahá'u'lláh apostrofou a Constantinopla, revelado enquanto

estava na distante Prisão e registrado no Seu Livro Sacratíssimo:

"Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados!

Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos como a galinha ajunta os seus pintos

debaixo das asas..."
E ainda, enquanto lamentou sobre a cidade:

"... se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas

agora isto está encoberto aos teus olhos. Porque dias virão sobre ti, em que os teus

inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te estreitarão de todas os lados, e te

derrubarão a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem; e não deixarão em ti pedra

sobre pedra, pois que não conheceste o tempo da tua visitação.

Ó Lugar sito na orla dos dois mares! Em verdade, o trono da tirania em ti se estabeleceu,

e a chama do ódio ateou-se em teu seio, de tal sorte que a Assembléia no alto e aqueles

que se movem ao redor do Trono Excelso gemeram e prantearam. Em ti vemos os

néscios governando os sábios e as trevas escarnecendo da luz. Estás, de fato, cheio de

evidente orgulho. Fez-te arrogante o teu aparente esplendor? Por Aquele que é o Senhor

da humanidade! Ele cedo há de findar, e tuas filhas e tuas viúvas e todas as famílias em

ti residentes lamentarão. Assim te informa o Onisciente, o Sapientíssimo."

Ao sultão Abdu'l-Azíz, o monarca que decretou cada um dos três banimentos de Bahá'u'lláh, o

Fundador de nossa Fé, ainda como prisioneiro na capital do sultão, dirigiu estas palavras:

"Ouve, ó rei, as palavras dAquele que diz a verdade, que não te pede como remuneração

as coisas que Deus se dignou conceder, Aquele que trilha, sem errar, a Senda reta... Põe

diante de teus olhos a infalível Balança de Deus e, como se estivesses em Sua presença,

pesa nesta Balança tuas ações cada dia, a cada momento de tua vida. Julga-te a ti mesmo

antes de seres chamado para o juízo, no dia em que nenhum homem terá força para se

manter em pé por temor a Deus, o Dia em que os corações dos desatentos haverão de

tremer."

Aos ministros do Estado Turco, Ele, na mesma Epístola, revelou:

"Cabe a vós, ó ministros de Estado, manter os preceitos de Deus e abandonar vossas

próprias leis e regulamentos, e ser daqueles que são guiados de forma correta...

Descobrireis, em breve, as conseqüências daquilo que tendes feito nesta vida vã e sereis

responsabilizados por vossos atos... Quão grande é o número daqueles que, em tempos

passados, cometeram as coisas que cometeis, os quais, embora superiores

hierarquicamente a vós, por fim regressaram ao pó, entregues à sua inevitável

condenação!... Seguireis no mesmo caminho, e acabareis entrando em uma habitação

onde ninguém será encontrado para vos ajudar e apoiar... Os dias de vossas vidas

passarão rapidamente e todas as coisas com as quais vos ocupais, e das quais vos

vangloriais, perecerão, e vós, certamente, sereis chamados por uma companhia de Seus

anjos a se apresentar no local onde os membros da criação inteira irão tremer e a carne

de todo opressor ter calafrios... Este é o dia que inevitavelmente virá para vós, a hora

que ninguém pode retardar."

Aos habitantes de Constantinopla, enquanto vivia como um exilado em seu meio, Bahá'u'lláh,

ainda na mesma Epístola, dirigiu estas palavras:

"Temei a Deus, ó habitantes da Cidade, e não semeeis as sementes da dissensão entre os

homens... Vossos dias passarão como passaram os dias daqueles que existiram antes de

vós. Ao pó retornareis, como retornaram vossos ancestrais."

Ele destaca, ainda mais:

"Encontramos, ao chegarmos à Cidade, vossos dirigentes e os idosos como crianças

reunidas brincando entre si com o lodo... Nossa visão interna chorou por eles, e por suas

transgressões e sua total desconsideração pelas coisas para as quais foram criados...

Aproxima-se o dia em que Deus fará surgir um povo que irá se lembrar de Nossos dias,

que relatará a história de Nossas tribulações, que irá exigir a restituição de Nossos

direitos daqueles que, sem a mínima evidência, trataram-Nos com manifesta injustiça.

Deus seguramente tem poder sobre as vidas daqueles que Nos afligiram e está bem

consciente de seus atos. Ele, certamente, os julgará por seus pecados. Ele,

verdadeiramente, é o mais terrível dos vingadores."

E benevolamente os exorta:

"Portanto, prestai atenção às Minhas palavras e regressai a Deus, e arrependei-vos para

que Ele, por Sua graça, possa vos demonstrar Sua misericórdia e perdoar vossos erros. A

grandeza de Sua magnanimidade supera a fúria de Sua indignação, e Sua graça abrange

todos aqueles que foram criados e cobertos com o manto da vida, tanto do passado como

do futuro."

E, finalmente, na Lawh-i-Ra'ís, encontramos registradas as seguintes palavras proféticas:

"Atenta, ó chefe... à Voz do Deus, o Soberano, o Amparo no Perigo, O subsistente por Si

próprio... Tu cometeste, ó chefe, aquilo que fez Muhammad, o Apóstolo de Deus,

lamentar no Mais Excelso Paraíso. O mundo te deixou orgulhoso, tanto que tu te

afastaste da Face de cujo brilho a Assembléia no alto é iluminado. Em breve te verás em

evidente perdição... Aproxima-se o dia em que a Terra do Mistério (Adrianópolis) e o

que está ao seu lado serão transformadas, e será tirada das mãos do rei, e comoções

surgirão, e a voz da lamentação se erguerá, e as evidências da maldade serão reveladas

de todos os lados, e a confusão se espalhará por causa daquilo que sobreveio a estes

cativos nas mãos das hostes da opressão. O curso das coisas será alterado, e as condições

serão tão dolorosas que a própria areia nas colinas mais desoladas lamentarão e as

árvores nas montanhas chorarão, e o sangue jorrará de todas as coisas. Então verás o

povo em aflitiva condição."

Mil e trezentos anos decorreram desde a morte do Profeta Muhammad até que a ilegitimidade

da instituição do califado, cujos fundadores usurparam a autoridade dos sucessores legais do Apóstolo

de Deus, fosse completa e publicamente demonstrada. Uma instituição que em seu nascimento

desrespeitara um direito tão sagrado e desencadeara as forças de um cisma tão sério, uma instituição

que, nos últimos dias, havia cometido um mal tão grave a uma Fé cujo Precursor era descendente dos

próprios imames, cuja autoridade aquela instituição havia repudiado, bem mereceu o castigo que selara

seu destino.

Os textos de certas tradições islâmicas, cuja autenticidade os próprios muçulmanos reconhecem,

e que foram extensivamente citadas por eminentes eruditos e autores Bahá'ís orientais, são oportunos

citar para corroborar o argumento e esclarecer melhor o tema que tentei expor:

"Nos últimos dias uma lamentável calamidade irá sobrevir ao Meu povo nas mãos de

seu governante, uma calamidade maior do que tudo o que já se ouviu falar. Tão feroz

será que ninguém encontrará refúgio. Deus então enviará Um de Meus descendentes,

Um que proveio de Minha família, que irá cobrir a terra com eqüidade e justiça, como

ela tem sido coberta de injustiça e tirania."
E mais:

"Meu povo há de testemunhar o dia em que nada terá permanecido do islã senão um

nome, e do Alcorão nada mais que apenas uma referência. Os doutores daquela era serão

os mais maldosos que o mundo jamais viu. Os males que deles precederam, sobre eles

recairão."
E ainda mais:

"Naquela hora Sua maldição descerá sobre vós, e vossa imprecação vos afligirá, e vossa

religião será uma palavra vazia em vossas línguas. E quando esses sinais aparecerem

entre vós, prenunciarão o dia em que um vento abrasador terá soprado sobre vós, ou o

dia em que sereis desfigurados, ou o dia em que pedras terão chovido sobre vós."

Bahá'u'lláh afirma de forma significativa, dirigindo-se às forças combinadas do islã sunita e

xiita:

"Ó povo do Alcorão, verdadeiramente, o Profeta de Deus, Muhammad, derramou

lágrimas ao ver vossa crueldade. Seguistes, sem duvida, vossos desejos maus e

corruptos, e virastes a face da luz que guia. Em breve testemunhareis o resultado de

vossos atos, pois o Senhor, Meu Deus, está na expectativa e atento à vossa conduta... Ó

assembléia de sacerdotes muçulmanos! Por vossos atos a posição exaltada do povo foi

rebaixada, o padrão do islã invertido, e seu poderoso trono derrubado."

DESMORONAMENTO DAS INSTITUIÇÕES CRISTÃS

Tudo o que aconteceu para o islã e os golpes avassaladores que seus líderes e instituições

receberam – e podem ainda receber – aconteceram neste primeiro século da era bahá'í. Se adentrei

mais profundamente neste tema, se em um grau desproporcional fiz citações dos Escritos Sagrados em

apoio aos meus argumentos, foi unicamente devido à minha firme convicção de que essas calamidades

punitivas que recaíram sobre o principal opressor da Fé de Bahá'u'lláh, devem ser considerados não

somente como uma das mais tumultuadas ocorrências desta Era de Transição, mas como um dos mais

surpreendente e significativos eventos da história contemporânea.

Tanto o islã sunita como o xiita, pelas convulsões que sobre eles recaíram, contribuíram para a

aceleração do processo de ruptura ao qual me referi anteriormente – um processo que, por sua natureza,

deve preparar o caminho para a reorganização e unificação completa que o mundo deverá alcançar em

todos os aspectos da vida. O que dizer do cristianismo e das denominações com as quais está

identificado? Pode-se dizer que este processo de deterioração, que atacou a estrutura da Religião de

Muhammad, tenha deixado de exercer sua nociva influência sobre as instituições associadas com a Fé

de Jesus Cristo? Tais instituições já sofreram o impacto dessas forças ameaçadoras? Estão suas bases

seguras e sua vitalidade é tão forte que lhes possibilite resistir a este ataque violento? Irão elas, à

medida que a confusão de um mundo caótico se espalha e se aprofunda, caírem também vítimas de sua

violência? Tendo as mais ortodoxas dentro delas já se levantado, será que as outras se levantarão para

repelir o surgimento de uma Causa, que, tendo derrubado as barreiras da ortodoxia muçulmana, está

agora avançando no coração da cristandade, tanto no continente europeu como no americano? Irá tal

resistência semear as sementes de mais dissensão e confusão, e conseqüentemente servir indiretamente

para apressar o advento do Dia prometido?

A estas questões podemos responder apenas parcialmente. Somente o tempo poderá revelar a

natureza do papel que as instituições diretamente associadas com a Fé Cristã estão destinadas a assumir

neste que é o Período Formativo da era bahá'í, nesta obscura era de transição através da qual a

humanidade como um todo está passando. Tais eventos já deixaram transparecer, porém, que sua

natureza indica a direção à qual essas instituições estão se movendo. Podemos, até certo ponto, avaliar

o provável efeito que as forças agora em operação, tanto dentro como fora da Fé, irão exercer sobre

elas.

Que as forças da irreligião, de uma filosofia puramente materialista e de um paganismo

flagrante tenham sido liberadas e estão agora se espalhando e, ao se consolidarem, estão começando a

invadir algumas das mais poderosas instituições cristãs do mundo ocidental, nenhum observador

imparcial deixará de admitir. Poucos, se é que existe algum entre os que observam atentamente o

progresso de Sua Fé, estariam inclinados a questionar que essas instituições estão se tornando cada vez

mais inquietas, que algumas delas já estão de alguma forma conscientes da influência crescente da

Causa de Bahá'u'lláh, e que, à medida que suas estruturas se deteriorarem e sua disciplina relaxar, irão

considerar com crescente temor o nascimento desta Nova Ordem Mundial, e irão, pouco a pouco,

atacá-la, e que tal oposição por sua vez irá acelerar seu declínio.

Bahá'u'lláh afirma:

"A vitalidade da crença dos homens em Deus está morrendo em todas as partes; nada a

não ser seu remédio salutar poderá restaurá-la. A corrosão da descrença está destruindo

as vísceras da sociedade humana; o que mais a não ser o Elixir de Sua poderosa

Revelação poderá purificá-la e revivê-la?"
Ele escreveu ainda:

"O mundo está em aflição e sua condição piora dia a dia. Sua face está voltada para a

desobediência e descrença. Tal será sua provação que revelá-la agora não seria oportuno

e apropriado."

Esta ameaça do secularismo que atacou o islã e está corroendo suas instituições remanescentes,

que invadiu a Pérsia, penetrou na Índia e se mostra triunfante na Turquia, já se manifestou tanto na

Europa como na América, e está, em graus variados e sob várias formas e designações, ameaçando as

bases de toda religião estabelecida, e em particular as instituições e comunidades identificadas com a

Fé de Jesus Cristo. Não seria exagerado dizer que estamos nos encaminhando para um período que

futuros historiadores considerarão como o mais crítico da história da cristandade.

Alguns, dentre os protagonistas da Religião Cristã, já admitem a gravidade da situação com a

qual se confrontam. "Uma onda de materialismo está varrendo o mundo", é o testemunho de

missionários, conforme se depreende do texto de seus relatórios oficiais, "a força e a pressão da

industrialização moderna, que estão penetrando até mesmo nas florestas da África Central e nas

planícies da Ásia Central, tornam o ser humano cada vez mais dependente e preocupado com as coisas

materiais. Em seu próprio seio, a Igreja tem se referido, talvez muito superficialmente, em púlpito ou

em plataforma, à ameaça do secularismo; embora mesmo na Inglaterra se tenha obtido mais do que um

simples lampejo de seu significado. Mas para a Igreja além-mar essas coisas são duras realidades,

inimigos que ela enfrenta... A Igreja tem um novo perigo ameaçando-a em todas as terras – um ataque

determinado e hostil. Da União Soviética, um comunismo definitivamente anti-religioso está

avançando para o Ocidente, adentrando a Europa e a América; para o Oriente, adentrando a Pérsia, a

Índia, a China e o Japão. É uma teoria econômica definitivamente voltada à descrença em Deus. É uma

irreligião religiosa... Tem um apaixonado senso de missão, e está levando sua campanha anti-Deus na

própria sede da Igreja Cristã, como também lançando sua ofensiva contra sua linha de frente em terras

não-cristãs. Tal ataque, consciente, decidido e organizado contra a religião em geral, e contra o

cristianismo, em particular, é algo novo na história. Igualmente determinada em algumas terras, em sua

firme hostilidade contra o cristianismo, existe outra forma de fé política e social – o nacionalismo. Mas

o ataque nacionalista à cristandade, diferente do comunismo, está quase sempre ligado a alguma forma

de religião nacional – como o islamismo na Pérsia e no Egito, o budismo no Ceilão, enquanto a luta

pelos direitos comunitários na Índia está aliado ao reavivamento tanto do hinduísmo como do islã."

Não me parece necessário, neste sentido, fazer uma exposição da origem e do caráter dessas

teorias econômicas e filosofias políticas do período pós-guerra, que têm exercido direta e

indiretamente, e ainda estão exercendo, sua influência perniciosa sobre as instituições e crenças

relacionadas com um dos mais amplamente espalhados e melhor organizados sistemas religiosos do

mundo. É na sua influência, mais do que na sua origem que estou principalmente interessado. O

crescimento excessivo da industrialização e seus males decorrentes – como acima mencionado nas

citações feitas – as diretrizes agressivas e os esforços persistentes exercidos pelos inspiradores e

organizadores do movimento comunista; a intensificação de um nacionalismo militante, associado em

alguns países com um trabalho sistemático de difamação contra todas as formas de influência

eclesiástica, têm, sem dúvida, contribuído para a descristianização das massas, e sido responsável por

um declínio marcante na autoridade, no prestígio e no poder da Igreja. "Toda a concepção de Deus",

proclamam insistentemente os que perseguem a Religião Cristã, "é uma concepção derivada de antigos

despotismos orientais. É uma concepção inteiramente indigna de homens livres." "A Religião",

afirmou um de seus líderes, "é o ópio do povo." "A Religião", declara o texto de suas publicações

oficiais, "é o embrutecimento do povo. A educação deve ser dirigida de modo a erradicar da mente das

pessoas esta humilhação e estupidez."

A filosofia hegeliana que, em outros países, insistiu em endeusar o Estado na forma de um

nacionalismo intolerante e militante, inculcou um espírito belicoso, e incitou a animosidade racial,

conduziu, da mesma forma, a um evidente enfraquecimento da Igreja e a uma grave diminuição de sua

influência espiritual. Diferente da ousada ofensiva que um reconhecido movimento ateísta decidiu

lançar contra ela, tanto dentro da União Soviética como além de suas fronteiras, esta filosofia

nacionalista, que os dirigentes e governantes cristãos têm apoiado, é um ataque direto à Igreja vindo

daqueles que anteriormente eram seus aderentes professos, uma traição à sua causa da parte de seus

próprios amigos e íntimos colaboradores. Ela estava sendo apunhalada por um ateísmo militante e

estranho, vindo de fora, e pelos pregadores de um doutrina herética, de dentro. Ambas essas forças,

cada uma operando em sua própria esfera e usando suas próprias armas e métodos, foi, além disso,

grandemente auxiliada e estimulada pelo dominante espírito de modernismo, com sua ênfase em uma

filosofia puramente materialista que, ao ser difundida, tende a divorciar a religião da vida diária do

homem.

O efeito combinado dessas doutrinas estranhas e corruptas, dessas filosofias perigosas e

traiçoeiras, como era natural, foi fortemente sentido por aqueles cujas doutrinas inculcavam espíritos e

princípios opostos e totalmente irreconciliáveis. As conseqüências do choque que inevitavelmente

ocorreu entre estes interesses conflitantes, eram, em alguns casos, desastrosos, e a ruína ocasionada,

irreparável. A perda da estabilidade e o desmembramento da Igreja Ortodoxa Grega na Rússia,

seguindo o impacto que a Igreja de Roma sofreu como resultado do colapso da monarquia austro-

húngara; a comoção que subseqüentemente tomou conta da Igreja Católica e culminou com sua

separação do Estado na Espanha; a perseguição da mesma Igreja no México; as investigações

minuciosas, prisões, intimidações e terrorismo aos quais tanto católicos como luteranos estão sendo

sujeitados no coração da Europa; o tumulto em que outro ramo da Igreja foi envolvido em

conseqüência da campanha militar na África; o declínio que determinou o destino das missões cristãs,

tanto anglicanas como presbiterianas, na Pérsia, Turquia e no Extremo Oriente; os agourentos sinais

que anunciaram as sérias complicações nas ambíguas e precárias relações agora existentes entre a Santa

Sé e certas nações do continente europeu – estes se destacam como os aspectos mais marcantes dos

reveses que, em praticamente todas as partes do mundo, os membros e os dirigentes das instituições

eclesiásticas cristãs têm sofrido.

Que a unidade de algumas dessas instituições foi irremediavelmente arrasada é um fato por

demais evidente e inegável aos olhos de qualquer observador inteligente. A divisão ocorrida entre os

fundamentalistas e os liberais dentre seus aderentes se amplia continuamente. Seus credos e dogmas

foram abrandados, e em certos casos ignorados e descartados. O poder que exerciam sobre a conduta

humana está diminuindo e os integrantes de seus cleros e ministérios estão diminuindo em número e

influência. A fraqueza e a insinceridade de seus pregadores estão sendo observadas. Seus bens, em

muitos países, têm desaparecido, e a força de sua influência religiosa, declinado. Seus templos estão

ficando parcialmente desertos e até destruídos, e o esquecimento de Deus, de Seus ensinamentos e de

Seu Propósito, enfraqueceram e acumulam humilhações sobre eles.

Não poderá este impacto desintegrador, que atingiu tão fortemente o islã sunita e xiita,

provocar, ao atingir seu clímax, ainda maiores calamidades às várias denominações da Igreja cristã? De

que modo e com que rapidez este processo, que já está em ação, irá desenvolver-se, apenas o futuro

poderá revelar. Não se pode, no tempo presente, estimar qual será a extensão dos ataques que um clero

ainda poderoso, poderá lançar contra os baluartes da Fé de Bahá'u'lláh no Ocidente, acentuar seu

declínio e ampliar a vastidão de seus desastres inescapáveis.

Se a cristandade deseja e espera servir ao mundo em sua crise atual, escreve um ministro da

Igreja Presbiteriana na América, ela deve "voltar através da cristandade para Cristo, voltar através da

religião milenar sobre Jesus à religião original de Jesus." "De outra forma", acrescenta ele

significativamente, "o espírito de Cristo viverá em outras instituições, mas não na nossa própria."

Tão flagrante declínio na força e na coesão dos elementos que constituem a sociedade cristã,

acabou levando, como era de se esperar, ao surgimento de crescente número de cultos obscuros, de

formas novas e estranhas de adoração, de filosofias vãs, cujas doutrinas enganosas intensificaram a

confusão de uma era perturbada. Em seus princípios e objetivos, pode-se dizer que elas refletem e dão

testemunho da revolta, do descontentamento e das confusas aspirações das massas desiludidas que

desertaram da causa das igrejas cristãs e delas se afastaram.

Um paralelo poderia ser traçado entre esses confusos e desconcertantes sistemas de pensamento

que são o resultado direto do desespero e da desorientação que afligem a Fé Cristã, e a grande

variedade de cultos populares, de filosofias adaptadas e evasivas que floresceram nos primeiros séculos

da era cristã, e que tentaram absorver e perverter a religião de estado daquele povo romano. Os

adoradores pagãos que constituíam, naquele tempo, o grosso da população do império romano

ocidental, se viram envoltos, e em certas circunstâncias ameaçados, pela predominante seita dos

neoplatônicos, pelos seguidores das religiões da natureza, pelos filósofos gnósticos, pelo filonismo,

pelo mitraismo, pelos aderentes do culto alexandrino, e uma multidão de seitas e crenças, de modo

muito semelhantes como os defensores da Fé Cristã, a religião preponderante no mundo ocidental,

neste primeiro século da era bahá'í, estão julgando que sua influência está sendo solapada por uma

vertente de crenças, práticas e tendências conflitantes que sua própria falência ajudou a criar. Porém,

esta mesma Religião Cristã que agora caiu em tal condição de impotência, foi finalmente capaz de

eliminar as instituições do paganismo e de suprimir os cultos que haviam florescido naquela época.

Tais instituições que se afastaram muito do espírito e dos ensinamentos de Jesus Cristo, devem

necessariamente, à medida que a embrionária Ordem Mundial de Bahá'u'lláh toma forma e se

desenvolve, se retrair e dar lugar ao progresso das instituições divinamente ordenadas que estão

totalmente interligadas com Seus ensinamentos. O Espírito de Deus que, na era apostólica da Igreja,

deu vida a seus membros, a pureza prístina de seus ensinamentos, o brilho inicial de sua luz, irão, sem

dúvida, renascer e ser reavivados como conseqüência inevitável desta redefinição de suas verdades

fundamentais e a clarificação de seu propósito original.

Pois a Fé de Bahá'u'lláh – se formos avaliá-la fielmente – jamais poderá, em nenhum aspecto

de seus ensinamentos, estar em contradição, muito menos em conflito, com o propósito que anima, ou

com a autoridade com a qual está investida a Fé de Jesus Cristo. Este entusiástico tributo que o próprio

Bahá'u'lláh foi levado a prestar ao Autor da Religião Cristã, destacada-se como testemunho suficiente

da verdade deste princípio central da crença bahá'í:

"Sabe tu que, quando o Filho do Homem rendeu a Deus Seu alento, a criação inteira chorou

com grande pranto. Por Ele se haver sacrificado, entretanto, infundiu-se uma nova capacidade em todas

as coisas criadas. Suas evidências, segundo se testemunha em todos os povos da terra, estão agora

manifestas diante de ti. A mais profunda sabedoria que os sábios têm pronunciado, a mais completa

erudição que qualquer mente tenha desvelado, as artes produzidas pelas mãos mais hábeis, a influência

exercida pelo mais potente dos governantes, são apenas manifestações do poder vivificador que emana

de Seu Espírito transcendente, predominante e esplendoroso. Damos testemunha de que Ele, quando

veio ao mundo, irradiou o esplendor de Sua glória sobre todas as coisas criadas. Por seu intermédio, o

leproso recuperou-se da lepra da perversidade e ignorância. Por Ele os lascivos e refratários foram

curados. Através de Seu poder, nascido de Deus Todo-Poderoso, os olhos dos cegos se abriram e a

alma do pecador foi santificada. ... Foi Ele Quem purificou o mundo. Bem-aventurado o homem que,

com a face irradiante de luz, a Ele se haja volvido."

SINAIS DE DECADÊNCIA MORAL

Creio não ser necessário falar mais do declínio das instituições religiosas, cuja desintegração

constitui tão importante aspecto do Período Formativo da era bahá'í. O islã, tanto como resultado da

onda crescente de secularismo e em conseqüência direta de sua hostilidade declarada e persistente

contra a Fé de Bahá'u'lláh, caiu num profundo rebaixamento raramente visto na história. O

cristianismo teve, da mesma forma, devido a causas não diferentes daquelas que atuaram no caso de

sua Fé irmã, um rápido enfraquecimento e está contribuindo com sua parte, de forma crescente, no

processo de desintegração geral – um processo que deverá necessariamente preceder a reconstrução

fundamental da sociedade humana.

Os sinais de decadência moral, como algo distinto das evidências do enfraquecimento das

instituições religiosas, se apresentam de forma não menos visível e significativa. O declínio ocorrido

nos destinos das instituições islâmicas e cristãs pode ser considerado como contrapartida na vida e na

conduta dos indivíduos que as compõem. Para qualquer direção que voltarmos nosso olhar, não importa

quão superficial seja a nossa observação das ações e das palavras da presente geração, não poderemos

deixar de notar as evidências da decadência moral na qual, tanto individual como coletivamente,

homens e as mulheres à nossa volta estão vivendo.

Não pode haver dúvida de que o declínio da religião como força social, da qual a deterioração

das instituições religiosas é apenas um fenômeno externo, é o principal responsável por tão grave, tão

visível mal. Bahá'u'lláh escreve:

"A Religião é o maior de todos os meios para o estabelecimento da ordem no mundo,

para o contentamento pacífico de todos os que nele habitam. O enfraquecimento dos

pilares da religião tem fortalecido as mãos dos ignorantes, tornando-os ousados e

arrogantes. Em verdade, afirmo, tudo o que diminua o elevado grau da religião faz

aumentar a desobediência dos maldosos, e o resultado somente poderá ser a anarquia."

Ele afirma em outra Epístola:

"A Religião é a luz radiante e uma fortaleza inexpugnável para a proteção e o bem estar

dos povos do mundo, pois o temor a Deus impele o homem a apegar-se a tudo o que é

bom, e evitar o mal. Se a lâmpada da religião for obscurecida, reinarão o caos e a

confusão, e as luzes da eqüidade, da justiça, da tranqüilidade e da paz deixarão de

brilhar."
E escreveu Ele, em ainda outra oportunidade:

"Sabei que aqueles que são verdadeiramente sábios têm comparado o mundo ao templo

humano. Como o corpo do homem precisa vestidura, assim o corpo da humanidade

necessita ser adornado com o manto da justiça e sabedoria. Sua vestimenta é a

Revelação que lhe é concedida por Deus."

Não é de admirar, portanto, que quando em conseqüência da perversidade humana, a luz da

religião é extinta nos corações humanos, e o Manto divinamente determinado para adornar o templo

humano é deliberadamente rejeitado, de imediato ocorre um deplorável declínio nos destinos da

humanidade, trazendo em seu bojo todos os males que uma alma perdida é capaz de demonstrar. Em

tais circunstâncias, a perversão da natureza humana, a degradação da conduta humana, a corrupção e a

dissolução das instituições humanas, revelam-se em seus piores e mais repulsivos aspectos. O caráter

humano é degradado, a confiança abalada, as forças da disciplina relaxadas, a voz da consciência

calada, o senso de decência e vergonha obscurecido, os conceitos de dever, solidariedade,

reciprocidade e lealdade são distorcidos, e todos os sentimentos de paz, alegria e esperança são

gradualmente extintos.

Tal é o estado – podemos afirmar – do qual indivíduos e instituições igualmente estão se

aproximando. Escreveu Bahá'u'lláh lamentando a triste condição de uma humanidade em crise:

"Não se encontram dois homens que estejam, pode se dizer, unidos exterior e

interiormente. As evidências da discórdia e malícia aparecem em toda parte, se bem que

todos fossem criados para a harmonia e a união."
Ele exclama, na mesma Epístola:

"Por quanto tempo irá a humanidade persistir em sua teimosia? Por quanto tempo

continuará a injustiça? Por quanto tempo o caos e a confusão reinarão sobre os homens?

Por quanto tempo continuará a discórdia e agitar a face da sociedade? Os ventos do

desespero, infelizmente, sopram de todas as direções, e a luta que divide e aflige a raça

humana cresce dia a dia."

A recrudescência da intolerância religiosa, da animosidade entre as raças e a arrogância

patriótica; as crescentes evidências do egoísmo, da suspeita, do medo e da fraude; o alastramento do

terrorismo, da anarquia, da embriaguez e do crime; a insaciável sede de vaidades, riquezas e prazeres

terrenos e sua febril procura; o enfraquecimento da solidariedade da família; o afrouxamento no

controle paterno; o predomínio da indulgência luxuriosa; a atitude irresponsável para com o

matrimônio e a onda crescente de divórcio em conseqüência; a degeneração da arte e da música, a

infecção da literatura, e a corrupção da imprensa; a extensão da influência e das atividades daqueles

"profetas da decadência" que advogam o matrimônio por companheirismo, pregam a filosofia do

nudismo e chamam a modéstia uma ficção intelectual, que se recusam a considerar a procriação de

filhos como objetivo sagrado e primário do casamento, que denunciam a religião como um ópio do

povo e que, se fossem completamente desenfreados, levariam a raça humana a retrogradar ao

barbarismo, ao caos e à extinção final – parecem ser essas as características salientes de uma sociedade

em decadência – uma sociedade que tem de atingir um renascimento ou perecer.

O DESMORONAMENTO DA ESTRUTURA POLÍTICA E ECONÔMICA

No aspecto político, um declínio similar e uma evidência não menos aparente de desintegração

e confusão pode ser constatada em uma era como a que vivemos – uma era que os historiadores futuros

bem poderão reconhecer como tendo sido o preâmbulo da Grande Era, cujos dias áureos podemos

visualizar apenas vagamente.

Os impetuosos e violentos acontecimentos que, nos últimos anos, levaram ao ponto de ruptura

quase total das estruturas políticas e econômicas da sociedade, são por demais numerosos e completos

para tentarmos, dentro dos limites desta análise geral, chegar a uma estimativa adequada de seu caráter.

Tais tribulações, por mais penosas que tenham sido, não parecem ter chegado ao seu clímax, nem

exercido toda a força de seu poder destrutivo. O mundo inteiro, onde quer e de qualquer modo que o

examinemos, oferece-nos um espetáculo triste e lamentável de um vasto, debilitado e moribundo

organismo que está sendo politicamente esmigalhado e economicamente estrangulado pelas forças que

deixou de controlar ou de entender. A Grande Depressão, resultante das severas tribulações que a

humanidade jamais experimentou, a desintegração do sistema de Versalhes, o recrudescer do

militarismo em seus aspectos mais ameaçadores, a falha das inúmeras experiências e das recém criadas

instituições para salvaguardar a paz e a tranqüilidade dos povos, classes e nações, desiludiram a

humanidade amargamente e deixaram seu espírito prostrado. Suas esperanças estão, em sua maior

parte, despedaçadas, sua vitalidade está se extinguindo, sua vida estranhamente desordenada, e sua

unidade severamente comprometida.

No continente europeu, ódios inveterados e rivalidades crescentes estão mais uma vez

arregimentando seus malfadados povos e nações em blocos destinados a precipitar as mais terríveis e

implacáveis tribulações que a humanidade sofreu em todos os seus registros de martírios. No

continente norte-americano, a derrocada econômica, a desorganização industrial, o descontentamento

geral com as desastrosas experiências com vistas a reajustar uma economia em desequilíbrio, e o

desassossego e o temor, inspirados pela ameaça dos problemas políticos tanto na Europa como na Ásia,

pressagiam uma situação que bem poderá ser uma das fases mais críticas da história da República

americana. A Ásia, ainda em grau maior, passando por uma das mais severas provações que

experimentou em sua história recente, encontra-se em perigo, nos seus confins orientais, pelo ataque

das forças que ameaçam intensificar as lutas que o nacionalismo e a industrialização crescentes de seus

povos emancipados deverão por fim engendrar. No coração da África, queima o fogo de uma atroz e

sanguinária guerra – uma guerra que, quaisquer que sejam suas conseqüências, está destinada a exercer,

através de suas repercussões no mundo todo, uma influência muito perturbadora sobre as raças e nações

negras da humanidade.

Com não menos de dez milhões de pessoas prontas para a guerra, treinadas e instruídas para

usar as mais abomináveis máquinas de destruição que a ciência já criou; com três vezes o número

daqueles irritados e descontentes dominados por raças e governos estrangeiros; com um igualmente

vasto exército de exasperados cidadãos incapazes de obter para si os bens materiais e as necessidades

que outros estão deliberadamente destruindo; com uma massa ainda maior de seres humanos gemendo

sob o peso de armamentos cada vez mais numerosos, e empobrecidos pelo virtual colapso do comércio

internacional – com males como esses, a humanidade parece estar definitivamente adentrando as

fronteiras mais distantes da fase mais agonizante de sua existência.

Não é de admirar que numa recente declaração, feita por um dos mais destacados ministros na

Europa, esta advertência tenha sido deliberadamente enfatizada: "Se a guerra irromper novamente em

uma escala maior na Europa, deverá trazer consigo o colapso da civilização como a conhecemos. Nas

palavras do falecido Lord Bryce: "Se vocês não acabarem com a guerra, a guerra acabará com vocês."

"Pobre Europa está em estado de neurastenia..." é o testemunho de uma das mais destacadas figuras

dentre nossos atuais ditadores. "Ela perdeu sua capacidade de recuperação, a força vital de coesão e

síntese. Outra guerra irá nos destruir." "Parece que", escreve um dos mais eminentes e eruditos

dignitários da Igreja Cristã, "precisa ocorrer mais um grande conflito na Europa para finalmente se

estabelecer, de uma vez para sempre, uma autoridade internacional. Este conflito será o mais horrível

de todos, e possivelmente esta geração será obrigada a sacrificar centenas de milhares de vidas."

O fracasso desastroso tanto das conferências de desarmamento como econômicas; os obstáculos

diante das negociações para a limitação dos armamentos navais; a retirada de duas das mais poderosas

e fortemente armadas nações do mundo das atividades e da participação na Liga das Nações; a

inaptidão do sistema parlamentar de governo conforme comprovado pelos recentes acontecimentos na

Europa e América; a inabilidade dos líderes e expoentes do movimento comunista em vindicar o

alardeado princípio da ditadura do proletariado; os perigos e as privações aos quais os governantes dos

estados totalitários submeteram seus súditos nos últimos anos – tudo isso demonstra, acima de qualquer

sombra de dúvida, a impotência das instituições atuais para evitar as calamidades com as quais a

sociedade humana está sendo cada vez mais ameaçada. O que mais resta, bem pode perguntar uma

geração desnorteada, para reparar a fenda que se alarga cada vez mais e que poderá, a qualquer

momento, engolfá-la?

Assediados de todos os lados pelas múltiplas evidências de desintegração, tumulto e

decadência, homens e mulheres sérios, de praticamente todas as camadas sociais, começam a duvidar

se a sociedade, tal como está hoje organizada, conseguirá, por seus próprios esforços, libertar-se do

atoleiro em que se afunda cada vez mais. Todos os sistemas, exceto a unificação da raça humana, foram

experimentados, repetidamente tentados, e considerados falhos. Guerras e mais guerras foram travadas;

e incontáveis conferências deliberativas realizadas. Tratados, pactos e alianças foram arduamente

negociados, concluídos e revisados. Sistemas de governo foram pacientemente testados, continuamente

reformulados e suplantados. Planos de reconstrução econômica foram cuidadosamente elaborados e

executados com meticulosidade. E, ainda assim, crises se sucedem umas às outras e a rapidez com que

declina este mundo perigosamente instável se acelera proporcionalmente. Um imenso abismo ameaça

envolver numa única catástrofe tanto as nações satisfeitas quanto as insatisfeitas, as democracias e

ditaduras, capitalistas e assalariados, europeus e asiáticos, judeus e gentios, brancos e negros. Uma

irada Providência, diria o cínico, abandonou um planeta desafortunado à sua própria sorte e determinou

sua irrevogável destruição. Sofrida e desiludida, a humanidade certamente perdeu sua orientação e

parece ter perdido também sua fé e esperança. Ela cambaleia, desorientada e cega, à beira do abismo.

Uma sensação de fatalidade parece permeá-la. Um desalento cada vez mais profundo vai cobrindo seus

destinos, à medida que ela se afasta, mais e mais, dos limites externos da área mais sombria de sua vida

agitada e penetra no íntimo de seu coração.

E ainda assim, enquanto as nuvens continuamente se avolumam, não poderíamos afirmar que

lampejos de esperança, brilhando intermitentemente no horizonte internacional, aparecem de tempo em

tempo para aliviar a escuridão que envolve a humanidade? Seria inverídico afirmar que, num mundo

carente de fé e com a mente perturbada, num mundo cada vez mais fortemente armado e com ódios e

rivalidades irreconciliáveis, o progresso das forças que trabalham em harmonia com o espírito da

época, embora vacilante, já pode ser discernido? Embora seja cada vez maior e mais insistente o clamor

levantado pelo nacionalismo do após-guerra, a Liga das Nações ainda se encontre em estado

embrionário, e as nuvens tempestuosas que se avolumam possam, por algum tempo, eclipsar seus

poderes e obliterar sua maquinaria, ainda assim a direção na qual a própria instituição opera é bastante

significativa. As vozes que se ergueram desde sua criação, os esforços feitos e o trabalho já realizado,

prenunciam os triunfos que essa instituição atualmente constituída, ou qualquer outro corpo que venha

a substituí-la, está destinado a alcançar.
O PRINCÍPIO DE SEGURANÇA COLETIVA DE Bahá'u'lláh

Um Pacto geral sobre segurança tem sido o propósito central em cuja direção esses esforços

tendem a convergir desde que foi criada a Liga das Nações. O Tratado de Garantia que foi considerado

e discutido pelos seus membros nos estágios iniciais de seu desenvolvimento; o debate sobre o

Protocolo de Genebra que num período posterior acendeu uma tão feroz controvérsia entre as nações,

tanto dentro da Liga como fora dela; a subseqüente proposta para a criação dos Estados Unidos da

Europa e a unificação econômica daquele continente; e por fim, mas não menos importante, a política

de sanções iniciada por seus membros, podem ser considerados como marcos significativos em sua

tumultuada história. O fato de que nada menos de cinqüenta nações do mundo, todas membros da Liga

das Nações, terem reconhecido, depois de maduras deliberações, e pronunciado seu veredicto contra

um ato de agressão que, em seu julgamento, fora deliberadamente cometido por um de seus estados-

membros e um dos principais Poderes da Europa; o fato de eles terem, na sua maioria, concordado em

impor sanções coletivas contra o agressor condenado, e terem sido bem sucedidos em efetivar grande

parte de sua decisão, é sem dúvida algo sem paralelo na história humana. Pela primeira vez na história

da humanidade, o sistema de segurança coletiva, previsto por Bahá'u'lláh e explicado por 'Abdu'l-

Bahá, foi seriamente considerado, discutido e testado. Pela primeira vez na história foi oficialmente

reconhecido e publicamente declarado que para o sistema de segurança coletiva ser efetivamente

estabelecido, são essenciais tanto poder como flexibilidade – poder envolvendo o uso de uma força

militar para assegurar a eficácia do sistema proposto, e flexibilidade para permitir que a maquinaria

criada possa atender às legítimas necessidades e aspirações de seus aflitos apoiadores. Pela primeira

vez na história humana, as nações do mundo fizeram esforços experimentais para assumir

responsabilidade coletiva, e suplementar seus comprometimentos verbais com preparação efetiva para

ação coletiva. E, novamente, pela primeira vez na história, ocorreu um movimento de opinião pública

em apoio ao veredicto que os líderes e representantes das nações pronunciaram e à garantia da ação

coletiva decorrente de tal decisão.

Quão claras, quão proféticas devem soar as palavras enunciadas por Bahá'u'lláh à luz dos

recentes acontecimentos internacionais:

"Sede unidos, ó assembléia de soberanos da terra, pois assim a tempestade da discórdia

se aquietará entre vós, e vossos povos encontrarão sossego. Se qualquer um dentre vós

lançar mão de armas contra outro, levantai-vos contra ele, pois isso nada mais é que

justiça manifesta."

E escreveu, prevendo os tentativos esforços que estão sendo feitos agora:

"Há de vir o tempo em que se compreenderá universalmente a imperiosa necessidade de

convocar uma vasta assembléia que abranja todos os homens. Os reis e governantes da

terra deverão assisti-la e, participando de suas deliberações, considerar os meios de

lançar entre os homens os alicerces da Grande Paz Mundial... Se qualquer rei empregar

armas contra outro, todos unidos devem se levantar e o impedi-lo."

'Abdu'l-Bahá, tratando desse tema, escreve:

"Os soberanos do mundo devem concluir um tratado obrigatório e estabelecer um

convênio cujas provisões sejam sólidas, invioláveis e definidas. Eles devem proclamá-lo

ao mundo inteiro e obter para ele a sanção de toda raça humana... Todas as forças da

humanidade devem ser mobilizadas para assegurar a estabilidade e a permanência deste

Maior Convênio... O princípio fundamental que forma a base deste Pacto solene deve ser

tão estável que, se qualquer governo violar posteriormente alguma de suas provisões,

todos os governos da terra devem levantar-se para reduzi-lo à absoluta submissão, mais

ainda, a raça humana como um todo deve decidir, com todo o poder à sua disposição,

destruir aquele governo."

Não há dúvida de que tudo o que já foi realizado, por mais significativo e exemplar que seja na

história da humanidade, está imensuravelmente aquém das exigências essenciais do sistema que essas

palavras predizem. A Liga das Nações, dirão seus oponentes, ainda carece da universalidade que é o

pré-requisito de um sucesso duradouro na formulação eficaz de acordos em disputas internacionais. Os

Estados Unidos da América, um de seus criadores, repudiou-a e continua ainda alheio a ela, enquanto a

Alemanha e o Japão, considerados dentre os seus mais fortes apoiadores, abandonaram sua causa e

deixaram de ser seus membros. As decisões tomadas e as ações até agora iniciadas, dirão outros, devem

ser consideradas apenas como um gesto magnificente, em vez de uma evidência conclusiva da

solidariedade internacional. Ainda outros poderão argumentar que embora tal veredicto tenha sido

pronunciado, e tais compromissos assumidos, uma ação coletiva deverá, por fim, falhar em seu objetivo

maior, e que a própria Liga irá perecer e ser engolfada pela maré de tribulações destinada a sobrevir a

toda a raça humana. Seja como for, a importância dos passos já tomados não pode ser ignorada.

Qualquer que seja a condição atual da Liga, ou o resultado de seu veredicto histórico, quaisquer que

sejam as dificuldades e revezes que, num futuro imediato, ela ainda tenha que enfrentar e superar, é

preciso reconhecer o fato de que tão importante decisão define um dos mais significativos marcos no

longo e árduo caminho que deverá levá-la à sua meta, o estágio no qual a unicidade de todo o corpo de

nações tornar-se-á o princípio orientador da vida internacional.

Este passo histórico, porém, é apenas um fraco lampejo na escuridão que envolve uma

humanidade conturbada. Bem poderá se evidenciar como um mero lampejo, um rápido clarão, em meio

a uma confusão cada vez mais profunda. O processo de desintegração deve continuar inexoravelmente,

e sua influência corrosiva penetrar cada vez mais fundo no próprio cerne de uma idade em decadência.

Muito sofrimento será ainda exigido até que os conflitantes credos, classes e raças da humanidade

sejam fundidos no cadinho de uma aflição universal, e amalgamados, pelo fogo de uma provação

severa, numa comunidade mundial orgânica, um sistema um vasto e unificado, funcionando

harmoniosamente. Adversidades inimaginavelmente aterradoras, crises e levantes jamais sonhados,

guerra, fome e peste, bem poderão ser combinados para gravar na alma de uma geração desatenta

aquelas verdades e princípios que desdenhou reconhecer e seguir. Uma paralisia mais dolorosa que

qualquer outra já conhecida deverá advir e aumentar a aflição da generalidade de uma sociedade falida,

até que possa ser reconstruída e regenerada.
Bahá'u'lláh escreve:

"A civilização tão freqüentemente alardeada pelos expoentes eruditos das ciências e

letras, trará grande mal aos homens se lhe for permitido ultrapassar os limites da

moderação... Se for levada a um excesso, a civilização se provará ser tão prolífica fonte

de mal como o fora de bem, enquanto restrita pela moderação... Aproxima-se o dia em

que sua chama devorará as cidades, quando a Língua da Grandeza proclamará: 'De

Deus, o Onipotente, o Todo-Louvado, é o Reino!'"
E Ele adiciona:

"Desde o momento em que foi revelada a Súriy-i-Ra'ís (Epístola a Ra'ís) até o dia

presente, nem o mundo se tranqüilizou, nem os corações de seus povos encontraram

sossego... Sua doença aproxima-se da etapa do desespero completo, desde que ao

Médico verdadeiro é vedado administrar o remédio, enquanto aqueles sem habilidade

são vistos com favor, sendo-lhes concedida plena liberdade de ação. O pó da sedição

anuviou os corações dos homens e lhes cegou os olhos. Em breve, perceberão as

conseqüências daquilo que suas mãos perpetraram no Dia de Deus."

Mais uma vez escreve:

"Este é o Dia em que a terra fará ressoar suas novas. Os obreiros da iniqüidade são sua

carga... O Pregoeiro bradou e os homens foram levados com violência, tal foi a fúria de

Sua ira. O povo da esquerda suspira e lamenta. O povo da direita habita em moradas

nobres: sorvem do Vinho que é a vida verdadeira, oferecido pelas mãos do Todo-

Misericordioso, e eles são, em verdade, os ditosos."

A COMUNIDADE DO MÁXIMO NOME

Quem mais poderia sentir-se jubilosa senão a comunidade do Máximo Nome, cujas atividades

de âmbito mundial e em contínua consolidação, constituem o único processo de integração num mundo

cujas instituições, seculares e religiosas estão, em grande parte, dissolvendo-se? Elas, em verdade, são

"o povo da direita" cuja "nobre habitação" está fixada sobre os alicerces da Ordem Mundial de

Bahá'u'lláh – a Arca da salvação eterna neste Dia mais penoso. De todos os povos da terra, apenas eles

podem reconhecer, em meio à confusão de uma época tempestuosa, a Mão do Redentor Divino que

traça seu caminho e controla seus destinos. Eles somente estão conscientes do silencioso crescimento

daquele sistema mundial cuja estrutura eles próprios estão erigindo.

Conscientes de sua elevada vocação, confiantes no poder de construção da sociedade que a Fé

possui, eles seguem avante, de forma destemida e inabalável, em seus esforços para moldar e

aperfeiçoar os instrumentos necessários nos quais a embrionária Ordem Mundial de Bahá'u'lláh poderá

amadurecer e se desenvolver. Este processo de crescimento, lento e discreto, ao qual a vida da

comunidade Bahá'í mundial está inteiramente consagrada, constitui a única esperança de uma

sociedade aflita. Pois este processo é estimulado pela influência geradora do imutável Propósito de

Deus, e está evoluindo dentro da estrutura da Ordem Mundial de Sua Fé.

Num mundo em que a estrutura das instituições sociais e políticas está debilitada, em que a

visão está nublada, em que a consciência se encontra confusa, em que os sistemas religiosos se

tornaram anêmicos e perderam sua virtude, esta Intervenção curadora, este Poder de fermentação, esta

Força coesiva, intensamente viva e abrangente, está tomando forma, cristalizando-se em instituições,

mobilizando suas forças e está se preparando para a conquista espiritual e para a completa redenção da

humanidade. Embora seja pequena a sociedade que encarna seus ideais, e seus benefícios diretos e

tangíveis sejam ainda parcos, mesmo assim são incalculáveis as potencialidades das quais está dotada,

e através da qual está destinada a regenerar o indivíduo e reconstruir um mundo arruinado.

Por aproximadamente um século, em meio ao barulho e tumulto de uma era perturbada, e a

despeito das incessantes perseguições às quais seus líderes, instituições e seguidores foram submetidos,

ela conseguiu preservar sua identidade, reforçar sua estabilidade e força, manter sua unidade orgânica,

preservar a integridade de suas leis e princípios, erguer suas defesas, e ampliar e consolidar suas

instituições. Numerosas e poderosas foram as forças que, tanto interna como externamente, em terras

próximas e longínquas, tramaram extinguir sua luz e abolir seu nome sagrado. Alguns renegaram seus

princípios e traíram sua causa de forma ignominiosa. Outros lançaram contra ela, as mais ferozes

execrações que apenas líderes religiosos enfurecidos seriam capazes de pronunciar. Ainda outros

submeteram-na a aflições e humilhações que somente uma autoridade soberana em pleno exercício de

seu poder é capaz de infligir.

O máximo que seus inimigos declarados e secretos podiam esperar conseguir era retardar seu

crescimento e obscurecer momentaneamente seu propósito. O que efetivamente conseguiram foi purgar

e purificar sua vida, aprofundá-la ainda mais, galvanizar sua alma, expurgar suas instituições e

consolidar sua unidade. Um cisma e uma ruptura permanente no vasto corpo de seus aderentes, jamais

conseguiram.

Aqueles que traíram sua causa, seus tíbios e fracos apoiadores, murcharam e caíram como

folhas mortas, incapazes de anuviar sua luz ou ameaçar sua estrutura. Seus adversários mais

implacáveis, aqueles que a atacavam externamente, foram destituídos do poder e, da forma mais

espantosa, encontraram sua ruína. A Pérsia havia sido a primeira a reprimir e opor-se a ela. Seus

monarcas caíram miseravelmente, sua dinastia entrara em colapso, seus nomes foram execrados, a

hierarquia que fora sua aliada e que a tinha amparado em seu declínio, foi totalmente desacreditada. A

Turquia, que por três vezes baniu seu Fundador e infligiu a Ele um longo e cruel aprisionamento,

passara por uma das mais severas provações e maiores revoluções dos anais de sua história, reduzindo-

se de um dos mais poderosos impérios a uma simples república asiática, seu sultanato fora obliterado,

sua dinastia destronada, seu califado, a mais poderosa instituição do islã, abolido.

Enquanto isto, a Fé que tinha sido objeto de tão monstruosas traições e alvo de tão deploráveis

ataques, ia passando de dificuldade em dificuldade, sendo refinada, destemida e sem ser dividida pelas

injúrias que recebera. Em meio a tribulações, havia inspirado em seus leais seguidores uma

determinação que nenhum obstáculo, mesmo grandioso, poderia solapar. Havia acendido em seus

corações uma fé que nenhum infortúnio, por mais opressivo que fosse, poderia arrefecer. Havia

infundido em seus corações uma esperança que nenhuma força, embora decidida, poderia destruir.

UMA RELIGIÃO MUNDIAL

Deixando de se designar como um movimento, uma fraternidade ou algo semelhante –

designações que fizeram grave injustiça ao seu sistema em crescente desenvolvimento – dissociando-se

de tais designações como seita Bábí, um ramo do islã xiita, com o qual ignorantes e maliciosos estavam

acostumados a descrevê-la, recusando ser rotulada como uma mera filosofia de vida, ou como um

código eclético de conduta ética, ou mesmo como uma religião, a Fé de Bahá'u'lláh está visivelmente

conseguindo demonstrar claramente sua reivindicação e direito de ser considerada uma Religião

Mundial, destinada a alcançar, na plenitude do tempo, a condição de uma Comunidade de âmbito

mundial que será, ao mesmo tempo, o instrumento e o guardião da Paz Máxima anunciada por seu

Autor. Longe de desejar somar-se ao número dos sistemas religiosos, cujas lealdades conflitantes

perturbaram a paz da humanidade por tantas gerações, esta Fé está instilando em cada um de seus

seguidores um novo amor pelas diversas religiões representadas em seu seio e um genuíno

reconhecimento da unidade subjacente a elas.

Tal é o testemunho da realeza ao seu direito e posição:

"É como um grande abraço que reúne todos aqueles que há muito buscam palavras de

esperança. Ela aceita todos os grandes Profetas do passado, não destrói outros credos e

deixa todas as portas abertas."
Ela afirma ainda, por escrito:

"Os ensinamentos Bahá'ís trazem paz à alma e esperança ao coração. Para aqueles que

buscam certeza, as palavras do Pai são como uma fonte de água no deserto após uma

longa jornada."

Ela testifica em outra declaração, referindo-se a Bahá'u'lláh e a 'Abdu'l-Bahá:

"Os Seus escritos são um grande chamado para a paz, alcançando todos os limites das

fronteiras, acima de toda discrepância a respeito de ritos e dogmas. ... É uma gloriosa

mensagem que Bahá'u'lláh e Seu filho, 'Abdu'l-Bahá, nos deram. Eles não a

estabeleceram de forma agressiva, sabendo que o embrião da verdade eterna que vive em

seu íntimo não terá outro caminho a não ser enraizar-se e espalhar-se."

E seu apelo é conclusivo:

"Se um dia o nome de Bahá'u'lláh ou 'Abdu'l-Bahá chegar ao seu conhecimento, não os

coloquem de lado. Saiam à procura de Seus Livros e deixem que Suas gloriosas,

pacíficas, amorosas palavras e lições, mergulhem em seus corações assim como fizeram

no meu."

A Fé de Bahá'u'lláh, em virtude de suas energias criativas, reguladoras e enobrecedoras,

incorporou as diferentes raças, nacionalidades, credos e classes que buscaram abrigo à sua sombra e

confirmaram lealdade inabalável à sua causa. Ela transformou os corações de seus seguidores, acabou

com seus preconceitos, acalmou suas paixões, elevou seus conceitos, enobreceu seus motivos,

coordenou seus esforços e transformou sua visão. Preservando seu patriotismo e salvaguardando suas

lealdades menores, fez deles amantes da humanidade e decididos apoiadores de seus maiores e

melhores interesses. Mantendo intacta sua fé na origem divina de suas respectivas religiões,

possibilitou-lhes visualizar o propósito subjacente dessas religiões, descobrir seus méritos, reconhecer

sua seqüência, sua interdependência, sua integração e unidade, e aceitar aqueles laços vitais que as une

a si. Este amor transcendente e universal que os seguidores da Fé Bahá'í sentem por seus concidadãos,

qualquer que seja sua raça, credo, classe ou nação, não é nem misterioso nem se pode chamar de

artificialmente estimulado. É tanto espontâneo como genuíno. Aqueles cujos corações são aquecidos

pela influência energizante do amor criativo de Deus estimam Suas criaturas por Sua causa e

reconhecem em cada face humana um sinal refletido de Sua glória.

De tais homens e mulheres pode-se dizer realmente que para eles "toda terra estranha é sua

pátria, e toda pátria, uma terra estranha." Pois sua cidadania, deve ser lembrado, é o Reino de

Bahá'u'lláh. Embora dispostos a compartilhar ao máximo os benefícios temporais e as alegrias

passageiras que esta vida terrena pode oferecer, embora ansiosos de participar em qualquer atividade

que conduza à riqueza, felicidade e paz dessa vida, nunca podem se esquecer que ela nada mais é que

um breve período transitório de sua existência, e que os que dela participam são apenas peregrinos e

andarilhos cuja meta é a Cidade Celestial, e cujo lar é o País da alegria e brilho infalíveis.

Embora leais aos seus respectivos governos, profundamente interessados em qualquer coisa que

afete sua segurança e bem-estar, ansiosos por compartilhar tudo o que promova seus melhores

interesses, a Fé com a qual os seguidores de Bahá'u'lláh se identificam, acreditam eles firmemente, foi

elevada por Deus acima das tempestades, divisões e controvérsias da arena política. Compreendem ser

sua Fé não-política, de caráter supranacional, rigorosamente não-partidária e inteiramente dissociada de

ambições, metas e propósitos nacionalistas. Tal Fé não conhece divisão de classe ou partido.

Subordina, sem hesitação, todo e qualquer interesse particular, seja pessoal, regional ou nacional, aos

interesses maiores da humanidade, firmemente convencida de que num mundo de povos e nações

interdependentes, o proveito da parte será melhor alcançada pelo proveito do todo, e que nenhum

benefício permanente pode ser conferido às partes componentes se os interesses gerais da própria

entidade forem ignorados ou negligenciados.

Portanto, não é de admirar que a Pena de Bahá'u'lláh tenha escrito estas proféticas palavras

prevendo o estágio atual da humanidade:

"Que não se vanglorie quem ama seu próprio país, mas sim, quem ama o mundo inteiro.

A terra é um só país, e os seres humanos, seus cidadãos."

E ainda:

"É homem, verdadeiramente, quem hoje se dedica ao serviço da humanidade inteira."

E explica:

"Através do poder que emana destas palavras excelsas, Ele concedeu um novo impulso e

determinou uma nova direção para as aves dos corações humanos, e do Sagrado Livro de

Deus obliterou Ele todo vestígio de restrição e limitação."

Sua Fé, crêem firmemente os Bahá'ís, é, além disso, não-impositiva, não-sectária, e inteiramente

divorciada de qualquer sistema eclesiástico, qualquer que seja sua forma, origem ou atividades.

Nenhum sistema eclesiástico, com seus credos, tradições, limitações e sua visão exclusiva, (como é o

caso das atuais facções políticas, partidos, sistemas e programas) pode ser dito correspondente, em

qualquer dos seus aspectos, aos princípios cardeais da crença bahá'í. A alguns dos princípios e idéias

que animam as instituições políticas e eclesiásticas, qualquer seguidor consciente da Fé de Bahá'u'lláh

pode, sem dúvida, prontamente aderir. Com nenhuma dessas instituições, porém, ele poderá se

identificar, nem endossar integralmente os credos, os princípios e os programas sobre os quais se

baseiam.

Como poderia uma Fé, deve-se também ter em mente, cujas instituições divinamente ordenadas

conseguiram se estabelecer em nada menos de quarenta diferentes países em que as políticas e

interesses de seus governos estão continuamente em choque e se tornando cada vez mais complexos e

confusos – como poderia uma Fé que permitindo a seus membros, seja individualmente ou através de

seus conselhos organizados, intrometerem-se em atividades políticas – conseguir preservar a

integridade de seus ensinamentos e salvaguardar a unidade de seus seguidores? Como poderia ela

assegurar o desenvolvimento vigoroso, pacífico e ininterrupto de suas instituições em expansão? Como

poderia uma Fé, cujas ramificações a colocaram em contato com sistemas, seitas e confissões religiosas

incompatíveis, estar em posição de reivindicar a obediência incondicional daqueles que está se

esforçando por incorporar em seu sistema divinamente ordenado, se permitir que seus aderentes apóiem

práticas e doutrinas obsoletas? Como poderia evitar o constante atrito, os mal-entendidos e

controvérsias que uma afiliação formal, diferente de um companheirismo, deve inevitavelmente

engendrar?

Os apoiadores da Causa de Bahá'u'lláh se sentem compelidos, à medida que sua Ordem

Administrativa se expande e se consolida, a afirmar e aplicar vigilantemente estes princípios

orientadores e reguladores da crença bahá'í. As exigências de uma Fé que aos poucos vai se

cristalizando impõe a eles um dever do qual não podem se esquivar, uma responsabilidade da qual não

podem se evadir.

Nem podem esquecer da imperativa necessidade de apoiar e executar as leis, como distintas dos

princípios, ambos ordenados por Bahá'u'lláh e que constituem as bases das instituições sobre as quais a

estrutura de Sua Ordem Mundial deve finalmente se estabelecer. Para demonstrar sua utilidade e

eficácia, para realizá-las e aplicá-las, para salvaguardar sua integridade, para compreender suas

implicações, e para facilitar sua propagação, as comunidades Bahá'ís do Oriente, e recentemente

também no Ocidente, estão demonstrando o máximo esforço e estão dispostos a fazer quaisquer

sacrifícios que se fizerem necessários. Pode não estar longe o dia quando, em alguns países do Oriente,

cujas comunidades religiosas têm jurisdição sobre assuntos de nível pessoal, que as Assembléias

Bahá'ís sejam chamadas a assumir os deveres e responsabilidades que recaem oficialmente sobre as

cortes Bahá'ís constituídas. Elas terão o poder, em assuntos como casamento, divórcio e herança, de

executar e aplicar, dentro de suas respectivas jurisdições, e com a sanção das autoridades civis, as leis e

mandamentos conforme expressamente determinados em seu Livro Sacratíssimo.

Em adição a essas tendências e atividades que sua evolução está agora revelando, a Fé de

Bahá'u'lláh tem demonstrado, em outras esferas, onde sua luz adentrou, a força de sua energia coesiva,

de seu poder de integração, de seu espírito invencível. Na construção e consagração de sua Casa de

Adoração no coração do continente norte-americano; na construção e multiplicação de suas sedes

administrativas na terra de seu nascimento e em países vizinhos; na composição dos instrumentos

legais previstos para salvaguardarem e regularem a vida corporativa de suas instituições; na

acumulação de recursos materiais e culturais adequados em todos os continentes do globo; nas

propriedades que adquiriu nas imediações de seus Santuários no Centro Mundial; nos esforços que vem

fazendo para colecionar, verificar e sistematizar os Escritos de seus Fundadores; nas medidas que estão

sendo tomadas para a aquisição de importantes locais históricos associados às vidas de seu Precursor e

do Autor de sua Fé, seus heróis e mártires; nas fundações que estão sendo montadas para a gradual

formação e estabelecimento de suas instituições educacionais, culturais e humanitárias; nos esforços

vigorosos que estão sendo feitos para salvaguardar o caráter, estimular a iniciativa e coordenar as

atividades de seus jovens em todo o mundo; na extraordinária vitalidade com a qual seus valiosos

defensores, seus representantes eleitos, seus instrutores viajantes e pioneiros administradores estão

servindo sua causa, estendendo suas fronteiras, enriquecendo sua literatura e fortalecendo a base de

suas conquistas e triunfos espirituais; no reconhecimento que as autoridades civis têm, em alguns casos,

concedido aos seus representantes locais e nacionais, permitindo-lhes registrar oficialmente seus

conselhos, estabelecer suas instituições subsidiárias e salvaguardar suas propriedades; nas facilidades

que essas mesmas autoridades têm consentido conceder aos seus santuários, seus edifícios consagrados,

e instituições educacionais; no entusiasmo e determinação com os quais determinadas comunidades que

foram severamente testadas e fustigadas estão reassumindo suas atividades; nos tributos espontâneos

prestados por membros da realeza, príncipes, homens públicos e eruditos à sublimidade de sua causa e

à posição de seus Fundadores – nestes, e em muitos outros, a Fé de Bahá'u'lláh está provando, além de

qualquer dúvida, sua virilidade e capacidade de contrapor-se às influências desintegrantes às quais os

sistemas religiosos, padrões morais e instituições sociais e políticas estão sendo submetidos.

Da Islândia à Tasmânia, de Vancouver ao Mar da China, espalha-se a luz e estendem-se as

ramificações deste Sistema de abrangência mundial, esta Fraternidade multicolorida e firmemente

unida, infundindo em todos os homens e mulheres que atraiu à sua causa uma fé, uma esperança e um

vigor que uma geração teimosa há muito perdeu e mostra-se impotente para recuperar. Aqueles que

comandam o destino imediato deste mundo atribulado, aqueles que são responsáveis por seu estado

caótico, seus temores, dúvidas e misérias, bem fariam se, na confusão em que se encontram, fixassem

seu olhar e ponderassem em seus corações, as evidências desta graça salvadora do Todo-Poderoso que

se encontra ao seu alcance – uma graça que pode aliviar sua carga, resolver suas perplexidades e

iluminar seu caminho.
RETRIBUIÇÃO DIVINA

A humanidade inteira está se lamentando, desejando ardentemente ser levada à unidade e

terminar seu martírio de longa data. E apesar disso teimosamente recusa abraçar a luz e reconhecer a

autoridade soberana do único Poder que poderá tirá-la de seus embaraços e evitar a terrível calamidade

que ameaça engolfá-la.

Ominosa é, em verdade, a voz de Bahá'u'lláh que ressoa através destas proféticas palavras:

"Ó vós povos do mundo! Sabei, em verdade, que uma calamidade imprevista vos segue

e severa retribuição vos espera."
E ainda:

"Temos um tempo marcado para vós, ó povos. Se, na hora designada, deixardes de vos

volver a Deus, Ele, verdadeiramente, porá as mãos em vós com violência e fará com que

penosas aflições vos acometam de todas as direções. Como é severo, em verdade, o

castigo com o qual vosso Senhor, então, vos castigará..."

Deve a humanidade, atormentada como está agora, ser ainda afligida por tribulações mais

severas para que sua influência purificadora a prepare para entrar no Reino celestial que deverá ser

estabelecido na terra? Deve a inauguração de tão grandiosa, tão singular, tão iluminada era na história

humana ser introduzida por tão grande catástrofe nos assuntos humanos que lembre, ou melhor, supere

o terrível colapso da civilização romana nos primeiros séculos da era cristã? Deve uma série de

profundas convulsões agitar e abalar a raça humana até que Bahá'u'lláh possa ser entronizado nos

corações e nas consciências das massas, até que Sua ascendência indiscutível seja universalmente

reconhecida e o nobre edifício de Sua Ordem Mundial seja erigido e estabelecido?

As longas eras da infância e puberdade, através das quais a raça humana teve de passar, ficaram

no passado. A humanidade está atualmente experimentando as comoções invariavelmente associadas

ao estágio mais turbulento de sua evolução, o estágio da adolescência quando a impetuosidade da

juventude e sua veemência atingem seu clímax, e deve gradualmente ser superada pela calma, pela

sabedoria e pela maturidade que caracterizam o estágio adulto. Então a raça humana irá alcançar o grau

de maturidade que lhe permitirá adquirir todos os poderes e capacidades dos quais, em última instância,

depende seu desenvolvimento.
UNIDADE MUNDIAL – A META

A unificação da humanidade inteira é o distintivo da etapa da qual a sociedade humana

atualmente se aproxima. A unidade de família, a de tribo, a de cidade-estado e a de nação, foram

sucessivamente tentadas e completamente estabelecidas. A unidade do mundo é agora a meta à qual a

humanidade, em sua aflição, dirige seus esforços. O processo de formar nações já chegou ao fim. A

anarquia inerente à soberania estatal aproxima-se de um clímax. Um mundo marchando para a

maturidade deve abandonar esse ídolo, reconhecer a unicidade e a integridade das relações humanas e

estabelecer, de uma vez por todas, os instrumentos que melhor possam concretizar este princípio

fundamental de sua vida.
Proclama Bahá'u'lláh:

"Uma nova vida nesta era, está vibrando em todos os povos da terra; contudo, ninguém

lhe descobriu a causa nem percebeu o motivo."
Ele, desta forma, se dirige à Sua geração:

"Ó vós filhos dos homens! O desígnio fundamental que anima a Fé de Deus e Sua

Religião é a proteção dos interesses e a promoção da unidade da raça humana... É este o

Caminho reto, o alicerce fixo e imóvel. Qualquer coisa que se erga nesse alicerce, as

mudanças e vicissitudes do mundo jamais lhe poderão prejudicar a força nem a

revolução de séculos incontáveis lhe solapar a estrutura."

E Ele declara:

"O bem-estar da humanidade, sua paz e segurança, são irrealizáveis, a não ser que,

primeiro, se estabeleça firmemente sua unidade."
Seu testemunho adicional é:

"Tão poderosa é a luz da unidade que pode iluminar toda a terra. O Deus Uno e

Verdadeiro, Quem conhece todas as coisas, testifica, Ele mesmo, a verdade destas

palavras... Esta meta supera a qualquer outra meta; esta aspiração é o monarca de todas

as aspirações."
Ele também escreveu:

"Aquele que é vosso Senhor, o Todo-Misericordioso, nutre em Seu coração o desejo de

ver o gênero humano inteiro como uma só alma e um só corpo. Apressai-vos a ganhar

vosso quinhão da benévola graça e misericórdia de Deus, neste Dia que eclipsa todos os

outros Dias criados."

A unidade do gênero humano, assim como Bahá'u'lláh a concebeu, compreende o

estabelecimento de uma comunidade mundial em que todas as nações, raças, crenças e classes estejam

estreita e permanentemente unidas, e em que a autonomia dos estados que a compõem, e a liberdade e

iniciativa pessoal dos seus membros individuais, sejam garantidas de um modo definitivo e completo.

Tal comunidade mundial, deve abranger, segundo nosso conceito, uma legislatura mundial, cujos

membros, os representantes de todo o gênero humano, virão a controlar todos os recursos das

respectivas nações componentes e criar as leis que forem necessárias para regular a vida, satisfazer as

necessidades e ajustar as relações de todas as raças e povos entre si. Um executivo mundial, apoiado

por uma força internacional, executará as decisões dessa legislatura mundial, aplicará as leis por ela

criadas, e protegerá a unidade orgânica da inteira comunidade mundial. Um tribunal mundial deverá

adjudicar toda e qualquer disputa que surja entre os vários elementos que constituem esse sistema

universal, sendo irrevogável a sua decisão. Um sistema de intercomunicação mundial será adotado que

abranja todo o planeta, e, livre de qualquer embaraço ou restrição nacional, funcionará com admirável

rapidez e perfeita regularidade. Uma metrópole mundial será o centro de uma civilização mundial, o

foco para onde convergirão as forças unificadoras da vida e da qual hão de irradiar as suas influências

vigorantes. Um idioma mundial será criado ou escolhido dentre as línguas existentes e será ensinado

em todas as escolas de todas as nações federadas como auxiliar à língua nativa. Uma escrita mundial,

uma literatura mundial, um sistema uniforme de moeda, de pesos e medidas simplificarão e facilitarão

o intercâmbio e entendimento entre as nações e raças da humanidade. Em tal sociedade mundial, a

ciência e a religião, as duas forças mais potentes da vida humana, serão reconciliadas, assim

cooperando e desenvolvendo-se harmoniosamente. Não mais será a imprensa, sob tal sistema,

perniciosamente dominada por interesses, quer particulares, quer públicos, embora dê plena expressão

às várias opiniões e convicções do gênero humano; e será livrada da influência de governos e povos

querelantes. Os recursos econômicos do mundo serão organizados, suas fontes de matérias-primas

serão exploradas e completamente utilizadas, seus mercados serão coordenados e desenvolvidos e a

distribuição de seus produtos será regulada de um modo eqüitativo.

As rivalidades entre as nações, os ódios e as intrigas cessarão, e os preconceitos e animosidades

de raça serão substituídos por amizade, entendimento mútuo e cooperação. Não mais existirão os

motivos de contenda religiosa; abolir-se-ão as barreiras e restrições econômicas e a desmedida

distinção entre as classes será eliminada. Desaparecerão a pobreza extrema, por um lado e, por outro, a

excessiva acumulação de bens. A quantidade enorme de energia que se desperdiça com a guerra, quer

econômica ou política, será dedicada a fins como estes: a extensão do alcance das invenções humanas e

do desenvolvimento técnico, o aumento da capacidade produtiva da humanidade, o extermínio das

moléstias, a ampliação das pesquisas científicas, a adoção de mais altos padrões de saúde física, a

refinação do cérebro humano, a exploração dos recursos do planeta que ainda não foram utilizados ou

descobertos, o prolongamento da vida do homem, a promoção de qualquer outro meio de estimular a

vida intelectual, moral e espiritual da humanidade inteira.

A meta para qual a força unificadora da vida impele a humanidade é um sistema federal

mundial que regerá a Terra, exercendo uma autoridade inquestionável sobre seus recursos

inimaginavelmente vastos, harmonizando e incorporando os ideais de Leste e Oeste, liberto do flagelo

da guerra e suas tristes conseqüências, esforçando-se por aproveitar todas as fontes de energia

existentes na superfície do planeta – um sistema em que a Força se subordina à Justiça, e cuja vida é

sustentada por seu reconhecimento universal de um só Deus e sua lealdade a uma Revelação comum.

Afirma 'Abdu'l-Bahá:

"Um dos grandes acontecimentos a se realizarem no dia da manifestação desse Ramo

incomparável é a elevação do Estandarte de Deus entre todas as nações; isto é, todas as

nações e raças entrarão na sombra dessa Bandeira Divina, que não é outra senão o

próprio Ramo Senhoril, e haverão de se tornar um só povo. O antagonismo entre seitas e

religiões, a hostilidade racial e as diferenças nacionais desaparecerão. Todos unir-se-ão

em uma só fé, uma só raça e um mesmo povo, habitando na mesma terra natal, no globo

terrestre."
Explicou Ele, além disso:

"Ora, no mundo da existência, a Mão do poder divino estabeleceu firmemente as bases

desta mais sublime graça e desta maravilhosa dádiva. Tudo o que estiver latente no

âmago deste Ciclo, gradualmente se tornará aparente e manifesto, pois agora é apenas o

começo de seu crescimento e o alvorecer da revelação de seus sinais. Até o final deste

século e desta época, tornar-se-á claro e evidente quão maravilhosa foi aquela torrente e

quão grande aquela dádiva."

Não menos cativante é a visão de Isaias, o maior dos profetas hebreus que predisse, há cerca de

vinte e cinco séculos, o destino que a humanidade iria alcançar em seu estágio de maturidade:

"E Ele (o Senhor) julgará as nações, ele corrigirá a muitos povos. Eles quebrarão as suas

espadas, transformando-as em relhas, e as suas lanças, a fim de fazerem podadeiras.

Uma nação não levantará a espada contra a outra e nem se aprenderá mais a fazer

guerra... Um ramo sairá do tronco de Jessé, um rebento brotará das suas raízes... Ele

ferirá a terra com o bastão da sua boca, e com o sopro de seus lábios matará o ímpio. A

justiça será o cinto de seus lombos e a fidelidade, o cinto de seus rins. Então o lobo

morará com o cordeiro e o leopardo se deitará com o cabrito. O bezerro, o leãozinho e o

gordo novilho andarão juntos... A criança de peito poderá brincar junto à cova da áspide,

a criança pequena porá a mão na cova da víbora. Ninguém fará o mal nem destruição

nenhuma em todo o meu santo monte, porque a terra ficará cheia do conhecimento do

Senhor, como as águas enchem o mar."

O autor do Apocalipse, prevendo a glória milenar que uma humanidade redimida e jubilosa

deverá testemunhar, testificou de modo semelhante:

"Vi então um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra se foram,

e o mar já não existe. Vi também descer do céu, de junto de Deus, a Cidade santa, uma

Jerusalém nova, pronta como uma esposa que se enfeitou para seu marido. Nisto ouvi

uma voz forte que, do trono dizia: 'Eis a tenda de Deus com os homens. Ele habitará

com eles; eles serão o seu povo. E ele, Deus-com-eles, será o seu Deus. Ele enxugará

toda lágrima dos seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, e

nem dor haverá mais. Sim! As coisas antigas se foram!'"

Quem poderá duvidar que tal consumação – a chegada da maturidade da raça humana – deverá

sinalizar, por seu turno, a inauguração de uma civilização mundial como jamais olho mortal

contemplou ou mente humana concebeu? Quem poderá imaginar o elevado padrão que tal civilização,

à medida que se desenvolve, está destinada a alcançar? Quem poderá avaliar as alturas a que a

inteligência humana, liberada de seus grilhões, irá atingir? Quem poderá visualizar os reinos que o

espírito humano, vitalizado pela profusão da luz provinda de Bahá'u'lláh, brilhando na plenitude de sua

glória, irá descobrir?

Que conclusão mais adequada para este tema do que estas palavras de Bahá'u'lláh, escritas em

antecipação à Idade Áurea de Sua Fé – a idade em que a face da terra, de pólo a pólo, irá refletir os

esplendores inefáveis do Paraíso de Abhá?

"Este é o Dia em que nada pode ser visto a não ser os esplendores da Luz que irradia da

face de teu Senhor, o Clemente, o Mais Generoso. Em verdade, fizemos cada alma

expirar em virtude de Nossa soberania irresistível e predominante. Então chamamos para

a existência uma criação nova, em sinal de Nossa graça aos homens. Sou,

verdadeiramente, o Generosíssimo, o Ancião dos Dias. Este é o Dia em que o mundo

invisível exclama: 'Grande é tua ventura, ó terra, pois de ti foi feito o escabelo de teu

Deus, e foste escolhida para ser o assento de Seu poderoso trono.' O reino da glória

brada: 'Oxalá pudesse minha vida se sacrificar por ti, pois Aquele que é o Bem-Amado

do Todo-Misericordioso estabeleceu sobre ti Sua soberania, através do poder de Seu

Nome que foi prometido a todas as coisas, quer do passado, quer do futuro.'"

SHOGHI
Haifa, Palestina,
11 de março de 1936

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