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Shoghi Effendi : A Dispensação de Bahá'u'lláh
A DISPENSAÇÃO DE BAHÁ´U´LLÁH
POR SHOGHI EFFENDI
EDITORA BAHÁ´Í – BRASIL
BAHÁ´U´LLÁH

Aos amados de Deus e servos do Misericordioso em todo o Ocidente.

Colaboradores da Vinha Divina:

No dia 23 de Maio deste auspicioso ano, o mundo bahá´í celebrará o nonagésimo aniversário da fundação da Fé estabelecida por Bahá´u´lláh. Nós que nesta hora nos encontramos no limiar da última década do primeiro século da era bahá´í, bem poderíamos nos deter afim de refletir sobre as graças misteriosas de tão augusta e momentosa Revelação. Que vasto e fascinante panorama é o que se desenrola ante nossos olhos com a revolução de noventa anos! Quase que nos acabrunha sua grandeza sobrepujante. Se apenas se contemplar este espetáculo sem paralelo e formar um conceito, por mais inadequado que seja, das circunstâncias que acompanharam o surgir dessa suprema Teofania e seu desenvolvimento gradativo, e se forem lembradas, ainda que em seu mais simples esboço, as dolorosas lutas que proclamaram seu início e aceleraram sua marcha, isto será o bastante para convencer todo observador imparcial daquelas verdades eternas que motivam a vida desta Revelação e devem continuar a impulsioná-la até que alcance sua destinada ascendência.

Dominando todo o âmbito deste deslumbrante espetáculo, sobressai a figura incomparável de Bahá´u´lláh, de transcendente majestade, serena, venerável, de uma sublimidade sem par. Aliado, embora subordinado em grau, e investido da autoridade de presidir, com Ele, os destinos desta suprema dispensação, brilha sobre este quadro mental o Báb, em toda a glória de Sua juventude, com Sua infinita ternura, com Seu encanto irresistível e heroísmo jamais excedido, e Seu paralelo nas circunstâncias dramáticas de Sua curta e momentosa vida. E surge, finalmente, a personalidade vibrante, magnética de ´Abdu´l-Bahá, ainda que num plano próprio e numa categoria inteiramente distinta daquela ocupada pelas Figuras gêmeas que O precederam. Num grau jamais alcançado por homem algum, por elevada que fosse sua posição, reflete ´Abdu´l-Bahá a glória e o poder possuídos por Aqueles – e por Aqueles somente – que são os Manifestantes de Deus.

Com a ascensão de ´Abdu´l-Bahá e, sobretudo, com o falecimento de Sua bem-amada e ilustre irmã, a Folha Mais Sagrada, a última sobrevivente de uma era heróica e gloriosa, encerrou-se o primeiro e o mais comovente capítulo da história bahá´í, marcando a conclusão do Período Primitivo e Apostólico da Fé de Bahá´u´lláh. Foi ´Abdu´l-Bahá quem pelas provisões de Seu poderoso Testamento, forjou o elo vital que há de ligar para sempre a era que acaba de expirar com aquela em que ora vivemos – o Período Transitório e Formativo da Fé – etapa que há de florescer na plenitude dos tempos e frutificar nas proezas e nos triunfos destinados a anunciar a Idade Áurea da Revelação de Bahá´u´lláh.

Meus amados amigos! Graças aos cuidados dos escolhidos de uma Fé de vasto alcance, estão se reunindo e organizando agora, gradualmente, ante os nossos próprios olhos, as forças impetuosas que dois Manifestantes independentes, vindos em rápida sucessão, milagrosamente liberaram. Essas forças estão se cristalizando pouco a pouco em instituições que virão a ser consideradas os marcos gloriosos da era que devemos estabelecer agora e imortalizar pelas nossas obras. Pois das tentativas que fazemos hoje e, sobretudo, da intensidade do nosso esforço por reformar nossas vidas segundo o modelo de sublime heroísmo associado àqueles que nos precederam, deve depender a eficácia dos instrumentos que agora moldamos – instrumentos esses que devem erigir a estrutura daquela bem-aventurada Comunidade que irá assinalar a Idade Áurea de nossa Fé.

Não é meu propósito, ao passar em revista estes anos repletos de proezas, tentar fazer nem sequer um breve relato dos grandiosos acontecimentos ocorridos desde 1844 até hoje. Nem tenciono analisar as forças que os precipitaram, ou avaliar sua influência sobre povos e instituições em quase todos os continentes do globo. Os fatos autênticos registrados sobre a vida dos primeiros crentes do período inicial de nossa Fé, bem como a assídua investigação que deve ser empreendida, por competentes historiadores bahá´ís do futuro transmitirão à posteridade uma exposição da história dessa época, muito mais magistral do que qualquer esforço meu conseguiria fazer. O que mais me preocupa neste período tão desafiador da história bahá´í, é o dever de levar à atenção daqueles destinados a serem os campeões na construção da Ordem Administrativa de Bahá´u´lláh, certas verdades fundamentais cuja elucidação lhes há de facilitar grandemente o eficaz prosseguimento de sua grandiosa obra.

Além disso, a posição internacional já atingida pela Religião de Deus exige imperativamente o esclarecimento definitivo de seus princípios básicos. O ímpeto sem precedente que os brilhantes feitos dos bahá´ís americanos deram à marcha da Fé; o intenso e rápido interesse que o primeiro Mashriqu´l-Adhkár do Ocidente está despertando entre as diversas raças e nações; a consolidação gradual das instituições bahá´ís em nada menos de quarenta dos países mais adiantados do mundo; a disseminação da literatura bahá´í em vinte e cinco dos mais difundidos idiomas; o êxito que coroou os esforços dos bahá´ís persas, recentemente, em seus passos preliminares para o estabelecimento, nos arredores da capital de sua terra natal, do terceiro Mashriqu´l-Adhkár do mundo bahá´í; as medidas que já estão sendo tomadas para a formação imediata de sua primeira Assembléia Espiritual Nacional, que deve representar os interesses da grande maioria dos adeptos bahá´ís; a ereção, já projetada, de mais um pilar da Casa Universal de Justiça, primeiro em seu gênero no hemisfério meridional; os testemunhos, tanto verbais como escritos que a Fé, em seu esforço incansável, tem recebido de realezas, de instituições governamentais, de tribunais internacionais e dignitários eclesiásticos; a publicidade devida às próprias acusações dirigidas contra ela por inimigos inexoráveis, antigos e recentes; o ato formal que libertou uma parte de seus adeptos dos grilhões da ortodoxia muçulmana em um país considerado o mais adiantado entre as nações islâmicas – tudo isso prova sobejamente a crescente rapidez com que a comunidade invencível do Nome Supremo se aproxima da vitória final.

Muito estimados amigos! Numa época em que a luz da publicidade está focalizada cada vez mais sobre nós, considero que minha incumbência – em virtude das obrigações e responsabilidades que eu, como Guardião da Fé de Bahá´u´lláh, devo cumprir – dar ênfase especial a certas verdades que baseiam nossa Fé, e cuja integridade é nosso primeiro dever salvaguardar. Estou convencido de que estas verdades, se forem corajosamente apoiadas, e assimiladas de um modo adequado, reforçarão muito o vigor de nossa vida espiritual e concorrerão para neutralizar as intrigas de um inimigo implacável e vigilante.

É minha convicção inalterável que todo fiel adepto deve ter, como sua primeira obrigação e o objeto de seu constante esforço, adquirir um conhecimento mais adequado do significado da estupenda Revelação de Bahá´u´lláh. Uma compreensão exata e completa de tão vasto sistema, de tão sublime revelação, de tão sagrada incumbência, está, por óbvias razões, fora do alcance de nossas mentes limitadas. Contudo podemos – e é nosso dever incontestável, enquanto trabalhamos na propagação de Sua Fé – procurar derivar nova inspiração e maior apoio, mediante um conceito mais nítido das verdades que essa Fé encerra, e dos princípios em que se baseia.

Ao explicar a posição do Báb, numa das comunicações dirigidas aos crentes americanos, fiz uma ligeira referência à incomparável grandeza da Revelação de que Ele se considerava o humilde Precursor. Ele – aclamado por Bahá´u´lláh no Kitáb-i-Iqán, como o prometido Qá´im – Aquele que manifestou nada menos de vinte e cinco dentre as vinte e sete letras destinadas a ser reveladas por todos os profetas – esse tão grande Revelador testemunhou. Ele mesmo, a respeito da preeminência da Revelação superior que dentro em breve haveria de suceder à Sua própria. “O germe”, assevera o Báb no Bayán persa, “que contém dentro de si as potencialidades da Revelação que há de vir, é dotado de um poder superior às forças reunidas de todos os que Me seguem”. “De todos os tributos que prestei Àquele destinado a Me suceder”, Ele afirma ainda, “o maior é este: Minha confissão, por escrito, de que palavra alguma por Mim proferida poderá descrevê-Lo adequadamente e, tão pouco, referência alguma a Seu respeito em Meu Livro, o Bayán, poderá apresentar, de uma maneira digna, a Sua Causa.” “O Bayán”, declarou Ele categoricamente no mesmo Livro: “e quem quer que nele esteja mencionado, giram em torno das palavras daquele que Deus tornará manifesto, assim como o Alif (o Evangelho) e qualquer um que nele estivesse mencionado giraram ao redor das palavras de Maomé, o Apóstolo de Deus.” “A leitura do Bayán”, disse mais, “ainda que seja feita mil vezes, não poderá igualar a leitura cuidadosa de um só versículo a ser revelado por Aquele que Deus tornará manifesto... O Bayán encontra-se hoje em estado embrionário; a sua perfeição completa será mostrada ao iniciar-se a Revelação daquele que Deus tornará manifesto... O Bayán e todos seus crentes anelam por Ele mais ardentemente do que qualquer amante por sua amada... Toda a glória do Bayán deriva daquele que Deus tornará manifesto... Bem-aventurado quem Nele acreditar, e ai de qualquer um que rejeite Sua Verdade!”

Dirigindo-se a Siyyid Yahyáy-i-Dárábí, conhecido como Vahíd, o mais proeminente entre os adeptos, em virtude de sua erudição, sua eloqüência e seu prestígio, o Báb pronuncia esta advertência: “Pela justiça Daquele cujo poder faz germinar a semente e que infunde o espírito da vida em todas as coisas! Se eu soubesse que, no dia de Sua manifestação, tu O negarias, não vacilaria em te renunciar e repudiar tua fé... Se, por outro lado, Me disserem que um cristão, que não deve lealdade à Minha Fé, virá a crer Nele, a este Eu considerarei como a menina de Meus Olhos.”

Numa de Suas orações, Ele assim comunga com Bahá´u´lláh: “Exaltado sejas, Ó meu Senhor, o Onipotente! Quão insignificantes e desprezíveis parecem minhas palavras e tudo o que me pertence, a não ser que estejam relacionados à Tua grande glória. Permite, pela Tua graça, que qualquer coisa que me pertença seja aceitável ante os Meus olhos.”

No Qayyúmu´l-Asmá – o comentário do Báb sobre o Súrih de José, caracterizado pelo Autor do Iqán como “o primeiro, o maior e o mais poderoso”, dos livros revelados pelo Báb – lemos as seguintes referências a Bahá´u´lláh: “Do simples nada, Ó grande e onipotente Mestre, Tu, através da potência celestial de Tua grandeza, me fizeste aparecer e me levantaste para proclamar esta Revelação. Em ninguém exceto em Ti depositei minha confiança; não dependi senão de Tua vontade... Ó Tu, Remanescente de Deus, sacrifiquei-me inteiramente por Ti; aceitei maldições por Tua causa, e nada anelei senão o martírio no caminho de Teu amor. Testemunho suficiente para mim é Deus, o Excelso, o Protetor, o Ancião dos Dias...” “E quando houver soado a hora designada”, disse o Báb, dirigindo-se novamente a Bahá´u´lláh no mesmo comentário, “deves Tu, com a aprovação de Deus, o Onipotente, revelar das alturas do Monte Místico, do Monte mais sublime, uma centelha ligeira, infinitésima, de Teu impenetrável Mistério, para que aqueles que hajam reconhecido o brilho do Esplendor Sinaico possam esvair-se e falecer ao avistar um fugaz vislumbre da Luz ardente, carmesim, que envolve Tua Revelação.”

Como mais uma prova da grandeza da Revelação de Bahá´u´lláh, podem ser citados os seguintes extratos de uma Epístola dirigida por ´Abdu´l-Bahá a um eminente adepto zoroastriano: “Havias escrito que se encontra nos livros sagrados daqueles que seguem Zoroastro a profecia de que, nos últimos dias, em três Dispensações distintas, o sol haveria de parar. Na primeira Dispensação, segundo a predição, o sol permanecerá imóvel por dez dias; na segunda, por duas vezes este tempo; na terceira, por nada menos de um mês inteiro. A interpretação dessa profecia é a seguinte: a primeira Dispensação a que ela se refere é a Dispensação Maometana, durante a qual o Sol da Verdade permaneceu imóvel por dez dias. Cada dia representa um século. A Era Maometana, portanto, deve ter durado nada menos de mil anos – exatamente o período que transcorreu entre o ocaso da Estrela do Imanato e o advento da Era proclamada pelo Báb. A segunda Dispensação mencionada nesta profecia é aquela inaugurada pelo próprio Báb, sendo que começou no ano 1260 (depois da Hégira) e findou no ano 1280 (depois da Hégira). Quanta à terceira – a Revelação proclamada por Bahá´u´lláh – desde que o Sol da Verdade, ao atingir essa posição, brilha na plenitude de eu esplendor meridiano, fixou-se um mês inteiro como o período de sua duração – o tempo máximo para a passagem do sol por um signo do zodíaco. Disto podes imaginar a magnitude do ciclo bahá´í – um ciclo que há de abranger um período de pelo menos quinhentos mil anos.”

Pelo texto dessa explícita e autorizada interpretação de tão antiga profecia, é evidente quão necessário se torna que todo fiel seguidor da Fé aceite a origem divina da Revelação maometana e sustente sua posição independente. Nestas mesmas passagens, além disso, está implicitamente reconhecida a validade do Imanato – aquela instituição divinamente estabelecida, de cujo membro mais eminente era o próprio Báb descendente direto, e que, por um período não inferior a duzentos e sessenta anos, continuou a ser guiada pelo Todo Poderoso e a ser o depositário de um dos mais preciosos legados do Islã.

Esta mesma profecia – devemos reconhecer – atesta também o caráter independente da Revelação do Báb e corrobora indiretamente o fato de que, segundo o princípio da revelação progressiva, cada Manifestante divino deve, necessariamente, conceder a divina guia à humanidade de Seu Tempo, em escala mais ampla do que teria sido possível em qualquer época anterior privada ainda da capacidade de a receber ou apreciar. Por isso – e não por algum mérito superior, inerente, que se possa atribuir à Fé Bahá´í – essa profecia dá testemunho da glória e do poder sem paralelo, de que foi investida a Dispensação de Bahá´u´lláh – uma Dispensação cujas potencialidades apenas começamos agora a perceber e nunca haveremos de determinar toda a sua plenitude.

A Fé Bahá´í deve ser considerada – se quisermos ser fiéis às tremendas implicações de sua mensagem – como a culminação de um ciclo, a etapa final numa série de revelações sucessivas, preliminares e progressivas. Começando com Adão e terminando com o Báb, estas revelações vêm preparando o caminho para o advento daquele Dia dos Dias, antecipando-o com uma ênfase sempre crescente – o Dia em que o Prometido de Todos os Tempos haveria de se manifestar.

Dessa verdade encontramos, nas palavras de Bahá´u´lláh, amplo testemunho. Basta uma ligeira referência às declarações feitas por Ele mesmo, repetidas vezes, com tanta veemência e tão irresistível poder, para se demonstrar plenamente o caráter da Revelação de que Ele foi o escolhido portador. Às palavras, pois, que emanam de Sua Pena – manancial de tão intensiva Revelação – devemos dirigir nossa atenção se quisermos obter uma compreensão mais nítida de sua importância e significado. Quer seja ao fazer Suas asseverações sem precedentes, quer seja em Suas alusões às forças misteriosas por Ele liberadas, ou em tais passagens que exaltam as glórias de Seu Dia há tanto esperado, ou que engrandeçam a posição destinada àqueles que tenham reconhecido as virtudes ocultas neste Dia – Bahá´u´lláh, e também o Báb e ´Abdu´l-Bahá em grau quase igual, legaram à posteridade tesouros de tão grande valor que nenhum de nós que pertencemos à presente geração podemos avaliar adequadamente. Tais testemunhos acerca deste tema estão impregnados de tal poder, e revelam tanta beleza, que só aqueles versados nos idiomas originais podem dizer que os tenham apreciado devidamente. E tão grande é seu número que seria necessário escrever um volume inteiro para compilar só os mais salientes dentre eles. Tudo o que eu posso aventurar-me a fazer, neste momento, é compartilhar as passagens que pude escolher de Seus volumosos escritos.

“Dou testemunho perante Deus”, proclama Bahá´u´lláh, “da grandeza, da inconcebível grandeza desta Revelação. Repetidamente, na maioria de Nossas Epístolas, temos atestado essa verdade a fim de despertar de sua indiferença o gênero humano”. “Nesta poderosíssima Revelação”, anuncia Ele de modo inequívoco, “todas as Revelações do passado alcançaram sua consumação mais alta e final.” “O que se manifestou nessa Revelação sublime, proeminente, não tem paralelo nos anais do passado, e tão pouco será igualado em épocas futuras.” “Foi Ele”, proclama ainda Bahá´u´lláh referindo-se a Si próprio, “quem o Velho Testamento chamava de Jeová, Aquele designado no Evangelho como o Espírito da Verdade, e no Alcorão aclamado como o Grande Anúncio.” “Se não fosse Ele, a nenhum Mensageiro divino se haveria conferido o manto de profeta, nem se teria revelado nenhuma das sagradas escrituras. Disso dão testemunho todas as coisas criadas.” “A palavra proferida neste Dia, por Deus, Uno e Verdadeiro, ainda que seja a mais comum e familiar das expressões, está investida de distinção suprema, inigualável.” “A maioria da humanidade acha-se, todavia, imatura. Se houvesse adquirido capacidade suficiente, Nós lhe teríamos concedido tão ampla porção de Nossa sabedoria que todos os que habitam na terra e no céu se haveriam tornado – em virtude das graças emanadas de Nossa Pena – completamente independentes de todo o conhecimento, exceto o conhecimento de Deus e teriam se estabelecido com toda segurança no trono da perene tranqüilidade.” “A Sagrada Pena – afirmo solenemente perante Deus – escreveu sobre a nívea brancura de Minha fronte, em letras de refulgente glória, estas palavras radiantes, perfumadas de almíscar, sacratíssima: ´Eis aqui, vós que habitais na terra, e vós, moradores do céu, daí testemunho: Ele, em verdade, é vosso Bem-Amado. É Aquele cujo igual jamais foi visto pelo mundo da criação, cuja deslumbrante beleza deleitou os olhos de Deus, o Ordenador, o Todo-Poderoso, o Incomparável.”

“Seguidores do Evangelho!” exclama Bahá´u´lláh, dirigindo-se à toda a cristandade, “Eis aqui, abertos de par em par, os portais do céu. Aquele que para aí ascendera, veio agora. Escutai a Sua voz, que clama através da terra e do mar, anunciando a toda a humanidade o advento desta Revelação – uma Revelação por cujo intermédio a Língua da Grandeza ora proclama: ´Eis aqui! Cumpriu-se a sagrada Promessa, pois já veio o Prometido!´” “Do santo vale clama a voz do Filho do Homem: ´Eis-Me aqui, eis-Me aqui, Ó Deus, meu Deus!...´ enquanto vem da Sarça Ardente o grito de: ´Vêde, o Desejado do mundo se manifestou em Sua transcendente glória!´ O Pai já veio. Cumpriu-se aquilo que vos foi prometido no Reino de Deus. Eis o Verbo que o Filho revelou quando disse àqueles a Seu redor que naquele tempo não o podiam suportar... Verdadeiramente, o Espírito da Verdade veio a fim de vos guiar a toda a verdade... Ele foi quem glorificou o Filho e Lhe exaltou a Causa...” “O Confortador, prometido em todas as Escrituras, veio agora para vos revelar todo o conhecimento e sabedoria. Buscai-O por toda a superfície da terra, para que possais, porventura, encontrá-Lo.”

“Chama Sião, Ó Carmelo!”, escreve Bahá´u´lláh, “e anuncia as boas novas: ´Já veio Aquele que estava oculto aos olhos mortais; está manifesta Sua soberania suprema; revelou-se Seu esplendor que tudo abarca... Apressa-te e circunda a Cidade Divina descida do céu, a Kaaba celestial, objeto da adoração dos favorecidos de Deus, dos puros de coração, e da companhia dos anjos mais sublimes.” “Eu sou Aquele” afirma Ele em outra ocasião, “que foi louvado pela língua de Isaías, Aquele cujo Nome adornou tanto o Torah como o Evangelho.” “Apressa-se a glória do Sinai a circundar a Aurora desta Revelação, enquanto das alturas do Reino se ouve a voz do Filho de Deus a proclamar: ´Levantai-vos, Ó vós, soberbos da terra, e sem demora aproximai-vos Dele! O Carmelo apressou-se neste Dia, com anelo e adoração, para alcançar Sua Corte, enquanto surge do coração do Sião este brado: ´Cumpriu-se agora a Promessa de todos os tempos. Manifestou-se aqui o que fora anunciado nas Sagradas Escrituras de Deus, o Bem-Amado, o Altíssimo.´” “Hijaz desperta com os sopros divinos que anunciam as novas de uma jubilosa reunião, e ouvimo-la exclamar: ´Louvado sejas, Ó meu Senhor, o Altíssimo! Por causa de minha separação de Ti eu estava morta e os sopros fragrantes de Tua Presença ressuscitaram-me. Feliz de quem se dirigir a Ti, e ai daquele que se desviar.´” “Por Deus, Uno e Verdadeiro, Elias apressou-se para Minha Corte e circundou, dia e noite, o Meu Trono de glória.” “Salomão, em toda a sua majestade, circula-Me em adoração, neste dia, pronunciando estas elevadas palavras: Voltei minha face para Tua face, Ó poderosíssimo Rei do mundo! Estou completamente desprendido de todas as coisas que me pertencem, e anelo por aquilo que Tu possues.” “Se Maomé, o Apóstolo de Deus, houvesse atingido esse Dia”, escreve Bahá´u´lláh, numa Epístola que revelou às vésperas de Seu desterro para a colônia penal de ´Akká, “Ele teria exclamado: Em verdade, Eu Te reconheci, Ó Tu, Desejo dos Mensageiros Divinos. Tivesse Abraão o alcançado, Ele também ter-se-ia prostrado ao solo e com absoluta humildade ante o Senhor teu Deus exclamado: ´Meu coração está cheio de paz. Ó Tu, Senhor de tudo o que existe no céu e na terra! Declaro que Tu desvendaste aos meus olhos toda a glória de Teu poder e a plena majestade de Tua lei!...´ Se o próprio Moisés o tivesse atingido, também teria levantado a voz, dizendo: ´Toda a glória seja a Ti, por haveres feito surgir sobre mim a luz de Teu semblante e me incluído entre aqueles que tiveram o privilégio de contemplar Tua face!´” “Tanto o Norte como o Sul vibram ao ouvir anunciado o advento de Nossa Revelação. Podemos ouvir a voz de Meca exclamando: ´Todo o louvor seja a Ti, Ó Senhor Meu Deus, o Todo Glorioso, por haveres exalado sobre mim os sopros fragrantes de Tua Presença!´E Jerusalém, de modo semelhante, chama em voz alta: ´Louvado e glorificado és Tu, Ó Bem-Amado da terra e do céu, por haveres transformado a agonia de minha separação de Ti em regozijo, pela força ressuscitadora da reunião!´”

“Pela justiça de Deus”, afirma Bahá´u´lláh, desejoso de revelar a plena potência de Seu invencível poder, “se um homem, completamente só, se levantar em nome de Bahá e vestir a armadura de Seu amor, o Todo-Poderoso conceder-lhe-á a vitória, ainda que se juntem contra ele as forças da terra e do céu.” “Por Deus – e não há outro Deus além Dele! – Se qualquer um se esforçar pelo triunfo de Nossa Causa, Deus torná-lo-á vitorioso, embora dezenas de milhares se aliem contra ele. E se seu amor por Mim aumentar, Deus estabelecerá sua ascendência sobre todos os poderes da terra e do céu. Assim insuflamos o espírito do poder em todas as regiões.”

“Este é o Rei dos Dias” – de tal modo Ele exalta a época que testemunhou o advento de Sua Revelação – “o Dia que presenciou a vinda do Mais-Amado, Daquele que é aclamado, desde toda a eternidade, o Desejo do Mundo”. “O mundo existente brilha neste Dia com o esplendor desta Revelação Divina. Todas as coisas criadas elogiam suas graças salvadoras e cantam seus louvores. O universo acha-se envolto num êxtase de júbilo e contentamento. As Escrituras das Dispensações passadas celebram o grande regozijo que há de saudar este, o mais grandioso Dia de Deus. Bem-aventurado quem viveu até ver esse Dia e reconheceu o grau de sua grandeza.” “Se a humanidade desse ouvidos, de uma maneira digna, a apenas uma palavra deste louvor, encher-se-ia de deleite ao ponto de ficar enlevada de admiração. Extasiada, brilharia, pois, resplandecente sobre o horizonte da verdadeira compreensão.”

“Sede justos, Ó vós, povos do mundo!” – assim faz Ele seu apelo à humanidade. – “Será digno e decoroso que ponhais em dúvida a autoridade de um Ser cuja presença “Aquele que conversou com Deus” (Moisés) ansiou por alcançar, a beleza de cujo semblante o “Bem-Amado de Deus” (Maomé) anelou contemplar, graças à potência de cujo amor o “Espírito de Deus” (Jesus) subiu ao céu, e por cuja Causa o “Ponto Primordial” (o Báb) ofereceu em holocausto a sua vida?” “Aproveitai vossa oportunidade”, adverte Ele aos que O seguem, “pois um momento fugaz neste Dia excede em valor séculos de uma era passada... Dia igual jamais foi visto, nem pelo sol nem pela lua... É evidente ter sido divinamente ordenada toda era em que tenha vivido um Manifestante de Deus, podendo ser caracterizada, pois, de certo modo, como o Dia designado de Deus. Este Dia, porém, é incomparável e deve ser distinguido dos que o precederam. A designação de “Selo dos Profetas” revela e demonstra plenamente sua alta posição.”

Dissertando sobre as forças latentes em Sua Revelação, Bahá´u´lláh revela o seguinte: “Com o movimento de Nossa Pena de glória – por imperativo do Onipotente, que tudo ordena – insuflamos uma vida nova em cada ser humano, e imbuímos cada palavra de uma nova potência. Todas as coisas criadas proclamam as provas dessa regeneração universal. São as novas mais grandiosas, mais regozijantes”, acrescenta Ele, “que a Pena deste Injuriado já participou à humanidade”. “Como é grande a Causa!”, exclama Ele em outra passagem, “quão acabunhador o peso de sua mensagem! Este é o dia de que se disse: Ó meu filho! Em verdade, Deus há de revelar tudo, mesmo que tenha apenas o peso de um grão de mostarda e esteja escondido numa rocha, quer no céu, quer na terra, pois Deus é Quem tudo penetra e de tudo está informado.” “Pela retidão de Deus, Uno e Verdadeiro! Se for perdida a mais infinitésima jóia, ficando ela enterrada debaixo de um monte de pedras, e escondida além dos sete mares, a Mão da Onipotência seguramente há de revelá-la neste Dia, pura e livre de escória.” “Quem participar das águas de Minha Revelação provará as incorruptíveis delícias ordenadas por Deus desde o princípio que não teve princípio até o fim que não terá fim.” “Cada uma das letras procedentes de Nossa boca é dotada de um poder regenerador que a torna capaz de fazer aparecer uma nova criação - uma criação cuja magnitude é inescrutável para todos exceto Deus. Ele, em verdade, tem conhecimento de todas as coisas.” “Está em Nosso poder – se assim quisermos – fazer com que uma partícula flutuante de pó, em menos de um abrir e fechar de olhos, gere sóis de infinito e inconcebível esplendor, ou uma gota de orvalho se converta em vastos e inumeráveis oceanos, ou em cada letra seja infundida uma força que a torne capaz de revelar todo o conhecimento das épocas passadas e futuras.” “Possuímos tamanho poder que se for revelado, transmutará o veneno mais mortal em panacéia de infalível eficácia.”

Avaliando a posição do verdadeiro crente, Ele observa: “Pelos pesares que afligem a beleza do Todo Glorioso! É tal a posição destinada ao verdadeiro crente que, se fosse revelada à humanidade uma pequena parte de sua glória – menor até em tamanho que o fundo de uma agulha – todos os que a contemplassem consumir-se-iam na ânsia de alcançá-la. Eis porque se decretou que, nesta vida terrena, ficasse velada para os olhos do crente a glória de sua própria posição em toda a sua plenitude.” “Se se levantasse o véu”, afirma Ele também, “manifestando assim a plena glória da posição dos que se tenham voltado inteiramente para Deus e renunciado o mundo por Seu amor, toda a criação ficaria estupefata.”

Fazendo ressaltar o caráter superlativo de Sua Revelação, comparada com aquela que lhe precedeu, Bahá´u´lláh faz a seguinte afirmação: “Se todos os povos do mundo forem investidos dos poderes e atributos destinados às Letras do Vivente – os discípulos escolhidos do Báb e cuja posição é dez mil vezes mais gloriosa que qualquer das posições alcançadas pelos apóstolos da antiguidade – e se um destes povos hesitar, ou até mesmo todos hesitarem, embora seja por menos de um abrir e fechar de olhos, em reconhecer a luz de Minha Revelação, de nada lhes servirá a sua fé e eles serão contados entre os infiéis.” “Tão tremenda é a efusão das graças divinas nesta Era que, se houvessem mãos mortais bastante ágeis para registrá-las, fluiriam versículos com tal abundância, no breve espaço de um dia e uma noite que equivaleriam ao conteúdo inteiro do Bayán persa.”

“Escutai minha advertência, Ó vós, povo da Pérsia!” – assim Ele se dirige a Seus conterrâneos. – “Se eu for sacrificado por vossas mãos, Deus seguramente fará surgir outro que tomará o lugar deixado vazio com a Minha morte, pois este é o método usado por Deus desde os tempos antigos, e modificação alguma podereis encontrar em Seu modo de proceder.” “Se tentarem ocultar Sua luz no continente, Ele, com toda a certeza, levantará a cabeça no próprio âmago do oceano e, alçando Sua voz, proclamará: “Eu sou quem dá vida ao mundo”...” E se O arrojarem dentro de um fosso escuro, encontrá-Lo-ão sentado nos cumes mais elevados da terra, exclamando a toda a humanidade: “Veio o Desejo do mundo! Ei-Lo em Sua majestade, Sua soberania e Seu domínio transcendente!” E se O sepultarem nas profundezas da terra, Seu espírito, remontando ao ápice do céu, fará ressoar este chamado: “Eis o advento da Glória; vede o Reino de Deus, o Santíssimo, o Clemente, o Todo-Poderoso!” “Há acentos aprisionados na garganta deste Jovem” - consta ainda outra estupenda declaração – “os quais, se forem revelados à humanidade, embora em porção menor que a contida no fundo de uma agulha, bastarão para fazer desmoronarem todas as montanhas, descolorirem-se as folhas das árvores e caírem seus frutos; para obrigar toda cabeça a se inclinar em veneração e toda face a se dirigir em adoração a este Rei onipotente que, em várias épocas e de modos diversos, aparece como uma chuva devoradora, ou um oceano encapelado, ou uma luz radiante, ou como a árvore que, arraigada ao solo da santidade, eleva seus galhos e estende seus ramos até mesmo além do trono da glória perene.”

Antecipado o Sistema que o irresistível poder de Sua Lei estava destinado a desenvolver em épocas subseqüentes. Ele escreve: “O equilíbrio do mundo foi alterado pela vibrante influência desta Ordem grandiosa, desta nova Ordem Mundial. A vida ordenada do gênero humano foi revolucionada pela ação deste Sistema maravilhoso, incomparável, cujo igual jamais foi visto por olhos mortais.” “A mão da Onipotência estabeleceu Sua Revelação sobre alicerces inexpugnáveis, perenes. As tempestades das lutas humanas são impotentes para minar sua base, nem tampouco poderão as fantásticas teorias dos homens danificar-lhe a estrutura.”

No Súratu´l-Haykal, uma das mais imponentes obras de Bahá´u´lláh, encontram-se os seguintes versículos, cada um dos quais prova o irresistível poder infundido pelo seu Autor na Revelação que Ele proclamara: “Em Meu Templo, nada se vê senão o Templo de Deus; em Minha beleza, não se vê senão Sua Beleza; em Meu ser, só é visível Seu Ser; em Mim mesmo, outro não se manifesta senão Ele Mesmo; em Meu movimento se vê apenas Seu Movimento; em Minha aquiescência, se vê apenas Sua Aquiescência, e em Minha pena, apenas Sua Pena, a Poderosa, de todos louvada. Jamais houve em Minh´alma outra coisa senão a Verdade, e em Mim mesmo nada se viu a não ser Deus.” “O Próprio Espírito Santo foi gerado em virtude de uma só letra revelada por este Espírito Supremo – se pudésseis compreender...” “Dentro do tesouro dos Nossos conhecimentos, jaz um que ainda não foi revelado, do qual bastaria uma só palavra – se a quiséssemos divulgar à humanidade – para fazer todo ser humano reconhecer o Manifestante de Deus e admitir Sua onisciência, descobrir os segredos de todas as ciências, e alcançar tal posição que se tornasse completamente independente de toda erudição, quer do passado, quero do futuro. Possuímos outros conhecimentos, também, dos quais nenhuma só letra podemos revelar; tampouco achamos a humanidade capaz de ouvir a mais ligeira referência do seu significado. Assim, Nós nos informamos do conhecimento de Deus, o Onisciente, o Sapientíssimo.” “Aproxima-se o dia em que Deus, por um ato de Sua Vontade, terá criado uma raça de homens cuja natureza será inescrutável para todos exceto para Ele, o Todo-Poderoso, o Independente.” “Muito em breve fará Ele com que se elevem do Seio da Potestade as Mãos da Ascendência e do Poder. – Mãos que se esforçarão pela vitória deste Jovem e purificarão a humanidade da corrupção dos ímpios e degradados. Essas Mãos serão as destemidas campeãs da Fé divina, e, em Meu Nome, o Independente, o Poderoso, subjugarão os povos e raças da terra. Ao entrarem nas cidades, encherão de temor os corações de todos seus habitantes. Tais são as evidências do poder de Deus; como é temível, como é veemente Seu poder!”

Deste modo, queridos amigos, Bahá´u´lláh deu Seu próprio testemunho, por escrito, a respeito da natureza de Sua Revelação. Já me referi às afirmações do Báb, cada uma das quais apóia essas notáveis declarações, aumentando-lhes a força e confirmando-lhes a verdade. O que ainda me resta considerar, relativo a este assunto, são aquelas passagens nos escritos de ´Abdu´l-Bahá – o designado intérprete dessas mesmas declarações – que ampliam e esclarecem mais os diversos aspectos deste cativante tema. Tão enfática, realmente, é Sua linguagem como a de Bahá´u´lláh ou do Báb, e não menos fervoroso é Seu tributo.

“Não apenas séculos mas eras devem passar”, afirma Ele em uma de Suas primeiras Epístolas, “antes que a Estrela Dalva da Verdade volte a brilhar com todo seu fulgor estival, ou apareça outra vez resplandecente em sua glória primaveril... Como devemos ser gratos por havermos sido escolhidos, neste Dia, para sermos os recipientes de tão grandioso favor! Oxalá tivéssemos dez mil vidas para oferecer como ação de graças por tão raro privilégio, tão alta realização e tão inestimável dádiva!” “A mera contemplação da Era inaugurada pela Abençoada Beleza”, acrescenta Ele, “teria sido suficiente para deixar atônitos os santos das eras passadas, os quais tanto anelaram participar, por um momento apenas, de sua grande glória.” “Os santos de eras e séculos passados – todos eles sem exceção – com os olhos vertendo lágrimas na intensidade de seu desejo, anelaram viver no Dia de Deus, ainda que fosse por um só momento. Sem poderem satisfazer sua aspiração, porém, passaram para o Grande Além. Como é generosa, pois a Beleza de Abhá que, sem levar em conta essa falta absoluta de merecimento, graças à Sua Misericórdia, insuflou-me o espírito da vida neste século divinamente iluminado, reuniu-nos sob o estandarte do Bem-Amado do mundo e se dignou a nos conferir aquela dádiva almejada em vão pelos mais poderosos das épocas passadas.” “As almas dos eleitos da Assembléia do alto”, afirma Ele também, “os sagrados habitantes do Paraíso excelso, acham-se sedentos de regressar a este mundo neste dia, a fim de prestarem qualquer serviço de que sejam capazes no limiar da Beleza de Abhá.”

“O Esplendor da refulgente Misericórdia Divina”, declara Ele, num trecho que alude ao crescimento e ao futuro progresso da Fé, “Envolveu todos os povos e raças da terra, ficando o mundo inteiro imerso em sua glória radiante... Breve virá o dia em que a luz da Divina União tenha a tal ponto penetrado o Oriente e o Ocidente que jamais homem algum se atreverá a desprezá-la.” “Agora a Mão do Poder Divino lançou no mundo contingente os alicerces firmes dessa suprema generosidade, desse maravilhoso dom. Tudo o que estiver latente no mais recôndito deste sagrado ciclo há de surgir e se manifestar gradativamente, pois agora é apenas o começo de seu crescimento, a aurora da revelação de seus sinais. Antes do fim deste século e desta era, terá se tornado claro e evidente como foi admirável esse período primaveril, e celestial esse dom!”

Confirmando a elevada posição do verdadeiro crente de que falara Bahá´u´lláh, revelou Ele o seguinte: “A posição a ser atingida por aquele que haja reconhecido verdadeiramente esta Revelação, é igual àquela destinada aos profetas da casa de Israel que não sejam considerados Manifestantes dotados de constância.”

Quanto aos Manifestantes subseqüentes à Revelação de Bahá´u´lláh, a seguinte declaração clara e importante é feita por ´Abdu´l-Bahá: No que concerne aos Manifestantes que futuramente descerão nas sombras das nuvens, saibam que, em verdade, se acham à sombra da Antiga Beleza no que diz respeito à fonte de Sua inspiração. Em Sua relação à época em que aparecem, entretanto, cada um ´faz aquilo que Lhe aprouver.´”

“Ó meu amigo!”, disse Ele em uma de Suas Epístolas, dirigindo-se a uma pessoa de reconhecida autoridade e posição. “O Fogo imperecível que o Senhor do Reino acendeu na Árvore Sagrada, flameja intensamente no âmago do mundo. A conflagração assim provocada há de envolver toda a terra. Suas chamas ardentes iluminarão seus povos e raças. Já se revelaram todos os sinais; já se manifestou aquilo a que os profetas aludiram. Tudo o que as Escrituras do passado encerraram tornou-se evidente. Não mais será possível duvidar ou hesitar... O tempo urge. O Corcel Divino impacienta-se; não mais esperará. É nosso dever apressar-nos e, antes que seja tarde, ganhar a vitória.” E vejamos, finalmente, este trecho tão comovente que Ele, num momento de exultação, se sentiu impelido a dirigir a um de Seus mais fiéis e eminentes adeptos, nos primeiros dias de Seu ministério: “Que mais posso Eu dizer? Que mais pode Minha pena relatar? Com as vibrações de tão forte chamado, que repercute do Reino de Abhá, os ouvidos mortais quase ensurdecem. Toda a criação parece-me cambalear e se desmoronar em conseqüência do chamado Divino que procede do trono da glória. Mais do que isso não posso escrever”.

Caríssimos amigos! Basta o que já foi dito, com os numerosos e variados excertos citados das obras do Báb, de Bahá´u´lláh e de ´Abdu´l-Bahá, para convencer o leitor consciencioso da sublimidade deste ciclo sem paralelo na história religiosa do mundo. Seria absolutamente impossível exagerar sua significação ou dar demasiado valor à influência que exerceu e há de continuar a exercer, cada vez mais, à medida que seu grande sistema vá se desenvolvendo em meio ao tumulto de uma civilização já em colapso.

Antes de prosseguir com o desenvolvimento de meu tema, entretanto, parece-me aconselhável fazer uma advertência a quem quer que leia estas páginas. Aquele que procura, à luz dos trechos supracitados, meditar sobre a natureza da Revelação de Bahá´u´lláh, não deve se enganar a respeito de seu caráter ou interpretar erroneamente a intenção de Seu Autor. De modo algum deve-se admitir um conceito errado da divindade atribuída a um Ser tão grandioso e da encarnação completa dos nomes e das qualidades de Deus numa Pessoa tão sublime. O templo humano que se fez o veículo de tão transcendente Revelação deve – se nos mantivermos fiéis aos princípios de nossa Fé – ficar sempre completamente distinto daquele “Espírito dos Espíritos”, daquela “Eterna Essência das Essências”, daquele Deus invisível, conquanto racional, cuja Realidade infinita, incognoscível, incorruptível, que tudo abrange, de modo algum poderia se encarnar na forma concreta, limitada, de um ser mortal, por mais que exaltemos a divindade daqueles Seres que O manifestam na terra. Com efeito, à luz dos ensinamentos de Bahá´u´lláh, um Deus que pudesse de tal modo encarnar Sua própria Realidade, deixaria imediatamente de ser Deus. Essa teoria tosca, fantástica, de encarnação divina é tão incompatível com os princípios essenciais da crença bahá´í como o são as não menos inadmissíveis concepções panteístas e antropomórficas de Deus, as quais os ensinamentos de Bahá´u´lláh enfaticamente repudiam como falsas.

Aquele que, em inumeráveis passagens, disse ser Sua palavra a “Voz da Divindade, o Chamado do Próprio Deus”, faz no Kitáb-i-Iqán a seguinte afirmação solene: “Para todo coração esclarecido, dotado de discernimento, torna-se evidente ser Deus, a Essência incognoscível, o Divino Ser, incomensuravelmente exaltado acima de todos os atributos humanos, tais como existência corporal, ascensão e descida, saída e regresso... Ele está – e sempre esteve – velado na antiga eternidade de Sua Essência, e permanecerá na Sua Realidade eternamente oculto da vista dos homens... Elevado está, além de toda separação e união, de toda proximidade e de todo afastamento... ´Deus estava só; ninguém havia senão Ele´ é um testemunho seguro dessa verdade”.

“Desde os tempos imemoriais”, explica Bahá´u´lláh, falando de Deus, “Ele, o Ente Divino, esteve velado na inefável santidade de Seu Próprio Ser excelso, e continuará a Essência incognoscível... Dez mil Profetas, cada um Deles um Moisés, ficam atônitos no Sinai de Sua busca, ao ouvirem a voz de Deus assim lhes proibir: ´Jamais Me verás!´, enquanto miríades de Mensageiros, cada um tão grande como Jesus, estão cheios de consternação em Seus tronos celestiais ante a interdição de: ´Minha Essência, nunca a compreenderás!´ “Quanto fico perplexo, insignificante que sou”, afirma Bahá´u´lláh em Sua comunhão com Deus, “ao tentar sondar as sagradas profundezas de Teu conhecimento! Quão fúteis são meus esforços para conceber a magnitude do poder inerente à Tua obra – a revelação de Teu poder criador!” “Quando contemplo, Ó meu Deus, a relação que une a Ti”, testifica Ele em ainda outra oração revelada e escrita de Seu próprio punho, “sinto-me impelido a proclamar a todos os seres criados: ´Em verdade, Eu sou Deus!’; e quando considero meu próprio ser, ei-lo!, parece-me mais grosseiro que o barro!”

“Estando assim fechada diante de todos os seres a porta para o conhecimento do Ancião dos Dias”, diz Bahá´u´lláh ainda no Kitáb-i-Iqán, “Ele, a Fonte das graças infinitas, fez aparecerem do reino do espírito essas luminosas Jóias de Santidade, na nobre forma do templo humano, e se manifestarem ante todos os homens, para que transmitissem ao mundo o conhecimento dos mistérios do Ser imutável e das sutilezas de Sua Essência imperecedoura... Todos os Profetas de Deus, Seus eleitos, Seus santos Mensageiros são, sem exceção, portadores de Seus Nomes e manifestam Seus atributos... Esses Tabernáculos da Santidade, esses Espelhos Primazes que refletem a luz da glória que não se esvaece, são apenas expressões Daquele que é o Invisível dos Invisíveis.”

Apesar da intensidade sobrepujante de Sua Revelação, Bahá´u´lláh deve ser visto como um desses Manifestantes de Deus, não podendo jamais ser identificado com aquela Realidade invisível, a Essência da própria Divindade. Constitui isso um dos princípios básicos de nossa Fé, e nunca deve qualquer adepto permitir que fique obscurecido ou que lhe comprometa a integridade.

Embora a Revelação Bahá´í se declare a culminação de um ciclo profético e o cumprimento da promessa de todas as eras, nem por isso pretende, sob quaisquer circunstâncias, invalidar aqueles princípios primordiais, eternos, que eram vitais e básicos nas religiões que a precederam. Admite e estabelece como sua própria base final e mais firme, a mesma autoridade divina que fora concedida a cada uma dessas religiões. Considera-as como apenas diferentes etapas na história eterna e na evolução constante de uma só religião, divina e indivisível, da qual constitui, ela mesma, uma parte integrante. Não pretende obscurecer-lhes a origem divina, nem menosprezar a reconhecida magnitude de suas realizações colossais. Não admite tentativa alguma de lhes deformar as feições ou de desacreditar as verdades que incutem. Os ensinamentos da Revelação Bahá´í não divergem – nem pela grossura de um fio de cabelo – das verdades que elas também encerram, e de modo algum sua imponente mensagem diminui, por um jota ou til, a influência que as religiões anteriores exercem, ou a lealdade que inspiram. Longe de querer derrubar o alicerce espiritual dos sistemas religiosos do mundo, seu fim declarado e inalterável é o de lhes alargar a base, dando nova expressão aos princípios antigos fundamentais, conciliando-lhes os propósitos e lhes restaurando a vida. Visa demonstrar a unidade inerente a todas, restaurar a pureza primitiva dos ensinamentos de todas, coordenando-lhes as funções e lhes facilitando a realização das mais altas aspirações. Essas religiões divinamente reveladas – assim se expressou graficamente alguém que as observara de perto – “são destinadas não a morrer mas sim a renascer... ´Não é um fato que a criança sucumbe no jovem, e este no homem, e contudo, não perece nem a criança nem o jovem?´”

“Aqueles que são as Luminárias da Verdade e os Espelhos que refletem a luz da Unidade Divina”, explica Bahá´u´lláh no Kitáb-i-Iqán, “em qualquer época ou ciclo que sejam enviados de suas habitações invisíveis de glória antiga, para este mundo, a fim de educar as almas dos homens e revestir de graças todas as coisas criadas, são dotados, invariavelmente, de um poder sobrepujante e uma soberania invencível... Esses Espelhos santificados, essas Auroras da glória antiga, são todos, sem exceção, os expoentes na terra Daquele que é o Orbe central do universo, a essência e o propósito final. Dele recebem o conhecimento e o poder; Dele derivam a soberania. A beleza do semblante deles é apenas um reflexo de Sua Imagem, e o que revelam nada mais é que um sinal de Sua glória perene... Através deles se transmite uma graça que é infinita, e se revela a luz que jamais se esvairá... Nunca poderá língua humana cantar louvores que lhes sejam dignos; jamais palavra humana desvendará seu mistério”. “Essas Aves do Trono celestial”, acrescenta Ele, “já que todas são enviadas do céu da Vontade de Deus e se levantam para proclamar Sua Fé irresistível, devem ser consideradas como uma só alma, com a mesma pessoa... Todas habitam no mesmo Tabernáculo, remontam ao mesmo céu, sentam-se no mesmo Trono, proferem as mesmas palavras e proclamam a mesma Fé. Apenas diferem na intensidade de sua revelação e na potência comparativa de sua luz... Por não haverem essas Essências do Desprendimento manifestado exteriormente um certo atributo divino, não quer isso dizer, de modo algum, que essas Auroras dos atributos de Deus, esses Tesouros de Seus santos Nomes, realmente não possuíssem tal atributo.”

Deve-se lembrar, também, de que esta Revelação, por maior que seja o poder por ela manifestado, e não obstante o vasto alcance da Dispensação que seu Autor inaugurou, repudia enfaticamente a pretensão de ser considerada a revelação final da vontade e do plano de Deus para a humanidade. Adotar-se tal conceito de seu caráter e suas funções equivaleria trair sua causa e negar sua verdade. Estaria em conflito, necessariamente, com o princípio fundamental que constitui o alicerce sólido da crença bahá´í, isto é, que a verdade religiosa não é absoluta, mas relativa: que a Revelação Divina é metódica, contínua e progressiva, e não espasmódica ou final. De fato, a categórica rejeição, pelos adeptos da Fé de Bahá´u´lláh, da pretensão à finalidade avançada por qualquer sistema religioso inaugurado pelos Profetas do passado, é tão clara e enfática como sua própria recusa a fazer essa pretensão no caso da Revelação com que eles se identificam.

“Acreditar que tenha findado toda a revelação, que estejam fechados os portais da Divina Misericórdia, que jamais dos albores da santidade terna possa nascer um sol, que para sempre o oceano das graças imperecedouras tenha deixado de se mover, que não mais se possam manifestar, do tabernáculo da glória antiga, os Mensageiros de Deus” – tal crença deve constituir, aos olhos de todo seguidor da Fé, uma violação grave, imperdoável, de um de seus princípios mais estimados e fundamentais.

Para estabelecermos sem a menor sombra de dúvida a verdade desse princípio cardial, bastará, certamente, referirmo-nos a algumas das palavras já citadas de Bahá´u´lláh e ´Abdu´l-Bahá. Não poderá também a seguinte passagem das Palavras Ocultas ser interpretada como uma alusão alegórica ao caráter progressivo da Revelação Divina, uma admissão por parte do Autor de que a Mensagem que Lhe fora confiada não seja a última, a expressão final da vontade do Todo Poderoso? “Ó Filho da Justiça! Ao anoitecer a beleza do Ser imortal retirou-se das alturas esmeraldas da fidelidade, indo ao Sadratu´l-Muntahá, onde chorou com tal pranto que a assembléia no alto e os habitantes os reinos do além gemeram por causa de Seu lamento. Com isso se perguntou: Por que os gemidos e choro? E Ele deu a resposta: Assim como Me fora ordenado, Eu, cheio de expectativas, esperava no monte da fidelidade, mas não percebia a fragrância da fidelidade daqueles que habitam na terra. Ao ser chamado a regressar, olhei então, e eis que certas aves da santidade estavam sendo atormentadas nas garras dos cães terrenos. Com isso a Donzela do céu resplandecente, sem véu, apressou-se a sair de Sua mansão mística, perguntou seus nomes e todos foram ditos menos um. E ao se insistir, a primeira letra desse foi pronunciada, quando então os habitantes dos aposentos celestiais apressaram-se a sair de sua morada e glória. E enquanto se pronunciava a segunda letra, cada um prostrou-se sobre o pó. Nesse momento uma voz vinda do mais recôndito do santuário se fez ouvir. “Até aí, e não além. Em verdade damos testemunho daquilo que fizeram e agora fazem”.

Numa de suas Epístolas reveladas em Adrianópolis, atesta Bahá´u´lláh esse fato em linguagem mais explícita: “Saibam que, em verdade, não se levantou completamente o véu que oculta Nosso Semblante. Nós Nos revelamos num grau correspondente à capacidade do povo de Nosso tempo. Se a Beleza Antiga se revelasse na plenitude de Sua glória, a deslumbrante intensidade de Sua Revelação cegaria os olhos mortais.”

No Súriy-i-Sabr, revelado no ano de 1863, no mesmo dia de Sua chegada no Jardim de Ridvan, Ele faz a seguinte afirmação: “Deus enviou Seus Mensageiros para suceder a Moisés, e Jesus, e assim continuará a fazer até ´o fim que não tem fim´; de modo que Suas graças possam descer ininterruptamente do céu da Divina Generosidade para os homens.”

“Não estou apreensivo por Minha própria causa”, declara Bahá´u´lláh ainda mais explicitamente, “Meus receios são para Aquele que vos será enviado após Mim – Aquele que será investido de grande soberania e poderoso domínio”. E ainda outra vez escreve Ele, no Súratu´I-Haykal: “Nas palavras que revelei, não me refiro a Mim mesmo, mas Àquele que virá depois de Mim. Testemunha disso é Deus, o Onipotente”. “Não trateis a Ele”, acrescenta Bahá´u´lláh, “como tratastes a Mim”.

Num trecho mais detalhado de Seus escritos, o Báb sustenta a mesma verdade: “É claro e evidente”, escreve Ele no Bayán persa, “que todas as Eras anteriores visaram preparar o caminho para o advento de Maomé, o Apóstolo de Deus. Por sua vez, a Era Maometana juntamente com essas tiveram em mira a Revelação proclamada pelo Qá´im. E é o objetivo desta Revelação, como o foi das precedentes, anunciar do mesmo modo o advento da Fé Daquele que Deus tornará manifesto. E essa Fé – a Fé Daquele que Deus tornará manifesto – por sua vez com todas as Revelações anteriores, tem por objeto a Manifestação destinada a sucedê-la. Também esta última, do mesmo modo que as Revelações precedentes, preparará o caminho para a Revelação futura. Assim o processo do nascer e do por do Sol da verdade há de continuar por um tempo indeterminado – é um processo que não teve começo nem terá fim”.

“Saibam com segurança”, explica Bahá´u´lláh sobre esse ponto, “que em cada Era a Luz da Revelação Divina concedida aos homens é diretamente proporcional à sua capacidade espiritual. Considerem o sol. Como são fracos seus raios no momento em que surge no horizonte. Quão gradual é o aumento em seu calor e sua potência à medida que se aproxima do zênite, permitindo deste modo que todas as coisas criadas se adaptem à crescente intensidade de sua luz. Testemunhamos, em seguida, seu declínio constante até alcançar seu ocaso. Se as suas energias latentes se manifestassem subitamente, isso, sem dúvida, danificaria todas as coisas criadas... De igual maneira, se o Sol da Verdade, nas primeiras etapas de Sua manifestação, revelasse de repente os plenos poderes que a providência do Todo-Poderoso lhe concedeu, a terra da compreensão humana seria danificada, consumir-se-ia, pois os corações dos homens não poderiam suportar a intensidade de sua revelação, nem seriam capazes de refletir o esplendor de sua luz. Consternados e acabrunhados, deixariam de existir”.

É nosso dever óbvio, à luz desta nítida e concludente exposição, tornar indubitavelmente claro – para todo aquele que busca a verdade – que, desde “o começo que não teve começo”, os Profetas de Deus, Uno e Incognoscível, inclusive o próprio Bahá´u´lláh, todos – como intermediários das graças divinas, expoentes de Sua unidade, Espelhos de Sua Luz e Reveladores de Seu plano – foram incumbidos de conceder à humanidade, em medida cada vez maior a Sua verdade, uma sempre crescente compreensão de Sua vontade inescrutável e de Sua divina direção, e continuarão, até “o fim que não terá fim”, a conceder ainda mais completas e poderosas revelações de Sua ilimitada grandeza e glória.

Bem podemos ponderar em nossos corações os seguintes trechos de uma oração revelada por Bahá´u´lláh, pois afirmam de um modo enfático a grande verdade essencial que se encerra no próprio âmago de Sua Mensagem ao gênero humano, e fornecem mais uma evidência de sua realidade: “Louvado Sejas Tu, Ó Senhor meu Deus, pelas maravilhosas revelações de Teu decreto inescrutável e pelas múltiplas provações e angústias que Tu me destinaste. Num tempo, Tu me entregaste às mãos de Nimrod; e em outro, permitiste que a vara de Faraó me perseguisse. Somente Tu – graças à Tua onisciência e à operação de Tua vontade – podes avaliar as incalculáveis aflições que tenho sofrido nas mãos deles. Em outra ocasião, Tu me arrojaste na prisão dos ímpios, só porque me sentia impelido a sussurrar nos ouvidos dos favorecidos habitantes de Teu Reino uma ligeira idéia da visão com que Tu, pelo Teu conhecimento, me inspiraras, e cujo significado, através da eficácia do Teu poder, Tu me havias revelado. E, em outra ocasião, decretaste que eu fosse decapitado pela espada do infiel. Em ainda outra ocasião, fui crucificado, por haver revelado aos olhos dos homens as jóias ocultas de Tua gloriosa unidade, e lhes desvendado os maravilhosos sinais de Teu poder soberano e eterno. Quão amargas as humilhações amontoadas sobre mim, numa época subseqüente, na planície de Karbilá! Como me sentia solitário no meio de Teu povo; a que estado de desamparo fui reduzido naquela terra! Não satisfeitos com tamanhas indignidades, meus perseguidores decapitaram-me e, levando minha cabeça de terra em terra, exibiram-na ante a multidão, incrédula e depositaram-na na sede dos perversos e infiéis. E em outra época ainda, suspenderam-me, e meu peito foi alvo das flechas da crueldade maliciosa de meus inimigos. Crivaram-me de balas os membros do meu corpo e despedaçaram-no. E finalmente, neste dia, vê como meus inimigos traiçoeiros se têm aliado contra mim e tramado continuamente para instilar nas almas de Teus servos o veneno do ódio e da malícia. Recorrem a toda maquinação possível a fim de realizar seu propósito. Por pesaroso que seja meu dilema, Ó Deus, meu Bem-Amado, agradeço-Te, e meu espírito está cheio de gratidão por qualquer coisa que me tenha sucedido no caminho da Tua vontade. Estou muito contente por aquilo que ordenaste para mim, e acolherei com prazer, por mais aflitivas que sejam, as angústias e tristezas que me sobrevierem”.

O Báb

Caríssimos amigos! Ainda outra verdade fundamental que a Mensagem de Bahá´u´lláh proclama com insistência – e que seus adeptos devem sustentar incondicionalmente – é que o Báb, o iniciador da Era Bábí, deve ser considerado um Manifestante de Deus independente, investido de poder e autoridade soberanos, podendo Ele, assim, exercer todas as prerrogativas de Profeta independente. Um fato que me sinto obrigado a demonstrar, a fazer ressaltar, é que Ele não deve ser julgado apenas um inspirado Precursor da Revelação Bahá´í. Muito ao contrário – como Ele mesmo testifica no Bayán persa – devemos ver em Sua Pessoa o cumprimento da missão de todos os Profetas que O precederam. Faltaríamos, certamente, ao nosso dever para com a Fé que professamos, violaríamos um de seus princípios básicos e sagrados, se, por nossas palavras ou nossa conduta, vacilássemos em reconhecer a inferência deste princípio fundamental da crença bahá´í, ou nos recusássemos a sustentar incondicionalmente sua integridade e demonstrar sua verdade. De fato, ao empreender a tarefa de redigir e traduzir a narrativa imortal de Nabíl, visava eu, antes de tudo, proporcionar a todos os adeptos da Fé no Ocidente a uma compreensão mais fácil e completa do que significa, em suas largas repercussões, a elevada posição do Báb, para que Lhe dedicassem mais ardente admiração e amor.

Constitui a característica mais distintiva da Dispensação Bahá´í, sem a menor dúvida, a dupla missão que o próprio Báb tão intrepidamente proclamou, a qual Lhe fora ordenada pelo Onipotente – missão essa afirmada repetidas vezes por Bahá´u´lláh e sancionada, finalmente, pelo Testamento de ´Abdu´l-Bahá. Essa característica incomparável contribui grandemente para o poder de que foi investido esse sagrado ciclo, para sua força e autoridade misteriosas. Em verdade, a grandeza do Báb consiste, sobretudo, não em ser Ele o Precursor divinamente designado para tão transcendente Revelação, mas, antes, no fato de que possuía aquele poder inerente a quem inicia uma dispensação religiosa distinta, e também no fato de que empunhava o cetro de profeta independente, num grau não rivalizado pelos Profetas anteriores.

Nem a exígua duração de Sua Era, nem o âmbito restrito em que Suas leis e Seus mandatos têm vigorado, devem ser tomados como critério para se julgar a origem divina dessa Era ou avaliar a potência de Sua mensagem. “O fato de haver tão pequeno intervalo”, explica o próprio Bahá´u´lláh, “entre esta maravilhosa e poderosíssima Revelação e Minha Manifestação anterior, é um segredo que homem algum pode descobrir, um mistério que mente alguma é capaz de penetrar. Sua duração foi predestinada, e ninguém jamais perceberá a razão disso, a não ser que e até que ele se informe do conteúdo de Meu Livro Oculto.” “Vede”, expõe Bahá´u´lláh ainda no Kitáb-i-Badí – obra em que refuta os argumentos do povo do Bayán – “vede como, ao se completar o novo ano dessa maravilhosa, benéfica e sacratíssima Revelação, foi consumado imediata mas secretamente o número exigido de almas puras, que demonstraram santidade e consagração absoluta.”

As extraordinárias ocorrências que prenunciaram o advento do Fundador da Era Bábí, as dramáticas circunstâncias de Sua própria vida tão repleta de acontecimentos notáveis, a miraculosa tragédia de Seu martírio, a influência mágica que Ele exercia sobre os mais eminentes e poderosos de Seus conterrâneos – segundo testifica cada capítulo da comovente narrativa de Nabíl – tudo isso devemos aceitar como ampla evidência do direito do Báb a tão elevada posição entre os Profetas com a que Ele para si reclama.

Conquanto nítido o registro de Sua vida que o eminente cronista transmitiu à posteridade, tal brilhante narrativa empalidece diante do luminoso tributo que é prestado ao Báb pela pena de Bahá´u´lláh. E o próprio Báb dá pleno apoio a esse tributo, em Suas claras asseverações, enquanto o testamento de ´Abdu´l-Bahá, por escrito, lhe reforça poderosamente o caráter e elucida o significado.

Onde, a não ser no Kitáb-i-Iqán, pode o estudante da Revelação Bábí encontrar as afirmações que inequivocamente atestem o poder e o espírito que nenhum homem, a não ser um Manifestante Divino, jamais poderá demonstrar? “Poderia tal coisa se manifestar” – exclama Bahá´u´lláh – “se não fora através da potência de uma Revelação Divina e da invencível Vontade de Deus? Pela justiça de Deus! Fosse alguém nutrir no coração uma Revelação tão grandiosa, bastaria só o pensar em tamanha declaração para confundi-lo! Se fossem comprimidos dentro de seu coração os corações de todos os homens, ele ainda hesitaria em se atrever a tão formidável empreendimento.” “Jamais se viu tão grande efusão de graças”, afirma Ele em outra passagem, “nem se ouviu de Revelação igual, de tanta misericórdia. ... Cada um dos Profetas dotados de constância, cuja glória e sublimidade brilham como o sol, foi honrado com um Livro que todos já viram, os versículos do qual foram devidamente averiguados. Enquanto os versículos, porém, que caíram como uma chuva copiosa desta Nuvem da Divina Misericórdia, foram de tal abundância que ninguém conseguiu até agora estimar seu número... Como podem menosprezar esta Revelação? Já houve outra era que visse tão momentosos acontecimentos?”

Comentando o caráter e a influência daqueles heróis e mártires que o espírito do Báb magicamente transformara, Bahá´u´lláh revela o seguinte: “Se não são esses companheiros que verdadeiramente buscam a Deus, haverá outro que possa pretender a tal distinção? ... Se, apesar de todos os seus admiráveis testemunhos e suas maravilhosas obras, esses companheiros forem falsos, quem será digno de reclamar para si a verdade? ... Será que o mundo desde os dias de Adão tenha testemunhado tumulto igual, tão violenta comoção? ... Só em virtude de sua firmeza, parece-me, foi que se revelou a paciência, e a própria fidelidade não foi gerada senão pelos seus feitos.”

Querendo ressaltar a sublimidade da elevada posição do Báb em comparação com a dos Profetas passados, Bahá´u´lláh, na mesma Epístola, assevera: “Nenhuma compreensão pode abranger a natureza de Sua Revelação, nem conhecimento algum abarcar, em toda a plenitude, Sua Fé.” Cita Ele, então, em confirmação ao Seu argumento, estas palavras proféticas: “O conhecimento é representado por vinte e sete letras. Tudo o que os Profetas até agora revelaram foram apenas duas dessas letras. Homem algum já conheceu mais do que essas duas letras. Mas o Qá´im, ao aparecer, fará manifestarem-se as vinte e cinco letras restantes.” “Eis a grandeza, a sublimidade, de Sua posição!”, acrescenta Ele, “Excede a de todos os Profetas, e Sua Revelação transcende a compreensão de todos os Seus eleitos.” “Os Profetas de Deus, Seus Santos e eleitos, não foram informados de Sua Revelação” – diz Ele ainda – “ou, então, segundo o decreto inescrutável de Deus, não a divulgaram.”

Entre todos os atributos que a pena infalível de Bahá´u´lláh se dignou prestar à memória do Báb, Seu “Mais-Amado”, a seguinte passagem, breve porém eloqüente, que tanto relevo dá ao trecho final da mesma Epístola, é o mais memorável e comovente. “Entre todos”, escreve Ele, referindo-se às penosas provações e aos perigos que O cercavam na cidade de Bagdá, “estamos aqui, com a vida na mão, inteiramente resignados à Sua Vontade – porventura, graças à Divina Misericórdia, esta Letra revelada, manifesta, (Bahá´u´lláh) possa oferecer a vida em holocausto no caminho do Ponto Primordial, do Verbo Excelso (o Báb). Por Aquele em virtude de cuja ordem falou o Espírito, se não fosse esse ardente desejo em nossa alma, não mais teríamos demorado – nem por um momento sequer – nesta cidade.”

Caríssimos amigos! Tão ressoante elogio, tão audaz asserção como essa que emanou da pena de Bahá´u´lláh, numa obra tão imponente, é refletida plenamente na linguagem em que a Fonte da Revelação Bábí se dignou expressar Sua própria declaração. “Sou o Templo Místico” – assim, no Qayyúmu´l-Asmá´, o Báb proclama Sua posição – “que a Mão da Onipotência ergueu. Sou a Lâmpada que o Dedo de Deus acendeu dentro de seu nicho e fez brilhar com esplendor imortal. Sou a Chama daquela Luz superna que resplandeceu sobre o Sinai, no Lugar jubiloso, e jazia oculta dentro da Sarça Ardente.” “Ó Qurratu´l-´Ayn!”, exclama Ele, dirigindo-se a si próprio no mesmo comentário, “Não reconheço em Ti senão o “Grande Anúncio” – o Anúncio proclamado pela Assembléia no alto. Por esse nome, testifico, aqueles que circundam o Trono da Glória sempre Te têm conhecido.” “Com cada um dos Profetas que enviamos no passado”, acrescenta Ele ainda, “estabelecemos um Convênio separado relativo à “Lembrança de Deus” e Seu Dia. Manifestos, no reino da glória e através do poder da verdade, estão a “Lembrança de Deus” e Seu Dia ante os olhos dos anjos que rodeiam Seu trono de misericórdia.” “Se for Nosso desejo”, afirma Ele novamente, “está em Nosso poder, por meio de apenas uma letra de Nossa Revelação, compelir o mundo, e tudo o que nele está, a reconhecer, em menos de um abrir e fechar de olhos, a verdade de Nossa Causa.”

“Sou o Ponto Primordial, do qual se geraram todas as coisas criadas” – assim o Báb, da prisão-fortaleza de Máh-kú, se dirige a Muhammad Sháh... “Sou o Semblante de Deus, e nunca Seu esplendor se esvairá; sou a luz divina, e jamais decrescerá o Seu brilho... Todas as chaves do céu, Deus as quis por à Minha Mão direita, e todas as chaves do inferno, à Minha esquerda... Sou um dos pilares que sustentam o Verbo Primaz de Deus. Quem quer que me tenha reconhecido, terá sabido tudo o que seja direito e verdadeiro, terá atingido a tudo o que seja bom e digno... A substância de que Deus Me criou não é a argila de que formou os outros. Ele Me conferiu aquilo que os versados nos conhecimentos do mundo jamais poderão compreender, nem os fiéis descobrir.” “Neste dia”, afirma categoricamente o Báb, desejando frisar as ilimitadas potencialidades latentes em Sua Revelação, “se uma pequenina formiga quisesse possuir o poder de desenredar as mais abstrusas e intrincadas passagens do Alcorão, seu desejo, sem dúvida, seria satisfeito, já que o mistério do poder eterno vibra dentro do âmago de todas as coisas criadas”. “Se tão impotente criatura”, comenta ´Abdu´l-Bahá a respeito desta espantosa afirmação, “pode ser dotada de uma capacidade tão sutil, quanto mais eficaz não deve ser o poder libertado através das graças abundantes de Bahá´u´lláh!”

A essas autorizadas asserções e solenes declarações, feitas por Bahá´u´lláh e pelo Báb, deve ser acrescentado o testemunho incontroverso de ´Abdu´l-Bahá. Ele, o designado intérprete das palavras de Bahá´u´lláh e também do Báb, corrobora a verdade dessas declarações já citadas, não indireta, mas sim, clara e categoricamente, tanto em Suas Epístolas como em Seu Testamento.

Numa Epístola dirigida a um bahá´í em Mázindarán, na qual ´Abdu´l-Bahá explica o que realmente significa uma afirmação acerca do nascer do Sol da Verdade neste século que Lhe fora atribuída e que havia sido mal interpretada, Ele expõe, de um modo resumido porém concludente, o que deve ser para sempre nosso verdadeiro conceito da relação entre os dois Manifestantes associados à Revelação Bahá´í. “Ao fazer tal afirmação”, explica Ele, “não me referia senão ao Báb e a Bahá´u´lláh, sendo meu propósito a elucidação do caráter de Suas Revelações. A do Báb pode ser comparada ao sol, sendo que sua posição corresponde ao primeiro signo do zodíaco, o de Áries, no qual o sol entra no equinócio vernal. A posição da Revelação de Bahá´u´lláh, por outro lado, é representada pelo signo de Leão, a mais elevada posição do sol, a do pleno verão. Quer isso dizer que esta sagrada Revelação é iluminada pela luz do Sol da Verdade brilhando de sua posição mais elevada, na plenitude de seu esplendor, sua glória, e seu ardor.”

“O Báb, o Excelso”, afirma ´Abdu´l-Bahá mais especificamente em outra Epístola, “é o Amanhecer da Verdade, o esplendor de cuja luz brilha através de todas as regiões. Ele é também o Arauto da Luz Suprema, a Luminária de Abhá. A Abençoada Beleza é Aquele prometido pelos Livros Sagrados do passado, a revelação da Fonte de luz que brilhou sobre o Monte Sinai, cujo fogo ardeu no meio da Sarça Ardente. Nós todos somos servos no Seu limiar; cada um de nós é um humilde zelador à Sua porta.” “Todas as provas e profecias” – é Sua advertência ainda mais enfática – “e toda espécie de evidência, quer baseada no raciocínio, quer no texto das escrituras e tradições, devem ser consideradas como focalizadas nas pessoas de Bahá´u´lláh e do Báb. Neles se há de encontrar seu pleno cumprimento.”

E em conclusão, em Seu Testamento, repositório de Suas últimas vontades e instruções finais, Ele põe o selo de Seu testemunho quanto à elevada posição do Báb, na seguinte passagem designada especificamente para expor os princípios guias da crença bahá´í: “A base da crença do povo de Bahá (oxalá lhe seja oferecida em holocausto a minha vida!) é esta: Sua Santidade, o Excelso (o Báb) é a Manifestação da Unidade Divina e o Precursor da Beleza Antiga (Bahá´u´lláh). Sua Santidade, a Beleza de Abhá (Bahá´u´lláh) (oxalá minha vida seja oferecida em holocausto por Seus amigos leais!) é o Supremo Manifestante de Deus e a Aurora de Sua mais divina Essência.” “Todos os outros”, acrescenta Ele significativamente, “são Seus servos e cumpridores de Sua Vontade.”

´ABDU´L-BAHÁ

Caríssimos amigos! Nas páginas precedentes aventurei-me a tentar uma exposição daquelas verdades implícitas – segundo minha firme convicção – na proclamação Daquele que é a Fonte Primaz da Revelação Bahá´í. Tentei, além disso, dissipar quaisquer conceitos errôneos que possam, naturalmente, surgir no espírito de quem contemple tão transcendente manifestação da glória de Deus. Esforcei-me para explicar o significado da divindade com que deve ser investido Aquele que é o veículo de tão misterioso poder. Tentei demonstrar também, o mais que pude, que a Mensagem de que este grande Ser foi incumbido por Deus de transmitir à humanidade, nesta época, admite a origem divina de todas as Revelações inauguradas pelos profetas do passado, lhes sustenta os princípios fundamentais, como também está inextricavelmente relacionada com todas elas. Achei necessário provar e ressaltar, igualmente, o fato de que o Autor desta Fé não diz que Sua Revelação, embora tão vasta, seja final, do mesmo modo que Ele repudia pretensões nesse sentido por parte de líderes de diversas denominações. Que o Báb, não obstante a exígua duração de Sua Dispensação, deve ser considerado primariamente não como o escolhido Precursor da Fé Bahá´í, mas sim, como um Ser investido da autoridade incondicional assumida por cada um dos Profetas independentes vindos no passado – parecia-me ser ainda outro princípio básico cuja elucidação seria extremamente desejável na presente etapa da evolução de nossa Causa.

Urge agora – estou plenamente convencido – tentarmos esclarecer a posição ocupada por ´Abdu´l-Bahá e compreender o seu significado nesta sagrada Dispensação. Seria verdadeiramente difícil – para nós que estamos ainda tão próximos dessa imponente figura e que somos atraídos pelo misterioso poder desta personalidade tão magnética – obter uma compreensão clara e exata do papel e do caráter Daquele que, não somente na Revelação de Bahá´u´lláh, mas em todo o terreno da história religiosa, preenche uma função ímpar. Assim, movendo-se em uma esfera própria e possuindo um grau radicalmente diferente daquele do Autor e do Precursor da Revelação Bahá´í, ´Abdu´l-Bahá forma, juntamente com estes – em virtude da posição que lhe foi ordenada pelo Convênio de Bahá´u´lláh – aquilo que se pode chamar as Três Figuras Centrais de uma Fé que permanece sem par na história espiritual do mundo. Dominando, com eles, os destinos desta nascente Fé divina, ergueu-se de um nível a que jamais poderá aspirar, dentro de um período de mil anos completos, nenhum indivíduo ou grupo que venha a servir os interesses da Fé após Ele. Se alguém tentasse diminuir-lhe o prestígio incomparável, julgando que Seu grau fosse em pouco ou nada superior ao daqueles sobre cujos ombros tenha caído o manto de Sua autoridade, isso seria um ato de impiedade tão grave como a crença, não menos herética, que visa exaltá-Lo a um estado de igualdade absoluta com a Figura central de nossa Fé ou com seu Precursor. Por mais largo que seja o abismo que separa ´Abdu´l-Bahá Daquele que é a Fonte de uma Revelação independente, nunca poderá ser considerado tão vasto como a distância entre Ele, o Centro do Convênio, e Seus ministros que hão de continuar Sua obra, não importando quais sejam os seus nomes, categorias, funções ou futuras realizações. Os que conheceram ´Abdu´l-Bahá e, atraídos pela Sua magnética personalidade, Lhe dedicaram tão fervorosa admiração, devem refletir, à luz dessa afirmação, sobre a grandeza Daquele cuja posição é tão superior.

Que ´Abdu´l-Bahá não é Manifestante Divino, e não ocupa posição similar à posição de Seu Pai, embora seja o sucessor deste, e que ninguém exceto o Báb ou Bahá´u´lláh poderá reclamar para si semelhante grau antes da expiração de mil anos completos – são verdades que encerram as específicas palavras tanto do Fundador de nossa Fé como do Intérprete de Seus ensinamentos.

“Se alguém, antes do término de mil anos completos”, - adverte-nos explicitamente o Kitáb-i-Aqdas – “pretender ser portador de uma Revelação direta de Deus, tal homem seguramente, será um impostor mentiroso. Pedimos a Deus que o ajude, pelas Suas graças, a retratar-se e repudiar tal pretensão. Caso se arrependa, Deus, sem dúvida, perdoá-lo-á, mas se ele persistir em seu erro, Deus enviará alguém, seguramente, que não lhe mostrará piedade. Terrível, em verdade, é Deus, quando pune!” E para tornar ainda mais enfático este ponto, Ele acrescenta: “Quem interpretar este versículo de outro modo, que não seja o óbvio, privar-se-á do Espírito de Deus e de Sua misericórdia que abrange todas as coisas criadas.” “Se aparecer um homem” – é outra afirmação concludente – “antes de se completar um período de mil anos – sendo que cada ano consiste de doze meses, segundo o Alcorão, e de dezenove meses de dezenove dias cada, segundo o Bayán – e se este homem revelar ante vossos olhos todos os sinais de Deus, rejeita-o, sem a menor hesitação!”

Com suas próprias afirmações, ´Abdu´l-Bahá corrobora essa advertência, em termos não menos enfáticos e incondicionais: “Esta é minha convicção firme e inabalável”, declara Ele, “a essência da minha crença manifesta e explícita – uma convicção e uma crença com que estão de pleno acordo os habitantes do Reino de Abhá: A Abençoada Beleza é o Sol da Verdade, e Sua luz é a luz da verdade. Do mesmo modo é o Báb o Sol da Verdade, e Sua luz, a luz da verdade... Minha posição é a da servitude – uma servitude que é completa, pura e real, firmemente estabelecida, durável, óbvia, explicitamente revelada e não condicionada a interpretação alguma... Sou Eu o Intérprete da Palavra de Deus; é essa minha interpretação.”

E no próprio testamento de ´Abdu´l-Bahá – num tom e numa linguagem que bem poderiam confundir até os mais inveterados dos infratores do Convênio de Seu Pai – não torna Ele nula a arma principal daqueles que se haviam esforçado tão persistentemente afim de Lhe imputar a pretensão tácita de ser igual, ou até mesmo superior, a Bahá´u´lláh? “A base da crença do povo de Bahá é esta:” – assim proclama uma das mais imponentes passagens deste último documento, deixado para transmitir, a toda a posteridade, as instruções e vontades de um Mestre que partira – “Sua Santidade O Excelso (o Báb), é a manifestação da Unidade Divina e o Precursor da Beleza Antiga. Sua Santidade a Beleza de Abhá (Bahá´u´lláh) (Oxalá minha vida seja oferecida em holocausto por Seus amigos leais) é o supremo Manifestante de Deus e a Aurora de Sua mais divina Essência. Todos os outros são Seus servos e cumpridores de Sua Vontade”.

Destas declarações, entretanto, tão inequívocas, categóricas, e incompatíveis que são com qualquer pretensão de ser Profeta, não devemos inferir, de modo algum, que ´Abdu´l-Bahá seja apenas um dos servos da Abençoada Beleza, ou mesmo um cuja função se limite à interpretação autorizada dos ensinamentos de Seu Pai. Longe de mim tal noção ou o desejo de incutir tais idéias, julgá-Lo assim seria, claramente, uma traição da inestimável herança que Bahá´u´lláh legou à humanidade. A posição que Lhe foi conferida pela Pena Suprema é incomensuravelmente exaltada acima e além do que se infere dessas, Suas próprias declarações escritas. Quer seja no Kitáb-i-Aqdas, a mais imponente e sagrada de todas as obras de Bahá´u´lláh, quer no Kitáb-i-´Ahd, o Livro de Seu Convênio, ou no Súriy-i-Ghusn (Epístola do Ramo), as referências registradas pela pena de Bahá´u´lláh – referências estas poderosamente reforçadas pelas Epístolas que o Pai de ´Abdu´l-Bahá Lhe dirigiu – investem-no de um poder e o cercam de uma auréola que a presente geração jamais poderá apreciar devidamente.

Ele é – e para todo o sempre deve assim ser considerado – primeiro e acima de tudo, o Centro e Eixo do incomparável e todo abrangente Convênio de Bahá´u´lláh, Sua mais exaltada obra, o imaculado Espelho de Sua Luz, o perfeito Exemplar de Seus ensinamentos, o infalível Intérprete de Sua Palavra, a encarnação de todos os ideais e virtudes bahá´ís, o Mais Poderoso Ramo nascido da Raiz Antiga, o Sustentáculo da Lei de Deus, o Ser “em torno de Quem giram todos os nomes”, o Manancial da Unidade do Gênero Humano, o Porta-Estandarte da Paz Máxima, a Lua do Orbe Central desta mais sagrada Revelação – denominações e títulos estes que são implícitos e que acham sua mais alta, verdadeira e justa expressão no nome mágico: ´Abdu´l-Bahá. Acima e além dessas denominações, Ele é o “Mistério de Deus” – uma expressão que o Próprio Bahá´u´lláh escolhera para designá-Lo e que, embora de modo algum justifique que se Lhe atribua a posição de Profeta, mostra como na pessoa de ´Abdu´l-Bahá se reúnem e harmonizam completamente as incompatíveis características de uma natureza humana e de um conhecimento e perfeição sobre-humanos.

“Quando o Oceano de Minha Presença estiver em refluxo, e o Livro de Minha Revelação houver terminado”, proclama o Kitáb-i-Aqdas, “voltai as faces para Aquele que Deus designou, que brotou desta Raiz Antiga”. E também, “Quando a Pomba Mística tiver alçado vôo de seu Santuário de Louvor e procurado seu destino remoto, sua morada oculta, qualquer coisa que não compreendais no Livro, referi-a Àquele que brotou desta poderosa Estirpe”.

No Kitáb-i-Ahd, além disso, Bahá´u´lláh declara solene e explicitamente: “Incumbe aos Aghsán, aos Afnán e a todos os Meus parentes, voltarem as faces para o Mais Poderoso Ramo. Considerai o que revelamos em Nosso Sacratíssimo Livro. “Quando o oceano de Minha presença estiver em refluxo, e o Livro de Minha Revelação houver terminado, voltai as faces para Aquele que Deus designou, que brotou desta Raiz Antiga”. O objeto deste sagrado versículo não é outro senão o Mais Poderoso Ramo (´Abdu´l-Bahá). Através de Nossas graças, Nós vos revelamos Nossa Potentíssima Vontade, e Eu sou em verdade o Misericordioso, o Onipotente”.

No Súriy-i-Ghusn (Epístola ao Ramo) foram registrados os seguintes versículos: “Brotou do Sadratu´l-Muntahá este sagrado e glorioso Ser, este Ramo de Santidade; bem-aventurado quem tenha buscado Seu amparo e habite à Sua sombra. Em verdade, o Sustentáculo da Lei divina surgiu desta Raiz que Deus plantou firmemente no Solo de Sua Vontade, e cujo Ramo se ergueu até abranger a criação inteira. Glorificado seja Ele, pois, por essa Obra sublime, abençoada, poderosa e exaltada!... Como prova de Nossa misericórdia, emanou uma Palavra da Suprema Epístola – uma Palavra que Deus embelezou com os adornos de Seu próprio Ser e fez soberana sobre a terra e tudo o que nela está, e um sinal de Sua grandeza e poder entre seus povos... Agradecei a Deus, Ó povo, por haver Ele aparecido; pois, em verdade, Ele é a maior de todas as graças, a mais perfeita dádiva a vós; e por Seu intermédio se ressuscitam até os ossos em decomposição. Quem se dirigir a Ele terá se dirigido a Deus, e quem Dele se desviar, terá se desviado de Minha Beleza, terá repudiado Minha Prova e transgredido contra Mim. Ele é Quem Deus confiou a vós, de quem Ele vos incumbiu, Seu manifestante entre vós, e o Seu aparecimento entre Seus servos favorecidos... Fizemo-Lo descer na forma de um templo humano. Bendito e santificado seja Deus, que cria qualquer coisa que deseje através de Seu decreto inviolável, infalível. Aqueles que se privam da sombra do Ramo estão perdidos na solidão do erro, consumidos pelo fogo dos desejos mundanos, são daqueles que, seguramente, hão de perecer”.

“Ó Tu que és a menina de Meus Olhos!” escreve Bahá´u´lláh, de Próprio punho, dirigindo-se a ´Abdu´l-Bahá, “Descansem sobre Ti Minha glória, o oceano de Minha benevolência, o sol de Minha bondade, o céu de Minha misericórdia. Pedimos a Deus que ilumine o mundo através de Teu conhecimento e Tua sabedoria, que ordenes para Ti o que possa alegrar Teu coração e consolar Teus olhos”. “Que a glória de Deus esteja sobre Ti”, Ele diz em outra Epístola, “e sobre qualquer um que Te sirva e se mova a Teu redor. Ai daquele que Te fizer oposição ou Te injuriar. Bem-aventurado quem Te jurar lealdade; e que o fogo infernal atormente quem for Teu inimigo”. “Nós Te fizemos um refúgio para toda a humanidade”, afirma Ele em ainda outra Epístola, “um escudo para todos os que estão no céu e sobre a terra, uma cidadela para quem quer que tenha acreditado em Deus, o Incomparável, o Onisciente. Permita Deus, que por Teu intermédio, Ele os possa enriquecer e sustentar; que Ele Te inspire com aquilo que seja um manancial de riquezas para todas as coisas criadas, um oceano de graças para todos os homens, e a aurora da compaixão para todos os povos”.

“Tu sabes, Ó meu Deus”, suplica Bahá´u´lláh numa oração revelada em honra de ´Abdu´l-Bahá, “que nada desejo para Ele senão o que Tu desejaste, e nenhum destino tenho escolhido para Ele senão aquele que Tu escolheras. Concede-Lhe a vitória, pois, pelos Teus exércitos na terra e no céu... Imploro-Te, pela intensidade de Meu amor a Ti, e por Meu fervoroso desejo de manifestar Tua Causa, que ordenes para Ele, como também para aqueles que O amam, o que Tu destinastes a Teus Mensageiros e aos incumbidos de transmitir a Tua Revelação, Em verdade, Tu és o Todo-Poderoso, o Onipotente”.

Numa carta ditada por Bahá´u´lláh e endereçada por Mirza Aqá Ján, Seu secretário, a ´Abdu´l-Bahá, durante a estada deste em Beirut, lemos o seguinte: “Louvado seja Ele por ter honrado a Terra de Bá (Beirut) com a presença Daquele em torno de Quem giram todos os nomes. Todos os átomos da terra anunciaram a todas as coisas criadas as novas de que surgira de trás dos portais da Cidade-Prisão, brilhando por cima de seu horizonte, a beleza do grande, do Supremo Ramo de Deus – Seu Mistério antigo e imutável – encaminhando-se para uma outra terra. Tristeza envolve, pois, esta Cidade-prisão, enquanto uma outra terra se regozija... Bendito, duplamente bendito o solo pisado pelos Seus pés, benditos os olhos alegrados pela beleza de Seu semblante, os ouvidos honrados pelo privilégio de escutar Seu chamado, o coração que experimentou a doçura de Seu amor, o peito que vibrou com Sua comemoração, a pena que expressou Seu louvor, o pergaminho a que foi conferido o testemunho de Seus escritos”.

´Abdu´l-Bahá, confirmando a autoridade que Lhe fora conferida por Bahá´u´lláh, declara o seguinte: “De acordo com o explícito texto do Kitáb-i-Aqdas, Bahá´u´lláh designou para ser o Intérprete de Sua Palavra o Centro do Convênio – um Convênio tão firme e poderoso que nunca, desde o princípio do tempo até o dia presente, nenhuma Revelação religiosa produziu igual”.

Não obstante tão elevada posição, porém, e os elogios tão profusos com que Bahá´u´lláh glorificou Seu Filho nestes sagrados Livros e Epístolas, essa distinção sem paralelo nunca deve ser interpretada como prova de ser Sua condição idêntica à condição de Seu Pai, o Próprio Manifestante, ou, de modo algum, equivalente. Dar-se tal interpretação a qualquer dessas passagens citadas teria, obviamente, o efeito imediato de a por em conflito com as asserções e advertências não menos claras e autênticas às quais eu já me referi. De fato – como já tive ocasião de afirmar – os que atribuem a ´Abdu´l-Bahá um grau em demasia elevado são tão repreensíveis como aqueles que Lhe querem diminuir o valor, nem é menos perniciosa a influência destes. E isso pela simples razão de que, quando persistem em suas deduções inteiramente injustificáveis, tiradas dos escritos de Bahá´u´lláh, estão fornecendo ao inimigo, se bem que inadvertidamente, contínuas provas para acusações falsas e ambíguas.

Sinto-me compelido, pois, a declarar inequivocamente e sem a menor hesitação, que não existe no Kitáb-i-Aqdas, nem no Livro do Convênio de Bahá´u´lláh,nem mesmo na Epístola do Ramo ou em outra Epístola, quer revelada por Bahá´u´lláh, quer por ´Abdu´l-Bahá, autoridade alguma para a opinião que tende a sustentar a assim chamada “unidade mística” de Bahá´u´lláh e ´Abdu´l-Bahá, ou a estabelecer a identidade deste com Seu Pai ou com qualquer Manifestante anterior. Tal conceito errôneo pode ser atribuído em parte a uma interpretação inteiramente extravagante de certos termos e certas passagens na Epístola do Ramo, ao fato de se haver introduzido na tradução inglesa certas palavras que não existem no original, ou que dão uma impressão errada, ou são ambíguas em sua conotação. Baseia-se isso principalmente, sem dúvida, numa inferência que não é, em absoluto, justificável, tirada das passagens iniciais de uma Epístola de Bahá´u´lláh, da qual alguns extratos, segundo são reproduzidos na obra “Bahá´í Scriptures”, precedem imediatamente a Epístola do Ramo sem, entretanto, formarem parte integrante da mesma. A todos que lêem estes extratos, deve-se esclarecer que a frase “a Língua do Antigo” se refere somente a Deus, que o termo “O Nome Supremo” é uma referência óbvia a Bahá´u´lláh, e que “o Convênio” não quer dizer o Convênio específico de que Bahá´u´lláh é o Autor imediato e ´Abdu´l-Bahá o Centro, mas sim aquele Convênio geral que – segundo os ensinamentos bahá´ís – o próprio Deus, ao inaugurar uma nova Revelação, estabelece invariavelmente com a humanidade. A “Língua” que “dá” as “boas novas”, como dizem estes extratos, não é outra senão a Voz de Deus referindo-se a Bahá´u´lláh, e não este se referindo a ´Abdu´l-Bahá.

Além disso, se, em vez de vermos na declaração: “Ele é Eu mesmo” uma alusão à unidade mística de Deus e Seus Manifestantes, segundo explica o Kitáb-i-Iqán, tentássemos provar por tal declaração a identidade de ´Abdu´l-Bahá com Bahá´u´lláh, estaríamos violando diretamente o tão frisado princípio da unidade dos Manifestantes de Deus – um princípio que o Autor destes mesmos extratos tenta, por inferência acentuar.

Equivaleria isso, também, a uma reversão àquelas crenças irracionais e supersticiosas que se insinuaram imperceptivelmente nos ensinamentos de Jesus Cristo, no primeiro século da era cristã, as quais, cristalizando-se até se tornarem dogmas estabelecidos, tem diminuído a eficácia da Fé Cristã e lhe obscurecido o alvo.

“Afirmo” – é o comentário escrito pelo próprio ´Abdu´l-Bahá sobre a Epístola do Ramo – “que o verdadeiro sentido, o significado real, o segredo íntimo destes versículos, destas palavras, é minha servitude ao sagrado Limiar da Beleza de Abhá, minha abnegação completa, e consciência de ser absolutamente nada perante Ele. Constitui isso minha coroa resplandecente, meu mais precioso adorno. Disso me orgulho no reino da terra e do céu. Está nisso minha glória na companhia dos favorecidos!” “A ninguém é permitido dar a estes versículos qualquer outra interpretação” – Ele nos adverte na passagem que segue logo depois. E afirma, sobre o mesmo ponto: “De acordo com os textos explícitos do Kitáb-i-Aqdas e do Kitáb-i-´Ahd, eu sou o Intérprete manifesto da Palavra de Deus... Quem se desviar de minha interpretação será vítima de sua própria fantasia”.

Além disso, a inevitável dedução da crença na identidade do Autor da nossa Fé com Aquele que é o Centro de Seu Convênio, seria a de colocar ´Abdu´l-Bahá em uma posição superior à do Báb, quando justamente o inverso – muito embora ainda não reconhecido universalmente – é o princípio fundamental desta Revelação. Isso justificaria, também, a acusação com que os violadores do Convênio, durante todo o ministério de ´Abdu´l-Bahá, tentaram envenenar as mentes dos leais adeptos de Bahá´u´lláh e perverter-lhes a compreensão.

Seria mais correto, como também estaria mais de acordo com os princípios estabelecidos por Bahá´u´lláh e pelo Báb se, em vez de mantermos essa identidade fictícia com relação a ´Abdu´l-Bahá, considerássemos como idênticos, na realidade, o Precursor e o Fundador de nossa Fé – verdade essa que o texto do Súratu´l-Haykal afirma inequivocamente. “Tivesse o Ponto Primordial (o Báb) sido outro, como pretendeis, e não Eu mesmo” – é a explícita declaração de Bahá´u´lláh – “e tivesse Ele atingido Minha Presença, nunca teria Ele permitido, na verdade, separar-se de Mim; antes, haveríamos Nós nos deleitado mutuamente com a companhia, um do outro, em Meus Dias”. “Aquele que agora faz ouvir a Palavra de Deus”, afirma Bahá´u´lláh ainda outra vez, “não é senão o Ponto Primordial que novamente se manifestou”. “Ele”, disse Bahá´u´lláh, referindo-se a si Próprio, numa Epístola dirigida a uma das Letras da Vida, “é o mesmo que apareceu no ano sessenta (1260 após a Hégira). Este é, em verdade, um de Seus poderosos sinais”. “Quem” – é Seu apelo no Súriy-i-Damm – “se levantará para conseguir o triunfo da Beleza Primordial (o Báb) revelada no semblante de Seu Manifestante subseqüente?” E, referindo-se à Revelação proclamada pelo Báb, por outro lado, Ele a caracteriza como “Minha própria Revelação anterior”.

Numa declaração de ´Abdu´l-Bahá dirigida a alguns bahá´ís da América do Norte, encontramos mais uma exposição, clara e enfática, dos pontos que desejo acentuar neste capítulo, em suma: que ´Abdu´l-Bahá não é Manifestante de Deus, que recebe Sua luz, Sua inspiração e Seu sustento diretamente da Fonte Principal da Revelação Bahá´í; que é como um espelho límpido e perfeito que reflete os raios da glória de Bahá´u´lláh, não possuindo inerentemente aquela realidade que desafia definição, que tudo penetra e abarca – realidade essa que é o distintivo do Profeta única e exclusivamente; que Suas palavras não são iguais em grau, embora possuam a mesma validade que as de Bahá´u´lláh; e que Ele não deve ser aclamado como Jesus Cristo que tenha voltado – o Filho que virá “na glória do Pai”. Em conclusão, cito as referidas palavras de ´Abdu´l-Bahá: “Escrevestes que há uma divergência entre os crentes a respeito da “Segunda Vinda de Cristo”, Deus Misericordioso! Inúmeras vezes tem surgido essa questão, e a resposta tem emanado da pena de ´Abdu´l-Bahá em termos claros e irrefutáveis: o “Senhor dos Exércitos” e o “Cristo Prometido” mencionados nas profecias referem-se à Abençoada Perfeição (Bahá´u´lláh) e à Sua Santidade o Excelso (o Báb). Meu nome é ´Abdu´l-Bahá. Minha qualificação é ´Abdu´l-Bahá. Minha realidade é ´Abdu´l-Bahá. Meu louvor é ´Abdu´l-Bahá. Ser escravo no limiar da Abençoada Perfeição é meu diadema glorioso e refulgente, e servir a toda a humanidade é minha religião perpétua... Nenhum nome, nenhum título, nenhuma menção, nenhuma recomendação tenho, nem terei jamais, a não ser ´Abdu´l-Bahá. É isso o que desejo – é minha maior aspiração. É minha vida eterna, minha glória imperecível”.

A ORDEM ADMINISTRATIVA

Queridos companheiros de ´Abdu´l-Bahá! Com a ascensão de Bahá´u´lláh, a Estrela Dalva da Guia Divina que – como foi predito por Shaykh Ahmad e Siyyid Kázim, despontou em Shíráz, e, durante o seu percurso para o Ocidente, atingiu o seu zênite em Adrianópolis, mergulhou no horizonte de ´Akká, para não ressurgir antes de um ciclo de mil anos. Com o ocaso de tão fulgente Orbe, terminara definitivamente a época da Revelação Divina – a etapa inicial e mais vitalizadora de toda a Era Bahá´í. Este período, inaugurado pelo Báb e culminando com Bahá´u´lláh, que havia sido antecipado e elogiado pela inteira companhia dos Profetas deste grandioso ciclo profético, foi caracterizado por quase cinqüenta anos de Revelação contínua e progressiva – excetuando-se apenas o pequeno intervalo entre o martírio do Báb e as comoventes experiências de Bahá´u´lláh no Siyáh-Chal de Teerã. No que diz respeito à sua duração e à sua fecundidade, devemos considerar este período como sem paralelo em toda a história espiritual do mundo.

O falecimento de ´Abdu´l-Bahá, por outro lado, assinala o término da Idade Heróica e Apostólica desta mesma Dispensação – do período primitivo de nossa Fé, cujos esplendores jamais serão rivalizados, e muito menos eclipsados, pela grandeza que há forçosamente de distinguir as futuras vitórias da Revelação de Bahá´u´lláh. Pois nem o que realizaram os campeões na ereção das instituições atuais da Fé Bahá´í, nem os triunfos assombrosos que os heróis de sua Idade Áurea hão de conseguir nos dias vindouros, podem ser comparados, ou incluídos na mesma categoria, com as maravilhosas obras associadas aos nomes daqueles que lhe geraram a própria vida e lançaram os alicerces prístinos. O primeiro período da Era Bahá´í, o período criador, deve sobressair pela sua própria natureza, distinguindo-se do período formativo em que já entramos e, igualmente, da idade áurea destinada a sucedê-lo.

´Abdu´l-Bahá, que encarna uma instituição sem paralelo nos reconhecidos sistemas religiosos do mundo, encerrou, pode-se dizer, a Era à qual Ele mesmo pertencia, e abriu esta em que nós agora trabalhamos. Assim, pois, Seu Testamento deve ser considerado o elo perpétuo, indissolúvel, que a mente Daquele que é o Mistério de Deus concebeu a fim de assegurar a continuidade dos três períodos que constituem as partes componentes da Revelação Bahá´í. O período em que a semente da Fé havia pouco a pouco germinado, fica deste modo entrelaçado com este que deve presenciar sua florescência, como também com o ulterior, no qual a semente terá produzido finalmente seus frutos dourados.

As energias criadoras liberadas pela Lei de Bahá´u´lláh, penetrando e evoluindo na mente de ´Abdu´l-Bahá, produziram, pelo próprio contato e pela íntima interação, um Instrumento que pode ser considerado a Carta da Nova Ordem Mundial, a qual é, a um tempo, a glória e a promessa desta Dispensação suprema. Assim pode-se aclamar o Testamento como o fruto inevitável do intercurso místico entre Aquele que comunicou a influência geradora de Seu Plano Divino, e aquele que era seu veículo, o escolhido recipiente. Sendo o Testamento de ´Abdu´l-Bahá, pois, o Filho do Convênio – Herdeiro tanto do Originador como do Intérprete da Lei de Deus – é tão impossível separá-lo Daquele que forneceu o impulso original, motivador, como Daquele que ulteriormente o concebeu. Devemos nos lembrar sempre de que o plano inescrutável de Bahá´u´lláh se infundiu tão completamente na conduta de ´Abdu´l-Bahá, e os motivos de ambos se uniram tão intimamente, que a mera tentativa de desassociar os ensinamentos do primeiro, de qualquer sistema estabelecido pelo Exemplar ideal destes mesmos ensinamentos, constituiria em si um repúdio a uma das verdades mais sagradas e fundamentais da Fé.

A Ordem Administrativa – que vem evoluindo desde a ascensão de ´Abdu´l-Bahá, estabelecendo-se ante os nossos olhos em nada menos de quarenta dos países do mundo* – pode ser considerada a estrutura do próprio Testamento, a inviolável cidadela em que o filho recém-nascido está sendo nutrido e desenvolvido. Essa Ordem Administrativa, à medida que se for estendendo e consolidando, haverá certamente de manifestar as potencialidades e o pleno significado deste poderoso Documento, a mais notável expressão da Vontade de uma das mais notáveis Figuras da Revelação de Bahá´u´lláh. Assim que suas partes componentes, suas instituições orgânicas, entrem em funcionamento com eficiência e vigor, essa Ordem reivindicará sua pretensão e demonstrará sua capacidade de ser considerada não somente o núcleo, mas o verdadeiro padrão da Nova Ordem Mundial destinada a abranger, na plenitude dos tempos, a humanidade inteira.

Devemos notar que esta Ordem Administrativa difere fundamentalmente de qualquer coisa estabelecida pelos Profetas do passado, pois foi o próprio Bahá´u´lláh quem revelou os princípios e determinou as instituições desta Ordem, designando a pessoa para interpretar Sua Palavra e concedendo a devida autoridade ao organismo destinado a suplementar e aplicar Suas ordenanças legislativas. Aí está o segredo da força da Ordem Administrativa, a distinção fundamental e a garantia contra a desintegração e o cisma. Em parte alguma das Sagradas Escrituras de qualquer dos sistemas religiosos do mundo, nem mesmo nos escritos do Inaugurador da Dispensação Bábí, encontramos provisões que estabeleçam um convênio ou uma ordem administrativa que possam ser comparados – no que diz respeito a seu âmbito e sua autoridade – com aqueles que estão na própria base da Revelação Bahá´í. Tomemos, por exemplo, duas que sobressaem entre as reconhecidas religiões do mundo, duas das mais largamente difundidas, o cristianismo e o islamismo. Oferecem elas algo que possa ser considerado igual ou equivalente ao Livro do Convênio de Bahá´u´lláh, ou ao Testamento de ´Abdu´l-Bahá? Será; que o texto do Evangelho ou o do Alcorão conferem autoridade suficiente àqueles líderes e concílios que têm reclamado o direito e assumido a função de interpretar as provisões de suas sagradas escrituras e de administrar os assuntos das suas respectivas comunidades? – Pode Pedro, reconhecido chefe dos apóstolos, ou o Imáme Alí, o primo e legítimo sucessor do Profeta, exibir em apoio da primazia com que ambos foram investidos, afirmativas escritas e explícitas de Cristo e de Maomé que tivessem feito silenciar aqueles que, tanto entre seus contemporâneos como posteriormente, lhes negaram a autoridade e precipitaram com as ações os cismas que persistem até os dias presentes? Onde encontraremos nas palavras registradas de Jesus Cristo – bem podemos perguntar – quer seja sobre o assunto da sucessão, quer no sentido de prover um código de leis específicas e ordenanças administrativas claramente definidas – em distinção a princípios puramente espirituais – onde, perguntamos, encontraremos algo que se aproxime das detalhadas injunções, leis e advertências tão abundantes nas palavras autênticas tanto de Bahá´u´lláh como de ´Abdu´l-Bahá? Pode alguma passagem do Alcorão – o qual, a respeito de seu código legal, suas ordenanças administrativas e devocionais, assinala já um notável progresso sobre as Revelações anteriores e mais corruptas – ser construída como se tivesse colocado sobre uma base inatacável a autoridade indiscutível com que Maomé, verbalmente e em várias ocasiões, investiu o Seu sucessor? Se bem que o Autor da Revelação Bábí conseguisse, mediante as provisões do Bayán Persa, evitar um cisma tão permanente e catastrófico como aqueles que afligiram o cristianismo e o islamismo, será que poderíamos afirmar haver Ele produzido, a fim de salvaguardar Sua Fé, instrumentos tão bem definidos e da mesma eficácia dos que hão de preservar, para todo o sempre, a união dos organizados seguidores da Fé Bahá´í?

Dentre todas as Revelações, até a época atual, somente esta Fé – graças às explícitas instruções, às repetidas advertências e aos autênticos meios de proteção incorporados e elaborados em seus ensinamentos – conseguiu erigir uma estrutura da qual os adeptos de credos falidos e quebrados bem poderiam se aproximar em sua perplexidade, a fim de examiná-la com atenção e procurar, antes que seja tarde demais, a segurança invulnerável de seu refúgio mundial.

Não é de se admirar que Aquele que inaugurou com Seu Testamento uma Ordem tão vasta e incomparável, Aquele que é o Centro de tão grandioso Convênio – tivesse escrito estas palavras: “Tão firme e poderoso é este Convênio que nunca, desde o começo do tempo até o dia de hoje, nenhuma Era religiosa produziu igual.” “Qualquer coisa que esteja latente no recôndito deste sagrado ciclo” , escreveu Ele durante os dias mais escuros e perigosos de Seu ministério, “há de aparecer e se tornar manifesto gradativamente, pois agora é apenas o começo de seu crescimento e a aurora da revelação de seus sinais”. “Não tenhais receio” são Suas palavras confortadoras, prognosticando o surgir da Ordem Administrativa estabelecida por Seu Testamento – “Não tenhais receio, se este Ramo for cortado deste mundo material e despido de suas folhas; não, as folhas hão de medrar, pois este Ramo crescerá após haver sido cortado deste mundo inferior, atingirá os pináculos da glória, e dará frutos cuja fragrância há de perfumar o mundo.”

Essa Ordem Administrativa – ou seja a futura Comunidade Mundial Bahá´í, em sua forma rudimentar – é destinada a manifestar poder e majestade incomparáveis, pois a que outra coisa, senão a isso, podem aludir as seguintes palavras de Bahá´u´lláh? “O equilíbrio do mundo foi perturbado pela influência vibrante desta nova e mais imponente Ordem Mundial. Revolucionou-se a vida ordenada do homem, em virtude deste Sistema sem paralelo, maravilhoso – cujo igual jamais foi visto por olhos mortais”.

O próprio Báb, em Suas referências Àquele Que Deus tornará manifesto”, antecipa o Sistema e glorifica a Ordem Mundial que a Revelação de Bahá´u´lláh é destinada a desenvolver. “Bem-aventurado aquele” – é Sua extraordinária afirmação no terceiro capítulo do Bayán Persa – “que dirigir o olhar à Ordem de Bahá´u´lláh e agradecer a seu Senhor! Pois Ele há seguramente, de se manifestar. Deus, em verdade, ordenou isso, irrevogavelmente, no Bayán.”

Alguns fracos vislumbres, os primeiros prenúncios da natureza da Ordem Administrativa e de sua atuação – as quais eram destinadas a ser proclamadas e formalmente estabelecidas em época posterior, pelo Testamento de ´Abdu´l-Bahá já podemos discernir nas Epístolas de Bahá´u´lláh que designam e estabelecem formalmente as instituições das Casas de Justiça Internacional e Locais; na instituição das Mãos da Causa de Deus, criada primeiro por Bahá´u´lláh e depois por ´Abdu´l-Bahá; na instituição das Assembléias, tanto nacionais como locais, que já funcionavam em estado embrionário antes da ascensão de ´Abdu´l-Bahá, e na autoridade que o Autor de nossa Fé e o Centro de Seu Convênio, segundo Suas Epístolas, se dignaram conferir a estas; na instituição do Fundo Local que operava de acordo com as específicas injunções de ´Abdu´l-Bahá dirigidas a certas Assembléias no Irã, nos versículos do Kitáb-i-Aqdas que antecipam claramente a instituição da Guardiania; e na explicação dada por ´Abdu´l-Bahá numa Epístola, com especial ênfase, do princípio hereditário e da lei da primogenitura, como havendo sido sustentados pelos Profetas do passado. Parece-me oportuno, a esta altura, tentar uma explicação do caráter e das funções dos pilares gêmeos que sustentam esta poderosa Estrutura Administrativa – as instituições da Guardiania e da Casa Universal de Justiça. Uma descrição completa, porém, dos vários elementos que funcionam em conjunto com essas instituições, está além do âmbito e do objetivo desta exposição geral das verdades fundamentais da Fé. Definir acurada e minuciosamente as feições, e fazer uma análise completa, por um lado, da relação que liga esses dois órgãos fundamentais do Testamento de ´Abdu´l-Bahá, e, por outro, da relação que une cada um destes ao Autor da Fé e ao Centro de Seu Convênio, é uma tarefa que futuras gerações cumprirão, sem dúvida, de um modo adequado. É minha intenção aqui elaborar certas feições salientes deste esquema, as quais, embora nós estejamos muito próximos ainda de sua estrutura colossal, já se definiram com tal clareza que não teremos desculpa se as concebermos erroneamente ou lhes negarmos a devida atenção.

Deve-se afirmar, antes de tudo, em termos claros e inequívocos, que essas instituições gêmeas da Ordem Administrativa de Bahá´u´lláh têm que ser consideradas divinas em sua origem, essenciais em suas funções, e complementares quanto a seu objetivo e seu propósito. O que ambas visam, fundamentalmente, é garantir a permanência daquela autoridade divinamente concedida que emana da Fonte de nossa Fé, salvaguardar a união de seus seguidores, e manter a integridade e a flexibilidade de seus ensinamentos. Operando em conjunto, estas duas instituições inseparáveis tratam de lhe administrar os afazeres, coordenar as atividades, promover os interesses, executar as leis e defender as instituições subsidiárias. Cada instituição funciona dentro de uma bem definida esfera de jurisdição, tendo também suas próprias instituições auxiliares – instrumentos designados para o eficiente desempenho de suas responsabilidades e obrigações especiais. Exerce cada uma, dentro dos limites que lhe são impostos, seus poderes, sua autoridade, seus direitos e suas prerrogativas, os quais não são contraditórios, nem detraem, no mínimo grau, da posição que cada uma destas instituições ocupa. Longe de serem incompatíveis ou mutuamente destrutivas, suplementam a autoridade e as funções uma da outra, e são permanente e fundamentalmente unidas em seus objetivos.

Separada da instituição da Guardiania, a Ordem Mundial de Bahá´u´lláh ficaria mutilada e privar-se-ia, permanentemente, daquele princípio hereditário que foi sempre sustentado pela Lei de Deus, segundo nos disse ´Abdu´l-Bahá. “Em todas as Revelações Divinas”, afirma Ele numa Epístola dirigida a um adepto da Fé na Pérsia, “deram ao filho mais velho distinções extraordinárias. Até mesmo o grau de profeta era seu direito hereditário.” Sem essa instituição, periclitaria a integridade da Fé, e a estabilidade da estrutura inteira correria grave perigo. Isso lhe prejudicaria o prestígio, e faltar-lhe-iam, completamente, os meios necessários para conseguir uma visão longa, ininterrupta, abrangendo uma séria de gerações, como também seria retirada totalmente a orientação indispensável para definir a esfera da ação legislativa de seus representantes eleitos.

E se fosse separado da outra instituição, não menos essencial, isto é, da Casa Universal de Justiça, este mesmo Sistema previsto pelo Testamento de ´Abdu´l-Bahá veria paralisar-se sua ação, e privar-se-ia, em absoluto, do poder de encher aquelas lacunas que o Autor do Kitáb-i-Aqdas deixou, deliberadamente, em Seu código legislativo e administrativo.

“Ele é o Intérprete da Palavra de Deus”, assevera ´Abdu´l-Bahá, referindo-se às funções do Guardião da Fé, usando em Seu Testamento o mesmo termo que Ele próprio escolhera ao refutar o argumento daqueles violadores do Convênio que haviam desafiado Seu direito de interpretar as palavras de Bahá´u´lláh. “Após Ele”, acrescenta, “sucederá o primogênito de seus descendentes diretos”. “A poderosa cidadela”, Ele ainda expõe, “conservar-se-á inexpugnável e segura em virtude da obediência àquele que é o Guardião da Causa de Deus”. “Incumbe aos membros da Casa de Justiça, a todos os Aghsán e Afnán, às Mãos da Causa de Deus, demonstrar sua obediência, submissão e subordinação ao Guardião da Causa de Deus”. “Incumbe aos membros da Casa de Justiça”, declara Bahá´u´lláh, por outro lado, na Oitava Folha do Exaltado Paraíso, “deliberarem acerca dos assuntos que não foram revelados exteriormente no Livro, e executar o que lhes aprouver. Deus, em verdade, inspirá-los-á com qualquer coisa que Ele queria, e Ele é, em verdade, o Provedor, o Onisciente”. Ao Sacratíssimo Livro, (o Kitáb-i-Aqdas), afirma ´Abdu´l-Bahá em Seu Testamento, “deve cada um se dirigir, e qualquer assunto que nele não esteja expressamente tratado deve ser referido à Casa Universal de Justiça. O que esta decidir, quer seja por unanimidade quer por maioria, será, de fato, a verdade, e aquilo que o próprio Deus deseja. Quem disso se desviar, será realmente um daqueles que amam a discórdia, terá mostrado malícia e se desviado do Senhor do Convênio”.

E ´Abdu´l-Bahá, em Seu Testamento, não só confirma a declaração de Bahá´u´lláh supracitada, mas também investe a Casa Universal de Justiça com o direito e o poder de ab-rogar, segundo as exigências do tempo, sua própria legislação, bem como a de uma Casa de Justiça anterior. “Assim como a Casa de Justiça” – é Sua explícita afirmação em Seu Testamento – “tem o poder de fazer leis que não estejam expressamente registradas no Livro e que tratem de transações diárias, tem ela também o poder de anulá-las... Pode fazer isso porque estas leis não formam parte do explícito texto divino”.

Com referência ao Guardião e à Casa de Justiça Universal, lemos estas palavras enfáticas: “O sagrado e jovem Ramo, o Guardião da Causa de Deus, bem como a Casa Universal de Justiça, a ser universalmente eleita e estabelecida, estão ambos sob o cuidado e a proteção da Beleza de Abhá, protegidos e guiados infalivelmente pelo Excelso o Báb (Que minha vida seja oferecida por ambos!) Qualquer coisa que eles decidam, é de Deus.”

Em vista destas asserções, pois, torna-se indubitavelmente claro e evidente ser o Guardião da Fé o designado Intérprete da Palavra, e a Casa Universal de Justiça a instituição investida com a função de legislar sobre assuntos não expressamente tratados nos ensinamentos. A interpretação do Guardião, que funciona dentro de sua própria esfera, é tão autorizada e incondicional como o é a legislação da Casa Universal de Justiça, a qual tem a prerrogativa, o direito exclusivo, de dar o parecer e a decisão final nos casos em que Bahá´u´lláh não revelou expressamente leis e ordenanças. Nenhuma das duas instituições poderá, nem há de querer jamais infringir o sagrado domínio prescrito para a outra. Nenhuma delas tentará diminuir a específica e indubitável autoridade com que foram ambas divinamente investidas.

Embora o Guardião da Fé tenha sido designado o permanente chefe de tão augusto organismo, jamais ele poderá, nem sequer provisoriamente, assumir o direito de legislação exclusiva. Não poderá superar a decisão da maioria de seus co-membros, mas será obrigado a insistir que estes reconsiderem qualquer legislação que a consciência lhe mostre ser contrária ao sentido e ao espírito das palavras reveladas por Bahá´u´lláh. Ele interpreta o que foi especificamente revelado, e não pode legislar senão em sua capacidade de membro da Casa Universal de Justiça. Não lhe é permitido estabelecer independentemente a constituição destinada a governar as atividades organizadas de seus co-membros, como tampouco deve ele exercer sua influência de uma maneira que possa usurpar a liberdade daqueles que têm o sagrado direito de eleger o corpo de seus colaboradores.

Devemos lembrar-nos de que ´Abdu´l-Bahá antecipara a instituição da Guardiania, muito antes de Sua própria ascensão, como evidencia uma alusão que Ele fez numa Epístola dirigida a três de Seus amigos na Pérsia. Haviam estes perguntado se seria indicada alguma pessoa a quem todos os bahá´ís se devessem dirigir após Sua ascensão, ao que ´Abdu´l-Bahá deu a seguinte resposta: “Quanto à pergunta que me fizestes, deveis saber, em verdade, que isso é um segredo bem guardado. Assemelha-se a uma jóia oculta dentro de sua concha. Predestina-se a ser revelado. Tempo virá em que sua luz aparecerá, suas evidências se tornarão manifestas, e seus segredos desvendar-se-ão”.

Caríssimos amigos! A despeito da elevada posição da Guardiania e da função vital desta instituição na Ordem Administrativa de Bahá´u´lláh, e por mais acabrunhadora que deva ser a responsabilidade que pesa sobre ela, não se deve, de modo algum, exagerar sua importância, não obstante a linguagem do Testamento. Por grandes que sejam os méritos ou as realizações do Guardião da Fé, jamais deverá ele, sob quaisquer circunstâncias, ser exaltado ao grau que lhe permita participar, com ´Abdu´l-Bahá, da posição ímpar que o Centro do Convênio ocupa, e muito menos ainda deverá ser elevado à condição ordenada exclusivamente para o Manifestante de Deus. Tão grave divergência dos preceitos estabelecidos de nossa Fé nada menos é que aberta blasfêmia. Como já tive ocasião de expor, ao tratar da posição de ´Abdu´l-Bahá, o abismo que O separa do Autor de uma Revelação Divina, se bem que vasto, nunca pode ser comensurável com a distância entre Aquele que é o Centro do Convênio de Bahá´u´lláh e os Guardiães escolhidos como os ministros deste Convênio. Muito, muito maior é a distância que separa o Guardião e o Centro do Convênio, do que a que existe entre o Centro do Convênio e seu Autor.

Sinto-me constrangido a fazer a seguinte declaração para ser registrada: nenhum Guardião da Fé jamais poderá dizer-se o perfeito exemplar dos ensinamentos de Bahá´u´lláh, o espelho imaculado que reflita Sua luz. Embora esteja à sombra da proteção constante, infalível, de Bahá´u´lláh e do Báb, e ainda que participe, com ´Abdu´l-Bahá, do direito e da obrigação de interpretar os ensinamentos bahá´ís, ele é não obstante, essencialmente humano e, se deseja ser fiel à sua incumbência, não pode arrogar a si, sob pretexto algum, os direitos, os privilégios e as prerrogativas que Bahá´u´lláh se dignou conferir ao Seu Filho. À luz desta verdade, pois se orássemos ao Guardião da Fé ou o chamássemos de senhor e mestre, ou o designássemos como sua santidade, procurando sua benção, ou se comemorássemos seu aniversário natalício ou qualquer acontecimento de sua vida, estaríamos divergindo daquelas verdades estabelecidas que nossa amada Fé encerra. O fato de haver sido o Guardião especificamente dotado daquele poder que lhe é necessário, para que ele possa revelar o intuito e o significado das palavras de Bahá´u´lláh não quer dizer que lhe tenha sido conferida uma posição igual à daqueles cujas palavras é incumbido de interpretar. Ele pode exercer este direito, e desempenhar essa obrigação, e contudo permanecer infinitamente inferior a ambos quanto à posição, e diferente em natureza.

Abundante testemunho da integridade deste princípio cardeal de nossa Fé, devemos encontrar nas palavras e nos atos dos seus Guardiães presentes e futuros. Pela conduta e pelo exemplo deverão eles estabelecer a verdade deste princípio sobre um alicerce inatacável, e transmitir, a futuras gerações, evidências irrefutáveis desta realidade.

Se eu, da minha parte, hesitasse em reconhecer uma verdade tão vital, ou vacilasse em proclamar tão firme convicção, isso constituiria uma vergonhosa traição da confiança depositada em mim por ´Abdu´l-Bahá e uma imperdoável usurpação da autoridade com que Ele mesmo foi investido.

Seria oportuna aqui uma palavra sobre a teoria em que se baseia esta Ordem Administrativa, e sobre o princípio que deve governar a operação de suas mais importantes instituições. Criaríamos uma impressão inteiramente errada, se tentássemos fazer uma comparação, sequer, entre esta Ordem sem paralelo, divinamente concebida, e qualquer um dos diversos sistemas inventados pelas mentes dos homens, nos vários períodos da história, para o governo das instituições humanas. Tal tentativa mostraria que nos falta uma adequada apreciação de tão excelente obra do seu grande Autor. Bem sabemos que não poderia ser de outro modo quando nos lembramos de que esta Ordem constitui o verdadeiro padrão daquela civilização divina destinada a ser estabelecida na terra pela Lei todo poderosa de Bahá´u´lláh. Os sistemas políticos humanos, diversos e instáveis que são, sejam do passado ou do presente, quer tenham se originado no Oriente, quer no Ocidente – não oferecem nenhum critério adequado segundo o qual se possa estimar a potência de suas virtudes ocultas, ou avaliar a solidez de seus alicerces.

A Comunidade Bahá´í do futuro, alicerçada unicamente sobre esta vasta Ordem Administrativa, não só desafia qualquer comparação em toda a história das instituições políticas, mas também não encontra paralelo nos anais de qualquer um dos reconhecidos sistemas religiosos do mundo, quer seja em teoria quer na prática. Forma alguma de governo democrático; sistema algum de autocracia ou de ditadura, quer monárquico, quer republicano; nenhum esquema de ordem puramente aristocrático; nem mesmo qualquer dos reconhecidos tipos de teocracia – seja da Comunidade Hebraica, ou das várias organizações eclesiásticas Cristãs, ou da dos Imames ou do Califado no Islã – nenhum destes pode ser considerado idêntico ou conforme a Ordem Administrativa moldada pela mão mestra de seu Arquiteto perfeito.

Esta recém-nascida Ordem Administrativa incorpora, dentro de sua estrutura, certos elementos que se encontram em cada uma das três reconhecidas formas de governo temporal, sem que ela seja, em sentido algum, mera réplica de qualquer destas, e sem que introduza, dentro de seu mecanismo, qualquer uma das feições desfavoráveis que elas inerentemente possuem. Esta Ordem une e harmoniza as verdades salutares contidas, sem dúvida, em cada um destes sistemas – coisa que governo algum moldado por mãos mortais até agora conseguiu fazer – e sem, contudo, viciar a integridade daquelas verdades divinas em que, em última análise, se baseia.

De modo algum deve-se considerar como puramente democrática em caráter a Ordem Administrativa da Fé de Bahá´u´lláh, desde que esta dispensação carece em absoluto, da assunção básica segundo a qual todas as democracias têm de depender do povo, fundamentalmente, para seu mandato. Quando tratam da administração da Fé e da legislação necessária para suplementar as leis do Kitáb-i-Aqdas, os membros da Casa Universal de Justiça – devemos sempre nos lembrar – segundo indicam claramente as palavras de Bahá´u´lláh – não são responsáveis perante as pessoas que eles representam nem lhes é permitido guiar-se pelos sentimentos, pela opinião geral, ou mesmo pelas convicções das massas dos fiéis, ou daqueles que diretamente os elegeram. Devem seguir, antes, numa atitude de prece, a orientação e os ditames da própria consciência. Podem – ainda mais, devem – procurar conhecer as condições que prevalecem entre a comunidade, e devem pesar em suas mentes, desapaixonadamente, os méritos de qualquer caso que lhes seja apresentado para consideração, mas devem contudo reservar para si o direito de uma decisão irrestrita. “Deus, em verdade, inspirá-los-á com aquilo que Lhe aprouver”, é a asseveração incontrastável de Bahá´u´lláh. Assim, pois, eles – e não as pessoas que, direta ou indiretamente, os elegem – são os recipientes da orientação divina que é, a um tempo, o sangue vital e a salvaguarda final desta Revelação. Além disto, aquele que simboliza o princípio hereditário nesta Revelação foi designado o intérprete das palavras de seu Autor e, por conseguinte, em virtude da autoridade real de que foi investido, deixa de ser a figura passiva associada invariavelmente aos prevalecentes sistemas de monarquias constitucionais.

Nem pode a Ordem Administrativa Bahá´í ser relegada à categoria de sistema rígido, inflexível, de uma autocracia incondicional, nem tampouco à de uma vã imitação de qualquer forma de governo eclesiástico absolutista – quer seja o Papado, o Imanato, ou qualquer outra instituição semelhante, por esta razão óbvia: foi concedido aos representantes internacionais pelos adeptos de Bahá´u´lláh o direito exclusivo de legislar sobre questão não expressamente tratadas nas escrituras bahá´ís. Jamais poderá o Guardião da Fé, ou qualquer outra instituição, a não ser a Casa Universal de Justiça, usurpar este poder vital, essencial, ou infringir este sagrado direito. Ainda mais evidência do caráter não-autocrático da Ordem Administrativa Bahá´í e de sua inclinação para métodos democráticos, vemos-las na abolição do clero profissional com seus sacramentos de batismo, comunhão e confissão de pecados, bem como nas leis que requerem a eleição por sufrágio universal de todas as Casas de Justiça locais, nacionais e internacional, e na completa ausência de autoridade episcopal com os privilégios, as corrupções e as tendências burocráticas que a acompanham.

Nem deve essa Ordem, identificada com o nome de Bahá´u´lláh, ser confundida com qualquer sistema de governo puramente aristocrático, pois enquanto, por um lado, ela sustenta o princípio hereditário, e confia ao Guardião da Fé a obrigação de interpretar seus ensinamentos, por outro, providencia a eleição livre e direta, dentre as suas dos fiéis, do corpo que constitui seu mais alto órgão legislativo.

Embora não se possa dizer que esta Ordem Administrativa tenha sido modelada segundo qualquer um dos reconhecidos sistemas de governo, ela incorpora, no entanto, dentro de sua estrutura e reconcilia e assimila, alguns elementos salutares que se encontram em cada um deles. A autoridade hereditária que o Guardião é incumbido de exercer, as funções vitais, essenciais, desempenhadas pela Casa Universal de Justiça, as específicas provisões que exigem sua eleição democrática pelos representantes dos fiéis – tudo isso demonstra a verdade deste fato: esta Ordem divinamente revelada, se bem que não possa ser identificada com qualquer dos tipos padrões aos quais Aristóteles alude em suas obras, aproveita, entretanto, os elementos benéficos possuídos por cada um destes, incorporados e harmonizando-os com as verdades espirituais em que ela mesma se baseia. Sendo excluídos, rígida e permanentemente, os reconhecidos males inerentes a cada um destes sistemas, esta Ordem incomparável – nada importando quanto tempo dure ou quão extensamente se ramifique – jamais poderá degenerar ao ponto de se tornar uma forma daquele despotismo ou daquela oligarquia ou demagogia que, cedo ou tarde, corrompem o mecanismo de todas as instituições políticas, - essencialmente defeituosas que são – feitas pelo homem.

Caríssimos amigos! Por significativas que sejam as origens dessa poderosa estrutura administrativa, e por incomparáveis que sejam suas características, não nos parecem menos notáveis os acontecimentos que anunciaram – podemos dizer – seu nascimento, e que assimilaram a etapa inicial de sua evolução. Como é nítido, e também edificante o contraste entre o processo da lenta e constante consolidação que caracteriza o crescimento de sua força infantil e o ímpeto devastador das forças da desintegração que atacam as instituições já obsoletas, tanto religiosas como seculares, da sociedade atual!

A vitalidade tão claramente mostrada pelas instituições orgânicas desta grande Ordem, que se expande com tanta rapidez; os obstáculos já vencidos pela alta coragem e destemida resolução de seus administradores; o fogo de um entusiasmo inextinguível, ardendo aos corações de seus instrutores itinerantes, com um fervor que não se esvaece; as alturas de abnegação agora sendo atingidas por seus construtores-campeães; a largueza de visão, a esperança confiante, a alegria criadora, a paz interior, a integridade absoluta, a disciplina exemplar, a inabalável união e solidariedade que seus corajosos defensores manifestam; o grau em que seu Espírito impulsor se tem mostrado capaz de assimilar, dentro de seu âmbito, os mais divergentes elementos, purificando-os de toda forma de preconceito e fundindo-os com sua própria estrutura – tudo isso evidencia um poder ao qual uma sociedade desiludida e lastimavelmente agitada não deve deixar de dirigir a atenção.

Comparemos tão esplêndidas manifestações do espírito animando este corpo vibrante da Fé Bahá´í, com os gritos e a agonia, as loucuras e as vaidades, a amargura e os preconceitos, a perversidade e a divisão de um mundo enfermo e caótico. Vejamos o medo que atormenta seus líderes e paralisa a ação de seus estadistas cegos e confusos. Como são violentos os ódios, falsas as ambições, desprezíveis as ocupações, e profundamente arraigadas as suspeitas de seus povos! Quão alarmantes a anarquia, a corrupção, a descrença, que corroem as vísceras de uma civilização cambaleante!

Não será que este processo de constante deterioração, agora invadindo insidiosamente tantos setores de atividade e pensamentos humanos, deva ser considerado como necessariamente concomitante ao surgir deste todo-poderoso Braço de Bahá´u´lláh? Não será que os momentosos eventos que têm agitado tão profundamente todos os continentes da terra, no decorrer dos últimos vinte anos, devam ser vistos como sinais ominosos proclamando simultaneamente a agonia de uma civilização que se desintegra e as angústias do nascimento daquela Ordem Mundial – daquela Arca da salvação humana – que há forçosamente de se erguer sobre suas ruínas?

O tumulto causado no mundo ao surgir este poderoso Órgão da Religião de Bahá´u´lláh é atestado pela queda catastrófica de grandes monarquias e impérios no continente europeu, alguns dos quais mencionados em Suas profecias; é atestado também, pelo declínio que começou, e ainda continua, nas fortunas da hierarquia feita na própria terra natal de Bahá´u´lláh; pela queda da dinastia de Qájár, o inimigo tradicional de Sua Fé, pelo desmoronamento do sultanado e do califado, pilares estes do Islã sunní – evento em que vemos um paralelo notável à destruição de Jerusalém em fins do primeiro século da era Cristã. É atestado pela onda de secularização que está invadindo as instituições eclesiásticas maometanas no Egito, e minando a lealdade de seus mais firmes defensores; e vemos ainda outra evidência nos humilhantes ataques dirigidos contra algumas das mais poderosas igrejas do cristianismo na Rússia, na Europa Ocidental e na América Central; na disseminação daquelas doutrinas subversivas que estão solapando os alicerces e derrubando a estrutura de cidadelas que pareciam inexpugnáveis nas esferas social e política da atividade humana; e, afinal, nos sinais de uma catástrofe iminente – fazendo lembrar extraordinariamente a Queda do Império Romano no Ocidente – e que ameaça engolfar a inteira estrutura de nossa civilização atual. E este tumulto há de ampliar seu âmbito e aumentar sua intensidade na proporção em que se venha a compreender mais completamente o que significa estes Esquema que evolui ininterruptamente, ramificando-se e estendendo-se cada vez mais sobre a superfície do globo.

Ainda uma palavra, em conclusão. O surgir e a consolidação desta Ordem Administrativa – a concha que abriga e encerra tão preciosa jóia – constitui o distintivo do segundo período da era bahá´í – o período formativo. Virá a ser considerada, à medida que se afaste de nossos olhos, tornando-se cada vez mais remota, como o principal agente incumbido de inaugurar a fase final, a consumação, desta gloriosa Dispensação.

Que ninguém – enquanto este Sistema estiver ainda na infância – forme um conceito errôneo de seu caráter, lhe diminua a significação ou lhe atribua um objetivo falso. A rocha que alicerça esta Ordem Administrativa é o Propósito imutável de Deus para a humanidade de hoje. A Fonte de que deriva sua inspiração não é outra senão o Próprio Bahá´u´lláh. Seu escudo e seu defensor são as hostes do Reino de Abhá, que lutam em batalha. Sua semente é o sangue de nada menos de vinte mil mártires que ofereceram as vidas para que essa Ordem nascesse e se desenvolvesse. O eixo, em torno do qual giram suas instituições, são as autênticas provisões da Última Vontade e Testamento de ´Abdu´l-Bahá. Os princípios que a guiam são as verdades tão claramente enunciadas por Aquele Intérprete infalível dos ensinamentos de nossa Fé, em Seus discursos públicos no Ocidente. As leis que lhe governa a operação e limitam as funções são aquelas que foram expressamente ordenadas no Kitáb-i-Aqdas. A sede na qual concentrar-se-ão suas atividades espirituais, humanitárias e administrativas é o Masriqu´l-Adhkár e as suas Dependências. Os pilares que lhe sustentam a autoridade e fortalecem a estrutura são as instituições gêmeas da Guardiania e da Casa Universal de Justiça. O intuito central que a baseia e anima é o estabelecimento da Nova Ordem Mundial segundo esboçada por Bahá´u´lláh. Os métodos que emprega, o padrão que ela inculca, não inclinam nem para Oriente nem Ocidente, judeu ou gentio, nem para rico ou pobre, branco ou preto. Sua divisa é a unificação da espécie humana; seu estandarte, a “Maior Paz”; sua consumação, o advento daquele milênio áureo – o Dia em que os reinos deste mundo terão se transformado no Reino do Próprio Deus, no Reino de Bahá´u´lláh.

Haifa, Palestina.
8 de fevereiro de 1934

Composto e impresso nos Estab. Gráficos Borsoi S.A. Indústria e Comércio,

à Rua Francisco Manuel, 55 – ZC-15, Benfica, Rio de Janeiro, RJ

* N.E. – Escrito em 1934.

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