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Bahá'u'lláh : O Kitáb-i-Aqdas - Notas
O Kitáb-i-Aqdas - Notas
1. a doce fragrância de Meu manto ¶4

Essa é uma alusão à história de José, relatada no Alcorão e no Antigo Testamento, na qual a túnica de José, trazida por seus irmãos a Jacó, seu pai, permite que este [que estava cego] reconheça o amado filho há muito perdido. A metáfora do “manto” perfumado é freqüentemente utilizada nas Escrituras Bahá´ís para indicar o reconhecimento da Manifestação de Deus e de Sua Revelação.

Bahá´u´lláh, em uma de Suas Epístolas, descreve a Si próprio como o “Divino José” que os insensatos “trocaram pelo mais vil de todos os preços”. O Báb, no Qayyúmu´l-Asmá, identifica Bahá´u´lláh como o “verdadeiro José” e prevê as provações que Ele haveria de suportar nas mãos de Seu traiçoeiro irmão (vide nota 190). Da mesma forma, Shoghi Effendi traça um paralelo entre a profunda inveja despertada pela preeminência de ´Abdu´l-Bahá em seu meio-irmão, Mirza Muhammad-´Alí, e a inveja mortal “que o mérito superior de José inflamara nos corações de seus irmãos”.

2. deslacramos o Vinho seleto com os dedos da grandeza e do poder. ¶5

O consumo de vinho e de outras substâncias que causam embriaguez ou excitamento é proibido no Kitáb-i-Aqdas (vide nota 144 e nota 170).

A alusão ao uso de “vinho” num sentido alegórico – como sendo causa de êxtase espiritual – encontra-se não apenas na Revelação de Bahá´u´lláh, mas também na Bíblia, no Alcorão e nas antigas tradições hindus.

Por exemplo, no Alcorão é prometido aos justos que lhes será dado de beber do “vinho seleto e lacrado”. Em Suas Epístolas, Bahá´u´lláh identifica o “Vinho seleto” com Sua Revelação, cuja “fragrância almiscarada” foi soprada “sobre todas as coisas criadas”. Ele afirma ter “deslacrado” este “Vinho”, revelando, assim verdades espirituais até então desconhecidas, e capacitando os que dele sorvem a “discernir os esplendores da luz da unidade divina” e a “compreender o desígnio essencial que baseia as Escrituras de Deus”.

Em uma de Suas meditações, Bahá´u´lláh roga a Deus para que supra os fiéis com “o Vinho seleto de Tua mercê, de modo que os faça esquecer de qualquer outro além de Ti, levantar-se para servir Tua Causa, e ser firmes em seu amor por Ti”.

3. Nós vos ordenamos a Oração Obrigatória ¶6

Em árabe existem várias palavras que significam oração. A palavra “salát”, que aparece aqui no texto original, designa uma categoria especial de orações, cuja recitação em determinados horários do dia é ordenada aos crentes. A fim de diferenciar essa categoria de orações das demais, a palavra foi traduzida como “Oração Obrigatória”.

Bahá´u´lláh declara que “a Oração Obrigatória e o Jejum ocupam uma posição excelsa aos olhos de Deus” (P&R 93). ´Abdu´l-Bahá afirma que tais orações “conduzem à humildade e submissão, fazem com que a pessoa volva a face para Deus e Lhe expresse devoção”, e que, através dessas orações, “o homem tem comunhão com Deus, busca aproximar-se dEle, conversa com o verdadeiro Bem-Amado de seu coração e atinge graus espirituais”.

A Oração Obrigatória (vide nota 9) à qual se faz menção neste versículo foi substituída pelas três Orações Obrigatórias mais tarde reveladas por Bahá´u´lláh (P&R 63). Os textos das três orações atualmente em uso, acompanhados das orientações quanto à sua recitação, são encontrados, neste volume, em Alguns Textos Suplementares ao Kitáb-i-Aqdas.

Vários tópicos em Perguntas e Respostas tratam de facetas das três novas Orações Obrigatórias. Bahá´u´lláh esclarece que é permitido a cada pessoa escolher qualquer uma das três Orações Obrigatórias (P&R 65). Outras disposições são elucidadas em Perguntas e Respostas, números 66, 67, 81 e 82.

Os detalhes da lei referente à Oração Obrigatória estão sumarizados na seção IV.A. 1.-17 da Sinopse e Codificação.

4. nove rak´ahs ¶6

Um rak´ah consiste na recitação de versículos especificamente revelados acompanhados por um conjunto prescrito de genuflexões e outros movimentos.

A Oração Obrigatória originalmente ordenada por Bahá´u´lláh a Seus seguidores consistia de nove rak´ahs. Desconhece-se as características exatas dessa oração e as instruções específicas para a sua recitação, pois a oração foi perdida. (Vide nota 9.)

Comentando, em uma Epístola, sobre as Orações Obrigatórias atualmente em vigor, ´Abdu´l-Bahá esclarece que “em cada palavra e movimento da Oração Obrigatória existem alusões, mistérios e uma sabedoria que o homem é incapaz de compreender, e que cartas e pergaminhos não podem conter”.

Shoghi Effendi explica que as poucas e simples instruções dadas por Bahá´u´lláh para a recitação de certas orações não apenas têm significação espiritual, mas que também auxiliam a pessoa a “concentrar-se totalmente enquanto ora e medita”.

5. ao meio-dia e pela manhã e ao anoitecer ¶6

Concernente à definição dos termos “manhã”, “meio-dia” e “anoitecer”, períodos nos quais a Oração Obrigatória média atualmente em vigor deve ser recitada, Bahá´u´lláh declarou que estes correspondem “ao nascer do sol, meio-dia e pôr-do-sol” (P&R 83). Ele especifica que os “períodos admissíveis para as Orações Obrigatórias são: da manhã ao meio-dia, do meio-dia ao pôr-do-sol, e do pôr-do-sol até duas horas depois”. Além disso, ´Abdu´l-Bahá afirmou que a Oração Obrigatória matinal pode ser dita desde o alvorecer.

A definição de “meio-dia” como o período “do meio-dia ao pôr-do-sol” aplica-se tanto à recitação da Oração Obrigatória curta quanto da média.

6. Dispensamo-vos de um maior número ¶6

Os requisitos para a oração obrigatória que as Dispensações Bábi e Islâmica exigiam eram mais severos do que aqueles necessários à Oração Obrigatória composta de nove rak´ahs ordenada no Kitáb-i-Aqdas (vide nota 4).

No Bayán, o Báb ordenou uma Oração Obrigatória composta de dezenove rak´ahs, que deveria ser ofertada uma vez em cada período de vinte e quatro horas – de um meio-dia ao meio-dia seguinte.

A oração muçulmana é recitada cinco vezes ao dia, a saber: cedo pela manhã, ao meio-dia, à tarde, ao anoitecer e à noite. Embora o número de rak´ahs varie de acordo com o horário da recitação, um total de dezessete rak´ahs é oferecido ao longo do dia.

7. Quando desejardes ofertar essa prece, volvei-vos à Corte de Minha Sacratíssima Presença, este Lugar Consagrado que Deus ... decretou como o Ponto de Adoração para os habitantes das Cidades da Eternidade ¶6

O “Ponto de Adoração”, isto é, o ponto para o qual o devoto se deve volver quando oferece uma oração obrigatória, chama-se Qiblih. O conceito de Qiblih já existia em religiões anteriores. No passado, Jerusalém fora escolhida para esse fim. Maomé mudou o Qiblih para Meca. As instruções do Báb no Bayán árabe eram:

O Qiblih é, em verdade, Aquele que Deus tornará manifesto: toda vez que Ele Se mover, o Qiblih também mover-se-á, até que Ele encontre repouso.

Essa passagem é citada por Bahá´u´lláh no Kitáb-i-Aqdas (¶37) e confirmada por Ele no versículo acima anotado. Ele também assinalou que volver-se em direção ao Qiblih “é uma exigência permanente para a recitação da Oração Obrigatória” (P&R 14 e P&R 67). Contudo, em outras preces e orações pode-se dirigir a face em qualquer direção.

8. e quando o Sol do Verbo e da Verdade Se puser, volvei as faces ao Lugar que vos ordenamos ¶6

Bahá´u´lláh ordena Seu sepulcro como o Qiblih após Seu passamento. O Sacratíssimo Sepulcro fica em Bahjí, ´Akká. ´Abdu´l-Bahá descreve aquele Local como o “Santuário luminoso”, “o lugar ao redor do qual circunvaga a Assembléia nas Alturas”.

Em carta escrita em seu nome, Shoghi Effendi emprega a analogia da planta que se volve ao sol para explicar a significação espiritual do ato de volver-se ao Qiblih:

... assim como a planta estende-se em direção à luz do sol – da qual recebe vida e crescimento – do mesmo modo nós volvemos nossos corações para o Manifestante de Deus, Bahá´u´lláh, quando oramos; ... dirigimos as faces ... ao lugar onde jaz o Seu pó aqui na terra, como um símbolo de nosso gesto interior.”

9. Expusemos os detalhes da Oração Obrigatória em outra Epístola. ¶8

A Oração Obrigatória original fora, “por motivo de sabedoria”, revelada por Bahá´u´lláh em uma Epístola separada (P&R 63). Ela não foi divulgada aos crentes durante a Sua vida, tendo sido substituída pelas três Orações Obrigatórias agora em uso.

Pouco depois da Ascensão de Bahá´u´lláh, o texto dessa oração, junto com várias outras Epístolas, foi roubado por Muhammad-´Alí, o Arqui-Violador de Seu Convênio.

10. Oração de Finados ¶8

A Oração de Finados (vide Alguns Textos Suplementares ao Kitáb-i-Aqdas) é a única oração obrigatória bahá´í que se deve citar em congregação; deve ser lida por um dos crentes enquanto todos os presentes permanecem em pé e em silêncio (vide nota 19). Bahá´u´lláh esclareceu que a Oração de Finados é exigida somente na morte de um adulto (P&R 70), que a recitação deve preceder o sepultamento do corpo, e que não é obrigatório volver-se ao Qiblih quando ela for recitada (P&R 85).

Detalhes adicionais a respeito da Oração de Finados estão resumidos em Sinopse e Codificação, seção IV.A. 13.-14.

11. seis passagens específicas desceram da parte de Deus, o Revelador de

Versículos ¶8

As passagens que fazem parte da Oração de Finados constituem-se de seis repetições da saudação “Alláh´u´Abhá” (Deus é o Todo-Glorioso), cada uma delas seguida por dezenove repetições de cada um de outros seis versículos especificamente revelados. Tais versículos são idênticos àqueles da Oração de Finados revelada pelo Báb no Bayán. Bahá´u´lláh acrescentou uma súplica que deve anteceder essas passagens.

12. Pêlos de animais não vos invalidam a oração, nem nada que já não tenha espírito, como ossos e coisas semelhantes. Podeis vestir pele de zibelina, assim como usais a de castor, de esquilo e de outros animais ¶9

Em algumas Dispensações religiosas anteriores, considerava-se que a oração era invalidada pelo uso da pele de certos animais, ou quando se tinha sobre o corpo certos outros objetos. Bahá´u´lláh, aqui, confirma a declaração do Báb, no Bayán árabe, de que tais coisas não invalidam a oração.

13. Nós vos ordenamos orar e jejuar desde o início da maturidade ¶10

Bahá´u´lláh define a “idade da maturidade para os deveres religiosos” como sendo “quinze anos tanto para homens como para mulheres” (P&R 20). Para detalhes sobre o período de jejum, vide nota 25.

14. Ele disso isentou os debilitados por doença ou idade ¶10

A dispensa das Orações Obrigatórias e do Jejum concedida aos que estão debilitados devido a doença ou idade avançada é explicada em Perguntas e Respostas. Bahá´u´lláh orienta que em “tempos de saúde abalada não é permissível observar tais obrigações” (P&R 93). Ele define que a idade avançada, neste contexto, começa aos setenta anos (P&R 74). Shoghi Effendi, em resposta a uma pergunta, esclareceu que ao atingir os setenta anos de idade as pessoas ficam dispensadas, quer estejam fracas, quer não.

A isenção do jejum também se estende a outras categorias específicas de pessoas, conforme listadas em Sinopse e Codificação, seção IV.B.5. Vide análise adicional nas nota 20, nota 30 e nota 31.

15. Deus consentiu que vos prostrásseis sobre qualquer superfície limpa, pois no tocante a isso revogamos a restrição que fora estabelecida no Livro ¶10

Nas Dispensações anteriores os requisitos para a oração seguidamente incluíam a prostração. No Bayán árabe o Báb exortava os crentes, ao se prostrarem, a apoiar a fronte em superfícies de cristal. De forma similar, no Islã impõem-se certas restrições quanto à superfície na qual os muçulmanos podem se prostrar. Bahá´u´lláh ab-roga tais restrições e simplesmente especifica “qualquer superfície limpa”.

16. Se não encontrardes água para a ablução, repeti cinco vezes as palavras “Em Nome de Deus, o Mais Puro, o Mais Puro”, prosseguindo então o vosso ato devocional. ¶10

Cada fiel deve realizar as abluções ao se preparar para a realização da Oração Obrigatória. Consistem elas em lavar-se as mãos e o rosto. Se não houver água disponível, ordenam-se cinco repetições do versículo especificamente revelado. Vide na nota 34 um comentário geral sobre abluções.

Antecedentes para essa preceituação de procedimentos substitutos que se observam quando não há água disponível podem ser encontrados, em Dispensações anteriores, no Alcorão e no Bayán árabe.

17. Nas regiões onde os dias e as noites se alongam, determinem-se os horários de orações através de relógios e outros instrumentos que marcam o passar das horas. ¶10

Isso se refere aos territórios situados no extremo Norte ou Sul, onde a duração dos dias e noites varia de forma pronunciada (P&R 64 e P&R 103). Esse preceito também vale para o jejum.

18. Nós vos desobrigamos da prática da Oração dos Sinais. ¶11

A Oração dos Sinais é uma forma especial de oração obrigatória muçulmana que se ordenara recitar por ocasião de eventos naturais que podem provocar medo e que são tidos como sinais ou atos de Deus, como terremotos, eclipses e outros fenômenos semelhantes. A exigência de se realizar essa oração foi anulada. Em vez dela, um bahá´í pode dizer: “O domínio é de Deus, o Senhor do visível e do invisível, o Senhor da criação”, mas isso não é obrigatório (P&R 52).

19. Com exceção da Oração de Finados, a prática da oração congregacional foi anulada. ¶12

Orações congregacionais, entendidas como orações obrigatórias formais que se devem recitar segundo um determinado ritual, como, por exemplo, é costume no Islã, onde a oração de sexta-feira na mesquita é conduzida por um imame, foram revogadas na Dispensação Bahá´í. A Oração de Finados (vide nota 10) é a única oração congregacional prescrita pela lei Bahá´í. Ela deve ser recitada por um dos presentes enquanto o restante do grupo permanece em pé e em silêncio; aquele que lê a oração não possui nenhum grau especial. Não é exigido que a congregação volva-se para o Qiblih (P&R 85).

As três Orações Obrigatórias diárias devem ser recitadas individualmente, não em congregação.

Inexiste uma forma prescrita para a recitação das muitas outras orações bahá´ís, e todos têm liberdade para utilizar essas preces não-obrigatórias como desejarem, seja em encontros, seja a sós. No tocante a isso, Shoghi Effendi declara que:

... embora os amigos estejam, portanto, livres para seguir suas próprias inclinações, ... devem tomar o maior cuidado para que nenhuma das formas por eles empregada venha a adquirir um caráter demasiado rígido, a ponto de institucionalizar-se. Este é um ponto que os amigos deveriam ter sempre em mente para que não se afastem do claro caminho indicado nos Ensinamentos.

20. Deus eximiu as mulheres, durante as regras, da oração obrigatória e do jejum.¶13

As mulheres são dispensadas de realizar a oração obrigatória e o jejum durante a menstruação; em vez disso, devem realizar suas abluções (vide nota 34) e repetir 95 vezes por dia, entre um meio-dia e o próximo, o verso: “Glorificado seja Deus, o Senhor de Esplendor e Beleza”. Esse preceito tem antecedente no Bayán árabe, onde isenção similar era concedida.

Em algumas Dispensações religiosas do passado as mulheres eram consideradas ritualmente impuras durante as regras e era-lhes vedado observar os deveres da oração e do jejum. O conceito de impureza ritual foi abolido por Bahá´u´lláh (vide nota 106).

A Casa Universal de Justiça esclareceu que as disposições do Kitáb-i-Aqdas que concedem isenção de certos deveres e responsabilidades são, como a palavra indica, isenções, e não proibições. Qualquer fiel, portanto, homem ou mulher, pode tirar proveito de uma isenção que se lhe aplique, se o desejar. Entretanto, a Casa de Justiça aconselha que, ao tomar tal decisão, o crente faça uso da sabedoria e se conscientize de que Bahá´u´lláh concedeu tais isenções por bons motivos.

A dispensa da oração obrigatória, preceituada originalmente para a Oração Obrigatória composta de nove rak´ahs, agora se aplica às três Orações Obrigatórias que a substituíram.

21. Quando em viagem, caso pareis para descansar em um pouso seguro, prostrai-vos, homens ou mulheres, uma vez para cada Oração Obrigatória não proferida ¶14

Aqueles que se vêem numa condição de insegurança tal que impossibilita a recitação das Orações Obrigatórias estão dela dispensados de sua realização. A isenção se aplica tanto se a pessoa estiver viajando quando em casa, e oferece um meio pelo qual se podem compensar as Orações Obrigatórias que não foram ditas devido a essas circunstâncias de insegurança.

Bahá´u´lláh deixou claro que a prática de oração obrigatória “não é suspensa durante as viagens” se se puder encontrar um “lugar seguro” onde realizá-la (P&R 58).

Mais subsídios sobre esse preceito encontram-se nos números P&R 21, P&R 58, P&R 59, P&R 60 e P&R 61 de Perguntas e Respostas.

22. Findadas as prostrações, sentai-vos ... com as pernas entrecruzadas ¶14

A expressão árabe “haykalu´t-tawhíd”, traduzida aqui como “pernas entrecruzadas”, significa a “posição de unidade”. Ela, tradicionalmente, significa uma posição com as pernas entrecruzadas.

23. Dize: Deus fez Meu amor oculto ser a chave do Tesouro ¶15

Existe uma bem-conhecida tradição islâmica a respeito de Deus e Sua criação:

Eu era um Tesouro Oculto. Desejei tornar-me conhecido, e assim Eu trouxe a criação à existência para que Me pudesse conhecer.

Referências e alusões a essa tradição encontram-se disseminadas nas Escrituras Bahá´ís. Por exemplo, em uma de Suas preces, Bahá´u´lláh revela:

Louvado seja Teu nome, ó Senhor meu Deus! Atesto que eras um Tesouro oculto dentro de Teu Ser imemorial, e um Mistério impenetrável entesourado em Tua própria Essência. Ao desejares revelar-Te, trouxeste à existência o Mundo Maior e o Menor, e escolheste o Homem acima de todas as Tuas criaturas, e fizeste dEle um sinal de ambos esses mundos, ó Tu que és nosso Senhor, o Mais Compassivo!

Tu O elevaste para ocupar Teu trono ante todo o povo de Tua criação. Tu O capacitaste a desvendar Teus mistérios e a brilhar com as luzes de Tua inspiração e de Tua Revelação, e a manifestar Teus nomes e Teus atributos. Por Seu intermédio adornaste o preâmbulo do livro de Tua criação, ó Tu que és o Governante do universo que moldaste! (Prayers and Meditations by Bahá´u´lláh, XXXVIII)

Da mesma forma, afirma Ela nas Palavras Ocultas:

Ó Filho do Homem! Amei tua criação, por isso te criei. Ama-Me, pois, para que Eu possa mencionar teu nome e te inundar a alma com o espírito da vida.

´Abdu´l-Bahá, em Seu comentário sobre a tradição acima mencionada, escreveu:

Ó andarilho no caminho do Bem-Amado! Sabe tu que o propósito principal desta sagrada tradição é fazer menção dos estágios de ocultação e de manifestação de Deus no íntimo das Personificações da Verdade, Aqueles que são as Auroras de Seu Ser Todo-Glorioso. Por exemplo, antes que a chama do Fogo imorredouro se acenda e manifeste, ela existe por si própria e dentro de si mesma, na identidade oculta das Manifestações universais; e este é o estágio do “Tesouro Oculto”. E quando a árvore abençoada incendeia-se por si própria e dentro de si mesma, e aquele Fogo Divino queima por sua própria essência e dentro de sua própria essência, este é o estágio de “Desejei tornar-Me conhecido”. E quando ele rebrilha do Horizonte do universo com infinitos Nomes e Atributos Divinos sobre o mundo contingente e o mundo incorpóreo, isso constitui o surgimento de uma nova e maravilhosa criação, que corresponde ao estágio de “assim Eu trouxe a criação à existência”. E quando as almas santificadas rompem os véus de todos os apegos terrenos e condições mundanas e apressam-se ao estágio da contemplação da beleza da Presença Divina, e recebem a honra de reconhecer a Manifestação, e são capazes de testemunhar o esplendor do Supremo Sinal de Deus em seus corações, então o propósito da criação, que é o conhecimento dAquele que é a Verdade Eterna, torna-se manifesto.

24. Ó Pena do Altíssimo! ¶16

A “Pena do Altíssimo”, “a Pena Suprema” e “a Pena Excelsa” são referências a Bahá´u´lláh, alusivas à Sua função de Revelador do Verbo de Deus.

25. Nós vos ordenamos jejuar durante um breve período ¶16

O Jejum e a Oração Obrigatória constituem os dois pilares que sustentam a Lei revelada por Deus. Em uma de Suas Epístolas Bahá´u´lláh afirma ter revelado as leis da oração obrigatória e do jejum a fim de que, através delas, os crentes pudessem aproximar-se de Deus.

Shoghi Effendi observa que o período de jejum, o qual demanda total abstenção de comida e de bebida do nascer ao pôr-do-sol, é:

... essencialmente um período de meditação e oração, de recuperação espiritual, durante o qual cada fiel deve esforçar-se por fazer os ajustes necessários em sua vida interior, e para refrescar e revigorar as forças espirituais latentes em sua alma. Sua significação e propósito, portanto, são de caráter fundamentalmente espiritual. O ato de jejuar é um símbolo, e serve para nos lembrar da abstinência dos desejos mundanos e egoístas.

O jejum é ordenado a todos os fiéis, desde os 15 anos de idade até os 70.

Uma síntese dos preceitos detalhados referentes à lei do jejum, e às isenções concedidas a certas categorias de pessoas, pode ser encontrada na Sinopse e Codificação, seção IV.B.1.-6. Comentários sobre as isenções do jejum encontram-se nas nota 14, nota 20, nota 30 e nota 31.

O período de dezenove dias de Jejum coincide com o mês bahá´í de ´Alá´ (usualmente entre 2 e 20 de março). Ele vem imediatamente após o término dos Dias Intercalares (vide nota 27 e nota 147) e é seguido pela festa de Naw-Rúz (vide nota 26).

26. e vos destinamos ao seu término o Naw-Rúz como uma festa ¶16

O Báb inaugurou um novo calendário, agora conhecido como calendário Badí´ ou Bahá´í (vide nota 27 e nota 147). De acordo com esse calendário, o dia é o período que decorre de um pôr-do-sol ao outro. No Bayán o Báb ordenou o mês de ´Alá´ como o mês do jejum, decretou que o dia de Naw-Rúz assinala o término daquele período, e designou o Naw-Rúz como o Dia de Deus. Bahá´u´lláh ratifica o calendário Badí´, apontando o Naw-Rúz como uma festa.

O Naw-Rúz é o primeiro dia do ano novo. Ele coincide com o equinócio vernal no hemisfério norte, que usualmente ocorre em 21 de março. Bahá´u´lláh explica que essa festa deve ser celebrada sempre no dia em que o sol entra na constelação de Áries (i.e. o equinócio de primavera), mesmo que isso ocorra um minuto antes do pôr-do-sol (P&R 35). Dessa forma, o Naw-Rúz pode cair nos dias 20, 21 ou 22 de março, dependendo do horário do equinócio.

Bahá´u´lláh delegou à Casa Universal de Justiça a definição dos detalhes de muitas leis. Entre eles está uma série de assuntos a respeito do calendário bahá´í. O Guardião declarou que a implementação, a nível mundial, da lei referente ao período do Naw-Rúz implicará a escolha de um ponto específico da terra que sirva de padrão para que se fixe o horário do equinócio vernal. Também assinalou que a escolha deste local foi deixado à decisão da Casa Universal de Justiça.

27. Os dias que excedem aos meses devem antepor-se ao mês do jejum. ¶16

O calendário Badí´ é baseado no ano solar de 365 dias, 5 horas e 50 poucos minutos. O ano consiste de 19 meses com 19 dias cada (i.e. 361 dias), com a adição de quatro dias extras (cinco em anos bissextos). O Báb não definiu exatamente a posição dos dias intercalares no novo calendário. O Kitáb-i-Aqdas resolve essa questão, consignando aos dias “que excedem” uma posição fixa no calendário, imediatamente antes do mês de ´Alá´, o período de jejum. Para maiores detalhes, vide a seção sobre o calendário bahá´í no The Bahá´í World, volume XVIII [também em Leis, História e Administração da Fé Bahá´í, p. 91-3 e Bahá´u´lláh e a Nova Era. N.T.]

28. Nós ordenamos que eles ... sejam as manifestações da letra Há ¶16

Conhecidos como os Ayyám-i-Há (os Dias do Há), os Dias Intercalares têm a distinção de estar associados à “letra Há”. O valor numérico abjad (vide Glossário) desta letra árabe é cinco, que corresponde ao número potencial de dias intercalares.

À letra “Há” foram atribuídos alguns significados espirituais nas Escrituras Sagradas, entre os quais o de símbolo da Essência de Deus.

29. esses dias de doação que precedem o período de abstinência ¶16

Bahá´u´lláh instruiu Seus seguidores a devotarem esses dias a festividades, regozijo e caridade. Numa carta escrita em nome de Shoghi Effendi, explica-se que “os dias intercalares são especialmente reservados à hospitalidade, ao oferecimento de presentes, etc.”.

30. [Nem os viajantes]... são obrigados a guardar o Jejum ¶16

Bahá´u´lláh definiu a duração mínima da viagem que isenta o crente de jejuar (P&R 22 e P&R 75). Os detalhes dessa determinação estão sumarizados no Sinopse e Codificação, seção IV.B.5.a.i.-v.

Shoghi Effendi esclareceu que, embora os viajantes estejam dispensados do jejum, eles podem jejuar se assim o desejarem. Ele também fez notar que a dispensa se aplica a todo o período de viagem, e não apenas às horas que se esteja num trem, carro, etc.

31. Nem o viajante, nem o enfermo, nem a mulher grávida ou a que amamenta são obrigados a guardar o Jejum. Deus dispensou-os em sinal de Sua graça. ¶16

A dispensa de jejum é concedida àqueles que estão doentes ou com idade avançada (vide nota 14), às mulheres durante as regras (vide nota 20), aos viajantes (vide nota 30) e às mulheres grávidas ou que estejam amamentando. Essa isenção estende-se também aos que se ocupam em trabalhos pesados, os quais, ao mesmo tempo, são exortados a “demonstrar respeito à lei de Deus e à excelsa posição do Jejum”, alimentando-se “com frugalidade e em reservado” (P&R 76). Shoghi Effendi afirmou que a Casa Universal de Justiça definirá quais os tipos de trabalho que dispensam alguém do Jejum.

32. Abstende-vos de alimento e de bebida do nascer ao pôr-do-sol ¶17

Isso se refere ao período de jejum. Em uma de Suas Epístolas, ´Abdu´l-Bahá, depois de explicar que o jejum consiste na abstenção de comida e de bebida, aponta, ademais, que o fumo é uma espécie de “bebida”. Em árabe o verbo “beber” aplica-se igualmente ao ato de fumar.

33. Ordena-se a cada um dos fiéis em Deus ... que todos os dias ... repita “Alláh´u´Abhá” noventa e cinco vezes. ¶18

“Alláh´u´Abhá” é uma frase árabe que significa “Deus, o Todo-Glorioso”. É uma das formas do Nome Supremo de Deus (vide nota 137). No Islã há uma tradição segundo a qual há um nome supremo dentre os muitos nomes de Deus; contudo, a identidade desse Nome Supremo estava oculta. Bahá´u´lláh confirmou que o Nome Supremo é “Bahá”.

Considera-se também como o Nome Supremo os diversos derivados da palavra “Bahá”. O secretário de Shoghi Effendi, escrevendo em seu nome, explica que:

O Nome Supremo é o Nome de Bahá´u´lláh. “Yá Bahá´u´l-Abhá” é uma invocação que significa: “Ó Tu, Glória das Glórias!”. “Alláh´u´Abhá” é uma saudação que quer dizer: “Deus, o Todo-Glorioso”. Ambas referem-se a Bahá´u´lláh. Entende-se, por Nome Supremo, que Bahá´u´lláh apareceu com o Nome Supremo de Deus, em outras palavras, que Ele é a suprema Manifestação de Deus.

A saudação “Alláh´u´Abhá” foi adotada durante o período de exílio de Bahá´u´lláh em Adrianópolis.

A repetição de “Alláh´u´Abhá” noventa e cinco vezes deve ser precedida por abluções (vide nota 34).

34. efetuai abluções para a Oração Obrigatória ¶18

As abluções relacionam-se especificamente a certas orações. Elas devem preceder a realização das três Orações Obrigatórias e da recitação diária de “Alláh´u´Abhá” noventa e cinco vezes, bem como a recitação do versículo que substitui a oração obrigatória e o jejum para as mulheres durante as regras (vide nota 20).

As abluções prescritas consistem em lavar-se as mãos e a face em preparação para a oração. No caso da Oração Obrigatória média, isso é acompanhado pela recitação de certos versículos (vide Alguns Textos Suplementares ao Kitáb-i-Aqdas Revelados por Bahá´u´lláh).

Mesmo que alguém se tenha banhado logo antes de recitar a Oração Obrigatória, ainda assim é necessário efetuar as abluções (P&R 18), donde apreende-se terem elas um significado que transcende o simples ato de lavar-se.

Quando não há água disponível para as abluções, prescreve-se cinco repetições de um versículo (vide nota 16), e esse preceito aplica-se também àqueles para quem o uso de água prejudicaria o corpo (P&R 51).

Os preceitos detalhados da lei referente às abluções encontram-se na Sinopse e Codificação, seção IV.A.10.a.-g., assim como em Perguntas e Respostas, números 51, 62, 66, 77 e 86.

35. Proibiu-se-vos o assassinato ¶19

A proibição de se tirar a vida de outrem é repetida por Bahá´u´lláh no parágrafo 73 do Kitáb-i-Aqdas. Penas são prescritas para assassinato premeditado (vide nota 86). No caso de homicídio involuntário, é necessário que se pague uma indenização específica à família do morto (vide Kitáb-i-Aqdas ¶188).

36. e o adultério ¶19

A palavra árabe “ziná”, aqui traduzida por “adultério”, significa tanto fornicação quanto adultério. Ela se aplica não apenas às relações sexuais entre uma pessoa casada e alguém que não seja seu cônjuge, mas também às relações sexuais extramaritais em geral. Uma das formas de “ziná” é o estupro. A única pena que Bahá´u´lláh prescreve é para os que cometem fornicação* (vide nota 77); a determinação das penas para outras formas de ofensa sexual foi entregue à Casa Universal de Justiça.

37. a maledicência e a calúnia ¶19

A fofoca, a maledicência, a difamação e a atenção às faltas alheias foram repetidamente condenadas por Bahá´u´lláh. Nas Palavras Ocultas Ele afirma com toda a clareza: “Ó Filho do Ser! Como pudeste esquecer as tuas próprias faltas e ocupar-te com as alheias? Quem assim fizer, será por Mim abominado”. E novamente: “Ó Filho do Homem! Nem sequer sussurres os pecados alheios enquanto tu próprio fores pecador. Fosses tu transgredir este mandamento, amaldiçoado serias, e disto dou testemunho.” Essa forte advertência é novamente reiterada em Sua última obra, “o Livro de Meu Convênio”: “Em verdade, digo: a língua é para mencionar o que é bom; não a corrompais com palavras indecorosas. Deus já perdoou o passado. Doravante todos devem expressar o que é bom e digno, e evitar a maledicência, as injúrias e tudo o que possa causar tristeza aos homens.”

38. Dividimos a herança em sete categorias ¶20

As leis bahá´ís sobre herança aplicam-se apenas na falta de um testamento, ou seja, quando a pessoa morre sem deixar sua última vontade. No Kitáb-i-Aqdas (¶109), Bahá´u´lláh orienta todos os crentes a lavrar um testamento. Ele, em outro lugar, afirma categoricamente que o indivíduo tem total jurisdição sobre sua propriedade e é livre para determinar a maneira pela qual seu espólio deve ser dividido, e para designar, no testamento, aqueles bahá´ís ou não-bahá´ís que deverão receber herança (P&R 69). Com relação a isso, uma carta escrita em nome de Shoghi Effendi explica que:

... apesar da permissão concedida a cada bahá´í para dispor de seus bens da maneira como desejar no testamento, ainda assim ele obriga-se moral e conscienciosamente, ao redigi-lo, a sempre ter em mente a necessidade de preservar o princípio de Bahá´u´lláh concernente à função social da riqueza, e a conseqüente necessidade de se evitar seu acúmulo e concentração excessivos em poucas pessoas ou grupos de pessoas.

Esse versículo do Aqdas inicia uma longa passagem na qual Bahá´u´lláh detalha a lei bahá´í de herança. Ao ler essa passagem deve-se ter em mente que a lei, ao ser apresentada, pressupõe a morte de um homem; suas cláusulas aplicam-se, “mutatis mutandis”, no caso da morte de uma mulher.

O sistema de herança que determina a distribuição do espólio entre sete categorias de herdeiros (filhos, cônjuge, pai, mãe, irmãos, irmãs e professores) baseia-se nos preceitos que o Báb expôs no Bayán. As características principais da lei bahá´í de herança na falta de um testamento são:

1. No caso da morte de um pai cujo espólio inclui uma residência particular, essa residência passa ao filho homem mais velho [o primogênito] (P&R 34).

2. Se o finado não tiver descendência masculina, dois terços da residência passam para a descendência feminina e o terço restante vai para a Casa de Justiça (P&R 41, P&R 72). Vide nota 42 a respeito dos níveis da instituição da Casa de Justiça aos quais essa lei se aplica. (Vide também a nota 44).

3. O restante do espólio é dividido entre sete categorias de herdeiros. Para detalhes sobre o número de quotas que cada grupo recebe, vide Perguntas e Respostas, número 5, e Sinopse e Codificação, seção IV.C.3.a.

4. Quando houver mais de um herdeiro em qualquer das categorias, a porção alocada àquela classe deve ser dividida entre eles de forma igualitária, quer sejam homens, quer mulheres.

5. Quando não houver prole, a porção dos filhos reverte para a Casa de Justiça (P&R 7, P&R 41).

6. Caso a pessoa deixe descendentes, mas não exista ou parte ou a totalidade das demais categorias de herdeiros, dois terços das quotas a estes alocadas revertem para os descendentes, e um terço para a Casa de Justiça (P&R 7).

7. Não existindo nenhuma das categorias especificadas, dois terços do espólio revertem para os sobrinhos e sobrinhas do finado. Não havendo estes, as mesmas quotas revertem para as tias e tios; na falta deles, para seus filhos e filhas. Em qualquer dos casos, o terço restante reverte para a Casa de Justiça.

8. Se uma pessoa não deixa nenhum dos herdeiros acima mencionados, todo o espólio reverte para a Casa de Justiça.

9. Bahá´u´lláh afirma que não-bahá´ís não têm direito à herança de seus pais ou parentes bahá´ís (P&R 34). Shoghi Effendi, em carta escrita em seu nome, esclarece que tal restrição se aplica: “somente àqueles casos em que um bahá´í morre sem deixar um testamento e quando, portanto, seus bens deverão ser distribuídos conforme as regras estabelecidas no Aqdas. Do contrário, todo bahá´í tem total liberdade para legar seus bens a qualquer pessoa, independente de religião, desde que, entretanto, deixe um testamento especificando seus desejos.” Portanto, um bahá´í sempre poderá proporcionar um legado para seu cônjuge, filhos ou parentes não-bahá´ís através da lavratura de um testamento.

Detalhes adicionais da lei de herança estão sintetizados na Sinopse e Codificação, seção IV.C.3.a.-o.

39. aos irmãos, cinco partes ... às irmãs, quatro partes ¶20

O Perguntas e Respostas amplia as disposições da lei no tocante às quotas da herança alocadas aos irmãos e irmãs do falecido. Se o irmão ou a irmã têm o mesmo pai que o finado, ele ou ela herdarão a totalidade da quota que lhes é destinada. Se, contudo, o irmão ou a irmã provêm de outro pai, ele ou ela herdarão apenas dois terços da quota alocada, revertendo o terço restante para a Casa de Justiça (P&R 6). Além disso, se o finado tiver irmãos ou irmãs germanos entre seus herdeiros, os meio-irmãos e meio-irmãs do lado materno nada herdam (P&R 53). Os meio-irmãos e meio-irmãs, é claro, terão direito à herança do espólio de seu próprio pai.

40. aos professores ¶20

Em uma Epístola, ´Abdu´l-Bahá compara os professores envolvidos na educação espiritual da criança ao “pai espiritual” que “concede vida eterna ao filho”. Ele explica ser essa a razão pela qual “os professores estão incluídos entre os herdeiros” na “Lei de Deus”.

Bahá´u´lláh especifica em que condições o professor ou a professora herdam, bem como a porção que lhes cabe (P&R 33).

41. Quando ouvimos o clamor dos filhos ainda não nascidos, Nós duplicamo-lhes as quotas e reduzimos as dos demais. ¶20

Nas leis de herança do Báb, aos filhos do falecido eram destinadas nove partes, que constituíam 540 quotas. Essa alocação constituía menos de uma quarta parte do total do espólio. Bahá´u´lláh duplicou-lhes a porção para 1.080 quotas, e reduziu aquelas destinadas às outras seis categorias de herdeiros. Ele delineia também o significado exato desse versículo e sua implicação na distribuição da herança (P&R 5).

42. a Casa de Justiça ¶21

Ao referir-Se à Casa de Justiça no Kitáb-i-Aqdas, Bahá´u´lláh nem sempre faz distinção explícita entre a Casa Universal de Justiça e a Casa Local de Justiça, sendo que ambas as instituições são ordenadas no Livro. Em geral, Ele simplesmente refere-Se à “Casa de Justiça”, deixando em aberto para posterior esclarecimento a que nível, ou níveis, da instituição como um todo cada lei aplicar-se-á.

Numa Epístola em que enumera as receitas da tesouraria local, ´Abdu´l-Bahá inclui os espólios sem herdeiros, indicando assim que a Casa de Justiça mencionada nessas passagens do Aqdas relativas a heranças é a Casa Local de Justiça.

43. Havendo descendentes, mas nenhuma das demais categorias de herdeiros ¶22

Bahá´u´lláh esclarece que “Essa diretriz aplica-se tanto de maneira geral quanto específica, o que vale dizer que sempre que faltar qualquer uma das categorias dessa última classe de herdeiros, dois terços de sua herança passam para a descendência, e o terço restante para a Casa de Justiça” (P&R 7).

44. Nós destinamos a residência e as roupas pessoais do falecido à descendência masculina, não à feminina nem aos demais herdeiros. ¶25

Em uma Epístola, ´Abdu´l-Bahá esclarece que, no caso da morte de um homem, a residência e a roupa pessoal permanecem na linhagem masculina. Elas passam ao filho mais velho e, na falta deste, vão para o segundo filho, e assim por diante. Ele explica que esse preceito é expressão da lei da primogenitura, a qual tem sido invariavelmente defendia pela Lei de Deus. Numa Epístola a um seguidor da Fé, na Pérsia, Ele escreveu: “Em todas as Dispensações Divinas o primogênito tem recebido distinções extraordinárias. Mesmo a condição de profeta tem sido seu direito inato”. Entretanto, juntamente com as distinções concedidas ao primogênito vão deveres concomitantes. Por exemplo, ele tem a responsabilidade moral perante Deus de olhar por sua mãe, e também de levar em conta as necessidades dos demais herdeiros.

Bahá´u´lláh esclarece vários aspectos dessa parte da lei de herança. Ele indica que, se houver mais de uma residência, a principal e mais importante vai para o filho homem. As demais residências devem, juntamente com os outros bens do falecido, ser repartidas entre os herdeiros (P&R 34), e Ele orienta que, na falta de um descendente masculino, dois terços da residência principal e das roupas pessoais do pai falecido reverterão para a filha, e um terço para a Casa de Justiça (P&R 72). Ademais, no caso do falecimento de uma mulher, Bahá´u´lláh declara que todas as suas roupas com uso devem ser divididas igualitariamente entre as filhas. Suas roupas sem uso, jóias e outros bens devem ser divididos entre seus herdeiros, assim como sua roupa com uso, caso não tenha uma filha (P&R 37).

45. Se o filho morto tiver falecido ainda durante os dias de seu pai, seus filhos, se os tiver, herdarão a parte que caberia ao pai deles ¶26

Esse aspecto da lei aplica-se somente quando for o filho homem quem morre antes do pai ou da mãe. Se for a filha do falecido que estiver morta e tiver deixado descendência, sua parte terá de ser dividida conforme as sete categorias especificadas no Livro Sacratíssimo (P&R 54).

46. Caso o falecido deixe filhos de menor idade, a porção da herança que lhes cabe deve ser confiada a um indivíduo fidedigno ¶27

A palavra “amín”, traduzida nesse parágrafo por “pessoa fidedigna” e “curador”, evoca, em árabe, uma vasta gama de sentidos ligados principalmente à idéia de fidedignidade, mas significando também qualidades tais como confiabilidade, lealdade, fidelidade, retidão, honestidade e assim por diante. Quando usada em terminologia legal, “amín” denota, entre outras coisas: fiduciário, fiador, depositário, guardião, curador e zelador.

47. A partilha dos bens deverá ocorrer somente após pagar-se o Huqúqu´lláh, saldarem-se eventuais débitos, cobrirem-se as despesas do funeral e do sepultamento ¶28

Bahá´u´lláh instrui que a ordem de prioridade para o pagamento desses encargos é: primeiro as despesas do funeral e sepultamento, depois as dívidas do finado, e então o Huqúqu´lláh (vide nota 125) (P&R 9). Ele também especifica que, ao utilizar-se o espólio para tais pagamentos, deve-se primeiro fazê-lo com o montante líquido da herança e, se este for insuficiente, então se pode tomar da residência e das roupas pessoais do finado (P&R 80).

48. Este é aquele conhecimento oculto que jamais há de mudar, pois inicia-se com o nove ¶29

No Bayán Árabe, o Báb explicava que Sua lei de herança estava “de acordo com um conhecimento oculto no Livro de Deus – um conhecimento que jamais há de mudar ou de ser substituído”. Ele também afirmava que os números relacionados à divisão da herança tinham sido investidos de um significado que objetivava auxiliar no reconhecimento dAquele Que Deus tornará manifesto.

O “nove” aqui mencionado é representado no texto árabe pela letra "Tá", que lhe é equivalente na notação abjad (vide Glossário). Trata-se do primeiro elemento do sistema de divisão de heranças concebido pelo Báb, onde Ele designa "nove partes" como a porção dos filhos. O significado do nove está em ser ele o equivalente numérico do Nome oculto e manifesto, inviolável e inacessivelmente excelso". (Vide também a nota 33.)

49. O Senhor vosso Deus ordenou que em cada cidade se estabeleça uma Casa de Justiça ¶30

A instituição da Casa de Justiça consiste de conselhos eleitos que atuam na sociedade a nível local, nacional e internacional. Bahá'u'lláh, no Kitáb-i-Aqdas, ordena tanto a Casa de Justiça quanto as Casas Locais de Justiça. 'Abdu'l-Bahá, em Sua Vontade e Testamento, institui as Casa de Justiça Secundárias (Nacionais ou Regionais) e delineia o procedimento a ser seguido para a eleição da Casa Universal de Justiça.

O versículo acima citado refere-se à Casa Local de Justiça, instituição que deve ser eleita numa localidade sempre que ali residirem nove ou mais Bahá'ís adultos. Para esse propósito, o Guardião temporariamente estabeleceu os 21 anos como sendo a idade da maioridade, e assinalou que isso estaria sujeito a uma eventual mudança pela Casa Universal de Justiça no futuro.

As Casas Locais e Secundárias de Justiça são atualmente conhecidas como Assembléias Espirituais Locais e Assembléias Espirituais Nacionais. Shoghi Effendi observou ser esta uma "denominação temporária", a qual,

... à medida que a posição e os objetivos da Fé Bahá'í forem melhor compreendidos e mais plenamente reconhecidos, irá ser gradualmente substituída pela designação permanente e mais apropriada de Casa de Justiça. Não apenas as atuais Assembléias Espirituais terão uma forma diferente no futuro, mas também serão capacitadas a adicionar às suas atuais funções aqueles poderes, funções e prerrogativas necessários ao reconhecimento da Fé de Bahá'u'lláh, não meramente como um dentre os reconhecidos sistemas religiosos do mundo, mas como a Religião Oficial de um Poder Soberano e independente.

50. em número de Bahá ¶30

No sistema abjad, o equivalente numérico de "Bahá" é nove. A Casa Universal de Justiça e as Assembléias Espirituais Nacionais e Locais têm atualmente nove membros cada, o número mínimo prescrito por Bahá'u'lláh.

51. Compete-lhes ser os fidedignos do Misericordioso entre os homens ¶30

Os poderes e funções da Casa Universal de Justiça, das Assembléias Espirituais Nacionais e das Assembléias Espirituais Locais, bem como as qualificações de seus membros, encontram-se descritos nas Escrituras de Bahá'u'lláh e 'Abdu'l-Bahá, nas cartas de Shoghi Effendi e nas elucidações da Casa Universal de Justiça. As funções precípuas dessas instituições estão delineadas na Constituição da Casa Universal de Justiça e nos estatutos das Assembléias Espirituais Nacionais e Locais.

52. consultar em conjunto ¶30

Bahá'u'lláh estabeleceu a consulta como um dos princípios fundamentais de Sua Fé e exorta os crentes dizendo: "consultai em conjunto sobre todos os assuntos". Ele descreve a consulta como "a lâmpada da guia, que mostra o caminho e confere compreensão". Shoghi Effendi afirma que o "princípio da consulta... constitui-se numa das leis fundamentais" da Ordem Administrativa Bahá'í.

Em Perguntas e Respostas, número 99, Bahá'u'lláh delineia uma forma de consulta , e enfatiza a importância de se alcançar unanimidade na tomada de decisão, na falta da qual a decisão da maioria deverá prevalecer. A Casa Universal de Justiça esclareceu que essa orientação sobre a consulta foi revelada antes do estabelecimento das Assembléias Espirituais, sendo resposta a uma pergunta sobre os ensinamentos Bahá'ís referentes à consulta. A Casa de Justiça afirma que o surgimento das Assembléias Espirituais, para as quais os amigos sempre se podem volver em busca de ajuda, de modo algum impede que eles sigam o procedimento delineado em Perguntas e Respostas. Esse método pode ser utilizado pelos amigos, se lhes aprouver, quando desejam consultar sobre seus problemas pessoais.

53. Edificai em todas as terras casas de adoração ¶31

A Casa de Adoração Bahá'í destina-se ao louvor a Deus. A Casa de Adoração constitui o edifício central do Mashriqu'l-Adhkár (o local de onde se irradia o louvor a Deus), um complexo que, em seus desdobramentos futuros incluirá, em adição à Casa de Adoração, uma série de anexos dedicados a empreendimentos sociais, humanitários, educacionais e científicos. 'Abdu'l-Bahá descreve o Mashriqu'l-Adhkár como "uma das mais vitais instituições do mundo", e Shoghi Effendi ressalta que ele exemplifica e forma tangível a integração entre "o serviço e a adoração Bahá'ís". Antevendo o desenvolvimento futuro desta instituição, Shoghi Effendi prevê que a Casa de Adoração e seus anexos "haverão e prover alívio para os que sofrem, sustento para os pobres, abrigo para os viajantes, consolo para os aflitos e educação para os ignorantes". No futuro, Casas de Adoração Bahá'ís serão construídas em todas as cidades e povoados.

54. Deus ordenou a peregrinação à Casa sagrada àqueles de vós que puderem realizá-la ¶32

Duas Casas sagradas incluem-se nesse mandamento: a Casa do Báb em Shíráz e a Casa de Bahá'u'lláh em Bagdá. Bahá'u'lláh explicou que a peregrinação a qualquer uma das duas Casas satisfaz a exigência dessa passagem (P&R 25, P&R 29). Em duas Epístolas diferentes, conhecidas como Súriy-i-Hají (P&R 10), Bahá'u'lláh prescreveu ritos específicos para cada uma dessas peregrinações. Nesse sentido, a peregrinação é mais do que uma simples visitação a essas duas Casas.

Depois do passamento de Bahá'u'lláh, 'Abdu'l-Bahá designou o Santuário de Bahá'u'lláh, em Bahjí, como um local de peregrinação. Em uma Epístola, Ele assinala que o "Santuário Sacratíssimo, a Casa Abençoada em Bagdá e a venerada Casa do Báb em Shíráz" são "consagradas à peregrinação", e que é "obrigatório" visitar estes locais "desde que se tenha os recursos necessários e se possa fazê-lo, e que não haja nenhum obstáculo que o impeça". Não há nenhum rito prescrito para a peregrinação ao Santuário Sacratíssimo.

55. Por misericórdia de Sua parte, Ele disso dispensou as mulheres ¶32

No Bayán, o Báb ordenou o preceito da peregrinação, uma vez na vida, àqueles de Seus seguidores que tivessem condições financeiras de realizar a viagem. Ele declarou que essa obrigação não se aplicava às mulheres, de modo a poupá-las dos rigores da viagem.

Bahá'u'lláh, da mesma forma, dispensa as mulheres da exigência de peregrinação por Ele estabelecida. A Casa Universal de Justiça esclareceu que tal dispensa não é uma proibição, e que as mulheres estão livres para peregrinar.

56. ocupar-se com algum trabalho ¶33

É obrigatório que homens e mulheres se ocupem com algum negócio ou profissão. Bahá'u'lláh enaltece o "empenho nesse trabalho ao grau de adoração" a Deus. Os significados espiritual e prático dessa lei, e a responsabilidade que respectivamente cabe ao indivíduo e à sociedade para sua implementação, são explanados em uma carta escrita em nome de Shoghi Effendi:

Quanto à ordem de Bahá'u'lláh para que os fiéis se ocupem em algum tipo de profissão: os Ensinamentos são extremamente enfáticos nesse sentido, em especial afirmação contida no Aqdas a propósito disso, que deixa bem claro não haver lugar, na nova Ordem Mundial, para pessoas indolentes, sem vontade de trabalhar. Como corolário desse princípio, Bahá'u'lláh afirma, ademais, que não apenas se deve desencorajar a mendicância, mas também que ela deve ser totalmente eliminada da face da sociedade. Os encarregados de organizar a sociedade têm o dever de oferecer a cada pessoa a oportunidade de adquirir a capacitação necessária a algum tipo de profissão, bem como os meios para colocá-la em prática, tanto por causa dela mesma quanto para que a pessoa possa ganhar seu sustento. Todo indivíduo, não importa quão incapacitado ou limitado possa ser, é obrigado a ocupar-se em algum trabalho ou profissão, pois o trabalho, especialmente quando realizado em espírito de serviço, é, de acordo com Bahá'u'lláh, uma forma de adoração. Não apenas possui um propósito utilitário, mas contém um valor em si mesmo, porque nos aproxima de Deus e nos capacita a melhor entender o propósito que Ele nos reserva neste mundo. É evidente, portanto, que a herança de riqueza não desobriga ninguém do trabalho diário.

Em uma de Suas Epístolas, 'Abdu'l-Bahá afirma que "se alguém for incapaz de ganhar o próprio sustento, estiver sujeito à pobreza extrema, ou ficar desamparado, então incumbe aos ricos ou aos Mandatários proverem-no de uma pensão mensal para sua subsistência. ... Por 'Mandatários' entendem-se os representantes do povo, ou seja, os membros da Casa de Justiça." (Vide também a nota 162 sobre mendicância.)

Perguntada se a injunção de Bahá'u'lláh também exige que uma mulher, sendo mãe, trabalhe para ganhar a vida, juntamente com o marido, a Casa Universal de Justiça explicou que a instrução de Bahá'u'lláh é que os amigos se ocupem em uma atividade que beneficie a eles mesmos e aos demais, e que os afazeres domésticos são uma forma de trabalho extremamente honrada e responsável, de importância fundamental para a sociedade.

Quanto à aposentadoria daqueles que alcançaram determinada idade, Shoghi Effendi, em carta escrita em seu nome, afirmou que "isso é um assunto sobre o qual a Casa Internacional de Justiça terá de legislar, já que o Aqdas nada preceitua a esse respeito".

57. No Livro proibiu-se o beija-mão. ¶34

Em algumas Dispensações religiosas anteriores, bem como em certas culturas, o ato de beijar a mão de uma personalidade religiosa ou de uma pessoa proeminente era considerado obrigatório como sinal de reverência e deferência para com tais pessoas, e como sinal de submissão à autoridade delas. Bahá'u'lláh proíbe o beija-mão e, em Suas Epístolas, também condena práticas como a prostração ante outra pessoa e demais formas de comportamento que rebaixam alguém em relação a outrem. (Vide nota 58.)

58. A ninguém é permitido buscar em outra alma a absolvição ¶34

Bahá'u'lláh proíbe que se confessem pecados a um ser humano e que dele se busque a absolvição. Em vez disso, a pessoa deve implorar perdão diretamente a Deus. Na Epístola de Bishárát, Ele declara que "Essa confissão diante das pessoas... resulta na humilhação e no rebaixamento" e afirma que Deus "não deseja a humilhação de Seus servos".

Shoghi Effendi põe a proibição em contexto. Seu secretário escreveu em seu nome que nos é:

... proibido confessar os pecados e faltas a qualquer pessoa, como o fazem os católicos aos seus padres, ou fazê-lo em público, como é a prática em algumas seitas religiosas. Contudo, se espontaneamente desejarmos reconhecer que erramos em algo, ou que temos alguma falha de caráter, e quisermos pedir as desculpas e o perdão de outra pessoa, temos total liberdade para fazê-lo.

A Casa Universal de Justiça também esclareceu que o fato de Bahá'u'lláh ter proibido a confissão de pecados não impede que uma pessoa admita suas transgressões no decorrer de consultas mantidas sob a égide de instituições Bahá'ís. De modo semelhante, não elimina a possibilidade de se buscar conselhos e um amigo íntimo, ou de um conselheiro profissional, sobre tais assuntos.

59. Entre os homens há um que se senta entre as sandálias junto à porta, mas no íntimo cobiça o lugar de honra. ¶36

É prática tradicional, no Oriente, retirar as sandálias ou sapatos antes de ingressar numa reunião. A parte da sala mais afastada da entrada é tida como a cabeceira da sala, e o lugar de honra onde sentam-se os mais proeminentes dentre os presentes. Os demais distribuem-se em ordem descendente em direção à porta, junto à qual os sapatos e sandálias foram deixados e onde sentam-se os mais humildes.

60. E entre os homens há um que tem a pretensão de conhecer o oculto ¶36

Essa é uma referência àqueles que afirmam ter acesso ao conhecimento esotérico, e cujo apego a tal conhecimento os torna cegos à Revelação do Manifestante de Deus. Em outra parte Bahá'u'lláh afirma: "Os que adoram o ídolo esculpido pelas suas próprias imaginações e o chamam de Íntima Realidade, tais homens são, em verdade, contados entre os pagãos."

61. Quantos não foram os que se isolaram nas plagas da Índia - negando a si mesmos as coisas que Deus decretou lídimas, impondo-se austeridades e mortificações ¶36

Esses versículos constituem a proibição do monasticismo e ascetismo. Vide Sinopse e Codificação, seção IV.D.1.y.iii.-iv. Em Palavras do Paraíso Bahá'u'lláh amplia esses preceitos. Ele declara: "Viver em recolhimento ou praticar ascetismo não é aceitável na presença de Deus", e exorta os que se dedicam a isso a "observar o que possa ser causa de júbilo e contentamento". Instrui os que "se têm recolhido às cavernas das montanhas" ou "aos cemitérios, à noite" a abandonar tais práticas, e ordena-lhes que não se privem das "dádivas" deste mundo, as quais Deus criou para a humanidade. Na Epístola de Bishárát, embora reconheça os "atos piedosos" dos monges e sacerdotes, Bahá'u'lláh exorta-os a que "renunciem à vida de reclusão e dirijam os passos para o mundo exterior e se ocupem com aquilo que seja de proveito para eles mesmos e para os outros". Ele também lhes dá permissão para "contraírem matrimônio, a fim de que façam surgir alguém que fará menção de Deus".

62. Antes de expirado um milênio completo, quem afirmar ser portador de uma Revelação direta de Deus ¶37

A Dispensação de Bahá'u'lláh perdurará até a vinda da próxima Manifestação de Deus, cujo advento não ocorrerá antes de pelo menos "um milênio completo" ter passado. Bahá'u'lláh adverte para que não se atribua a "esse versículo" nada além de seu "sentido óbvio"; ademais, em uma de Suas Epístolas Ele especifica que "cada ano" desse período de mil anos consiste de "doze meses, conforme o Alcorão, e de dezenove meses de dezenove dias cada, conforme o Bayán".

O sinal que Bahá'u'lláh recebeu de Sua Revelação no Síyáh-Chál de Teerã, em outubro de 1852, assinala o nascimento de Sua Missão Profética e dá início aos mil anos ou mais que devem transcorrer antes do aparecimento da próxima Manifestação de Deus.

63. Disso Nós vos prevenimos quando residíamos no Iraque, e depois quando na Terra do Mistério, e agora neste Lugar Resplandecente. ¶37

A "Terra do Mistério" refere-se a Adrianópolis e o "Lugar Resplandecente" a 'Akká.

64. Entre os homens há um que se tornou orgulhoso da própria erudição... Quando escuta os passos das sandálias que o seguem ¶41

No Oriente é prática habitual que os seguidores de um líder religioso caminhem um ou dois passos atrás, em sinal de deferência.

65. Ninrode. ¶41

O Ninrode ao qual o versículo se refere é, tanto nas tradições judaicas quanto nas islâmicas, um rei que perseguiu Abraão e cujo nome tornou-se símbolo e grande arrogância.

66. Aghsán ¶42

"Aghsán" (plural de Ghusn) é o termo árabe para "Ramos". Bahá'u'lláh emprega esse termo para Se referir aos Seus descendentes masculinos. Ele tem implicações especiais não apenas no tocante à disposição dos fundos da Causa, mas também em relação à sucessão da autoridade após o passamento de Bahá'u'lláh (vide nota 145) e de 'Abdu'l-Bahá. Bahá'u'lláh, no Livro de Seu Convênio, nomeou 'Abdu'l-Bahá, Seu primogênito, como o Centro de Seu Convênio e o Líder da Fé. 'Abdu'l-Bahá, em Sua Vontade e Testamento, apontou Shoghi Effendi, Seu neto mais velho, como Guardião e Líder da Fé.

Essa passagem do Aqdas, portanto, antevê a sucessão entre os Aghsán e, destarte, prevê a instituição da Guardiania e a possibilidade de uma ruptura na linhagem dos Guardiães. O falecimento de Shoghi Effendi, em 1957, precipitou a exata situação para a qual essa passagem prevenia, pois a linhagem dos Aghsán findou antes de se ter estabelecido a Casa Universal de Justiça (vide nota 67).

67. reverterão ao povo de Bahá ¶42

Bahá'u'lláh deixou diretrizes para a eventualidade de que a linhagem dos Aghsán findasse antes do estabelecimento da Casa Universal de Justiça. Ele estipulou que em tal situação "as dotações reverterão ao povo de Bahá". O termo "povo de Bahá" é empregado nas Escrituras Bahá'ís com vários significados distintos. Neste caso, "o povo de Bahá" é descrito como sendo os que não falam "exceto por Sua permissão" e não julgam "senão em conformidade com o que Deus decretou nesta Epístola". Depois da morte de Shoghi Effendi, em 1957, as Mãos da Causa de Deus dirigiram os assuntos da Causa até a eleição da Casa Universal de Justiça, em 1963 (vide nota 183).

68. Não rapeis as vossas cabeças ¶44

Algumas tradições religiosas consideram desejável que se rape a cabeça. Bahá'u'lláh proíbe isso, e torna claro que o preceito contido no Seu Súriyi-Hajj, ordenando que os peregrinos à Casa Sagrada de shíráz rapem a cabeça, foi substituído por este versículo do Kitáb-i-Aqdas (P&R 10).

69. não é adequado deixar-se o cabelo ultrapassar o limite das orelhas ¶44

Shoghi Effendi deixou claro que esta lei proibindo o crescimento dos cabelos além do lóbulo da orelha aplica-se exclusivamente aos homens, ao contrário da proibição sobre rapar a cabeça. A aplicação dessa lei exigirá elucidação da parte da Casa Universal de Justiça.

70. Exílio e aprisionamento são decretados para o ladrão ¶45

Bahá'u'lláh afirma que cabe à Casa de Justiça determinar qual o grau de punição que corresponde à gravidade do delito (P&R 49). As punições para roubo destinam-se a uma condição futura da sociedade, quando serão suplementadas e aplicadas pela Casa Universal de Justiça.

71. no terceiro delito, colocai-lhe uma marca na fronte, para que assim identificado não seja aceito nas cidades de Deus e em Seus países. ¶45

A marca a ser colocada na testa do ladrão serve para que os demais sejam advertidos de suas tendências. Todos os detalhes a respeito da natureza da marca, de como deve ser aplicada, por quanto tempo deve ser usada, e em que condições pode-se retirá-la, bem como a gravidade das várias categorias de roubo, foram deixados por Bahá'u'lláh para que a Casa Universal de Justiça decida por ocasião da aplicação da lei.

72. Quem desejar fazer uso de utensílios e prata e ouro está livre para fazê-lo. ¶46

No Bayán, o Báb permitiu a utilização de utensílios de ouro e de prata, ab-rogando, assim, a condenação islâmica ao seu uso, que nascera não de alguma injunção explícita do Alcorão, mas sim das tradições islâmicas. Aqui Bahá'u'lláh confirma o decreto do Báb.

73. Guardai-vos de imergir as mãos no conteúdo de tigelas e pratos ao vos alimentardes. ¶46

Shoghi Effendi definiu essa proibição como sendo "a imersão das mãos na comida". Em muitas partes do mundo, é costume várias pessoas servirem-se, com as mãos, de um mesmo prato que é compartilhado por todos.

74. Adotai as maneiras mais acordes com o refinamento. ¶46

Essa é a primeira de várias passagens referentes à importância do refinamento e do asseio. A palavra árabe original, "litáfat", aqui vertida como "refinamento", tem uma ampla gama de sentidos, com implicações tanto espirituais quanto físicas, tais como elegância, graciosidade, limpeza, asseio, civilidade, polidez, gentileza, delicadeza e amabilidade, bem como a condição do que é discreto, refinado, santificado e puro. Conforme o contexto das várias passagens onde o termo ocorre no Kitáb-i-Aqdas, ele foi traduzido quer por "refinamento" quer por "limpeza" e "asseio".

75. Aquele que é a Aurora da Causa de Deus não compartilha com ninguém a Infalibilidade Suprema. ¶47

Na Epístola de Ishráqát, Bahá'u'lláh afirma que a Infalibilidade Suprema restringe-se aos Manifestantes de Deus.

O capítulo 45 de O Esplendor da Verdade é dedicado por 'Abdu'l-Bahá à explanação deste versículo do Aqdas. Neste capítulo, Ele salienta, entre outras coisas, ser impossível divorciar-se os Manifestantes de Deus da "infalibilidade" essencial, e afirma que "tudo o que dEles emana é verdadeiro e está de acordo com a realidade", que "Não estão Eles à sombra das leis anteriores", e que "Tudo o que Eles dizem é a palavra de Deus e todo ato Seu é um ato justo".

76. A todo o pai se ordenou a instrução do filho e da filha na arte de ler eescrever ¶48

'Abdu'l-Bahá, em Suas Epístolas, não só chama a atenção para a responsabilidade dos pais em educar todos os seus filhos, como também determina claramente que "a instrução e educação das filhas é mais necessária do que a dos filhos", pois um dia as meninas serão mães, e as mães são quem primeiro educa as novas gerações. Portanto, caso uma família não tenha condições de dar educação a todos os filhos, preferência deve ser dada às meninas, pois é através de mães educadas que os benefícios do conhecimento se podem difundir mais eficaz e rapidamente na sociedade.

77. Deus impôs uma multa ... a todo adúltero e adúltera, a ser paga à Casa de Justiça ¶49

Embora o termo aqui traduzido por adultério refira-se, em seu significado mais amplo, às relações sexuais ilícitas, quer praticadas por casados ou solteiros (uma definição do termo é dada na nota 36), 'Abdu'l-Bahá apontou que a punição aqui prescrita refere-se à relação sexual entre pessoas solteiras. Ele observou que cabe à Casa Universal de Justiça decidir ainda a pena para o adultério cometido por uma pessoa casada. (Vide também P&R 49.)

Em uma de Suas Epístolas, 'Abdu'l-Bahá refere-Se a algumas das implicações espirituais e sociais da violação das leis morais e, com relação à pena aqui descrita, faz notar que o objetivo dela é tornar evidente a todos que tal ação é vergonhosa aos olhos de Deus e que, no caso de a infração chegar a ser provada e a multa imposta, o propósito principal é expor os infratores - de modo que eles sejam desonrados e desmoralizados aos olhos da sociedade. Ele afirma que tal desmoralização é em si própria o maior castigo.

Presume-se que a Casa de Justiça mencionada nesse versículo seja a Casa Local de Justiça, atualmente conhecida por Assembléia Espiritual Local.

78. nove mithqáls de ouro ... a ser aplicada em dobro caso repitam a ofensa ¶49

Um mithqál é uma unidade de peso. O peso do mithqál tradicionalmente empregado no Oriente Médio equivale a 24 nakhuds. Entretanto, o mithqál usado pelos Bahá'ís consiste de 19 nakhuds, "conforme especificado no Bayán" (P&R 23). Nove destes mithqáls têm peso igual a 32,775 gramas, ou 1,05374 onças-troy.

Com relação à aplicação da multa, Bahá'u'lláh determina claramente que cada multa sucessiva é o dobro da precedente (P&R 23); assim, a multa imposta cresce em progressão geométrica. A aplicação dessa multa destina-se a uma condição futura da sociedade, quando a lei será suplementada e aplicada pela Casa Universal de Justiça.

79. Nós vos tornamos lícito ouvir música e canto. ¶51

'Abdu'l-Bahá escreveu que "Entre certas nações do Oriente, a música era considerada condenável". Conquanto o Alcorão não contenha nenhuma orientação específica sobre o assunto, alguns muçulmanos consideram ilegal a audição de música, enquanto outros a toleram dentro de certos limites e em condições específicas.

Nas Escrituras Bahá'ís existem várias passagens em louvor à música. 'Abdu'l-Bahá, por exemplo, assevera que "a música, seja cantada, seja tocada, é alimento espiritual para a alma e o coração".

80. Ó vós, Homens de Justiça! ¶52

Os escritos de 'Abdu'l-Bahá e de Shoghi Effendi esclarecem que, embora apenas os homens possam ser membros da Casa Universal de Justiça, tanto os homens quanto as mulheres são elegíveis para as Casas Secundárias e Locais de Justiça (atualmente chamadas de Assembléias Espirituais Nacionais e Locais).

81. As penalidades por agressão ou ferimento a outrem dependem da severidade da lesão; para cada grau o Senhor do Juízo determinou uma indenização específica. ¶56

Apesar de Bahá'u'lláh indicar que a intensidade da pena depende da "severidade da lesão", não há registro de haver Ele exposto os detalhes quanto ao montante da indenização a que se refere cada grau de delito. A responsabilidade pela determinação de tais medidas é da Casa Universal de Justiça.

82. Em verdade, impõe-se a vós oferecer uma festa a cada mês ¶57

Essa injunção tornou-se o fundamento para a celebração mensal de festividades Bahá'ís e se trata, como tal, da ordenação das Festas de Dezenove Dias. No Bayán árabe o Báb exortava Seus seguidores a reunirem-se uma vez a cada dezenove dias para demonstrar hospitalidade e camaradagem. Bahá'u'lláh, aqui, ratifica esse preceito e realça a função unificadora de tais ocasiões.

Depois dEle, 'Abdu'l-Bahá e Shoghi Effendi desdobraram gradualmente o significado institucional dessa injunção. 'Abdu'l-Bahá enfatizou a importância do caráter espiritual e devocional de tais encontros. Shoghi Effendi, além de detalhar ainda mais os aspectos devocional e social da Festa, aprimorou o aspecto administrativo desses encontros e, ao instituir sistematicamente a Festa, garantiu um período de consulta a respeito dos assuntos da comunidade bahá'í, inclusive para compartilhar notícias e mensagens.

Quando perguntado se esta injunção era obrigatória, Bahá'u'lláh declarou que não (P&R 48). Numa carta escrita em seu nome, Shoghi Effendi tece os seguintes comentários:

O comparecimento nas Festas de Dezenove Dias não é obrigatório, mas muito importante, e todo crente deveria considerar um dever e um privilégio a presença em tais ocasiões.

83. Ao caçar com a ajuda de animais ou aves de rapina, invocai o Nome de Deus quando os enviardes em perseguição à presa, pois assim o que capturarem vos será lícito, mesmo que o encontreis morto. ¶60

Através dessa lei, Bahá'u'lláh simplifica grandemente as práticas e preceitos religiosos do passado no tocante à caça. Ele também declarou que a caça com armas tais como arco e flecha, espingardas e assemelhados está incluída nesta regulamentação, mas que é proibido alimentar-se da carne de animal de caça encontrado morto em armadilhas ou redes (P&R 24).

84. Todavia, atentai para não caçar em excesso. ¶60

Conquanto Bahá'u'lláh não proíba a caça, Ele adverte contra a caça excessiva. A Casa Universal de Justiça deverá, no devido tempo, determinar o que constitui excesso em relação à caça.

85. mas não lhes concedeu nenhum direito às propriedades alheias ¶61

A injunção para demonstrar bondade aos parentes de Bahá'u'lláh não lhes concede nenhuma porção das propriedades alheias. Isso se contrapõe à prática do Islã xiita, na qual descendentes da linhagem de Maomé têm direito e receber uma certa porção de um determinado imposto.

86. Se alguém intencionalmente incendeia uma casa, queimai-o também; se deliberadamente tira a vida de outrem, matai-o. ¶62

A lei de Bahá'u'lláh prescreve a pena de morte para homicídio e incêndio premeditados, com a alternativa de prisão perpétua (vide nota 87).

Em Suas Epístolas, 'Abdu'l-Bahá explica a diferença entre vingança e punição. Ele afirma que as pessoas não têm o direito de vingar-se, que a vingança é ato desprezível aos olhos de Deus, e que o motivo para a punição não é a vingança, mas a imposição de uma pena para o delito cometido. Em O Esplendor da Verdade, Ele confirma que a sociedade tem o direito de punir os criminosos a fim de proteger seus membros e defender sua existência.

Acerca desse preceito, Shoghi Effendi dá a seguinte explanação em uma carta escrita em seu nome:

No Aqdas, Bahá'u'lláh instituiu a morte como a penalidade para o homicídio. Contudo, Ele permitiu a prisão perpétua como alternativa. Ambas as punições estão em conformidade com Suas Leis. Talvez alguns de nós não alcancem a sabedoria desses preceitos, por estarem em desacordo com a nossa limitada visão; mas devemos aceitá-los, pois sabemos que Sua Sabedoria, Sua Graça e Sua Justiça são perfeitas, e conduzem à salvação do mundo inteiro. Se uma pessoa fosse condenada à morte por engano, será que não podemos crer que Deus Onipotente recompensá-la-ia milhares de vezes no mundo vindouro devido a essa injustiça humana? Não podemos abandonar uma lei salutar apenas porque em raras ocasiões se possa punir um inocente.

Os detalhes da lei Bahá'í que pune o homicídio e o incêndio premeditados - lei essa destinada a uma condição futura da sociedade - não foram descritos por Bahá'u'lláh. Os vários detalhes da lei - como os graus de severidade do delito, se circunstâncias atenuantes podem ser consideradas e qual das duas penas prescritas deverá ser a norma - foram entregues à decisão da Casa Universal de Justiça, que agirá conforme as condições prevalecentes quando for tempo de a lei ser implementada. A forma de se executar a pena também foi deixada a critério da Casa Universal de Justiça.

No que se refere ao incêndio criminoso, isso depende do tipo de "casa" na qual se ateia fogo. Obviamente, há uma tremenda diferença de grau de delito entre alguém que queima um depósito vazio e alguém que incendeia uma escola cheia de crianças.

87. Também vos é permissível, conforme os preceitos do Livro, condenar o incendiário e o homicida à prisão perpétua. ¶62

Respondendo uma pergunta sobre esse versículo do Aqdas, Shoghi Effendi afirmou que, embora a pena capital seja permitida, a "prisão perpétua" foi prevista como uma alternativa "através da qual os rigores de tal condenação podem ser seriamente mitigados". Ele afirma que "Bahá'u'lláh deu-nos uma escolha e, portanto, deixou-nos livres para usar nosso próprio arbítrio dentro de certas limitações impostas por Sua lei". Na falta de orientação específica sobre a aplicação deste aspecto da lei bahá'í, compete à Casa Universal de Justiça legislar sobre o assunto no futuro.

88. Deus vos prescreveu o matrimônio. ¶63

Em uma de Suas Epístolas, Bahá'u'lláh afirma que Deus, ao estabelecer esta lei, fez do matrimônio uma "fortaleza para bem-estar e salvação".

A Sinopse e Codificação, seção IV.c.1.a.-o., resume e sintetiza os preceitos do Kitáb-i-Aqdas e do Perguntas e Respostas sobre: o matrimônio e as condições nas quais é permitido (P&R 3, P&R 13, P&R 46, P&R 50, P&R 84 e P&R 92), a lei de esponsais (P&R 43), o pagamento do dote (P&R 12, P&R 26, P&R 39, P&R 47, P&R 87 e P&R 88), os procedimentos a serem adotados no caso de ausência prolongada do cônjuge (P&R 4 e P&R 27), e várias outras circunstâncias (P&R 12 e P&R 47). (Vide também as nota 89, nota 90, nota 91, nota 92, nota 93, nota 94, nota 95, nota 96, nota 97, nota 98, nota 99.)

89. Acautelai-vos para não desposar mais de duas mulheres. Quem se contenta com uma só consorte dentre as servas de Deus viverá em tranqüilidade, assim como ela.¶63

Conquanto o texto do Kitáb-i-Aqdas pareça permitir a bigamia, Bahá'u'lláh ajuíza que a tranqüilidade e o contentamento provêm da monogamia. Em outra Epístola, Ele ressalta como é importante agir-se de modo a "trazer conforto para si e para seu cônjuge". 'Abdu'l-Bahá, o Intérprete autorizado das Escrituras Bahá'ís, afirma que, na verdade, o texto do Aqdas ordena a monogamia. Ele analisa esse tema numa série de Epístolas, entre as quais a seguinte:

Sabe tu que a lei de Deus não permite a poligamia, pois o contentamento com uma esposa foi claramente estipulado. O matrimônio com uma segunda esposa foi condicionado à manutenção da justiça e da eqüidade entre as duas esposas sob todas as condições. Contudo, é absolutamente impossível observar-se justiça e eqüidade para com duas esposas. O fato de a bigamia ter sido sujeitada a uma condição impossível é prova clara de sua absoluta proibição. Por conseguinte, não é permissível que um homem tenha mais de uma esposa.

A poligamia é uma prática muito antiga na maior parte da humanidade. Apenas gradualmente as Manifestações de Deus têm posto em efeito a monogamia. Jesus, por exemplo, não proibiu a poligamia, mas aboliu o divórcio, exceto em casos de fornicação; Maomé limitou em quatro o número de esposas, porém tornou a pluralidade de esposas condicional à justiça, e reintroduziu a permissão para o divórcio; Bahá'u'lláh que revelava Seus Ensinamentos no ambiente cultural de uma sociedade muçulmana, introduziu a questão da monogamia gradualmente, em conformidade com os princípios da sabedoria e o desdobramento progressivo de Seu propósito. O fato de haver deixado a Seus seguidores um Intérprete infalível de Suas Escrituras permitiu-Lhe aparentemente sancionar a bigamia no Kitáb-i-Aqdas, estipulando, porém, uma condição que, mais tarde, permitiu a 'Abdu'l-Bahá elucidar que o propósito da lei era exigir o cumprimento da monogamia.

90. E é lícito empregar os serviços de uma donzela, desde que com decoro. ¶63

Bahá'u'lláh declara que um homem pode empregar uma mulher virgem para serviços domésticos. Isso não era permissível na prática muçulmana xiita, a menos que o empregador celebrasse um contrato de casamento com ela. Bahá'u'lláh enfatiza que os "serviços" aos quais se refere este versículo, são tão somente aqueles que seriam realizados "por qualquer outro tipo de serviçal, jovem ou idoso, em troca de salário" (P&R 30). Um empregador não tem qualquer direito sexual sobre sua criada. Ela "é livre para escolher um marido quando desejar", pois a compra de mulheres é proibida (P&R 30).

91. Este é o Meu mandamento a vós; observai-o com firmeza para o vosso próprio bem. ¶63

Conquanto o Kitáb-i-Aqdas preceitue o matrimônio, Bahá'u'lláh esclarece que ele não é obrigatório (P&R 46). Numa carta escrita em seu nome, Shoghi Effendi também declarou que "o casamento não é, de forma alguma, uma obrigação", e afirmou que "no final das contas, cabe ao indivíduo decidir se deseja viver uma vida em família ou no celibato". Se uma pessoa tiver que aguardar um tempo considerável antes de encontrar um cônjuge, ou tiver que afinal permanecer solteiro, isso não significa que ela não seja capaz de cumprir o propósito de sua vida, o qual é fundamentalmente espiritual.

92. Nós o ainda condicionamos ... à permissão dos respectivos pais e mães ¶65

Numa carta escrita em seu nome, Shoghi Effendi comentou sobre este dispositivo da lei:

Bahá'u'lláh enunciou claramente que o consentimento de todos os pais ainda vivos é uma exigência do casamento bahá'í. Isso aplica-se sejam os pais Bahá'ís, ou não; divorciados há muitos anos, ou não. Ele estabeleceu esta grandiosa lei a fim de fortalecer a estrutura social, estreitar ainda mais os laços do lar, e inculcar nos corações dos filhos uma indubitável gratidão e respeito por aqueles que lhes concederam vida e lançaram-lhes as almas na eterna jornada rumo ao Criador.

93. Nenhum casamento se contrairá sem um dote ¶66

A Sinopse e Codificação, seção IV.C.1.j.i.-v., sumariza as principais disposições referentes ao dote. Esses preceitos têm seus antecedentes no Bayán.

O dote deve ser pago pelo noivo à noiva. É estipulado em 19 mithqáls de ouro puro para habitantes da cidade e 19 mithqáls de prata para os que vivem em povoados (vide nota 94). Bahá'u'lláh assinala que se o noivo não puder pagar a totalidade do dote por ocasião do casamento é-lhe permitido emitir uma nota promissória para a noiva (P&R 39).

Com a Revelação de Bahá'u'lláh muitos conceitos, costumes e instituições familiares são redefinidos e passam a incorporar novos significados. Um destes é o dote. A instituição do dote é prática muito antiga em muitas culturas e assume muitas formas. Em alguns países o dote é um pagamento que os pais da noiva fazem ao noite; em outros, é o pagamento feito pelo noivo aos pais da noiva, tido como um "preço da noiva". Em ambos os casos, a quantia é geralmente alta. A lei de Bahá'u'lláh abole todas essas variantes e converte o dote num ato simbólico, através do qual o noivo oferta à noiva um presente de valor fixo e limitado.

94. o qual se fixou em dezenove mithqáls de ouro para os habitantes das cidades e a mesma quantia, mas de prata, para os das aldeias. ¶66

Bahá'u'lláh especifica que o critério para determinar o pagamento do dote é a localização da residência permanente do noivo, não da noiva (P&R 87, P&R 88).

95. Caso alguém deseje aumentar essa soma, não lhe será permitido ultrapassar o limite de noventa e cinco mithqáls. ... Porém, conforme o Livro, é melhor contentar-se com o pagamento do limite mínimo. ¶66

Respondendo uma pergunta referente ao dote, Bahá'u'lláh afirmou:

Tudo o que foi revelado no Bayán a respeito dos que residem em cidade e povoados é aprovado e deve ser cumprido. Contudo, no Kitáb-i-Aqdas faz-se menção ao limite mínimo. Isso significa dezenove mithqáls de prata, que o Bayán especifica para os habitantes de aldeias. Isso é mais do agrado de Deus, desde que ambas as partes concordem. O objetivo é promover o conforto de todos e fazer nascer a concórdia e a união entre as pessoas. Portanto, quanto maior a consideração dada esses assuntos, melhor... O povo de Bahá deve conviver e agir uns com os outros com o maior amor e sinceridade. Devem estar atentos aos interesses de todos, especialmente dos amigos de Deus.

'Abdu'l-Bahá, em uma de Suas Epístolas, resume alguns dos preceitos para determinar o valor do dote. A unidade de pagamento mencionada no excerto, citado a seguir, é o "váhid". Um váhid equivale a dezenove mithqáls. Afirmou Ele:

Habitantes da cidade devem pagar em ouro, e habitantes de povoados em prata. Isso depende dos meios financeiros à disposição do noivo. Se for pobre, pagará um váhid; se tiver poucos recursos, pagará dois váhids; se estiver bem de vida, três váhids; se for abastado, quatro váhids; e, se for muito rico, pagará cinco váhids. Em verdade, esse é um assunto para ser acordado entre o noivo, a noiva e seus pais. Deve-se cumprir qualquer acordo que venha a ser estabelecido.

Nessa mesma Epístola, 'Abdu'l-Bahá encoraja os crentes a dirigir as perguntas relativas à aplicação desta lei à Casa Universal de Justiça, a qual tem "a autoridade para legislar". Ele ressaltou que "é este o corpo que há de promulgar leis e legislar sobre assuntos secundários que não estão explícitos no Texto Sagrado".

96. Deus ordenou que qualquer um dos Seus servos, pretendendo viajar, fixe para a esposa a data do regresso ao lar. ¶67

Caso o marido parta sem informar à esposa a data de seu regresso, e caso ela não receba dele nenhuma notícia, tampouco nenhum vestígio dele seja encontrado, Bahá'u'lláh declarou que a esposa pode casar novamente após aguardar um ano completo, isso se o marido era ciente da lei prescrita no Kitáb-i-Aqdas. Entretanto, se o marido desconhecia a lei, a esposa deve esperar até que lhe chegue alguma notícia dele (P&R 4).

97. incumbe a ela aguardar durante nove meses, após os quais não se lhe impedirá um novo casamento ¶67

No caso de o marido não retornar no fim do prazo estipulado nem informar sua esposa sobre algum atraso, a esposa deve aguardar por nove meses, após o que estará livre para casar novamente, embora seja preferível que espere por mais tempo (vide nota 147 sobre o calendário bahá'í).

Bahá'u'lláh diz que, em tais circunstâncias, se chegarem à esposa "notícias da morte ou assassinato do marido", ela deve também aguardar nove meses antes de se casar de novo (P&R 27). Ademais, em uma Epístola, 'Abdu'l-Bahá esclareceu que o período de nove meses de espera depois da notícia da morte do marido aplica-se apenas se o marido tiver estado ausente por ocasião do falecimento, e não quando ele vem a falecer no lar.

98. adote ela o procedimento louvável ¶67

Bahá'u'lláh define "o procedimento louvável" como "a prática da paciência" (P&R 4).

99. duas testemunhas idôneas ¶67

Bahá'u'lláh estabelece o "critério de eqüidade" em relação às testemunhas como sendo "uma boa reputação entre o povo". Ele afirma não ser necessário que as testemunhas sejam Bahá'ís, já que "O testemunho de todos os servos de Deus, de qualquer fé ou credo, é aceitável ante o Seu Trono" (P&R 79).

100. Brotando ressentimento ou aversão entre marido e mulher, ele não deve divorciá-la, mas aguardar com paciência durante um ano completo ¶68

O divórcio é fortemente condenado nos Ensinamentos Bahá'ís. Todavia, se antipatia e ressentimento brotarem entre os cônjuges, permite-se o divórcio depois do prazo de um ano completo. Durante esse ano de paciência o marido é obrigado a sustentar financeiramente a esposa e os filhos, e insta-se que o casal faça esforços para reconciliar as divergências. Shoghi Effendi afirma que tanto o marido quanto a mulher "têm igual direito de pedir o divórcio" quando qualquer um deles "sentir que é absolutamente essencial fazê-lo".

Em Perguntas e Respostas, Bahá'u'lláh desenvolve uma série de tópicos relativos ao ano de paciência: sua observância (P&R 12), a definição de uma data para o seu início (P&R 19 e P&R 40), as condições para a reconciliação (P&R 38), e o papel das testemunhas e da Casa Local de Justiça (P&R 73 e P&R 98). No tocante às testemunhas, a Casa Universal de Justiça esclareceu que suas funções, em casos de divórcio, são atualmente desempenhadas pelas Assembléias Espirituais.

Os preceitos detalhados da lei Bahá'í do divórcio estão resumidos na Sinopse e Codificação, seção IV..C.2.a.-i.

101. O Senhor proibiu ... a prática à qual anteriormente recorríeis quando de uma mulher vos divorciáveis três vezes. ¶68

Isso se refere a uma lei islâmica, estabelecida no Alcorão, que, em certas circunstâncias, proibia que um homem casasse novamente com a ex-esposa, a menos que ela houvesse casado com outro homem e sido divorciada. Bahá'u'lláh afirma que é esta a prática proibida no Kitáb-i-Aqdas (P&R 31).

102. O divorciado poderá, no passar dos meses, desposar outra vez a sua consorte, se houver afeição e consentimento mútuos, desde que ela já não tenha outro cônjuge ... a menos que claramente a situação dela se modifique. ¶68

Numa carta escrita em seu nome, Shoghi Effendi declara que o sentido de "no passar dos meses" não é impor uma limitação, e que um casal divorciado pode voltar a casar a qualquer tempo depois do divórcio, desde que nenhum deles esteja, na ocasião, casado com outra pessoa.

103. o sêmen não é impuro ¶74

Em várias tradições religiosas, bem como na prática muçulmana xiita, o sêmen foi declarado ritualmente impuro. Bahá'u'lláh aqui abole este conceito. Vide a nota 106 adiante.

104. Segurai... tenazmente a corda do refinamento ¶74

'Abdu'l-Bahá comenta sobre o efeito que "a pureza e a santidade, a limpeza e o refinamento" exercem na elevação da "condição humana" e no "desenvolvimento da realidade interior do homem". Ele declara que "O fato de se ter um corpo puro e imaculado exerce influência sobre o espírito do homem." (Vide também a nota 74.)

105. Lavai todas as coisas enodoadas com água que não se tenha alterado em nenhum dos seus três aspectos. ¶74

Os "três aspectos" mencionados nesse versículo referem-se às mudanças na cor, gosto e odor da água. Bahá'u'lláh oferece ainda outras orientações a respeito da pureza da água e do estado em que se a considera imprópria ao uso (P&R 91).

106. Deus ... aboliu o conceito e "impureza" pelo qual diferentes coisas e povos foram tidos como impuros. ¶75

O conceito de "impureza" ritual, como foi entendido e praticado em algumas sociedades tribais e nas comunidades religiosas de certas Dispensações do passado, foi abolido por Bahá'u'lláh. Ele afirma que, através de Sua Revelação, "todas as coisas criadas foram imersas no mar da purificação". (Vide também as nota 12, nota 20 e nota 103.)

107. primeiro dia do Ridvan ¶75

Isso refere-se à chegada de Bahá'u'lláh e Seus companheiros ao Jardim de Najíbíyyih, que ficava fora da cidade de Bagdá e que mais tarde os Bahá'ís passaram a chamar de Jardim de Ridvan. Esse evento, que ocorreu trinta e um dias após o Naw-Rúz, em abril de 1863, deu início ao período no qual Bahá'u'lláh declarou Sua Missão a Seus companheiros. Numa Epístola, Ele refere-Se à Sua Declaração como "o Dia da suprema felicidade" e descreve o Jardim de Ridvan como "o Lugar de onde Ele espargiu sobre a criação inteira os esplendores de Seu Nome, o Todo-Misericordioso". Bahá'u'lláh passou doze dias nesse Jardim antes de partir para Istambul, para onde fora banido.

A Declaração de Bahá'u'lláh é celebrada anualmente durante os doze dias do Festival de Ridvan, descrito por Shoghi Effendi como "o mais santo e mais significativo de todos os festivais Bahá'ís" (vide nota 138 e nota 140).

108. Bayán ¶77

O Bayán, o Livro-Mater da Dispensação Bábí, é o título dado pelo Báb ao Seu Livro de Leis, aplicando-se também ao inteiro conjunto de Suas Escrituras. O Bayán Persa é o mais importante texto doutrinário e principal repositório das leis promulgadas pelo Báb. O Bayán árabe tem conteúdo correlato, mas é menos volumoso e menos importante. Ao descrever o Bayán Persa em A Presença de Deus, Shoghi Effendi observou que ele "deve ser considerado antes um atributo ao Prometido do que um código de leis e determinações destinado a oferecer guia permanente para gerações futuras".

'Abdu'l-Bahá escreveu: "O Bayán foi substituído pelo Kitáb-i-Aqdas, exceto no tocante àquelas leis que foram confirmadas e mencionadas no Kitáb-i-Aqdas."

109. ordem de destruir livros ¶77

Na Epístola de Ishráqát, referindo-Se ao fato de que o Báb sujeitara as leis do Bayán à Sua sanção, Bahá'u'lláh afirma que levou a efeito algumas das leis do Báb "incorporando-as ao Kitáb-i-Aqdas com palavras diferentes", enquanto pôs outras de lado.

No tocante à destruição de livros, o Bayán ordenava aos seguidores do Báb que destruíssem todos os livros que não fossem escritos para vindicar a Causa e a Religião de Deus. Bahá'u'lláh revoga essa lei específica do Bayán.

Quanto à natureza e severidade das leis do Bayán, Shoghi Effendi ofereceu o seguinte comentário numa carta escrita em seu nome:

As severas leis e injunções reveladas pelo Báb só podem ser adequadamente avaliadas e compreendidas quando interpretadas à luz de Seus próprios pronunciamentos atinentes à natureza, propósito e caráter de Sua própria Dispensação. Como tais declarações revelam claramente, a Dispensação Bábí tinha, essencialmente, a natureza de uma revolução religiosa, e, até mesmo, social; conseqüentemente, sua duração tinha de ser curta, embora cheia de eventos trágicos, de reformas drásticas e radicais. Aquelas medidas drásticas levadas adiante pelo Báb e por Seus seguidores foram adotadas tendo em vista solapar os próprios fundamentos da ortodoxia xiita, desta forma preparando o caminho para a chegada de Bahá'u'lláh. Conseqüentemente, a fim de asseverar a independência da nova Dispensação e de também aplainar o terreno para a iminente Revelação de Bahá'u'lláh, o Báb precisou revelar leis muito severas, embora a maioria delas jamais tenha sido implementada. Todavia, o simples fato de Ele as ter revelado foi por si uma prova de caráter independente de Sua Dispensação, e suficiente para provocar tão grande comoção geral, e despertar tanta oposição da parte do clero, que os levou, afinal, a provocar Seu martírio.

110. Nós vos permitimos conhecer as ciências que vos são proveitosas, não as que acabam em disputas fúteis. ¶77

As Escrituras Bahá'ís prescrevem a aquisição de conhecimento e o estudo das artes e ciências. Os Bahá'ís são aconselhados a respeitar pessoas de conhecimento e realização, e alertados a não se engajar em estudos que só resultam em disputas inúteis.

Em Suas Epístolas, Bahá'u'lláh aconselha os crentes a estudar aquelas ciências e artes que são "úteis" e que promovem "o progresso e adiantamento" da sociedade, e acautela-os contra as ciências que "começam e terminam em palavras", cujo estudo resulta em "disputas fúteis". Shoghi Effendi, em uma carta escrita em seu nome, equiparou as ciências que "começam e terminam em palavras" a "incursões infrutíferas pelo preciosismo metafísico", e, em outra carta, explica que o que Bahá'u'lláh entendia por tais "ciências" era principalmente "aqueles tratados e comentários teológicos que confundem a mente humana, em vez de ajudá-la a alcançar a verdade".

111. Aquele que conversou com Deus ¶80

Este é um título tradicional de Moisés no judaísmo e no islamismo. Bahá'u'lláh declara que com a chegada de Sua Própria Revelação "os ouvidos humanos receberam o privilégio de escutar o que no Sinai foi escutado por Aquele que conversou com Deus".

112. Sinai ¶80
A montanha onde Deus revelou a Lei a Moisés.
113. o Espírito de Deus ¶80

Este é um dos títulos empregados nas Escrituras islâmicas e Bahá'ís para designar Jesus Cristo.

114. Carmelo ... Sião ¶80

O Carmelo, a "Vinha do Senhor", é a montanha na Terra Santa onde se situam o Santuário do Báb e a sede do centro administrativo mundial da Fé Bahá'í.

O Monte Sião é uma colina em Jerusalém, que é tradicionalmente associada ao túmulo do Rei Davi, e é o símbolo de Jerusalém como uma Cidade Santa.

115. Arca Carmesim ¶84

A "Arca Carmesim" é uma alusão à Causa de Bahá'u'lláh. Seus seguidores são chamados de "companheiros da Arca Carmesim", a quem o Báb enalteceu no Qayyúmu'l-Asmá'.

116. Ó Imperador da Áustria! Aquele que é o Alvorecer da Luz de Deus vivia na prisão de 'Akká quando empreendeste a visita à Mesquita de Aqsá. ¶85

Francisco José (Franz Josef, 1830-1916), Imperador da Áustria e Rei da Hungria, realizou peregrinação a Jerusalém em 1869. Enquanto estava na Terra Santa, deixou passar a oportunidade para indagar a respeito de Bahá'u'lláh, que, na ocasião, estava aprisionado em 'Akká ('Akko, ou Acre, em Israel).

A Mesquita e Aqsá, literalmente a "Mais Longínqua" Mesquita, é mencionada no Alcorão, e veio a ser identificada como o Monte do Templo* em Jerusalém.

117. Ó Rei de Berlim! ¶86

O Cáiser Guilherme I (Wilhelm Friedrich Ludwig, 1797-1888), sétimo rei da Prússia, foi aclamado primeiro Imperador da Alemanha em janeiro de 1871, em Versalhes, na França, logo após a vitória da Alemanha sobre a França na Guerra Franco-Prussiana.

118. aquele cujo poder transcendia o vosso poder e cuja posição era superior à vossa¶86

Essa é uma referência a Napoleão III (1808-1873), o imperador dos franceses, considerado por muitos historiadores como o mais destacado monarca de seu tempo no Ocidente.

Bahá'u'lláh dirigiu duas Epístolas a Napoleão III, na segunda das quais profetizava claramente que o reino de Napoleão seria "arremessado ao caos", que o seu "império escapará" de suas mãos e que seu povo sofreria grandes "comoções".

Um ano após, em 1870, Napoleão sofreria estrondosa derrota nas mãos do Cáiser Guilherme I, na Batalha de Sedan. Exilou-se na Inglaterra, onde faleceu três anos depois.

119. Ó povo de Constantinopla! ¶89

A palavra aqui traduzida por "Constantinopla" é, no original, "Ar-Rúm", ou seja, "Roma". Esse termo foi geralmente empregado no Oriente Médio para designar Constantinopla e o Império Romano do Oriente, depois a cidade de Bizâncio e seu império, e, mais tarde, o Império Otomano.

120. Ó Lugar sito na orla dos dois mares! ¶89

Referência a Constantinopla, agora chamada Istambul. Localizada no Bósforo, um estreito com cerca de 31 quilômetros de comprimento que ligar o Mar Nego ao Mar de Mármara, é a maior cidade e o maior porto marítimo da Turquia.

Constantinopla foi a capital do Império Otomano de 1453 a 1922. Durante a estada de Bahá'u'lláh nessa cidade, o tirânico Sultão 'Abdu'l-'Azíz ocupava o trono. Os sultões otomanos eram também os califas, os líderes do Islã sunita. Bahá'u'lláh previu a queda do Califado, abolido em 1924.

121. Ó margens do Reno! ¶90

Numa de Suas Epístolas escritas antes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), 'Abdu'l-Bahá explicou que Bahá'u'lláh, quando diz ter visto as margens do Reno "cobertas de sangue", referia-Se à Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), e indicava que ainda mais sofrimento estava por vir.

Em A Presença de Deus, Shoghi Effendi afirma que o "tratado opressivamente severo" imposto à Alemanha após sua derrota na Primeira Guerra Mundial "provocou os lamentos de Berlim, que, meio século antes, haviam sido objeto de tão ominosa profecia".

122. ó Terra do Tá ¶91

"Tá" é a letra inicial de Teerã, a capital do Irã. Seguidamente Bahá'u'lláh preferiu empregar a letra inicial para representar o nome de certos lugares. Conforme o sistema abjad de cômputo, o valor numérico de Tá é nove, que coincide com o valor numérico do nome Bahá.

123. em ti nasceu a Manifestação de Sua Glória ¶92

Alusão ao nascimento de Bahá'u'lláh em Teerã, em 12 de novembro de 1817.

124. Ó Terra do Khá! ¶94

Referência à província iraniana de Khorásán e áreas circunvizinhas, que incluem a cidade de 'Ishqábád (Aschabad).

125. Obtendo alguém cem mithqáls de ouro, dezenove deles pertencem a Deus e serão entregues a Ele ¶97

Esse versículo institui o Huqúqu'lláh, o Direito de Deus, o oferecimento de uma fração fixa do montante dos bens do crente. Essa doação era feita a Bahá'u'lláh, como Manifestante de Deus, e, após Sua Ascensão, a 'Abdu'l-Bahá, como o Centro do Convênio. Em Sua Vontade e Testamento, 'Abdu'l-Bahá determinou que o Huqúqu'lláh devia ser ofertado "por intermédio do Guardião da Causa de Deus". Agora, não mais havendo o Guardião, ele é ofertado através da Casa Universal de Justiça, como Líder da Fé. Este fundo destina-se à promoção da Fé Divina e de seus interesses, bem como de vários propósitos filantrópicos. A doação do Huqúqu'lláh é uma obrigação espiritual cujo cumprimento foi deixado à consciência de cada bahá'í. Conquanto a comunidade seja relembrada dos requisitos da lei do Huqúq, nenhum crente pode ser individualmente solicitado a pagá-lo.

Uma série de tópicos em Perguntas e Respostas detalham ainda mais essa lei. O pagamento do Huqúqu'lláh baseia-se no cômputo do valor dos bens de cada pessoa. Quem possui bens cujo valor equivale a pelo menos dezenove mithqáls de ouro (P&R 8) tem a obrigação espiritual de pagar dezenove por cento do valor total, uma única vez, como Huqúqu'lláh (P&R 89). Daí por diante, sempre que a renda de um indivíduo garantir um incremento patrimonial de pelo menos dezenove mithqáls de ouro, depois de deduzidas todas as despesas, ele deverá pagar dezenove por cento sobre esse incremento, e assim por diante para cada aumento adicional (P&R 8, P&R 90).

Certas classes de bens, tais como a residência, são isentas do pagamento do Huqúqu'lláh (P&R 8, P&R 42, P&R 95), e delineiam-se dispositivos específicos para atender casos de prejuízo financeiro (P&R 44, P&R 45), de investimentos que não aufiram lucro (P&R 102) e do pagamento do Huqúq no caso de morte (P&R 9, P&R 69, P&R 80). (Sobre esse último quesito, vide a nota 47.)

Extensos excertos de Epístolas, do Perguntas e Respostas e de outros Escritos a respeito do significado espiritual do Huqúqu'lláh e dos detalhes de sua aplicação foram publicados numa compilação intitulada "Huqúqu'lláh".

126. Várias vezes, foram trazidas ante Nosso trono as súplicas dos fiéis pelas leis de Deus ... Em virtude disso, Nós revelamos esta Sagrada Epístola e a adornamos com o manto de Sua Lei, para que o povo, quiçá, observe os mandamentos do seu Senhor. ¶98

"Por vários motivos", afirma Bahá'u'lláh em uma de Suas Epístolas, "rogos provindos de diversas terras chegaram à Presença Sacratíssima, implorando pelas leis de Deus; todavia, contivemos a Pena até que a hora predestinada soasse." Só depois de passado vinte anos do nascimento de Sua Missão Profética no Siyáh-Chál de Teerã é que Bahá'u'lláh revelou o Kitáb-i-Aqdas, o Repositório das leis de Sua Dispensação. Mesmo após havê-lo revelado, Ele reteve o Aqdas durante algum tempo antes de permitir que fosse enviado aos amigos da Pérsia. Essa demora divinamente ordenada na revelação das leis fundamentais de Deus para esta época, e a subseqüente implementação gradual de seus preceitos, ilustram o princípio da revelação progressiva, que se aplica até mesmo dentro do ministério de cada Profeta.

127. Lugar carmesim ¶100

Isso se refere à cidade-prisão de 'Akká. Nas Escrituras Bahá'ís, o termo "carmesim" é empregado em diversos sentidos alegóricos e simbólicos. (Vide também a nota 115.)

128. Sadratu'l-Muntahá ¶100

Literalmente, "a árvore mais remota", que Shoghi Effendi traduziu para o inglês como "a árvore além da qual não há passagem". A expressão é empregada no Islã como um símbolo - por exemplo, nos relatos sobre a Viagem Noturna de Maomé - para delimitar nos céus o ponto além do qual nem homens nem anjos podem passar em sua aproximação de Deus, assim demarcando os limites do conhecimento divino revelado à humanidade. Daí o seu emprego costumeiro nas Escrituras Bahá'ís para designar o próprio Manifestante de Deus. (Vide também a nota 164.)

129. o Livro-Mater ¶103

Geralmente emprega-se o termo "Livro-Mater" para designar o principal Livro de uma Dispensação religiosa. No Alcorão e no Hadíth islâmico (Vide Glossário) utiliza-se o termo para identificar o próprio Alcorão. Na Dispensação Bábí, o Bayán é o Livro-Mater, e o Kitáb-i-Aqdas é o Livro-Mater da Dispensação de Bahá'u'lláh. Ademais, numa carta escrita em seu nome, o Guardião afirma que se pode também empregar esse conceito como um "termo coletivo que indica o conjunto dos Ensinamentos de Bahá'u'lláh". Também se emprega esse termo, num sentido mais amplo, para designar o Repositório Divino da Revelação.

130. Quem interpreta o que se fez descer do céu da Revelação e altera o seu significado evidente ¶105

Em algumas de Suas Epístolas, Bahá'u'lláh reitera a distinção entre versículos alegóricos, estes sujeitos à interpretação, e aqueles relativos a tais assuntos como leis e mandamentos, atos de adoração e observâncias religiosas, cujos significados são evidentes e que exigem aquiescência da parte dos crentes.

Como se explica nas nota 145 e nota 184, Bahá'u'lláh designou Seu primogênito, 'Abdu'l-Bahá, como Seu Sucessor e Intérprete de Seus Ensinamentos. 'Abdu'l-Bahá, por Sua vez, nomeou Seu neto mais velho, Shoghi Effendi, para sucedê-Lo como intérprete da Escritura Sagrada e como Guardião da Causa. As interpretações de 'Abdu'l-Bahá e de Shoghi Effendi são consideradas como divinamente inspiradas, sendo de caráter obrigatório para os Bahá'ís.

A existência de interpretações autoritativas não impede que as pessoas se devotem ao estudo dos Ensinamentos, nem que desenvolvam, por esse meio, uma interpretação ou entendimento pessoal. Contudo, nas Escrituras Bahá'ís faz-se uma distinção clara entre a interpretação autoritativa e a compreensão à qual se pode chegar pelo estudo dos Ensinamentos. As interpretações pessoais, que se baseiam na compreensão individual dos Ensinamentos, representam o fruto do poder racional do homem, e bem podem contribuir para uma melhor compreensão da Fé. Não obstante, tais pontos de vista carecem de autoridade. Acautela-se que todos, ao apresentarem suas idéias pessoais, não desprezem a autoridade das palavras reveladas, não neguem a interpretação autoritativa nem com ela contendam, e não se envolvam em controvérsia; ao invés disso, cada um deve oferecer seu pensamento como uma contribuição ao conhecimento, deixando claro que suas opiniões são tão-somente suas.

131. Tratai de vos não aproximardes das piscinas públicas dos banhos persas ¶106

Bahá'u'lláh proíbe o uso das piscinas encontradas nas tradicionais casas de banho público da Pérsia. Nesses locais, era costume muitas pessoas lavarem-se na mesma piscina, cuja água era renovada apenas esporadicamente. Em conseqüência disso a água era turva, pestilenta e insalubre, com um terrível mau cheiro.

132. Evitai igualmente as piscinas malcheirosas nos jardins das casas persas ¶106

A maioria das casas na Pérsia costumava ter uma piscina no pátio, que servia como reservatório da água usada para limpeza, lavagem e outros fins domésticos. Como a água na piscina ficava estagnada, e geralmente não era trocada por semanas a fio, costumava adquirir um odor muito desagradável.

133. Proibe-se-vos o casamento com as esposas de vossos pais. ¶107

O casamento com a própria madrasta é aqui explicitamente proibido. Essa proibição também se aplica ao casamento com o próprio padrasto. Quando Bahá'u'lláh apresenta uma lei entre um homem e uma mulher ela se aplica, "mutatis mutandis", entre uma mulher e um homem, a menos que o contexto o impeça.

Conquanto as madrastas sejam o único grau de parentesco mencionado no texto, tanto 'Abdu'l-Bahá quanto Shoghi Effendi confirmaram que isso não significa que se permitam todas as demais uniões dentro de uma mesma família. Bahá'u'lláh declara que cabe à Casa Universal de Justiça legislar "No tocante à legitimidade ou não do casamento entre parentes" (P&R 50). 'Abdu'l-Bahá escreveu que quanto mais distante for a consangüinidade entre o casal melhor, pois tais matrimônios provêm a base para o bem-estar físico da humanidade e promovem a camaradagem entre os povos.

134. o assunto dos rapazes ¶107

A palavra aqui vertida por "rapazes" possui no original em árabe, neste contexto, a implicação de pederastia. Shoghi Effendi interpretou essa referência como uma proibição a todas as relações homossexuais.

Os ensinamentos Bahá'ís sobre a moralidade em relação ao sexo centram-se no casamento e na família como os alicerces de toda a estrutura da sociedade humana, e destinam-se a proteger e fortalecer aquela instituição divina. Destarte, a lei Bahá'í só permite as relações sexuais praticadas entre um homem e a mulher com a qual está casado.

Numa carta escrita em nome de Shoghi Effendi encontra-se a seguinte afirmação:

Não obstante quão belo e devotado o amor entre pessoas do mesmo sexo possa ser, permitir que ele se expresse através de atos sexuais é errado. Afirmar que esse amor é ideal não é desculpa. Bahá'u'lláh efetivamente proíbe toda a sorte de imoralidade, e Ele assim considera as relações homossexuais, além de serem contra a natureza. Ser afligido dessa maneira é pesado fardo para uma alma consciente. Porém, através do conselho e ajuda de médicos, através de esforço firme e determinado, e por meio de orações, uma alma pode superar esse problema.

Bahá'u'lláh deixa para a Casa Universal de Justiça a determinação das penas para adultério e sodomia, conforme o grau do delito (P&R 49).

135. A ninguém se permite murmurar os versículos sagrados ante os olhos de todos enquanto percorre as ruas ou locais de comércio ¶108

Alusão à prática de certos clérigos e líderes religiosos de Dispensações anteriores, os quais, por hipocrisia e afetação, e com o intuito de conquistar o louvor de seus seguidores, ostensivamente murmuravam orações nos lugares públicos para exibir sua piedade. Bahá'u'lláh proíbe tal comportamento, e enfatiza a importância da humildade e da devoção genuína a Deus.

136. Ordenou-se a todos a lavratura de um testamento. ¶109

Conforme os Ensinamentos de Bahá'u'lláh, o indivíduo tem o dever de redigir sua vontade e testamento, e é livre para dispor de seus bens da forma que lhe aprouver (vide nota 38).

Bahá'u'lláh afirma que, ao elaborar seu testamento, "cada pessoa tem pleno poder sobre os seus bens", pois Deus permitiu a cada um "dispor livremente daquilo que Ele lhe concedeu" (P&R 69). O Kitáb-i-Aqdas dispõe a respeito da distribuição da herança quando inexiste um testamento. (Vide nota 38, nota 39, nota 40, nota 41, nota 42, nota 43, nota 44, nota 45, , nota 46, nota 47, nota 48.)

137. Nome Supremo ¶109

Como se explicou na nota 33, o Nome Supremo de Deus pode assumir várias formas, todas baseadas na palavra "Bahá". Para implementar essa injunção do Aqdas, os Bahá'ís no Oriente iniciam seus testamentos com frases tais como "Ó Tu, a Glória do Todo-Glorioso", "Em nome de Deus, o Todo-Glorioso", "Ele é o Todo-Glorioso", e semelhantes.

138. Todas as Festividades alcançaram sua consumação nos dois Festivais Supremos e nos dois outros Festivais que caem nos dois dias gêmeos ¶110

Essa passagem institui quatro grandes festividades do ano bahá'í. As duas referidas por Bahá'u'lláh como os "dois Festivais Supremos" são, primeiro, o Festival de Ridvan - que celebra a Declaração que Bahá'u'lláh fez de Sua Missão Profética no Jardim de Ridvan, em Bagdá, durante doze dias em abril/maio de 1863, e que Ele chama de "o Rei dos Festivais" - e, segundo, a Declaração do Báb, ocorrida em maio de 1844 em Shíráz. O primeiro, o nono e o décimo-segundo dia do Festival de Ridvan são Dias Sagrados (P&R 1), bem como o dia da Declaração do Báb.

Os "dois outros Festivais" são os aniversários natalícios de Bahá'u'lláh e do Báb. No calendário lunar muçulmano eles caem em dias consecutivos: o nascimento de Bahá'u'lláh no segundo dia do mês de Muharram de 1233 A.H. (12 de novembro de 1817), e o nascimento do Báb no primeiro dia do mesmo mês de 1235 A.H. (20 de outubro de 1819), respectivamente. Por isso são aludidos como os "Aniversários Natalícios Gêmeos" e Bahá'u'lláh declara que Deus considera-os um só (P&R 2). Ele diz que se estes dias caírem dentro do mês do Jejum, a injunção de jejuar não se lhes aplica (P&R 36). Como o calendário Bahá'í é um calendário solar (vide nota 26 e nota 147), cabe à Casa Universal de Justiça determinar se os dois sagrados Aniversários Natalícios Gêmeos devem ser celebrados com base no cômputo lunar ou solar.

139. primeiro dia do mês de Bahá ¶111

No calendário bahá'í, o primeiro mês do ano e o primeiro dia de cada mês recebem o nome de "Bahá". O dia de Bahá do mês de Bahá é, portanto, o Ano Novo Bahá'í, Naw-Rúz, que o Báb ordenou como um festival, e que aqui Bahá'u'lláh confirma (vide nota 26 e nota 147).

Além dos sete Dias Sagrados que essa passagem do Kitáb-i-Aqdas prescreve, o aniversário do Martírio do Báb também era celebrado como um Dia Santo durante a vida de Bahá'u'lláh e, como corolário disso, 'Abdu'l-Bahá acrescentou a observância da Ascensão de Bahá'u'lláh, somando nove Dias Sagrados ao todo. Os dois outros aniversários que se celebram, mas nos quais não se suspende o trabalho, são o Dia do Convênio e o aniversário do passamento de 'Abdu'l-Bahá. Ver a seção sobre o calendário Bahá'í no The Bahá'í World, volume XVIII [também em Leis, História e Administração da Fé Bahá'í, p. 91-3. N.T.].

140. Deveras, o Festival Supremo é o Rei dos Festivais ¶112

Referência ao Festival de Ridvan (vide nota 107 e nota 138).

141. Deus anteriormente impusera a cada um dos fiéis o dever de ofertar, ante o Nosso trono, presentes inestimáveis escolhidos dentre os seus haveres. Agora... Nós vos isentamos dessa obrigação. ¶114

Essa passagem revoga um preceito do Bayán, que ordenava que todos os objetos inigualáveis na sua classe deveriam ser entregues Àquele que Deus tornará manifesto quando do Seu aparecimento. O Báb explicou que, pelo fato de o Manifestante de Deus estar além de qualquer comparação, tudo aquilo que é ímpar na sua espécie deveria legitimamente Lhe ser reservado, a menos que Ele determinasse de outro modo.

142. hora do alvorecer ¶115

Quanto ao comparecimento no Mashriqu'l-Adhkár, a Casa de Adoração Bahá'í, para as orações que se realizam à hora do alvorecer, Bahá'u'lláh explicou que, conquanto a hora realmente especificada no Livro de Deus seja a "hora do alvorecer", pode-se fazê-lo a qualquer momento desde os "primeiros momentos da aurora, entre a alvorada e o nascer do sol, ou mesmo até duas horas após o nascimento do sol" (P&R 15).

143. Estas Epístolas são adornadas com o selo dAquele que faz a alvorada surgir, Quem ergueu a voz entre os céus e a terra. ¶117

Bahá'u'lláh repetidamente confirma a absoluta integridade de Suas Escrituras como a Palavra de Deus. Ademais, algumas Epístolas Suas levam a marca de um de Seus sinetes. O The Bahá'í World, volume V, p. 4, contém uma fotografia de vários sinetes de Bahá'u'lláh.

144. É inadmissível que o homem, tendo sido dotado de razão, consuma aquilo que lha roube. ¶119

Há muitas passagens nas Escrituras Bahá'ís que proíbem o uso do vinho e de outras bebidas alcóolicas, e que descrevem o efeito deletério de tais agentes de embriaguez na pessoa. Em uma de Suas Epístolas, Bahá'u'lláh declara:

Acautelai-vos para não trocar o Vinho de Deus pelo vosso próprio vinho, pois este entorpecerá vossas mentes e desviará vossas faces do Semblante de Deus, o Todo-Glorioso, o Incomparável, o Inatingível. Afastai-vos dele, pois ele vos foi proibido pelo mandado de Deus, o Excelso, o Todo-Poderoso.

'Abdu'l-Bahá explica que o Aqdas proíbe "tanto as bebidas alcóolicas fracas quanto as fortes" e afirma que a razão por que se proíbem as bebidas alcóolicas é que "o álcool desencaminha a mente e enfraquece o corpo".

Em cartas escritas em seu nome, Shoghi Effendi afirma que esta proibição refere-se não apenas ao consumo de vinho, mas de "tudo aquilo que turva a mente", e esclarece que o uso do álcool só é permitido como parte do tratamento implementado "sob a orientação de um médico competente e consciencioso, que pode ter de receitá-lo para a cura de alguma doença em particular".

145. volvei vossas faces Àquele eleito por Deus, Aquele que brotou desta Raiz Antiga. ¶121

Bahá'u'lláh aqui alude a 'Abdu'l-Bahá como Seu Sucessor, e exorta os crentes a volverem-se para Ele. No Livro do Convênio, Sua Vontade e Testamento, Bahá'u'lláh revela o intuito desse versículo. Diz Ele: "O alvo deste sagrado versículo não é outro senão o Mais Poderoso Ramo". "Mais Poderoso Ramo" é um dos títulos que Bahá'u'lláh conferiu a 'Abdu'l-Bahá. (Vide também as nota 66 e nota 184.)

146. No Bayán vos fora proibido fazer-Nos perguntas. ¶126

O Báb proibira Seus seguidores de fazer perguntas Àquele que Deus tornará manifesto (Bahá'u'lláh), a menos que elas fossem submetidas por escrito e se referissem a assuntos dignos de Sua sublime posição. Vide Seleção dos Escritos do Báb (p. 105. N.T.).

Bahá'u'lláh revoga essa proibição do Báb. Ele convida os crentes a formular as perguntas que "precisais perguntar", e acautela-os para que evitem formular "questões fúteis" do tipo que preocupava "os homens de antanho".

147. O Livro de Deus fixou em dezenove o número de meses do ano. ¶127

De acordo com o calendário Badí´, o ano bahá´í consiste em dezenove meses de dezenove dias cada, com o acréscimo de alguns dias intercalares – (quatro nos anos comuns e cinco nos bissextos) entre o décimo-oitavo e o décimo-nono meses – que servem para ajustar o calendário ao ano solar. O Báb conferiu aos meses o nome de alguns atributos de Deus. O Ano Novo Bahá´í, Naw Rúz, é fixado astronomicamente, coincidindo com o equinócio de março (vide a nota 26). Para maiores detalhes, inclusive sobre os nomes dos meses e dos dias da semana, vide a seção sobre o calendário bahá´í no The Bahá´í World, volume XVIII.

148. o primeiro foi ataviado com este Nome que eclipsa toda a criação ¶127

No Bayán Persa o Báb atribuiu o nome “Bahá” ao primeiro mês do ano (vide nota 139).

149. O Senhor vosso Deus decretou que os mortos sejam sepultados em ataúdes ¶128

No Bayán, o Báb prescrevia que os mortos fossem sepultados em ataúdes de cristal ou pedra polida. Numa carta escrita em seu nome, Shoghi Effendi explicou que o intuito desse preceito é mostrar respeito pelo corpo humano, que “fora outrora honrado pela alma imortal do homem”.

A lei bahá´í de sepultamento diz, em resumo, que é proibido transportar o corpo do morto além da distância equivalente a uma hora de viagem do local da morte; que se deve envolver o corpo num sudário de seda ou algodão e colocar em seu dedo um anel com a inscrição: “Vim de Deus e a Ele regresso, desprendido de tudo menos dEle, segurando-me ao Seu Nome, o Misericordioso, o Compassivo”; e que o ataúde deve ser de cristal, pedra ou madeira de lei. Uma Oração de Finados específica (vide nota 10) é ordenada para antes do sepultamento. Como foi afirmado por ´Abdu´l-Bahá e pelo Guardião, esta lei impede a cremação dos mortos. A oração formal e o anel destinam-se aos que já alcançaram a idade da maturidade, isto é, 15 anos (P&R 70).

Quanto ao material do qual deve ser feito o ataúde, o espírito da lei é que ele seja o mais durável possível. Conseqüentemente, a Casa Universal de Justiça explicou que, em adição aos materiais especificados no Aqdas, não há objeção ao uso da madeira mais dura disponível, ou de concreto. Por ora, deixa-se a escolha ao critério dos bahá´ís.

150. o Ponto do Bayán ¶129

O “Ponto do Bayán” é um dos títulos pelos quais o Báb referiu-Se a Si próprio.

151. Deus decretou ... que se deve envolver o corpo do falecido em cinco sudários de seda ou de algodão ¶130

No Bayán, o Báb determinou que o corpo dos mortos deveria ser envolto com cinco sudários de seda ou de algodão. Bahá´u´lláh confirmou esse preceito, e acrescentou que “Um único sudário de qualquer um dos dois tecidos é suficiente para os de poucas posses”.

Quando interrogado se os “cinco sudários” mencionados na lei referiam-se a “cinco sudários de corpo inteiro” ou a “cinco peças de pano como as que têm sido costumariamente empregados até hoje”, Bahá´u´lláh respondeu que o significado era “cinco peças de pano” (P&R 56).

No tocante à forma como se deve amortalhar o corpo, não há nada nas Escrituras Bahá´ís que indique como fazê-lo, nem quando se empregam “cinco peças de pano” nem quando “um único sudário” é usado. Atualmente os bahá´ís podem adotar seu próprio critério quanto a isso.

152. É-vos proibido transladar o corpo do morto além da distância de uma hora de viagem da cidade ¶130

O sentido dessa injunção é limitar a duração da viagem a uma hora, independente do meio de transporte escolhido para conduzir o corpo ao local de sepultamento. Bahá´u´lláh afirma que quanto antes se der o sepultamento “tanto mais adequado e aceitável será” (P&R 16).

Pode-se considerar o local do falecimento como a inteira cidade ou vila onde a pessoa vem a falecer e, destarde, pode-se contar a hora de viagem desde os limites da cidade até o local do enterro. O espírito da lei de Bahá´u´lláh é que se sepulte o finado perto de onde ele morreu.

153. Deus revogou as restrições às viagens que haviam sido impostas no Bayán. ¶131

O Báb decretara certas restrições referentes a viagens, que permaneceriam em vigor até o advento do Prometido do Bayán, quando então os crentes deviam partir, mesmo que a pé, ao encontro dEle, já que alcançar Sua presença era o fruto e o propósito da própria existência de cada um deles.

154. Enaltecei e glorificai as duas Casas nos dois Abençoados Lugares Gêmeos, e os demais lugares onde se estabeleceu o trono de vosso Senhor ¶133

Bahá´u´lláh identifica as “duas Casas” como sendo a Sua Casa em Bagdá, apontada por Ele como “a Casa Excelsa”, e a Casa do Báb em Shíráz, ambas por Ele ordenadas como locais de peregrinação. (Vide P&R 29, P&R 32 e a nota 54.)

Shoghi Effendi explicou que “os demais lugares onde se estabeleceu o trono de vosso Senhor” refere-se àqueles lugares onde a Pessoa do Manifestante de Deus residiu. Bahá´u´lláh declara que “o povo das áreas onde eles se situam pode decidir preservar quer cada uma das casas” onde Ele residiu, “quer uma delas” (P&R 32). As instituições bahá´ís identificaram, documentaram e, onde foi possível, adquiriram e restauraram vários lugares históricos associados às Manifestações Gêmeas.

155. Vigiai para que nada gravado no Livro vos impeça de acatar este, o Livro Vivente ¶134

O “Livro” é o registro da Palavra revelada pelas Manifestações de Deus. O “Livro Vivente” refere-se à Pessoa do Manifestante.

Essas palavras aludem a uma declaração do Báb no Bayán Persa a respeito do “Livro Vivente”, identificado por Ele com Aquele que Deus tornará manifesto. Em uma de Suas Epístolas o próprio Bahá´u´lláh declara: “O Livro de Deus se fez descer na forma deste Jovem”.

Neste versículo do Aqdas, como também no parágrafo 168, Bahá´u´lláh refere-Se a Si mesmo como o “Livro Vivente”. Ele adverte “os seguidores de todas as outras Fés” para que não busquem, “em seus Livros Sagrados, razões para renegar” os pronunciamentos do “Livro Vivente”. Ele admoesta o povo a não permitir que aquilo registrado no “Livro” os impeça de reconhecer Sua Posição e de firmar-se àquilo estabelecido nesta nova Revelação.

156. da Pena de Meu Arauto em tributo a esta Revelação ¶135

O “tributo” que Bahá´u´lláh cita nessa passagem encontra-se no Bayán árabe.

157. “O Qiblih é, em verdade, Aquele que Deus tornará manifesto: toda vez que Ele Se mover, o Qiblih também mover-se-á, até que Ele encontre repouso”. ¶137

Encontra-se nas nota 7 e nota 8 uma análise deste versículo.

158. É ilícito contrair matrimônio com um descrente no Bayán. Se apenas um dos cônjuges abraçar esta Causa, os seus bens serão ilícitos ao outro ¶139

O texto do Bayán aqui citado por Bahá´u´lláh chama a atenção dos crentes para o iminente aparecimento de “Aquele que Deus tornará manifesto”. A proibição que o versículo faz do matrimônio com um não- Bábí e o dispositivo que torna ilícitos ao cônjuge não- Bábí os bens daquele que abraçou a Fé foram mantidos explicitamente inoperantes pelo Báb, e subseqüentemente anulados por Bahá´u´lláh antes que pudessem ser implementados. Bahá´u´lláh, ao citar esta lei, assinala o fato de que o Báb, ao revelá-la, previra claramente a possibilidade de a Causa de Bahá´u´lláh vir a notabilizar-se antes da do próprio Báb.

Em A Presença de Deus, Shoghi Effendi ressalta que o Bayán “deve ser considerado antes um tributo ao Prometido do que um código de leis e determinações destinado a oferecer guia permanente para gerações futuras”. E segue: “Propositadamente severo nas leis e regras que impunha, revolucionador nos princípios que instilava, tendo em mira despertar de seu torpor secular o clero e o povo, e desferir um golpe repentino e fatal em instituições obsoletas e corruptas, ele proclamou, através de seus preceitos drásticos, o advento do Dia esperado, o Dia em que ‘o Convocador haverá de intimar para um assunto grave’, quando ‘demolirá tudo o que existia antes dEle, do mesmo modo que o Apóstolo de Deus demoliu os modos daqueles que O precederam’” (vide também a nota 109).

159. O Ponto do Bayán ¶140
Um dos títulos do Báb.
160. Verdadeiramente nenhum Deus há senão Eu ¶143

As Escrituras Bahá´ís contêm muitas passagens que lançam luz sobre a natureza da Manifestação e de Sua relação com Deus. Bahá´u´lláh salienta a natureza singular e transcendente do Ser Supremo. Ele explica que “desde que não pode haver laço de intercurso direto para ligar o Deus Uno e Verdadeiro à Sua criação” Deus ordena que “em cada era e dispensação uma alma pura e imaculada Se manifeste nos reinos da terra e do céu”. Esse “Ser misterioso e etéreo”, o Manifestante de Deus, tem uma natureza humana, “pertencente ao mundo da matéria”, e uma natureza espiritual, “oriunda da essência do próprio Deus”. Ele também possui “um grau duplo”:

O primeiro, o qual se relaciona à Sua mais íntima realidade, representa-O como Alguém cuja voz é a voz do próprio Deus ... O segundo grau é o humano, exemplificado pelos seguintes versículos: “Sou apenas um homem como vós”. “Dize, louvado seja meu Senhor! Serei Eu mais que um homem, um apóstolo?”

Bahá´u´lláh também afirma que no reino espiritual há uma “unidade essencial” entre todos os Manifestantes de Deus. Todos Eles revelam a “Beleza de Deus”, manifestam Seus nomes e atributos e dão expressão à Sua Revelação. Nesse sentido, Ele assevera:

Se qualquer um dos Manifestantes de Deus – Aqueles que a tudo abrangem – declarasse: “Sou Deus”, Ele certamente diria a verdade, sem a menor dúvida. Pois já foi demonstrado, repetidas vezes, que, através de Sua Revelação, Seus atributos e nomes, tornam-se manifestos no mundo a Revelação, os nomes e os atributos de Deus...

Apesar de os Manifestantes revelarem os nomes e atributos de Deus e de serem o meio através do qual a humanidade tem acesso ao conhecimento de Deus e à Sua Revelação. Shoghi Effendi afirma que os Manifestantes de Deus “jamais” deveriam ser identificados “com aquela Realidade invisível, a Essência da própria Deidade”. Em relação a Bahá´u´lláh, o Guardião escreveu que o “templo humano que se fez o veículo de tão transcendente Revelação” não deve ser identificado com a “Realidade” de Deus.

No que se refere à singularidade da posição de Bahá´u´lláh e à grandeza de Sua Revelação, Shoghi Effendi afirma que os pronunciamentos proféticos relativos ao “Dia de Deus”, encontrados nas Escrituras Sagradas de Dispensações do passado, cumprirem-se com o advento de Bahá´u´lláh:

Para Israel Ele era nada mais nada menos que a encarnação do “Pai Eterno”, o “Senhor dos Exércitos” que desceu com “dez milhares de santos”; para a cristandade, o Cristo que voltou “na glória do Pai”; para o islã xiita, a volta do Imame Husayn; para o islã sunita, a descida do “Espírito de Deus” (Jesus Cristo); para os zoroastrianos, o prometido Sháh-Bahrám; para os hindus, a reencarnação de Krishn; para os budistas, o quinto Buda.

Bahá´u´lláh descreve o grau de “Divindade” que Ele compartilha com todos os Manifestantes de Deus como sendo:

... o grau onde morre-se para si mesmo e vive-se em Deus. Divindade, sempre que a menciono, indica Minha total e absoluta abnegação. Essa é a condição na qual não tenho controle sobre Meu próprio bem ou mal, nem sobre Minha vida, nem sobre Minha ressurreição.

Ademais, no tocante à Sua própria relação com Deus, Ele testifica:

Quando contemplo, ó Meu Deus, a relação que Me une a Ti, sinto-Me impelido a proclamar a todas as coisas criadas “em verdade, Eu sou Deus!”; e quando considero Meu próprio ser, ei-lo! parece-Me mais grosseiro que o barro!

161. pagamento do Zakát ¶146

O Zakát é apresentado no Alcorão como um donativo regular ordenado aos muçulmanos. Com o tempo, o conceito transformou-se numa forma de imposto-donativo que impunha a obrigação de se entregar uma porção fixa de certos tipos de renda, quando ultrapassados determinados limites, para o amparo aos pobres, para vários fins caritativos e para promover a Fé Divina. O limite de isenção variava conforme as mercadorias, assim como a alíquota sobre a parcela tributável.

Bahá´u´lláh declara que a lei bahá´í de Zakát segue “o que foi revelado no Alcorão” (P&R 107). Visto que não se menciona no Alcorão assuntos como os limites de isenção, os tipos de renda envolvidos, a freqüência de pagamentos e a escala de alíquotas para as diferentes categorias de Zakát, a Casa Universal de Justiça terá que legislar sobre tais questões no futuro. Shoghi Effendi orientou que, enquanto tal legislação não existe, os crentes devem contribuir regularmente para o Fundo Bahá´í de acordo com seus meios e possibilidades.

162. É ilícito mendigar e proibido dar esmolas ao pedinte. ¶147

´Abdu´l-Bahá expõe o sentido desse versículo numa Epístola. Ele afirma que “a mendicância é proibida e que também é ilícito dar esmolas aos que fazem da mendicância uma profissão”. Na mesma Epístola, Ele salienta ademais: “O objetivo é que se elimine definitivamente a mendicância. Contudo, se alguém for incapaz de ganhar o próprio sustento, estiver sujeito à pobreza extrema, ou ficar desamparado, então incumbe aos ricos ou aos Mandatários proverem-no de uma pensão mensal para sua subsistência. ... Por ‘Mandatários’ entendem-se os representantes do povo, ou seja, os membros da Casa de Justiça.”

A proibição de se dar esmolas aos mendicantes não impede que as pessoas e as Assembléias ofereçam ajuda financeira aos pobres e necessitados, ou que lhes propiciem oportunidades de adquirir as habilidades que lhes permitam ganhar a vida (vide nota 56).

163. uma multa ... a quem causasse tristeza a outrem ¶148

Bahá´u´lláh ab-roga a lei do Bayán Persa referente ao pagamento de uma multa como reparação por se ter causado tristeza ao próximo.

164. a sagrada Árvore Celestial ¶148

A “sagrada Árvore Celestial” é uma alusão ao Sadratu´l-Muntahá, a “Árvore além da qual não há passagem” (vide nota 128). A expressão aqui simboliza o próprio Bahá´u´lláh.

165. Recitai os versículos de Deus a cada manhã e anoitecer. ¶149

Bahá´u´lláh afirma que o “requisito” essencial para a recitação dos “versículos de Deus” é “o anseio e o amor” dos crentes em “ler a Palavra de Deus” (P&R 68).

No tocante à definição de “versículos de Deus”, Bahá´u´lláh declara que ela se refere “a tudo o que desceu do Firmamento da Elocução Divina”. Em uma carta escrita em seu nome aos crentes do Oriente, Shoghi Effendi esclareceu que o termo “versículos de Deus” não inclui os escritos de ´Abdu´l-Bahá; também afirmou que o termo não se aplica a seus próprios escritos.

166. Foi-vos ordenado renovar os móveis e vossos lares a cada dezenove anos ¶151

Bahá´u´lláh confirma a injunção do Bayán Árabe no tocante à renovação dos móveis da casa a cada dezenove anos, desde que se tenha meios para tal. ´Abdu´l-Bahá vincula esse preceito à promoção do refinamento e da limpeza. Ele explica que o intuito da lei é que se renove o mobiliário que envelhece, perde a beleza e provoca repugnância. Não se aplica a coisas tais como artigos raros ou tidos em alta estima, antigüidades e jóias.

167. Lavai os pés ¶152

O Kitáb-i-Aqdas exorta os fiéis a banharem-se regularmente, a usarem roupas limpas e a serem, de forma geral, a essência do asseio e do refinamento. A Sinopse e Codificação, seção IV.D.3.y.i-vii. resume os preceitos relevantes. No que se refere à lavagem dos pés, Bahá´u´lláh afirma que é preferível o uso de água morna; contudo, utilizar-se água fria também é lícito (P&R 97).

168. Sois proibidos de subir aos púlpitos. Quem vos quiser recitar os versículos de seu Senhor sentará em uma cadeira colocada sobre um estrado ¶154

Esses preceitos têm antecedentes no Bayán Persa. O Báb proibiu o uso de púlpitos para a pregação de sermões e para a leitura do Texto. Ele determinou, ao invés disso, que para todos poderem ouvir a Palavra de Deus com clareza, devia-se colocar a cadeira do pregador sobre uma plataforma.

Comentando sobre essa lei, ´Abdu´l-Bahá e Shoghi Effendi deixaram claro que no Mashriqu´l-Adhkár (onde os sermões são proibidos e apenas as palavras das Sagradas Escrituras podem ser lidas) o recitante pode ficar sentado ou em pé e, se for necessário para que o ouçam melhor, ele pode fazer uso de um tablado baixo que seja móvel, mas nenhum púlpito é permitido. No caso de reuniões que se realizam em locais outros que não o Mashriqu´l-Adhkár, é também permitido ao recitante ou ao orador permanecer sentado ou em pé, e fazer uso de uma plataforma também é permitido. Em uma de Suas Epístolas, ao reiterar a proibição do uso de púlpitos em qualquer local, ´Abdu´l-Bahá ressalta que quando os bahá´ís proferem palestras em reuniões, devem fazê-lo em atitude de extrema humildade e auto-renúncia.

169. jogo de azar ¶155

As atividades que se incluem nessa proibição não foram delineadas nas Escrituras de Bahá´u´lláh. Tanto ´Abdu´l-Bahá quanto Shoghi Effendi assinalaram que cabe à Casa Universal de Justiça especificar os detalhes dessa proibição. Quando perguntada se loterias e apostas em coisas como corridas de cavalo e jogos de futebol, bingo, etc., se incluem na proibição de jogos de azar, a Casa Universal de Justiça indicou que esse é um assunto que será tratado em detalhes no futuro. Por enquanto, Assembléias e indivíduos são aconselhados a não criar polêmica por causa de tais questões, e a deixá-las à consciência de cada crente.

A Casa Universal de Justiça não considera apropriado que se levantem fundos para a Fé através de loterias, rifas e jogos de azar.

170. o uso do ópio ... nenhuma substância que produza apatia e torpor ¶155

Essa interdição do uso de ópio é reiterada por Bahá´u´lláh no parágrafo final do Kitáb-i-Aqdas. Com relação a isso, Shoghi Effendi declarou que um dos requisitos de uma “vida casta e santa” é a “abstenção total... do ópio e de outras drogas semelhantes, que causam dependência”. Incluem-se nessa proibição a heroína, o haxixe e outros derivados do cânhamo, como a maconha, da mesma forma que substâncias alucinógenas como o LSD, a mescalina e semelhantes.

´Abdu´l-Bahá escreveu:

Quanto ao ópio, é abominável e amaldiçoado. Que Deus nos proteja da punição que Ele inflige ao seu usuário. De acordo com o Texto explícito do Livro Sacratíssimo, ele é proibido e seu uso é absolutamente condenado. A razão mostra que o uso do ópio é uma espécie de insanidade e a experiência atesta que quem o usa exclui-se completamente do reino humano. Que Deus proteja todos contra a perpetração de um ato tão hediondo como esse, um ato que arruína o próprio alicerce de tudo aquilo que constitui a condição humana, e faz com que o seu usuário se torne para sempre um destituído. Pois o ópio prende-se à alma de tal forma que a consciência de seu usuário morre, sua mente se apaga, e suas percepções são destruídas. Ele transforma os vivos em mortos. Ele extingue o calor natural. Não se pode conceber maior dano do que o infligido pelo ópio. Felizes os que nunca lhe mencionaram o nome – considerai, pois, como é infeliz o seu usuário.

Ó vós que amais a Deus! Neste ciclo, o ciclo do Deus Todo-Poderoso, a violência e a força, a coerção e a opressão são todas condenadas. É imperativo, entretanto, que o uso do ópio seja impedido por qualquer meio, para que a humanidade se livre, porventura, dessa mais poderosa das pragas. Do contrário, infelicidade e miséria aos que falham no dever para com seu Senhor!

Em uma de Suas Epístolas, ´Abdu´l-Bahá afirmou referente ao ópio: “quem o usa, quem o compra e quem o vende são todos privados do favor e da graça de Deus”.

Em ainda outra Epístola, ´Abdu´l-Bahá também escreveu:

No tocante ao haxixe, assinalaste que alguns persas acostumaram-se ao seu uso. Deus bondoso! Ele é o pior de todos os agentes entorpecentes, e sua proibição foi explicitamente revelada. O seu uso provoca a desintegração do pensamento e o completo torpor da alma. Como pode alguém buscar o fruto da árvore infernal se, ao provar dele, é levado a manifestar as características de um monstro? Como pode alguém fazer uso dessa droga proibida, privando-se assim das bênçãos do Todo-Misericordioso?

O álcool consome a mente e leva o homem ao desativo, mas o ópio, esse fruto hediondo da árvore infernal, e esse perverso haxixe extinguem a mente, congelam o espírito, petrificam a alma, consomem o corpo e deixam o homem frustrado e perdido.

Deve-se atentar que a proibição acima mencionada ao emprego de certos tipos de drogas não impede sua utilização quando prescritas por médicos competentes como parte de algum tratamento de saúde.

171. o "mistério da Grande Inversão no Símbolo do Soberano" ¶157

Shaykh Ahmad-i-Ahsá'í (1753-1831), que foi o fundador da Escola Shaykhí e o primeiro dentre "os dois luminares que anunciaram o advento da Fé do Báb", profetizara que, ao aparecer o Prometido, todas as coisas seriam invertidas: os últimos seriam os primeiros, os primeiros seriam os últimos. Em uma de Suas Epístolas, Bahá'u'lláh refere-Se ao "símbolo e alusão" do "mistério da Grande Inversão no Símbolo do Soberano". Ele declara: "Mediante essa inversão, Ele humilhou os enaltecidos e enalteceu os humilhados", e relembra que "nos dias de Jesus, foram os que se distinguiam por sua erudição, os homens das letras e da religião, que O negaram, ao passo que humildes pescadores apressaram-se a entrar no Reino" (vide também a nota 172). Informação adicional sobre Shaykh Ahmad-i-Ahsá'í pode ser encontrada em Os Rompedores da Alvorada, capítulos 1 e 10.

172. o "Seis" erguido em virtude deste "Alif Aprumado" ¶157

Em seus escritos, Shaykh Ahmad-i-Ahsá'í colocou grande ênfase na letra árabe "Váv". Em Os Rompedores da Alvorada, Nabíl diz que essa letra "simbolizava, para o Báb, o advento de um novo ciclo de Revelação Divina, e, subseqüentemente, Bahá'u'lláh aludiu a ela no Kitáb-i-Aqdas em passagens como 'o mistério da Grande Inversão' e 'o Símbolo do Soberano'".

O nome da letra "Váv" consiste de três letras: Váv, Alif, Váv. Conforme o sistema de cômputo abjad, o valor numérico de cada uma dessas letras é 6, 1 e 6, respectivamente. Em carta escrita em seu nome a um dos crentes no Oriente, Shoghi Effendi oferece uma interpretação deste versículo do Aqdas. Ele afirma que o "Alif Aprumado" refere-se ao advento do Báb. A primeira letra, de valor numérico seis, que vem antes do Alif, simboliza as antigas Dispensações e Manifestações que precederam o Báb, enquanto a terceira letra, que também tem o valor numérico seis, representa a suprema Revelação de Bahá'u'lláh, que se tornou manifesta depois do Alif.

173. Proibiu-se-vos o porte de armas, salvo se essencial ¶159

Bahá'u'lláh confirma uma injunção do Bayán que torna ilícito o porte de armas, a menos que seja necessário fazê-lo. Com relação às circunstâncias em que o porte de armas seria "essencial" às pessoas, 'Abdu'l-Bahá permite que um crente se proteja quando num ambiente perigoso. Shoghi Effendi, em uma carta escrita em seu nome, também observou que, numa emergência, quando não há nenhuma força lega disponível à qual recorrer, justifica-se que um Bahá'í defenda a própria vida. Há algumas outras situações nas quais as armas são necessárias e podem ser usadas legitimamente; por exemplo, em países onde a população depende de caça para obter alimento e vestuário, e em esportes como o manejo do arco, o tiro ao alvo e a esgrima.

A nível social, o princípio da segurança coletiva enunciado por Bahá'u'lláh (vide Seleção dos Escritos de Bahá'u'lláh, CXVII) e desenvolvido por Shoghi Effendi (ver as cartas do Guardião em The World Order of Bahá'u'lláh [e no Chamado às Nações, N.T.]) não pressupõe a eliminação do uso da força, mas prescreve "um sistema em que a Força se subordina à Justiça", e que mantém uma força internacional para a preservação da paz que "protegerá a unidade orgânica da inteira comunidade mundial de nações". Na Epístola de Bishárát, Bahá'u'lláh manifesta a esperança de que "as armas de guerra em todo o mundo sejam convertidas em instrumentos de reconstrução, e que se eliminem dentre os homens a luta e o conflito".

Em outra Epístola, Bahá'u'lláh realça a importância da camaradagem entre os seguidores de todas as religiões; Ele também declara que "a lei da guerra santa foi apagada do Livro".

174. e permitiu-se que vestísseis seda ¶159

De acordo com a prática islâmica, normalmente proibia-se que os homens usassem seda, exceto em tempos de guerra santa. Essa proibição, que não se baseava nos versículos do Alcorão, foi anulada pelo Báb.

175. O Senhor ... poupou-vos das restrições antes impostas às roupas e ao corte da barba. ¶159

Muitas regras sobre a forma de vestir originaram-se nas leis e práticas tradicionais das religiões mundiais. Por exemplo, o clero xiita adotou para si mesmo um tipo de túnica e turbante característicos e, num certo período, proibiu que o povo usasse roupas ocidentais. A prática muçulmana, no anseio de emular o costume do Profeta, também estipulou algumas restrições referentes ao corte do bigode e ao comprimento da barba.

Bahá'u'lláh eliminou tais limitações relativas às roupas e à barba. Ele entrega tais assuntos à "discrição" de cada um, mas, ao mesmo tempo, exorta os crentes a não transgredir os limites do decoro, e a seguir a moderação em tudo o que se refere à vestimenta.

176. Ó Terra do Káf e do Rá! ¶164

Káf e Rá são as primeiras duas consoantes do Kirmán, nome de uma cidade e de uma província do Irã.

177. percebemos o que secreta e furtivamente de ti emana ¶164

Essa passagem alude às intrigas de um grupo de Azalís, os seguidores de Mirza Yahyá (vide nota 190), ligados à cidade de Kirmán. Entre eles estava Mullá Ja'far, seu filho Shaykh Ahmad-i-Rúhí e Mirza Áqá Khán-i-Kirmání (ambos genros de Mirza Yahyá), como também Mirza Ahmád-i-Kirmání. Eles não apenas procuraram solapar a Fé, como também se envolveram em intrigas políticas que culminaram com o assassinato de Násiri'd-Dín Sháh.

178. Recordai o xeique de nome Muhammad-Hasan ¶166

Shaykh Muhammad-Hasan, um dos mais destacados expoentes do Islã xiita, rejeitou o Báb. Autor de volumosos escritos sobre jurisprudência xiita, teria falecido por volta de 1850.

Nabíl, em Os Rompedores da Alvorada, descreve o confronto ocorrido em Najaf entre Mullá 'Alí-i-Bastámí, uma das Letras do Vivente, e Shaykh Muhammad-Hasan. Durante o encontro, Mullá 'Alí anunciou a manifestação do Báb e celebrou a força de Sua Revelação. Por instigação do xeique, Mullá 'Alí foi imediatamente considerado herege e expulso da reunião. Ele foi levado a julgamento, conduzido a Istambul e condenado a trabalhos forçados.

179. um peneirador de trigo e cevada ¶166

Alusão a Mullá Muhammad Ja'far Gandum-Pák-Kun, o primeiro a aceitar a Fé do Báb em Isfahan. Ele é mencionado no Bayán Persa e louvado com alguém que “vestiu o manto do discipulado”. Em Os Rompedores da Alvorada, Nabíl descreve a aceitação irrestrita da Mensagem por parte do “peneirador de trigo” e sua fervorosa defesa da nova Revelação. Ele juntou-se ao grupo de defensores do Forte de Shaykh Tabarsí, vindo a perecer durante aquele assédio.

180. Acautelai-vos para que a palavra “Profeta” não vos exclua deste Anúncio Supremo ¶167

Bahá´u´lláh adverte as pessoas dotadas “de percepção” a não permitir que suas próprias interpretações das Sagradas Escrituras as impeçam de reconhecer a Manifestação de Deus. Os seguidores de cada religião, devido à devoção que dedicam ao seu Fundador, em geral consideram a Sua Revelação como a Palavra final de Deus, e negam a possibilidade de que surja qualquer Profeta subseqüente. Foi assim com o judaísmo, o cristianismo e o Islã. Bahá´u´lláh rejeita a validade desse conceito de término da Revelação Divina em relação tanto às Dispensações do passado quanto à Sua própria. Ele escreveu no Kitáb-i-Iqán, referindo-Se aos muçulmanos, que “o ponto do Alcorão ... permitiu que as palavras ´Selo dos Profetas´ lhes velassem os olhos”, deixando-as “obscurecer-lhes a compreensão e privá-los da graça de todas as Suas múltiplas dádivas”. Ele afirma que “este tema foi ... uma provação severa para toda a humanidade”, e deplora o destino daqueles “que, aderindo a estas palavras, não acreditaram nAquele que é seu verdadeiro Revelador”. O Báb refere-Se a esse mesmo assunto quando adverte: “Não permitais que nomes vos impeçam, como véus, dAquele que é o Senhor dos nomes, nem mesmo o nome Profeta, pois tal nome é apenas uma criação de Seu Verbo.”

181. qualquer referência a “Regência” vos prive da soberania dAquele que é o Representante de Deus ¶167

A palavra aqui traduzida como “Regência” é, no original árabe, “viláyat”, a qual possui uma gama de sentidos que inclui “regência”, “guardiania”, “protetorado” e “sucessão”. Ela é empregada em relação ao próprio Deus, Seu Manifestante, ou àqueles nomeados Sucessores de um Manifestante.

Neste versículo do Aqdas, Bahá´u´lláh adverte as pessoas a não permitir que tais conceitos as ceguem para a “soberania” do novo Manifestante Divino, o verdadeiro “Representante de Deus”.

182. Recordai Karím ¶170

Hájí Mirza Muhammad Karím Khán-i-Kirmání (1810 – aprox. 1873) se auto-nomeou líder da comunidade Shaykhí após a morte de Siyyid Kázim, que fora nomeado por Shaykh Ahmad-i-Ahsá´í como seu sucessor (vide nota 171 e nota 172). Dedicou-se à promoção dos ensinamentos de Shaykh Ahmad. As idéias que expôs foram alvo de controvérsia tanto entre seus apoiadores quanto entre seus oponentes.

Considerado como um dos principais sábios e dos mais prolíficos autores de seu tempo, escreveu numerosos livros e epístolas nos vários ramos do conhecimento cultivados naqueles tempos. Opôs-se ativamente ao Báb e a Bahá´u´lláh, e utilizou seus tratados para atacar o Báb e Seus Ensinamentos. No Kitáb-i-Iqán, Bahá´u´lláh condena o tom e o conteúdo de seus escritos e escolhe para exame um de seus trabalhos que contém referências negativas ao Báb. Shoghi Effendi descreve-o como “excessivamente ambicioso e hipócrita” e relata como ele “a pedido especial do Xá, atacara perversamente, em um tratado, a nova Fé e suas doutrinas”.

183. ó doutos em Bahá ¶173

Bahá´u´lláh louva os eruditos entre os Seus seguidores. No Livro de Seu Convênio, Ele escreveu: “Bem-aventurados são os governantes e os eruditos entre o povo de Bahá.” Referindo-se a esse pronunciamento, Shoghi Effendi escreveu:

Neste ciclo sagrado os “eruditos” são, de um lado, as Mãos da Causa de Deus, e, de outro, os instrutores e divulgadores de Seus Ensinamentos que, mesmo não tendo o grau das Mãos, alcançaram uma posição eminente no trabalho de ensino. Quanto aos “governantes”, eles são os membros das Casas de Justiça Locais e Nacionais, e da Internacional. Definir-se-ão no futuro as funções de cada uma dessas almas.

As Mãos da Causa de Deus eram pessoas nomeadas por Bahá´u´lláh, e incumbidas de vários deveres, especialmente a proteção e a propagação de Sua Fé. Em Memorials of the Faithful, ´Abdu´l-Bahá referiu-Se a outros destacados crentes como Mãos da Causa, e em Sua Vontade e Testamento incluiu o preceito que insta o Guardião da Fé a nomear Mãos da Causa conforme seu arbítrio. Primeiramente Shoghi Effendi elevou alguns crentes postumamente ao grau de Mãos da Causa, e, durante os últimos anos de sua vida, nomeou para essa posição, um total de 32 crentes de todos os continentes. No período entre o falecimento de Shoghi Effendi, em 1957, e a eleição da Casa Universal de Justiça, em 1963, as Mãos da Causa dirigiram os assuntos da Fé na sua condição de Intendentes-Chefes da embriônica Comunidade Mundial de nações inspirada por Bahá´u´lláh (vide nota 67). Em novembro de 1964 a Casa Universal de Justiça sentenciou que não poderia legislar de modo a viabilizar a nomeação de Mãos da Causa. Em vez disso, por decisão da Casa de Justiça em 1968, as funções das Mãos da Causa relacionadas com a proteção e a propagação da Fé perpetuaram-se através da criação do Corpo Continental de Conselheiros através do estabelecimento, em 1973, do Centro Internacional de Ensino, sediado na Terra Santa.

A Casa Universal de Justiça nomeia os Conselheiros membros do Centro Internacional de Ensino e os Conselheiros Continentais. Os membros dos Corpos Auxiliares são nomeados pelos Conselheiros Continentais. Todos eles se encaixam na definição de “eruditos” dada por Shoghi Effendi no pronunciamento citado acima.

184. submetei tudo o que não entendais no Livro Àquele que proveio desta poderosa Estirpe ¶174

Bahá´u´lláh investe ´Abdu´l-Bahá com o direito de interpretar Sua Escritura Sagrada (vide também a nota 145).

185. a Escola da Unicidade Transcendente ¶175

Nesse versículo, e nos seguintes, Bahá´u´lláh enfrenta um dos argumentos pelos quais alguns Bábís rejeitaram-Lhe a asseveração de ser o Prometido do Bayán. A rejeição baseou-se numa Epístola dirigida pelo Báb “Àquele que Deus tornará manifesto”, no verso da qual o Báb escrevera: “Que os olhos dAquele que Deus tornará manifesto iluminem esta carta na escola primária”. Essa Epístola está publicada em Seleção dos Escritos do Báb.

Aqueles Bábís sustentavam que, sendo Bahá´u´lláh dois anos mais velho que o Báb, não Lhe seria possível receber essa Epístola “na escola primária”.

Bahá´u´lláh, aqui, explica tratar-se de uma alusão a eventos ocorridos nos mundos espirituais que transcendem este plano da existência.

186. e acatamos os versículos de Deus ... que Nos foram por Ele* ofertados ¶175

Em Sua Epístola dirigida “Àquele que Deus tornará manifesto” o Báb caracteriza o Bayán como uma oferenda Sua a Bahá´u´lláh. Vide Seleção dos Escritos do Báb.

187. Ó povo do Bayán! ¶176
Refere-se aos seguidores do Báb.

188. as letras S e E terem sido ligadas e unidas ¶177

Numa carta escrita em seu nome, Shoghi Effendi explicou o significado das “letras S e E”. Elas formam a palavra “Sê”, a qual, conforme ele elucida, “representa o Poder criador de Deus, que, através de Seu mando, traz tudo à existência” e “o poder do Manifestante de Deus, a Sua grande força criadora espiritual”.

O comando “Sê”, no original árabe, é a palavra “kun”, que consiste das duas letras “káf” e “nún”. Elas foram traduzidas por Shoghi Effendi da maneira acima. Essa palavra é empregada no Alcorão quando Deus emite a ordem que chama a criação à existência.

189. nova e suprema Ordem Mundial ¶181

No Bayán Persa o Báb declarou: “Bem-aventurado quem fixa os olhos na Ordem de Bahá´u´lláh e que rende graças ao seu Senhor. Pois Ele, seguramente, tornar-Se-á manifesto. Isso, deveras, Deus ordenou no Bayán de maneira irrevogável.” Shoghi Effendi identifica essa “Ordem” com o Sistema que Bahá´u´lláh antevê no Aqdas, no qual Ele atesta o seu efeito revolucionário na vida da humanidade e revela as leis e princípios que governam sua operação.

As características da “nova Ordem Mundial” estão delineadas nas Escrituras de Bahá´u´lláh e ´Abdu´l-Bahá, e nas cartas do Guardião e da Casa Universal de Justiça. As instituições da atual Ordem Administrativa Bahá´í, que constituem a “base estrutural” da Ordem Mundial de Bahá´u´lláh, haverão de maturar e evoluir, e constituirão a Comunidade Mundial Bahá´í de Nações. A esse respeito, Shoghi Effendi afirma que a Ordem Administrativa, “à medida que as suas partes componentes, suas instituições orgânicas, passam a funcionar com eficiência e vigor, reivindicará seu direito e demonstrará sua capacidade de ser considerada não apenas como o núcleo, mas como o próprio padrão da Nova Ordem Mundial destinada a abarcar toda a humanidade na plenitude dos tempos”.

Informações adicionais sobre a evolução desta nova Ordem Mundial podem ser obtidas, por exemplo, nas cartas de Shoghi Effendi publicadas em The World Order of Bahá´u´lláh [e no Chamado às Nações N.T.].

190. Ó fonte de perversão! ¶184

Refere-se a Mirza Yahyá, conhecido como Subh-i-Azal (Manhã da Eternidade), um meio-irmão de Bahá´u´lláh, mais jovem, que se rebelou contra Ele e fez oposição à Sua Causa. O Báb nomeara Mirza Yahyá como chefe nominal da comunidade Bábí até a manifestação do Prometido, que era iminente. Por instigação de Siyyid Muhammad-i-Isfahání (vide nota 192), Mirza Yahyá traiu a confiança do Báb, proclamou ser Seu sucessor e conspirou contra Bahá´u´lláh, a ponto de tramar Seu assassinato. Quanto Bahá´u´lláh formalmente anunciou a ele a Sua Missão, em Adrianópolis, Mirza Yahyá reagiu de tal forma que chegou ao extremo de avocar para si próprio uma Revelação independente. Suas alegações foram, ao final, rejeitadas por todos, com exceção de um pequeno grupo que passou a ser conhecido como Azalís (vide nota 177). Shoghi Effendi intitula-o de “Arqui-Violador do Convênio do Báb” (vide A Presença de Deus, capítulo X).

191. relembra como Nós te educamos dia e noite para o serviço da Causa ¶184

Em A Presença de Deus Shoghi Effendi refere-se ao fato de que Bahá´u´lláh, que era treze anos mais velho que Mirza Yahyá, zelara por ele e o guiara durante a juventude e início da maturidade.

192. Deus puniu aquele que te fez desviar. ¶184

Alusão a Siyyid Muhammad-i-Isfahání, que Shoghi Effendi considerou como o “Anticristo da Revelação Bahá´í”. Era um homem de caráter sórdido e grande ambição, que induziu Mirza Yahyá a opor-se a Bahá´u´lláh e a reivindicar para si a condição de profeta (vide nota 190). Embora fosse adepto de Mirza Yahyá, Siyyid Muhammad foi exilado para ´Akká, junto com Bahá´u´lláh. Ali, continuou a conspirar contra Bahá´u´lláh e a provocar-Lhe oposição. Shoghi Effendi, em A Presença de Deus, assim descreveu as circunstâncias de sua morte:

Um novo perigo agora, claramente, ameaçava a vida de Bahá´u´lláh. Embora Ele próprio tivesse proibido severamente a Seus seguidores, em várias oportunidades, tanto verbalmente como por escrito, de praticar qualquer ato de represália contra aqueles que os atormentavam – e até tivesse mandado regressar a Beirute um irresponsável adepto árabe que havia pensado em vingar os agravos sofridos por seu bem-amado Líder -, sete dos companheiros, clandestinamente, procuraram e mataram três de seus perseguidores, entre eles Siyyid Muhammad e Aqá Ján.

A consternação que se apoderou de uma comunidade já oprimida foi indescritível. A indignação de Bahá´u´lláh não tinha limites. “Fôssemos Nós” – assim Ele expressa Suas emoções em uma Epístola revelada pouco depois de haver sido cometido esse ato – “fazer menção daquilo que Nos sucedeu, os céus romper-se-iam e as montanhas viriam a desmoronar”. “Meu cativeiro”, escreveu Ele em outra ocasião, “não Me pode causar dano. O que Me pode prejudicar é a conduta dos que Me amam, que asseveram estar ligados a Mim e, no entanto, perpetram o que faz Meu coração e Minha pena gemerem”.

193. Escolhei um único idioma ... e adotai igualmente uma escrita comum. ¶189

Bahá´u´lláh prescreve a adoção de uma língua e de uma escrita universais. Suas Escrituras antevêem dois estágios nesse processo. O primeiro consiste na escolha de uma língua existente ou inventada, que então será ensinada em todas as escolas do mundo como língua auxiliar às línguas maternas. Os governos do mundo, através de seus parlamentos, são chamados a implementar esse momentoso decreto. O segundo estágio, no futuro distante, será a adoção, ao final, de uma única língua e de uma escrita comum para todos os habitantes da terra.

194. Nós determinamos dois sinais para a maioridade da raça humana ¶189

O primeiro indício da chegada da maioridade da espécie humana apontado nas Escrituras de Bahá´u´lláh é o surgimento de uma ciência que é descrita como aquela “filosofia divina” que incluirá a descoberta de uma abordagem revolucionária para a transmutação dos elementos. Essa é uma indicação dos esplendores da estupenda expansão do conhecimento do futuro.

Quanto ao “segundo” sinal, que Bahá´u´lláh indica ter sido revelado no Kitáb-i-Aqdas, Shoghi Effendi afirma que “... em Seu Livro Sacratíssimo, Bahá´u´lláh ordenou a escolha de uma única língua e a adoção de uma escrita comum para o uso de todos os habitantes da terra, injunção esta que, ao ser implementada, será, como Ele próprio afirma no Livro, um dos sinais da ‘maioridade da raça humana’”.

Podemos obter uma maior percepção desse processo de maioridade da humanidade e de sua evolução rumo à maturidade através do seguinte pronunciamento de Bahá´u´lláh:

Um dos sinais da maturidade do mundo é que ninguém aceitará para si o encargo de ser rei. A realeza ficará sem que ninguém deseje suportar sozinho o seu fardo. Esse será o dia em que a sabedoria se manifestará no seio da humanidade.

Shoghi Effendi associou o advento da maioridade da raça humana à unificação de toda a humanidade, ao estabelecimento de uma comunidade mundial de nações e a um estímulo sem precedentes “à vida intelectual, moral e espiritual de toda a espécie humana”.


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